Perder a mãe: uma categoria colonial?

Autores

  • Elzahrã Mohamed Radwan Omar Osman INEP

DOI:

https://doi.org/10.1590/0101-3173.2024.v47.n2.e02400227

Palavras-chave:

Colonialidade, Maternidade, Opacidade, Feminismo, Escrita

Resumo

O presente artigo recupera algumas das reflexões realizadas por diferentes autoras e discursos feministas sobre a relação materialidade-maternidade, na história da filosofia, mais precisamente, a partir do empreendimento colonial-moderno. Nesse sentido, o texto vale-se da obra de Saidiya Hartman, Perder a mãe, como um fio metafórico sobre a destruição de laços com a terra, de parentesco, de memória, para concluir pela perda irrecuperável de toda e qualquer mãe – também nos termos da psicanálise lacaniana –, a fim de contemplar a recuperação da mãe como um mater-nar a opacidade, por meio da produção escrita de mulheres. Na primeira parte do texto, apresenta-se a metáfora materna no debate filosófico; na segunda parte do texto, as referências à colonialidade da figura materna, em função da investigação sobre o trabalho das mulheres negras escravizadas, na constituição das sociedades modernas, via feminismos negros e decoloniais, e, logo em seguida, também através do debate da psicanálise lacaniana sobre a inscrição da letra no corpo de suas filhas; para, finalmente, na quarta parte, fechar o texto com algumas considerações sobre como imaginar o que seria um trabalho de escrita realizado com base na recuperação de um corpo forcluído pela colonialidade.

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Biografia do Autor

  • Elzahrã Mohamed Radwan Omar Osman, INEP

    Pesquisadora-Tecnologista do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, Brasília/DF – Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-9419-1877. 

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Recebido: 15/10/2023 – Aprovado: 16/05/2024 – Publicado: 10/07/2024

Publicado

10-07-2024

Como Citar

OSMAN, Elzahrã Mohamed Radwan Omar. Perder a mãe: uma categoria colonial?. Trans/Form/Ação, Marília, SP, v. 47, n. 2, p. e02400227, 2024. DOI: 10.1590/0101-3173.2024.v47.n2.e02400227. Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/transformacao/article/view/15226.. Acesso em: 22 nov. 2024.