AS POLÍTICAS DE INCLUSÃO ESCOLAR E AS NARRATIVAS DOCENTES
UMA ANÁLISE A PARTIR DOS MODELOS DE DEFICIÊNCIA
DOI:
https://doi.org/10.36311/2358-8845.2023.v10n2.p123-142Palavras-chave:
Inclusão, Modelos da deficiência, Políticas inclusivas, DocênciaResumo
Este artigo analisa as concepções de deficiência materializadas em documentos oficiais referentes às políticas de inclusão escolar do Brasil, entre a década 1990 até a atualidade, assim como em narrativas de duas docentes que atuam junto ao público da Educação Especial em escola comum. Discute-se sobre três modelos de deficiência: 1. Modelo médico da deficiência; 2. Modelo social da deficiência; 3. Modelo biopsicossocial da deficiência. A analítica desenvolvida e ancorada na perspectiva pós-estruturalista, especialmente dos estudos de Michel Foucault, evidenciou a necessidade de problematização sobre o conceito de norma, o qual explicita a ocorrência de um processo de normalização dos sujeitos, intensificado pela constância em nomear, classificar e diagnosticar as condutas que fogem aos “padrões” escolares. Ações essas, que demonstram a ênfase e a permanência do modelo médico da deficiência, tanto nos documentos, quanto nas narrativas docentes analisadas, expressando para além disso, a ocorrência de intensificação do trabalho docente.
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