Cannabis: de planta condenada pelo preconceito a uma das grandes opções terapêuticas do século

Autores

  • Adriana Ferreira Grosso Incor FMUSP

DOI:

https://doi.org/10.7322/jhgd.v30.9977

Palavras-chave:

Cannabis sativa, Canabinoides, Sistema Endocanabinoide, CBD, Opção terapêutica

Resumo

cannabis sativa tem uma história fascinante e é utilizada pela humanidade há milênios. Muitas sociedades como a grega, a romana, a chinesa, a africana, indiana e árabe aproveitaram as qualidades da planta, fosse ela consumida como alimento, medicina, combustível, fibras ou fumo. A primeira referência encontrada relativa à utilização terapêutica da planta data de 2700 a.C. e está presente na farmacopeia do Imperador chinês Shen-Nung, onde esta planta era recomendada no tratamento da malária, de dores reumáticas, nos ciclos menstruais irregulares e dolorosos. O livro “De Matéria Médica”, escrito pelo médico Pedânio Dioscórides considerado o fundador da farmacologia, traz a Cannabis como uma das substâncias naturais que podem aliviar dores de origem inflamatória. No Brasil, a Cannabis foi trazida por escravos africanos no período colonial, por volta de 1549. Em seguida, o seu uso disseminou-se rapidamente entre os negros escravos e índios, que passaram a cultivá-la. Devido à popularização da planta dentre intelectuais franceses e médicos ingleses do exército imperial da Índia, ela passou a ser considerada em nosso meio como excelente medicamento para muitos males, até ser reprimida pelas autoridades policiais na década de 1930. Descobertas importantes foram destaque no campo da Cannabis somente 60 anos depois com o Sistema Endocanabinoide e seus receptores, neurotransmissores como a anandamida e o 2-AG, revolucionando o entendimento da sinalização molecular que modula dor e analgesia, inflamação, apetite, motilidade gastrointestinal e ciclos de sono, atividade de células imunes, hormônios e muito mais. Estamos diante de uma enorme revolução na área terapêutica em que os fitocanabinoides representam uma das grandes opções terapêuticas do século. Precisamos de uma divulgação ampla de que o CBD não é maconha e que o uso recreativo da maconha nada tem a ver com o uso da Cannabis medicinal, que as pesquisas científicas estão seriamente empenhadas em estabelecer a eficácia da substância em várias patologias. O papel da informação é absoluto e se constitui na principal ferramenta para esclarecer a sociedade.

Biografia do Autor

  • Adriana Ferreira Grosso, Incor FMUSP

    Especialista em Pesquisa Clínica e Medical Afairs pela Santa Casa de SP

    Doutora em Cardiologia

Referências

1. Ren M, Tang Z, Wu X, Spengler R, Jiang H, Yang Y, et al. The origins of cannabis smoking: Chemical residue evidence from the first millennium BCE in the Pamirs. Sci Adv. 2019;5(6):1391. DOI: http://doi.org/10.1126/sciadv.aaw1391

2. Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD). Serviços de Monitorização e Informação. Relatório Anual 2016: a situação do país em matéria de drogas e toxicodependências. Divisão de Estatística e Investigação, 2017.

3. Riddle JM. Dioscorides on Pharmacy and Medicine. Austin: University of Texas Press, 1985.

4. Carlini EA. A história da maconha no Brasil. J Bras Psiquiatr. 2006;55(4): 314-17. DOI: http://doi.org/10.1590/S0047-20852006000400008

5. Gaoni Y, Mechoulam R. Isolation, Structure, and Partial Synthesis of an Active Constituent of Hashish. J Am Chem Soc. 1964;86(8):1646-7. DOI: https://doi.org/10.1021/ja01062a046

6. Hassanzadeh P. Discovery of the endocannabinoid system: a breakthrough in neuroscience. Arch Neurosci. 2014;1(3):e15030. DOI: https://doi.org/10.5812/archneurosci.15030

7. Fonseca FR, Del Arco I, Bermudez-Silva FJ, Bilbao A, Cippitelli A, Navarro M. The endocannabinoid system: physiology and pharmacology. Alcohol Alcohol. 2005;40(1):2–14. DOI: https://doi.org/10.1093/alcalc/agh110

8. Heifets BD, Castillo PE. Endocannabinoid Signaling and Long-Term Synaptic Plasticity. Annu Rev Physiol. 2009;71:283-306. DOI: https://doi.org/10.1146/annurev.physiol.010908.163149

9. Castillo PE, Younts TJ, Chávez AE, Hashimotodani Y. Endocannabinoid signaling and synaptic function. Neuron. 2012;76(1):70-81. DOI: https://doi.org/10.1016/j.neuron.2012.09.020

10. Ligresti A, Petrocellis L, Di Marzo V. From Phytocannabinoids to Cannabinoid Receptors and Endocannabinoids: Pleiotropic Physiological and Pathological Roles Through Complex Pharmacology. Physiol Rev. 2016;96(4):1593-659. DOI: https://doi.org/10.1152/physrev.00002.2016

11. Lee MA. The Discovery of the Endocannabinoid System. [cited 2020 Feb 20] Available from: https://www.beyondthc.com/wp-ontent/uploads/2012/07/eCB SystemLee.pdf

12. Russo EB. Clinical Endocannabinoid Deficiency Reconsidered: Current Research Supports the Theory in Migraine, Fibromyalgia, Irritable Bowel, and Other Treatment-Resistant Syndromes. Cannabis Cannabinoid Res. 2016;1(1):154-65. DOI: https://doi.org/10.1089/can.2016.0009

13. Smith SC, Wagner MS. Clinical endocannabinoid deficiency (CECD) revisited: can this concept explain the therapeutic benefits of cannabis in migraine, fibromyalgia, irritable bowel syndrome and other treatment-resistant conditions? Neuro Endocrinol Lett. 2014;35(3):198-201.

14. Black N, Stockings E, Campbell G, Tran LT, Zagic D, Hall WD, et al. Cannabinoids for the treatment of mental disorders and symptoms of mental disorders: a systematic review and meta-analysis. Lancet Psychiatry. 2019;6(12): 995-1010. DOI: https://doi.org/10.1016/S2215-0366(19)30401-8

15. Allan GM, Finley CR, Ton J, Perry D, Ramji J, Crawford K, et al. Systematic review of systematic reviews for medical cannabinoids: Pain, nausea and vomiting, spasticity, and harms. Can Fam Physician. 2018;64(2):e78-94.

16. Armour M, Sinclair J, Chalmers KJ, Smith CA. Self-management strategies amongst Australian women with endometriosis: a national online survey. BMC Complement Altern Med. 2019;19(1):17. DOI: https://doi.org/10.1186/s12906-019-2431-x

17. Agarwal R, Burke SL, Maddux M. Current state of evidence of cannabis utilization for treatment of autism spectrum disorders. BMC Psychiatry. 2019;19 (328). DOI: https://doi.org/10.1186/s12888-019-2259-4

18. Capasso R, Borrelli F, Aviello G, Romano B, Scalisi C, Capasso F, et al. Cannabidiol, extracted from Cannabis sativa, selectively inhibits inflammatory hypermotility in mice. Br J Pharmacol. 2008;154(5):1001-8. DOI: https://doi.org/10.1038/bjp.2008.177

19. Iuvone T, Esposito G, De Filippis D, Scuderi C, Steardo L. Cannabidiol: a promising drug for neurodegenerative disorders?. CNS Neurosci Ther. 2009;15(1):65-75. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1755-5949.2008.00065.x

20. Fernández-Ruiz J, Sagredo O, Pazos MR, García C, Pertwee R, Mechoulam R, et al. Cannabidiol for neurodegenerative disorders: important new clinical applications for this phytocannabinoid?. Br J Clin Pharmacol. 2013;75(2):323-33. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1365-2125.2012.04341.x

21. Valdeolivas S, Satta V, Pertwee RG, Fernández-Ruiz J, Sagredo O. Sativex-like combination of phytocannabinoids is neuroprotective in malonate-lesioned rats, an inflammatory model of Huntington's disease: role of CB1 and CB2 receptors. ACS Chem Neurosci. 2012;3(5):400-6. DOI: https://doi.org/10.1021/cn200114w

22. Shannon S, Lewis N, Lee H, Hughes S. Cannabidiol in Anxiety and Sleep: A Large Case Series. Perm J. 2019;23:18-041. DOI: https://doi.org/10.7812/TPP/18-041

Publicado

2020-03-27

Edição

Seção

ORIGINAL ARTICLES