Uma questão de vaidade:
relações entre Nietzsche e Mandeville
DOI:
https://doi.org/10.1590/0101-3173.2021.v44n1.27.p357Palavras-chave:
Moralidade, Vaidade, Nietzsche, MandevilleResumo
O artigo discute aspectos de relativa congruência entre as críticas da moral em Nietzsche e Mandeville, atentando-se principalmente para a questão da vaidade. Considera-se que Nietzsche e Mandeville, guardadas as devidas peculiaridades, foram imoralistas em suas respectivas épocas. Através de pesquisas nas obras publicadas e em fragmentos póstumos, sabe-se que Nietzsche conhecia o pensamento de Mandeville. Porém, não se pôde verificar a extensão das leituras que o filósofo alemão fez de seu antecessor. O livro pesquisado de Mandeville foi A fábula das abelhas: Vícios privados, benefícios públicos. Devido à extensão da obra de Nietzsche, a discussão filosófica neste filósofo centrou-se nos dois volumes de Humano, demasiado humano, Aurora e A Gaia Ciência. Mandeville entendia que a existência e não a revogação dos vícios era a mola propulsora do enriquecimento da sociedade. Um dos traços da natureza humana é a vaidade. Não é a humildade que subjaz às ações virtuosas, mas o orgulho, bem como a vaidade. A virtude moral seria um artifício para a obtenção de benefícios individuais. Para Nietzsche, a vaidade é o que torna a visão do ser humano suportável, dissimulando paixões e emoções que moralmente são tidas como vergonhosas. A vaidade tem o papel de humanizar o indivíduo para que seja mais sociável e cumpra as exigências de uma moralidade estabelecida.
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Recebido: 30/7/2018 - Aceito: 08/8/2020
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