Os monstros humanos em Foucault e existências transgêneros
DOI:
https://doi.org/10.1590/0101-3173.2023.v46n4.p229Palavras-chave:
monstro humano, sexualidade, verdadeiro sexo, Resistência políticaResumo
Este artigo foi escrito a partir das formulações de Michel Foucault, no curso Os anormais (1975), a respeito da dimensão da monstruosidade humana. Em suas linhas gerais, Foucault não apenas nos fornece um panorama da lenta formação da “família indefinida e confusa” dos anormais, como também trata da importante participação da figura do monstro humano, na sua composição. Tomando assim a tematização do monstro humano como fio condutor deste texto, pretende-se lançar alguns questionamentos sobre as tecnologias de saber e estratégias de poder que tornaram possível a sua existência, quais sejam: como a dimensão da monstruosidade veio a se atrelar ao quadro da sexualidade? De que modo o dispositivo da sexualidade se implicou à proliferação dos vultos pálidos dos monstros humanos? E, em um último passo, pergunta-se também sobre as possibilidades de resistência política, do ponto de vista de corpos dissidentes, na medida em que eles fazem frente ao universalismo violento das determinações pautadas pelo verdadeiro sexo.
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Recebido: 31/01/2023
Aceito: 12/03/2023
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