O sentido do dever: as virtudes nas obras de Marco Túlio Cícero e Miyamoto Musashi
DOI:
https://doi.org/10.1590/0101-3173.2024.v47.n6.e02400282Palavras-chave:
Filosofia antiga, Filosofia oriental, Crítica ao hedonismo, Artes marciais, RacionalidadeResumo
Um dos propósitos das comparações filosóficas interculturais é o exame acerca de paralelismos culturais, o qual auxilia no entendimento de problemas existenciais. No entanto, é restrito o número de produções que tenham considerado o sentido do dever e o universo das virtudes, por intermédio de abordagem comparativa intercontinental. O propósito deste artigo é explorar o sentido do dever e a concepção de virtude nas e a partir das obras do filósofo romano Marco Tulio Cícero (106 – 43 a.C.) e do mestre espadachim japonês Miyamoto Musashi (1584 – 1645), tomando como obras principais Dos Deveres, do primeiro, e “Gorin No Sho” e “Dokkôdô”, do segundo. Em ambos, encontram-se elementos teórico-normativos convergentes, quanto à conduta virtuosa do agente, seja ele entendido como cidadão, isto é, no contexto social e político, seja ele concebido como indivíduo que age no campo de combate. Entre esses elementos em comum de ambas as posições, destacam-se a crítica ao hedonismo, o elogio à racionalidade e o domínio dos instintos. Contudo, os autores divergem no tópico relacionado à felicidade.
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Recebido: 09/06/2024 – Aprovado: 14/08/2024 – Publicado: 04/10/2024
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