O legado marxiano e o problema da democracia

Autores

  • Alvaro L. Hatther
  • Isabel M. Loureiro

DOI:

https://doi.org/10.1590/S0101-31731993000100007

Palavras-chave:

Tradução, Marxismo, Democracia

Resumo

Os "eventos" do ano passado deveriam surpreender um esquerdista sério? Chamo essas mudanças maciças de "eventos", e coloco o termo entre aspas, numa alusão à forma como os franceses evitaram ajustar contas com sua própria e aparentemente inexplicável experiência em maio de 1968, quando um protesto estudantil iniciou uma cadeia de ações e reações que levou inesperadamente ao quase colapso de todo poder governamental - que, no entanto, foi seguida por eleições dando vitória esmagadora ao partido da ordem. Além do mais, uso o termo "partido da ordem" e não "da direita" ou "conservador" - muito menos "capitalista" - para recordar o fato de que, naquele mesmo ano de 1968, os dirigentes comunistas trouxeram a "ordem" de volta a Praga sobre as pesadas esteiras dos tanques do Pacto de Varsóvia. O inimigo polimórfico, de muitas cabeças, que aterroriza as noites do partido internacional da ordem, não é a esquerda, o socialismo - muito menos o "comunismo" -, mas sim a democracia. Esta não é uma observação tão banal quanto parece. Afinal de contas, quem se opõe à democracia? Ora, para ser sincero a respeito, muitos de nós da esquerda ocidental o fizeram - esquivando-nos de uma postura crítica ao dizer que aquilo a que nos opúnhamos era apenas a democracia "formal", que denunciávamos como ideológica. Mas o destino do "socialismo real" nos força a repensar nossos próprios valores e métodos políticos. E não podemos empreender essa reflexão como se fôssemos virgens em política. Temos um passado e vivemos em um presente; temos que atuar a partir das dissonâncias cognitivas que ambos produzem.

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Publicado

01-01-1993

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Tradução

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