Contextualismo e relativismo na ética
DOI:
https://doi.org/10.1590/0101-3173.2023.v46esp1.p627Palavras-chave:
verdade moral, desacordo moral, contextualismo indexical, contextualismo não-indexical, relativismo de apreciaçãoResumo
De acordo com uma abordagem proeminente na semântica formal contemporânea, a verdade das asserções morais depende de uma perspectiva normativa sobre os fatos do mundo. A implementação dessa abordagem, conhecida como contextualismo indexical, trata a dependência da verdade moral vis-à-vis a perspectiva moral correspondente em analogia com a dependência contextual característica de sentenças contendo termos indexicais. Alternativamente, a perspectiva moral é vista como configurando as circunstâncias de avaliação nas quais o conteúdo expresso pela ocorrência de uma sentença moral é avaliado como verdadeiro ou falso. A versão moderada dessa visão alternativa (o contextualismo não indexical ou relativismo moderado) considera que a verdade da ocorrência de uma sentença moral em um contexto de uso é determinada pela avaliação do seu conteúdo na “circunstância do contexto”: a circunstância de avaliação representada pelo mesmo conjunto indexado que representa o contexto de uso. A versão radical (o relativismo de apreciação), por sua vez, faz a verdade da ocorrência de uma sentença moral em um contexto depender essencialmente do valor do padrão normativo em outro contexto, a partir do qual o enunciado original é apreciado. Tomando o juízo sobre o status moral do casamento poligâmico como ilustração, o presente trabalho examina os méritos concorrentes de explicações contextualistas e relativistas do uso da linguagem moral, especialmente em situações de desacordo e debate. O trabalho argumenta que, embora o contextualismo indexical acoplado a considerações pragmáticas adequadas possa explicar alguns dados relevantes do desacordo, a explicação alternativa desses dados, dada pelo contextualismo não indexical, é preferível, porque mais simples e mais econômica. Também é argumentado que o relativismo de apreciação está mais bem situado do que o contextualismo não indexical para explicar os fenômenos relevantes da retratação obrigatória, podendo, portanto, acomodar mais facilmente algumas possibilidades discursivas que desempenham um papel central em debates morais.
Referências
BJÖRNSSON, G.; FINLAY, S. Metaethical Contextualism Defended. Ethics, v. 121, p. 7-36, 2010.
BROGAARD, B. Moral Contextualism and Moral Relativism. Philosophical Quarterly, v. 58, p. 385-409, 2008.
BROGAARD, B. Time and Tense. In: HALE, B.; MILLER, A.; WRIGHT, C. (org.). A Companion to the Philosophy of Language. Oxford: Wiley-Blackwell, 2019. p. 765-786.
CAPPELEN, H.; HAWTHORNE, J. Relativism and Monadic Truth. Oxford: Oxford University Press, 2009.
DREIER, J. Internalism and Speaker Relativism. Ethics, v. 101, p. 6-26, 1990.
FINLAY, S. Confusion of Tongues: A Theory of Normative Language. Oxford: Oxford University Press, 2014.
FINLAY, S. Disagreement Lost and Found. In: SHAFER-LANDAU, R. (org.). Oxford Studies in Metaethics, v. 12. New York: Oxford University Press, 2017. p. 187-205.
HARMAN, G. Moral Relativism Defended. Philosophical Review, v. 84, p. 3-22, 1975.
HARMAN, G. Moral Relativism. In: HARMAN, G.; THOMSON, J. (org.). Moral Relativism and Moral Objectivity. Oxford: Blackwell, 1996. p. 3-64.
KAPLAN, D. Demonstratives: An Essay on the Semantics, Logic, Metaphysics, and Epistemology of Demonstratives and other Indexicals. In: ALMOG, J.; PERRY, J.; WETTSTEIN, H. (org.). Themes from Kaplan. Oxford: Oxford University Press, 1989. p. 481-563.
KING, J. Tense, Modality and Semantic Values. Philosophical Perspectives, v. 17, p. 195-245, 2003.
KHOO, J.; KNOBE, J. Moral Disagreement and Moral Semantics. Nous, v. 52, p. 109-143, 2018.
KÖLBEL, M. Truth without Objectivity. New York: Routledge, 2002.
KÖLBEL, M. Indexical Relativism vs. Genuine Relativism. International Journal of Philosophical Studies, v. 12, p. 297-313, 2004.
KOLODNY, N.; MACFARLANE, J. Ifs and Oughts. Journal of Philosophy, v. 107, p. 115-143, 2010.
KRATZER, A. The Notional Category of Modality. In: EIKMEYER, H. J.; RIESER, H. (org.). Words, Worlds, and Contexts: New Approaches in Word Semantics. Berlin: de Gruyter, 1981. p. 38-74.
KRATZER, A. Modality. In: VON STECHOW, A.; WUNDERLICH, D. (org.). Semantics: An International Handbook of Contemporary Research. Berlin: de Gruyter, 1991. p. 639-650.
LASERSOHN, P. Subjectivity and Perspective in Truth-Theoretic Semantics. Oxford: Oxford University Press, 2017.
MACFARLANE, J. The assessment sensitivity of knowledge attributions.” In GENDLER, T. S.; J. HAWTHORNE, J. (org.). Oxford Studies in Epistemology, v. 1. Oxford: Oxford University Press, 2005. p. 197-233.
MACFARLANE, J. Relativism and disagreement. Philosophical Studies, v. 132, p. 17-31, 2007.
MACFARLANE, J. Assessment sensitivity: Relative truth and its applications. Oxford: Oxford University Press, 2014.
MARQUES, T. Retractions. Synthese, v. 195, p. 3335-3359, 2018.
PERRY, J. Thought without representation. Proceedings of the Aristotelian Society, v. 60, p. 137-166, 1986.
PLUNKETT, D.; SUNDELL, T. Disagreement and the Semantics of Normative and Evaluative Terms. Philosophers’ Imprint, v. 13, p. 1-37, 2013.
RECANATI, F. Perspectival Thought. Oxford: Oxford University Press, 2007.
RICHARD, M. When Truth Gives Out. Oxford: Oxford University Press, 2008.
SCHAFER, K. Assessor Relativism and the Problem of Moral Disagreement. The Southern Journal of Philosophy, v. 50, p. 602-620, 2012.
SILK, A. Discourse Contextualism: A Framework for Contextualist Semantics and Pragmatics. Oxford: Oxford University Press, 2016.
SILK, A. Normative Language in Context. In: SHAFER-LANDAU, R. (org.). Oxford Studies in Metaethics, v. 12. New York: Oxford University Press, 2017. p. 206–243.
Recebido: 12/09/2022
Aprovado: 14/11/2023
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 TRANS/FORM/AÇÃO: Revista de Filosofia
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons.