Resistindo à “guerra às drogas” a partir de Homero

a multivalência do phármakon na Odisseia

Autores

Palavras-chave:

Literatura Antiga, Homero, Phármakon, Drogas, Multivalência

Resumo

Propõe-se uma leitura de três episódios da Odisseia, nos quais há o uso de um phármakon. São Helena, Circe e Hermes as personagens que administram as phármaka. Trata-se de leitura: 1) vinculada a um projeto: o levantamento e a interpretação de discursos que se distanciem e/ou questionem a perspectiva da “guerra às drogas”, algo como um projeto de extração de elementos textuais que possam servir como ferramentas teóricas, na construção de uma perspectiva menos mortífera em relação às substâncias; 2) guiada por três princípios, os quais podem ser ditos anticoloniais e antirracistas. Leitura centrada no phármakon, mas que o articula à comida floral dos lotófagos e à relação de xenía; dela, apresenta-se a proposta segundo a qual, no texto homérico, há a valorização de algo que pode ser chamado de multivalência.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Erick Araujo, Universidade de Brasília - UnB

Programa de Pós-Graduação em Metafísica, Universidade de Brasília (UnB), Campus Universitário Darcy Ribeiro, Brasília, DF – Brasil.

Gabriele Cornelli, UnB

Programa de Pós-Graduação em Metafísica, Universidade de Brasília (UnB), Campus Universitário Darcy Ribeiro, Brasília, DF – Brasil.

Referências

ADKINS, A. W. H. Homeric values and homeric society. Hellenic Studies, Londres, v. 91, p. 1-14, 1971. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/631365?seq=1. Acesso em: 19 maio 2021.

ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

AJARI, N. La dignité ou la mort: éthique et politique de la race. Paris: La Découverte, 2019.

APPIAH, K. A. There is no such thing as Western civilization. The Guardian, 2016. Disponível em: https://www.theguardian.com/world/2016/nov/09/western-civilisation-appiah-reith-lecture. Acesso em: 20 maio 2021.

ARAUJO, E. A vida em cenas de uso de crack. Rio de Janeiro: Papéis Selvagens, 2017.

ARAUJO, E. , Lima Barreto… Curitiba: Kotter, 2021.

ASSUNÇÃO, T. R. Infidelidades veladas: Ulisses entre Circe e Calipso na Odisseia. Nuntius Antiquus, Belo Horizonte, v. 7, p. 153-176, 2011. Disponível em: http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/nuntius_antiquus/article/view/2114. Acesso em: 20 maio 2021.

ASSUNÇÃO, T. R. Lotófagos (Odisseia IX, 82-104): comida floral fácil e risco de desistência. Classica, Belo Horizonte, v. 29, n. 1, p. 273-294, 2016. Disponível em: https://revista.classica.org.br/classica/article/view/416/361. Acesso em: 25 maio 2021.

ATWOOD, M. A Odisseia de Penélope. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

BARRETO, L. Diário do hospício e O cemitério dos vivos. São Paulo: Cosac Naify, 2010.

BOUTELDJA, H. Les blancs, les juifs et nous: vers une politique de l’amour révolutionnaire. Paris: La Fabrique, 2016.

CAIRUS, H. F.; RIBEIRO, T. O. Alguns olhares gregos sobre as estações do ano: a temporalidade e o etnocentrismo. Interfaces, Rio de Janeiro, v. 1, n. 22, p. 13-28, 2015. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/interfaces/article/view/29705. Acesso em: 16 jun. 2021.

CANDIDO, M. R. A África Antiga sob a ótica dos clássicos gregos e o viés africanista. Cadernos de História, Belo Horizonte, v. 19, n. 30, p. 20-38, 2018. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/cadernoshistoria/article/view/15945. Acesso em: 19 maio 2021.

CASSIN, B. Homero filósofo: algumas cenas filosóficas primitivas em Homero. Anais de Filosofia Clássica, Rio de Janeiro, v. 4, n. 8, p. 1-12, 2010. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/FilosofiaClassica/article/view/15. Acesso em: 16 maio 2021.

CLASTRES, P. Arqueologia da violência: pesquisas de antropologia política. São Paulo: Cosac Naify, 2004.

COSTA, L. L. Heróis antigos e modernos: a falsificação para se pensar a história. 2016. 436 f. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2016.

COSTA, L. L. Os Lotófagos da Odisseia ou sobre o esquecimento do retorno. Caderno Pesquisa do CDHIS, Uberlândia, v. 30, n. 2, p. 169-185, 2017. Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/cdhis/article/view/41684. Acesso em: 24 maio 2021.

COSTA, L. L. Heróis antigos e modernos: a falsificação para se pensar a história. Belo Horizonte: Fino Traço, 2018.

ECKERMANN, J. P. Conversações com Goethe. Lisboa: Vega, 1990.

EVELYN-WHITE, H. G. Hesiod, the Homeric hymns and Homerica. Cambridge: Harvard University Press, 1914.

DEE, J. H. Black Odysseus, White Caesar: when did “white people” become “white”? The Classical Journal, Natchitoches, v. 99, n. 2, p. 157-167, 2003. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/3298065. Acesso em: 16 jun. 2021.

FANON, F. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EdUFBA, 2008.

FASANO, G. C. Z. Egipto, Fenicia, Creta: tres espacios-clave para el discurso etnográfico em Odisea. Hélade, Niterói, v. 5, n. 1, p. 115-130, 2019. Disponível em: https://periodicos.uff.br/helade/article/view/29404/17111. Acesso em: 18 maio 2021.

FAUSTINO, D. M. A emoção é negra, a razão é helênica? Considerações fanonianas sobre a (des)universalização do “ser” negro. Tecnologia e Sociedade, Curitiba, v. 9, n. 18, 2013. Disponível em: https://periodicos.utfpr.edu.br/rts/article/view/2629. Acesso em: 16 maio 2021.

FINLEY, M. The world of Odysseus. Nova York: The New York Review of Books, 1979.

GUATTARI, F. Caosmose: um novo paradigma estético. São Paulo: Ed. 34, 2012.

HOMERO. Ilíada. Trad. Frederico Lourenço. São Paulo: Companhia das Letras. 2005.

HOMERO. Odisseia. Trad. Donaldo Schüler. Porto Alegre: L&PM, 2008.

HOMERO. Odisseia. Trad. Christian Werner. São Paulo: CosacNaify, 2014.

HOMERO. Odisseia. Trad. Frederico Lourenço. Lisboa: Quetzal, 2018.

HYDE, L. Trickster makes this world: mischief, myth, and art. Nova York: Farrar, Straus and Giroux, 2011.

ISAAC, B. The invention of racism in Classical Antiquity. Princeton; Oxford: Princeton University Press, 2004.

KINCAID, J. I see the world. Paris Review, 2020. Disponível em: https://www.theparisreview.org/blog/2020/04/28/i-see-the-world/. Acesso em: 11 maio 2021.

LANCETTI, A. Contrafissura e plasticidade psíquica. São Paulo: Hucitec, 2015.

LÉVI-STRAUSS, C. Raça e História. Antropologia Estrutural II. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996.

LIMA, V. M. A partir de Guattari 1: uma política da existência. Rio de Janeiro: Ponteio, 2019.

LORAUX, N. Éloge de l’anachronisme en histoire. Espace Temps, n. 87-88, p. 127-139, 2005. Disponível em: https://www.persee.fr/doc/espat_0339-3267_2005_num_87_1_4369. Acesso em: 6 dez. 2021.

MBEMBE, A. Crítica da razão negra. São Paulo: n-1, 2018.

McCOSKEY, D. E. On Black Athena, Hippocratic medicine, and Roman Imperial edicts: Egyptians and the problem of race in Classical Antiquity. In: COATES, R. D. (org.). Race and ethnicity: across time, space and discipline. Leiden, Boston: Brill, 2004. p. 297-330.

McCOSKEY, D. E. What would James Baldwin do? Classics and the dream of White Europe. Eidolon, 2017. Disponível em: https://eidolon.pub/what-would-james-baldwin-do-a778947c04d5. Acesso em: 15 jun. 2021.

MUGLER, C. L’“altérité” chez Homère. Revue des Études Grecques, Paris, v. 82, n. 389-390, p. 1-13, 1969. Disponível em: https://www.persee.fr/doc/reg_0035-2039_1969_num_82_389_1026. Acesso em: 22 maio 2021.

NASCIMENTO, A. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. São Paulo: Perspectiva, 2017.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Classificação Internacional de Doenças 11. 2021. Disponível em: https://icd.who.int/en. Acesso em: 6 dez. 2021.

PLATÃO. A República. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1993.

RINELLA, M. A. Pharmakon: Plato, drug culture, and identity in ancient Athens. Maryland: Lexington, 2010.

ROCHE, H. “Distant models”? Italian Fascism, National Socialism and the lure of the Classics. In: ROCHE, H.; DEMETRIOU, K. (org.). Brill’s companion to the Classics, Facist Italy and Nazi Germany. Leiden, Boston: Brill, 2018. p. 3-28.

ROUSSEAUX, M. Ulysse et les mangeurs de coquelicots. Bulletin de l’Association Guillaume Budé, Paris, n. 3, p. 333-351, 1971. Disponível em: https://www.persee.fr/doc/bude_0004-5527_1971_num_1_3_3155. Acesso em: 25 maio 2021.

RUTHERFORD, R. B. The philosophy of the Odyssey. Hellenic Studies, Londres, v. 106, p. 145-162, 1986. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/629649. Acesso em: 25 maio 2021.

SALLES, L. L. B. M. Raízes sofísticas: sobre a escrita como phármakon para a fala ou da tradição gorgiana até Alcidamante de Eleia. 2018. 402 f. Tese (Doutorado em Filosofia) – Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.

SEGAL, C. Circean temptations: Homer, Vergil, Ovid. Transactions of the American Philological Association, Baltimore, v. 99, p. 419-442, 1968. Disponível em: https://doi.org/10.2307/2935855. Acesso em: 20 maio 2021.

SELS, N. Ambiquity and mythic imagery in Homer: Rhesus’ lethal nightmare. Classical World, Baltimore, v. 106, n. 4, p. 555-570, 2013. Disponível em: https://doi.org/10.1353/clw.2013.0089. Acesso em: 20 maio 2021.

SHUSTER, A. L. Pharmakon: Plato, drug culture, and identity in ancient Athens. New Political Science, v. 36, n. 3, p. 422-424, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1080/07393148.2014.924247. Acesso em: 19 maio 2021.

SILVA, M. F. Homero e o mundo vegetal. Classica, Belo Horizonte, v. 32, n. 2, p. 157-180, 2019. Disponível em: https://revista.classica.org.br/classica/article/view/885. Acesso em: 17 maio 2021.

SILVA, R. G. T. Ópio e memória ou sobre o retorno do esquecimento. Cadernos de Pesquisa do CDHIS, Uberlândia, v. 30, n. 2, p. 186-197, 2017. Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/cdhis/article/view/41685/22016. Acesso em: 25 maio 2021.

STANNARD, J. The plant called Moly. Osiris, Chicago, v. 14, p. 254-307, 1962. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/301871. Acesso em: 23 maio 2021.

TORRES, G. Estamos indo para lugar nenhum [Instalação]. 2015. Disponível em: https://gustavoxtorres.com/estamos-indo-para-lugar-nenhum. Acesso em: 11 maio 2021.

VERGADOS, A. The Homeric Hymn to Hermes: humour and epiphany. In: FAULKNER, A. (Org.). The Homeric Hymns: interpretative essays. Oxford: Oxford University Press, 2011. p. 82-104.

VLASSOPOULOS, K. Greeks and barbarians. Cambridge: Cambridge University Press, 2013.

WERNER, C. A ambiguidade do kléos na Odisseia. Letras Clássicas, São Paulo, n. 5, p. 99-108, 2001. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/letrasclassicas/article/view/82629. Acesso em: 24 maio 2021.

WERNER, C. A deusa compõe um “mito”: o jovem Odisseu em busca de veneno (Odisseia I, 255-68). Nuntius Antiquus, Belo Horizonte, v. 6, p. 7-27, 2010. Disponível em: http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/nuntius_antiquus/article/view/2083. Acesso em: 16 maio 2021.

Recebido: 22/6/2021 - Aceito: 20/12/2021

Publicado

29-03-2022 — Atualizado em 23-06-2022

Como Citar

Araujo, E., & Cornelli, G. (2022). Resistindo à “guerra às drogas” a partir de Homero: a multivalência do phármakon na Odisseia. TRANS/FORM/AÇÃO: Revista De Filosofia Da Unesp, 45(2), 101–126. Recuperado de https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/transformacao/article/view/12040

Edição

Seção

Artigos e Comentários