Ressonâncias e ontologias outras

pensando com o pensar bantu-kongo

Autores

  • Tiganá Santana Neves Santos Universidade Federal da Bahia (UFBA)

DOI:

https://doi.org/10.1590/0101-3173.2022.v45esp.09.p149

Palavras-chave:

Filosofia bantu-kongo, Ontologia, Mesmo pluriontológico, Outridade, Entes ecológicos

Resumo

À luz de aspectos fundamentais do pensar bantu-kongo e em consonância com  pensadores contemporâneos, tais como Bunseki Fu-Kiau e Zamenga B., este artigo aspira a refletir acerca de ontologias distintas daquelas hegemônicas euro-ocidentais. Tais ontologias são vivenciadas em parte do continente africano e foram deslocadas para territórios afrodiaspóricos, como o Brasil, ainda que com adaptações, por meio de práticas cosmológicas que situam a ancestralidade em lugar central. As ideias de “mesmo pluriontológico” (conforme nós cunhamos com base hermenêutica na filosofia kongo), opacidade (a partir da sugestão teórica de Édouard Glissant), estágios do cosmograma kongo, vazio, transmutação, inclinação à outridade, ciência do feitiço, sistema, entes ecológicos, inter-ações propõem possibilidades complexas de ser-viver, em relação, que se distanciam, radicalmente, de metafísicas e éticas desenvolvidas no seio do pensamento ocidental, assim como podem com elas dialogar, o que faz com que, ao pensar do lado da margem afrodiaspórica do atlântico, consideremos as tensões entre esses distintos modos de pensar que ocupam espaços assimétricos nos construtos históricos.    

Biografia do Autor

  • Tiganá Santana Neves Santos, Universidade Federal da Bahia (UFBA)

    Professor Adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Prof. Milton Santos (IHAC) – Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, BA – Brasil.

Referências

B, Z. Kindoki: source des philosophies et des religions africaines. Kinshasa: Zabat, 1996.

BASTIDE, R. Les Amériques noires: les civilisations africaines dans le nouveau monde. Paris: Payot, 1967.

BASTIDE, R. Les religons africaines au Brésil: contribution à une sociologie des interpénétrations de civilisation. Paris: Presses Universitaires de France, 1995.

BATSÎKAMA, P. Será Mbôngi’a Ñgîndu a escola das ciências políticas no antigo Kôngo? Revista TransVersos, [S.l.], n. 15, p. 478-502, abr. 2019. ISSN 2179-7528. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/transversos/article/view/42055/29162. Acesso em: 21 jul. 2020. doi: https://doi.org/10.12957/transversos.2019.42055.

BOCKIE, S. Death and the invisible powers: the world of Kongo belief. Bloomington, Indianápolis: Indiana University Press, 1993.

CASTRO, E. V. Metafísicas canibais: elementos para uma antropologia pós-estrutural. São Paulo: Ubu, n-1, 2018.

COBE, F. N. Novo dicionário português kikongo. Luanda: Mayamba, 2010.

DOUTRELOUX, A. L’ombre des fétiches: sociétés et cultures yombe. Louvain: Nauwelaerts, 1967.

DURANT, W. The story of philosophy: the lives and opinions of the world’s greatest philosophers from Plato to John Dewey. New York: Washington Square Press, 1961.

FERRETTI, S. Repensando o sincretismo. 2. ed. São Paulo: EDUSP, Arché, 2013.

FU-KIAU, K. K. B. Makuku Matatu: les fondements culturels bantu chez les kongo. Manuscrito, 1978.

FU-KIAU, K. K. B. African cosmology of the bantu-kongo: principles of life and living. 2. ed. New York: Athelia Henrietta, 2001a.

FU-KIAU, K. K. B. Self-healing power and therapy: old teachings from Africa. Clifton: African Tree, 2001b.

GLISSANT, É. Pela opacidade. Tradução de Henrique de Toledo Groke e Keila Prado Costa. Revista Criação e Crítica, São Paulo, p. 53-55. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/criacaoecritica/article/view/64102/66809>. Acesso em: 21 jul. 2020. doi: https://doi.org/10.11606/issn.1984-1124.v0i1p53-55.

HEIDEGGER, M. Ensaios e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão et al. 8. ed. Petrópolis, Bragança Paulista: Vozes, Editora Universitária São Francisco, 1997.

IROBI, E. O que eles trouxeram consigo: Carnaval e persistência da performance estética africana na Diáspora. Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História, [S.l.], v. 44, jan. 2013. ISSN 2176-2767. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/revph/article/view/9857. Acesso em: 22 jul. 2020.

JONAS, H. O Princípio Responsabilidade: ensaio de uma ética para uma civilização tecnológica. Rio de Janeiro: PUC Rio, 2006.

LÉVINAS, E. Totalité et infini: essai sur l’extériorité. Paris: Le Livre de Poche, 1990.

MACGAFFEY, W. Religion and society in Central Africa: the Bakongo of Lower Zaire. Chicago: University of Chicago Press, 1986.

MELLO E SOUZA, L. Revisitando o calundu. In: GORENSTEIN, L.; CARNEIRO, M. L. Tucci (org.). Ensaios sobre a intolerância: Inquisição, Marranismo e Anti-Semitismo. São Paulo: Humanitas, 2002. p. 293-317.

MORA, J. F. Diccionario de filosofía abreviado. 6. ed. Buenos Aires: Sudamericana, 1977.

MOTT, L. O calundu-Angola de Luzia Pinta: Sabará, 1739. Revista do Instituto de Arte e Cultura, Ouro Preto, n. 1, p. 73-82, dez. 1994.

NASCIMENTO, Wanderson Flor do. Aproximações brasileiras às filosofias africanas: caminhos desde uma ontologia Ubuntu. Revista Prometeus Filosofia, v. 9, n. 9, p. 231-245, dez. 2016a. ISSN 2176-5960. Disponível em: <https://seer.ufs.br/index.php/prometeus/article/view/5698. Acesso em: 21 jul. 2020.

NASCIMENTO, W. F. do. Sobre os candomblés como modo de vida: imagens filosóficas entre Áfricas e Brasis. Revista Ensaios Filosóficos, v. XIII, p. 153-170, ago. 2016b. Disponível em: http://www.ensaiosfilosoficos.com.br/Artigos/Artigo13/11_NASCIMENTO_Ensaios_Filosoficos_Volume_XIII.pdf. Acesso em: 22 jul. 2020.

NOGUERA, Renato. Denegrindo a filosofia: o pensamento como coreografia de conceitos afroperspectivistas. Griot: Revista de Filosofia, Amargosa, v.4, n.2, p. 1-19, dez. 2011. Disponível em: https://www3.ufrb.edu.br/seer/index.php/griot/article/view/500. Acesso em: 22 jul. 2020.

OYEWUMI, O. Visualizing the Body: Western Theories and African Subjects. In: COETZEE, P. H.; ROUX, A. P. J. (ed.). The African Philosophy Reader. New York: Routledge, 2002. p. 391-415.

RAMOSE, M. African philosophy through Ubuntu. Harare: Mond Books, 2003.

RODRIGUES, N. O animismo fetichista dos negros baianos. Organização de Yvonne Maggie e Peter Fry. Rio de Janeiro: UFRJ/Biblioteca Nacional, 2006.

SANTOS, T. S. N. A cosmologia africana dos Bantu-Kongo por Bunseki Fu-Kiau: tradução negra, reflexões e diálogos a partir do Brasil. 2019a. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019. doi:10.11606/T.8.2019.tde-30042019-193540.

SANTOS, T. S. N. Tradução, interações e cosmologias africanas. Cadernos de Tradução, Florianópolis, v. 39, p. 65-77, dez. 2019b. ISSN 2175-7968. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/article/view/2175-7968.2019v39nespp65. Acesso em: 22 jul. 2020. doi:https://doi.org/10.5007/2175-7968.2019v39nespp65.

SARTRE, J. P. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Tradução de Paulo Perdigão. 15. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.

SILVEIRA, R. Do calundu ao candomblé: os rituais de fé africanos ganham seu primeiro tempo no início do século XIX. In: FIGUEIREDO, Luciano (org.). Raízes africanas. Rio de Janeiro: SABIN, 2009.

TALL, E. K. Le candomblé de Bahia: miroir baroque des mélancolies postcoloniales. Paris: CERF, 2012.

TEMPELS, P. La Philosophie Bantoue. Paris: Présence Africaine, 2013.

UNGER, N. M. O encantamento do humano: ecologia e espiritualidade. São Paulo: Loyola, 1991.

Recebido: 13/8/2020 - Aceito: 21/01/2021

Publicado

06-01-2022 — Atualizado em 23-06-2022

Como Citar

Ressonâncias e ontologias outras: pensando com o pensar bantu-kongo. (2022). Trans/Form/Ação, 45(Special Issue 2), 149-168. https://doi.org/10.1590/0101-3173.2022.v45esp.09.p149