CONSIDERAÇÕES SOBRE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS, RELAÇÃO PAIS/FILHOS, DIÁLOGO E PSICOLOGIA MORAL PIAGETIANA

Auteurs-es

  • Nelson Pedro-Silva Professor do Departamento de Psicologia Social da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus de Assis
  • Marcos Henriques da Freiria Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus de Marília

DOI :

https://doi.org/10.36311/1984-1655.2023.v15.n1.p28-71

Mots-clés :

Psicologia moral, Jean Piaget, Drogas psicoativas, Diálogo

Résumé

É fato que o uso de substâncias psicoativas é um fenômeno que tem assumido caráter endêmico no Brasil e, quiçá, no mundo ocidental. Diante disso, realizouse estudo sobre as relações entre o uso de drogas psicoativas e a psicologia moral piagetiana. Isso ocorreu porque, em parte, um dos autores promoveu estudo sobre as relações entre esses dois aspectos. Os resultados apontaram que pontos atinentes à autoridade ou ao apoio são insuficientes à prevenção ao uso de drogas. Acredita-se que isso ocorreu porque os estilos educativos (autoritário, autoritativo, negligente e permissivo) preocupam-se apenas com aspectos referentes ao controle e/ou ao cuidado das progenituras. Com isso, acabam não contemplando outros fatores necessários ao desenvolvimento, como a liberdade e a confiança. Em decorrência, no presente artigo, espera-se que as informações apresentadas sobre a psicologia moral de Piaget possam auxiliar na compreensão da importância do diálogo entre pais/responsáveis e filhos, no tocante ao uso de tais substâncias. O presente estudo é de cunho teórico e, quanto ao método, trata-se de uma pesquisa teórica ou bibliográfica. Esse tipo tem como fonte, material já elaborado (livros e artigos científicos). No tocante aos procedimentos, foi eleito como cerne as relações de cooperação. Para a execução da análise, empregou-se a psicologia moral piagetiana. Verificou-se que o construtivismo piagetiano afirma ser o sujeito o próprio construtor do seu conhecimento, desde que interaja com o meio físico e social, de tal maneira que certos estímulos sejam concebidos de forma significativa. Mais especificamente, a psicologia da moralidade construtivista defende o diálogo, o qual pressupõe: a) a existência de dois sujeitos; b) o uso da linguagem; e c) a disposição (interesse) para resolver o problema. Contudo, ele só é possível entre pessoas que se reconheçam como tendo a mesma competência afetiva, cognitiva e moral. Nesse assunto, observa-se que pais e filhos não se reconhecem como autoridades, i é, como tendo a mesma competência nessas três esferas. Em decorrência, um não busca se colocar no lugar do outro, não exercitando a reciprocidade. Por causa disso, os autores concluíram que os envolvidos devem empregar a psicologia moral construtivista e uma pedagogia baseada na ação, como a renovada progressivista ou a libertária. É certo que – ao menos, teoricamente –, o diálogo, na perspectiva construtivista, possibilita aos sujeitos a reflexão sobre os malefícios do uso de substâncias psicoativas, além de desenvolver a reciprocidade, o respeito mútuo e o espírito cooperativo. A propósito: agir de maneira cooperativa é essencial, sobretudo em uma sociedade cujo objetivo tem sido o de fazer prevalecer o ponto de vista de cada um, inviabilizando o regime democrático. Com a defesa do diálogo, espera-se que todos busquem construir uma sociedade pautada na justiça, no respeito mútuo e na generosidade e – evidentemente – que tal procedimento seja fator protetivo ao uso de drogas lícitas e, sobremaneira, ilícitas.

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Publié-e

2023-07-27

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Artigo