Valores estéticos, acervos imagéticos e procedimentos estruturados

ampliando e descolonizando a reflexão filosófica sobre a tecnologia

Autores

Palavras-chave:

Valores estéticos, Acervos imagéticos, Procedimentos estruturados, Democratização, Descolonização

Resumo

Desde os anos 1980, reconhecem-se como partes constitutivas da tecnologia e do seu
desenvolvimento o conhecimento técnico-científico e os valores instrumentais e cognitivos que balizam tal conhecimento, bem como valores ético-políticos. No entanto, segue grandemente negligenciada ou desconhecida uma quarta categoria de elementos que incidem no projeto: acervos imagéticos, valores estéticos e procedimentos estruturados. A desconsideração desses elementos impõe limites ao desenvolvimento técnico possível. Neste artigo, serão apresentados essa quarta categoria de elementos, o impacto dela sobre a prática projetiva e as soluções sociotécnicas construídas, e uma forma de pluralizar seus conteúdos. Será exposto também um esboço de duas das abordagens mais exitosas para a democratização do desenvolvimento técnico. A partir disso, serão discutidos: alguns limites e potencialidades da democratização da tecnologia; uma atualização de parte da compreensão
simondoniana de desenvolvimento técnico; a necessidade teórica e prática de se descolonizar (ou seguir descolonizando) a filosofia da tecnologia.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Cristiano Cordeiro Cruz, Universidade de São Paulo (USP)

Doutor em filosofia pela USP, onde também realizou estágio de pós-doutordo em filosofia da tecnologia. Pós-doutorando no ITA, onde pesquisa e atua nas áreas de formação em engenharia e de projetos tecnológicos engajados. Membro do GT de Filosofia da Tecnologia e da Técnica da ANPOF. Membro da Associação Filosófica Scientiae Studia. Membro da Rede de Engenharia Popular Oswaldo Sevá. Graduado e mestre em engenharia elétrica e de computação pela Unicamp. Bacharel em filosofia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia.

Referências

AMMON, S. Image-Based Epistemic Strategies in Modeling: Designing Architecture After the Digital Turn. In: AMMON, S.; CAPDEVILA-WERNING, R. (ed.). The active image: architecture and engineering in the age of modeling. Suíça: Springer International, 2017. p. 177-206.

AMMON, S.; CAPDEVILA-WERNING, R. (ed.). The active image: architecture and engineering in the age of modeling. Suíça: Springer International, 2017.

ANZALDÚA, G. now let us shift… the path of conocimiento… inner work, public acts. In: ANZALDUA, G.; KEATING, A (org.). This bridge we call home. New York: Routledge, 2002. p. 540-578.

BALL, P. Elegant Solutions: Ten Beautiful Experiments in Chemistry. Cambridge: The Royal Society of Chemistry, 2005.

BANNON, L.; EHN, P. Design: Design Matters in Participatory Design. In: SIMONSEN, J. & ROBERTSON, T. (ed.) Routledge International Handbook on Participatory Design. London & New York: Routledge, 2013. p. 37-63.

CORTÉS-RICO, L.; PIEDRAHITA-SOLÓRZANO, G. Participatory Design in Practice: The Case of an Embroidered Technology. In: ABASCAL, J. et al. (ed.). IFIP TC 13 INTERNATIONAL CONFERENCE, 15., Bamberg, Germany: September 14-18, 2015. Proceedings [...], Part III, 2015.

CRUZ, C. Tecnologia social: fundamentações, desafios, urgência e legitimidade. 2017, 280 f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Departamento de Filosofia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.

CRUZ, C. Assessing Grassroots Engineering Applications in Brazil. In: ASEE VIRTUAL ANNUAL CONFERENCE CONTENT ACCESS, Virtual Online, 2020. Disponível em: https://peer.asee.org/34176. Acesso em: 15 nov. 2020.

CURRIE, G. Aesthetics and Cognitive Science. In: LEVINSON, J. (ed.). The Oxford Handbook of Aesthetics. Oxford: Oxford University Press, 2003. p. 876-896.

DAGNINO, R.; BRANDÃO, F.; NOVAES, H. Sobre o marco analítico-conceitual da tecnologia social. In: LASSANCE JÚNIOR, A. E. et al. (ed.). Tecnologia social: uma estratégia para o desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundação Banco do Brasil, 2004. p. 15-64.

DUSSEL, E. A new age in the history of philosophy: the world dialogue between philosophical traditions. Prajñâ Vihâra, v. 9, n. 1, p. 1-22, 2008.

DYM, C.; LITTLE, P. Introdução à engenharia: uma abordagem baseada em projeto. Tradução de João Tortello. Porto Alegre: Bookman, 2010.

ELLUL, J. La technique ou l’enjeu du siècle [1954]. Paris: Économica, 2008.

ELLUL, J. Le systhème technicien [1977]. Paris: Cherche Midi, 2012.

ESCOBAR, A. Designs for the Pluriverse: Radical Interdependence, Autonomy, and the Making of Worlds. Durham and London: Duke University Press, 2018.

FEENBERG, A. Questioning Technology. New York: Routledge, 1999.

FEENBERG, A. Entre a razão e a experiência: ensaios sobre tecnologia e modernidade [2010]. Tradução de E. Beira, C. Cruz e R. Neder. Vila Nova de Gaia: Inovatec, 2019a.

FEENBERG, A. Tecnossistema: a vida social da razão [2017]. Tradução de E. Beira e C. Cruz. Vila Nova de Gaia: Inovatec, 2019b.

FERGUSON, E. Engineering and the mind’s eyes. Cambridge: The MIT Press, 1992.

FRAGA, L.; ALVEAR, C.; CRUZ, C. Na trilha da contra-hegemonia da engenharia no Brasil: da Engenharia e Desenvolvimento Social à Engenharia Popular. Revista Iberoamericana de Ciencia, Tecnología y Sociedad - CTS, v. 14, n. 43, 2020 (no prelo).

FRANSSEN, M.; VERMAAS, P.; KROES, P; MEIJERS, A. (ed.) Philosophy of Technology after the Empirical Turn. Dordrecht: Springer, 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1007/978-3-319-33717-3. Acesso em: 10 nov. 2020.

FREIRE, P. Extensão ou comunicação? [1969]. Tradução de Rosisca de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

FREIRE, P.; SHOR, I. Medo e Ousadia: O Cotidiano do Professor. Tradução de Adriana Lopez. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. [1970] Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

GOLDSCHMIDT, G. Manual Sketching: why is it still relevant? In: AMMON, S.; CAPDEVILA-WERNING, R. (ed.). The active image: architecture and engineering in the age of modeling. Suíça: Springer International, 2017. p. 77-97.

GUIZZO, I. Reativar territórios: o corpo e o afeto na questão do projeto participativo. Belo Horizonte: Quintal, 2019.

HEIDEGGER, M. The question concerning technology [1955]. Trans. William Lovitt. NY & London: Garland, 1977.

HEIDEGGER, M. Traditional Language and Technological Language [1962]. Trans. Wanda T. Gregory. Journal of Philosophical Research, v. 23, p. 130-145, 1998.

HORKHEIMER, M.; ADORNO, T. Dialectic of enlightenment. Tradução de Edmund Jephcott. Stanford: Stanford University Press, 2002 [1944].

IVERSEN, O.; HALSKOVA, K.; LEONG, T. Values-led participatory design. CoDesign, v. 8, n. 2-3, p. 87-103, 2012.

KROES, P.; VAN DE POEL, I. Design for Values and the Definition, Specification, and Operationalization of Values. In: VAN DEN HOVEN, J.; VERMAAS, P.; VAN DE POEL, I (ed.). Handbook of Ethics, Values, and Technological Design. Dordrecht: Springer, 2015. p. 151-178.

LATOUR, B. Where are the missing masses? The sociology of a few mundane artifacts. In: BIJKER, W.; LAW, J. (ed.). Shaping Technology/Building Society: Studies in Sociotechnical Change. Cambridge, Mass.: MIT Press, 1992. p. 225-258.

MARCUSE, H. One-Dimensional Man [1964]. London & New York: Routledge, 2002.

MIGNOLO, W. Epistemic Disobedience and the Decolonial Option: A Manifesto. Transmodernity: Journal of Peripheral Cultural Production of the Luso-Hispanic World, v. 1, n. 2, p. 44-66, 2011.

NEPOMUCENO, V. et al. Uma proposta metodológica para assessoria técnica às empresas recuperadas por trabalhadores a partir da engenharia popular: combinando pesquisa-ação, adequação sociotécnica e análise ergonômica do trabalho. In: ARAÚJO, F. et al. Dialética da autogestão em empresas recuperadas por trabalhadores no Brasil. Marília: Lutas Anticapital, 2019. p. 47-91.

PAHL, G.; BEITZ, W., FELDHUSEN, J.; GROTE, K. Projeto na engenharia. Tradução de Hans Werner. São Paulo: Blucher, 2005.

PÉREZ-BUSTOS, T. Thinking with Care. Unraveling and mending in an ethnography of craft embroidery and technology. Revue d'anthropologie des connaissances, v. 11, n. 1, p. a-u, 2017.

PÉREZ-BUSTOS, T.; MÁRQUEZ, S. Destejiendo puntos de vista feministas: reflexiones metodológicas desde la etnografía del diseño de una tecnología. Revista Iberoamericana CTS, v. 31, n. 11, p. 147-69, 2016.

PINCH, T.; BIJKER, W. The social construction of facts and artifacts: or how sociology of science and the sociology of technology might benefit each other. In: BIJKER, W.; HUGHES, T.; PINCH, T. The social construction of technological systems: New directions in the sociology and history of technology. Cambridge, Mass.: MIT Press, 1989.

RIEDER, B.; SCHÄFER, M. Beyond Engineering: Software Design as Bridge over the Culture/Technology Dichotomy. In: VERMAAS, P.; KROES, P.; LIGHT, A.; MOORE, S. (ed.). Philosophy and Design: From Engineering to Architecture. Dordrecht: Springer Netherlands, 2008. p. 159-71.

RIVERA, R.; CORTÉS-RICO, L.; PÉREZ-BUSTOS, T.; FRANCO-AVELLANEDA, M. Embroidering engineering: a case of embodied learning and design of a tangible user interface. Engineering Studies, v. 8, n. 1, p. 48-65, 2016.

ROBERTSON, T.; SIMONSEN, J. Participatory Design - An introduction. In: SIMONSEN, J.; ROBERTSON, T. (ed.) Routledge International Handbook on Participatory Design. London & New York: Routledge, 2013. p. 1-17.

SANTOS, B. Epistemologies of the South: justice against epistemicide. New York: Routledge, 2016.

SCHUMMER, J.; MACLENNAN, B.; TAYLOR, N. Aesthetic Values in Technology and Engineering Design. In: MEIJERS, A. (ed.). Philosophy of technology and engineering science. Amsterdam: Elsevier B. V., 2009. p. 1031-1068.

SIMONDON, G. Du mode d’existence des objets techinques. Paris: Aubier, 1989 [1958].

SIMONDON, G. Imagination et Invention. Chatou: Les Éditions de La Transparence, 2008 [1965-1966].

SIMONDON, G. Entretien sur la mécanologie. Revue de synthèse: tomo 130, 6ª série, n. 1, p. 103-132, 2009 [1968].

SPITAS, C. Analysis of systematic engineering design paradigms in industrial practice: a survey. Journal of Engineering Design, v. 22, n. 6, p. 427-445, 2011a.

SPITAS, C. Analysis of systematic engineering design paradigms in industrial practice: scaled experiments. Journal of Engineering Design, v. 22, n. 7, p. 447-465, 2011b.

SUWA, T.; GERO, J.; PURCELL, T. Unexpected discoveries and S-invention of design requirements: important vehicles for a design process. Design Studies, v. 21, n. 6, p. 539-567, 2000.

THOMAS, H. De las tecnologías apropiadas a las tecnologías sociales. Conceptos/estrategias/diseños/acciones. In: PRIMERAS JORNADAS DE TECNOLOGÍAS SOCIALES. Programa Consejo de la Demanda de Actores Sociales – MINCyT. Buenos Aires, 14 maio 2009.

VAN DE POEL, I. Values in Engineering Design. In: MEIJERS, A. (ed.). Philosophy of technology and engineering science. Amsterdam: Elsevier B. V., 2009. p. 973-1006.

VAN DE POEL, I. Design for Values in Engineering. In: VAN DEN HOVEN, J.; VERMAAS, P.; VAN DE POEL, I. (ed.). Handbook of Ethics, Values, and Technological Design. Dordrecht: Springer, 2015. p. 667-90.

VAN DER VELDEN, M.; MÖRTBERG, C. Participatory Design and Design for Values. In: VAN DEN HOVEN, J.; VERMAAS, P.; VAN DE POEL, I. (ed.). Handbook of Ethics, Values, and Technological Design. Dordrecht: Springer, 2015. p. 41-66.

VINCENTI, W. What engineers know and how they know it. London: The John Hopkins University Press, 1990.

WINNER, L. Artefatos têm política? Analytica, Rio de Janeiro, v. 21, n. 2, p. 195-218, 2017 [1986].

Recebido: 08/01/2021 - Aceito: 08/3/2021

Publicado

17-05-2021 — Atualizado em 01-07-2022

Como Citar

Cruz, C. C. (2022). Valores estéticos, acervos imagéticos e procedimentos estruturados: ampliando e descolonizando a reflexão filosófica sobre a tecnologia. TRANS/FORM/AÇÃO: Revista De Filosofia Da Unesp, 44(Special issue 1), 207–230. Recuperado de https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/transformacao/article/view/10909