O disjuntivismo ecológico e o argumento causal

Auteurs-es

  • Eros Moreira de Carvalho UFRGS

DOI :

https://doi.org/10.1590/0101-3173.2023.v46esp1.p147

Mots-clés :

Disjuntivismo ecológico, argumento causal, affordances, indistinguibilidade, psicologia ecológica, retroalimentação dinâmica

Résumé

Neste artigo, argumenta-se que a abordagem ecológica da percepção oferece recursos para desarmar o argumento causal contra o disjuntivismo. Segundo o argumento causal, como os estados cerebrais que proximamente antecedem a experiência perceptiva e a experiência alucinatória correspondente podem ser do mesmo tipo, não haveria, portanto, uma boa razão para rejeitar que a experiência perceptiva e a experiência alucinatória correspondente tenham fundamentalmente a mesma natureza. O disjuntivismo com respeito à natureza da experiência seria, assim, falso. Identificam-se três suposições que apoiam o argumento causal: a suposição da indistinguibilidade, a suposição da linearidade e a suposição da duplicação. De acordo com a abordagem ecológica da percepção, essas suposições não se sustentam, abrindo espaço para a defesa de uma versão ecológica do disjuntivismo. Episódios perceptivos se estendem ao longo do tempo e são supervenientes ao sistema organismo-ambiente. Eles também podem ser distinguidos dos “correspondentes” episódios de alucinação, por serem o resultado de um processo controlado de sintonização, ao passo que as alucinações são passivas e refratárias às atividades de exploração e sintonização. Por fim, o disjuntivismo ecológico, na medida em que é imune ao argumento causal, se mostra vantajoso em relação aos disjuntivismos negativo e positivo.

Biographie de l'auteur-e

  • Eros Moreira de Carvalho, UFRGS

    Professor de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS – Brasil e Bolsista de Produtividade do CNPq. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7267-5662.

Références

AUSTIN, J. Sense and Sensibilia. Oxford: Oxford University Press, 1962.

BURGE, T. Disjunctivism Again. Philosophical Explorations, v. 14, p. 43-80, nov. 2012.

CARVALHO, E. M. O Argumento da Ilusão/Alucinação e o Disjuntivismo: Ayer versus Austin. Sképsis, v. VIII, n. 12, p. 85-107, 2015.

CARVALHO, E. M. An ecological approach to disjunctivism. Synthese, v. 198, p. 285-306, jan. 2021.

CHEMERO, A. Radical Embodied Cognitive Science. Cambridge: The MIT Press, 2009.

COSTALL, A. P. Are Theories of Perception Necessary? A Review of Gibsons’s The Ecological Approach to Visual Perception. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, v. 41, n. 1, p. 109-115, jan. 1984.

GIBSON, J. J. New Reasons for Realism. Synthese, v. 17, n. 2, p. 162-172, 1967.

GIBSON, J. J. The Senses Considered as Perceptual Systems. London: George Allen & Unwin Ltd, 1968.

GIBSON, J. J. On the Relation between Hallucination and Perception. Leonardo, v. 33, n. 2, p. 425-427, 1970. GIBSON, J. J. The Ecological Approach to Visual Perception. Classical Edition. New York: Psychology, 2015.

HADDOCK, A.; MACPHERSON, F. Introduction: Varieties of Disjunctivism. In: HADDOCK, A.; MACPHERSON, F. (ed.). Disjunctivism: Perception, Action, Knowledge. Oxford: Oxford University Press, 2008. p. 1-24.

HINTON, J. M. Visual Experiences. Mind, v. LXXVI, n. 302, p. 217-227, 1967.

HURLEY, S. L. Consciousness in action. Cambridge, MA: Harvard University Press, 2002.

JOHNSTON, M. The Obscure Object of Hallucination. Philosophical Studies, v. 120, n. 1, p. 113-183, 1 jul. 2004.

LOBO, L.; HERAS-ESCRIBANO, M.; TRAVIESO, D. The History and Philosophy of Ecological Psychology. Frontiers in Psychology, v. 9, p. 1-15, nov. 2018.

MARTIN, M. G. F. The Limits of Self-Awareness. Philosophical Studies, v. 120, n. 1-3, p. 37-89, jul. 2004.

MARTIN, M. G. F. The Reality of Appearances. In: BYRNE, A.; LOGUE, H. (ed.). Disjunctivism: Contemporary Readings. [s.l.] The MIT Press, 2008. p. 91-115.

MCDOWELL, J. Criteria, Defeasibility, and Knowledge. Proceedings of the British Academy, v. 68, p. 455-479, 1983.

PRITCHARD, D. Epistemological Disjunctivism. Oxford: Oxford University Press, 2012.

REED, E. S. Two Theories of Intentionality of Perceiving. Synthese v. 54, n. 1, p. 85–94, 1983.

SHAW, R.; BRANSFORD, J. Introduction: Psychological Approaches to the Problem of Knowledge. In: SHAW, R.; BRANSFORD, J. (ed.). Perceiving, Acting and Knowing: Toward an Ecological Psychology. New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, 1977. p. 1-39.

SHAW, R. E.; TURVEY, M. T.; MACE, W. M. Ecological Psychology: The Consequence of a Commitment to Realism. In: WEIMER, W.; PALERMO, D. (ed.). Cognition and the Symbolic Processes II. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum Associates, 1982. v. 2, p. 159-226.

SHAW, R.; MCINTYRE, M.; MACE, W. M. The Role of Symmetry in Event Perception. In: Perception: Essays in Honor of James J. Gibson. Ithaca: Cornell University Press, 1974. p. 276-310.

SOTERIOU, M. Disjunctivism. Oxon: Routledge, 2016.

THOMPSON, E.; COSMELLI, D. Brain in a Vat or Body in a World? Brainbound versus Enactive Views of Experience. Philosophical Topics, v. 39, n. 1, p. 163-180, 2011.

TURVEY, M. T. et al. Ecological Laws of Perceiving and Acting: In Reply to Fodor and Pylyshyn (1981). Cognition, v. 9, n. 3, p. 237-304, 1981.

WITHAGEN, R. Affective Gibsonian Psychology. New York: Routledge, 2022.

Recebido: 15/08/2022

Aceito: 07/02/2023

Publié

2023-05-19

Comment citer

O disjuntivismo ecológico e o argumento causal. (2023). TRANS/FORM/AÇÃO:/Revista/De/Filosofia, 46, 147-174. https://doi.org/10.1590/0101-3173.2023.v46esp1.p147