História da ciência, epistemologia e dialética

Autores

  • Edson Pereira Silva Universidade Federal Fluminense/Professor Associado
  • Fernanda Gonçalves Arcanjo Universidade de São Paulo/Doutoranda

DOI:

https://doi.org/10.1590/0101-3173.2021.v44n2.11.p149

Palavras-chave:

Materialismo histórico-dialético, Gaston Bachelard, Filosofia da Ciência, História da Biologia

Resumo

Nesse trabalho são discutidas teses sobre a atividade científica na sua realidade histórica concreta fundamentando-se no racionalismo aplicado de Bachelard e no materialismo histórico-dialético de Marx e Engels. Para tanto, são definidos e analisados dois aspectos da atividade científica, chamados de aspectos epistemológico e ontológico. Neles são discutidas, respectivamente, as relações de tensionamento e dupla realização entre a ciência e o seu referencial (a realidade) e as relações materiais estabelecidas entre os elementos presentes na produção do conhecimento científico (linguagem, tradição, técnicas, condições socioeconômicas etc.), sempre lançando mão de exemplos ilustrativos da história da biologia. Em consequência, a realidade histórica concreta da ciência é definida como aquela de um movimento de contradições e sínteses, animado pela acumulação quantitativa e episódios de saltos qualitativos.

Biografia do Autor

  • Edson Pereira Silva, Universidade Federal Fluminense/Professor Associado

    Possui bacharelado em Biologia Marinha pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1988), mestrado em Genética pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1991), doutorado em Genética pela University of Wales-Swansea (1998) e pós-doutorado em Genética Molecular pela University of Swansea. Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal Fluminense. Tem experiência na área de Genética e atua, entre outro temas, com história da genética, história da teoria evolutiva e epistemologia.

  • Fernanda Gonçalves Arcanjo, Universidade de São Paulo/Doutoranda

    Possui bacharelado em Ciências Biológicas, com ênfase em Biologia do Desenvolvimento, pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e mestrado em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente cursa doutorado no Programa de Pós-Graduação em Biologia Comparada da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, na Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP). Trabalha, também, em colaboração com o Laboratório de Genética Marinha e Evolução (LGME - Departamento de Biologia Marinha - UFF). Desenvolve projetos de pesquisa teórica nas áreas de Epistemologia, Filosofia da Biologia e História da Biologia, explorando questões relacionadas, principalmente, à evolução, genética/hereditariedade e biologia do desenvolvimento.

Referências

AGASSI, J. Continuity and discontinuity in the history of science. Journal of the History of Ideas, Philadelphia, v. 34, n. 4, out./dez. 1973, p. 609-626.

ALLEN, G. E. The reception of mendelism in the United States, 1900-1930. Comptes Rendus de l’Academie des Sciences: sciences de la vie, Paris, v. 323, n. 12, dez. 2000, p. 1081-1088.

ALLEN, G. E. Origins of the classical gene concept, 1900–1950: genetics, mechanistic, philosophy and the capitalization of agriculture. Perspectives in Biology and Medicine, Cambridge, v. 57, n. 1, jan./mar. 2014, p. 8-39.

ALTHUSSER, L. Freud e Lacan. Marx e Freud. 2. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1985.

ANDRADE, L. A. B.; SILVA, E. P. Por que as galinhas cruzam as estradas? A história das ideias sobre a vida e sua origem. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2011.

ARCANJO, F. G.; SILVA, E. P. Pangênese, genes, epigênese. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 24, n. 3, jul./set. 2017, p. 707-726.

AUDI, R. The Cambridge dictionary of philosophy. 2. ed. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.

BACHELARD, G. A filosofia do não. Seleção de José Américo M. Pessanha. Tradução de Joaquim José Moura Ramos. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 1-87 (Coleção Os Pensadores).

BACHELARD, G. A epistemologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.

BIZZO, N.; EL-HANI, C. N. Darwin and Mendel: evolution and genetics. Journal of Biological Education, London, v. 43, n. 3, dez. 2009, p. 108-114.

BOWLER, P. J. Evolutionary ideas: pre-darwinian. Encyclopedia of Life Sciences, 2001. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1038/npg.els.0001691. Acesso em: 13 ago. 2020.

BOWLER, P. J. Evolution: history. Encyclopedia of Life Sciences, 2010. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/9780470015902.a0001517.pub2. Acesso em: 13 ago. 2020.

BRAUNSTEIN, J. Historical epistemology, old and new. In: SCHMIDGEN, H. Epistemology and History: from Bachelard and Canguilhem to today’s History of Science. Berlin: MPIGW Preprint 434, 2012, p. 33-40.

BRENNER, A. The French connection: conventionalism and the Vienna circle. In: HEIDELBERGER, M.; STADLER, F. (ed.). History of Philosophy and Science: new trends and perspectives. Dordrecht: Kluwer Academic, 2002, p. 277-286.

BRENNER, A. Epistemology historicized: the French tradition. In: GALAVOTTI, M.; DIEKS, D.; GONZALEZ, W.; HARTMANN, S.; UEBEL, T.; WEBER, M. (ed.). New directions in the Philosophy of Science. The Philosophy of Science in a European perspective. V. 5. New York: Springer, 2014, p. 727-736.

BRENNER, A. Is there a cultural barrier between historical epistemology and analytic philosophy of science? International Studies in the Philosophy of Science, London, v. 29, n. 2, 2015, p. 201-214.

CHIAPPIN, J. R. N.; LEISTER, C. Duhem como precursor de Popper, Kuhn e Lakatos sobre a metodologia da escolha racional de teorias: da dualidade à trialidade metodológica. Veritas, Porto Alegre, v. 60, n. 2, nov. 2015, p. 313-343.

CHIMISSO, C. Writing the history of the mind: philosophy and science in France, 1900 to 1960s. Aldershot: Ashgate, 2008.

DARWIN, C. R. On the origin of species. London: John Murray, 1859.

DARWIN, C. R. The variation of animals and plants under domestication. London: John Murray, 1868.

DONNELLAN, K. S.; STROLL, A. Analytic Philosophy. Enciclopaedia Britannica, 2017. Disponível em: https://www.britannica.com/topic/analytic-philosophy. Acesso em: 09 set. 2018.

DUHEM, P. The aim and structure of physical theory. Princeton: Princeton University Press, 1991 [1954].

ENGELS, F.; MARX, K. Manifesto do Partido Comunista. 2. ed. Petrópolis: Vozes de Bolso, 2014 [1848].

FEYERABEND, P. Contra o método. São Paulo: Editora UNESP, 2007 [1975].

HAHN, H.; NEURATH, O.; CARNAP, R. A concepção científica do mundo: o Círculo de Viena. Cadernos de História e Filosofia da Ciência, Campinas, v. 10, 1986 [1929], p. 5-20.

HESSEN, J. Teoria do conhecimento. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 1998 [1962].

KUKLA, R. Delimiting the proper scope of epistemology. Philosophical Perspectives, v. 29, n. 1, dez. 2015, p. 202-216.

LECOURT, D. L’épistémologie historique de Gaston Bachelard. Paris: Vrin, 1969.

LECOURT, D. Georges Canguilhem. Paris: Presses Universitaires de France, 2008.

LOPES, A. R. C. Bachelard: o filósofo da desilusão. Caderno Catarinense de Ensino de Física, Florianópolis, v. 13, n. 3, dez. 1996, p. 248-273.

MARCONDES, D. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

MARX, K. Introdução [À Crítica da Economia Política] e Prefácio para a crítica da economia política. In: MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. São Paulo: Abril Cultural, 1974, p. 107-138. (Coleção Os Pensadores - v. 35).

MARX, K. O capital: crítica da economia política (Livro Primeiro). São Paulo: Nova Cultural, 1996 [1867].

MARX, K. Grundrisse: manuscritos econômicos de 1857-1858 e Esboços da crítica da economia política. São Paulo: Boitempo, 2011 [1857/58].

MARX, K. O capital: crítica da economia política. Livro 1. São Paulo: Boitempo, 2013 [1867].

MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2007 [1932].

MAYR, E. The growth of biological thought: diversity evolution and inheritance. Cambridge; London: Belknap Harvard, 1982.

MCLELLAN, D. As ideias de Engels. São Paulo: Cultrix, 1979.

MENDEL, G. Experiments of plant hybrids. In: STERN, C.; SHERWOOD, E.R. (ed.). The origins of genetics: a Mendel source book. San Francisco: W.H. Freeman & Company, 1966 [1866], p. 1-48.

NARANIECKI, A. Neo-positivist or neo-kantian? Karl Popper and the Vienna circle. Philosophy, Cambridge, v. 85, n. 4, out. 2010, p. 511-530.

NOLA, R. Darwin's arguments in favour of natural selection and against special creationism. Science & Education, v. 22, n. 2, Fev, 2013, p. 149-171.

POPPER, K. R. Conhecimento objetivo. São Paulo: EDUSP, 1975.

POPPER, K. R. Conjecturas e refutações. Brasília, DF: Editora da Universidade de Brasília, 1982.

POPPER, K. R. Lógica da pesquisa científica. São Paulo: EDUSP, 1985.

RUSSEL, B. On denoting. Mind, Oxford, v. 14, n. 4, jan. 1905, p. 479-493.

SILVA, E. P. A short history of evolutionary theory. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, set./dez. 2001, p. 671-687.

SILVEIRA, F. L. A filosofia da ciência de Karl Popper: o racionalismo crítico. Caderno Catarinense de Ensino de Física, Florianópolis, v. 13, n. 3, dez. 1996, p. 197-218.

Recebido: 04/4/2019 - Aceito: 09/7/2020

Publicado

25-06-2021 — Atualizado em 30-06-2022

Edição

Seção

Artigos e Comentários

Como Citar

História da ciência, epistemologia e dialética. (2022). Trans/Form/Ação, 44(2), 149-174. https://doi.org/10.1590/0101-3173.2021.v44n2.11.p149