CONSIDERAÇÕES SOBRE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS, RELAÇÃO PAIS/FILHOS, DIÁLOGO E PSICOLOGIA MORAL PIAGETIANA
DOI:
https://doi.org/10.36311/1984-1655.2023.v15.n1.p28-71Palabras clave:
Psicologia moral, Jean Piaget, Drogas psicoativas, DiálogoResumen
É fato que o uso de substâncias psicoativas é um fenômeno que tem assumido caráter endêmico no Brasil e, quiçá, no mundo ocidental. Diante disso, realizouse estudo sobre as relações entre o uso de drogas psicoativas e a psicologia moral piagetiana. Isso ocorreu porque, em parte, um dos autores promoveu estudo sobre as relações entre esses dois aspectos. Os resultados apontaram que pontos atinentes à autoridade ou ao apoio são insuficientes à prevenção ao uso de drogas. Acredita-se que isso ocorreu porque os estilos educativos (autoritário, autoritativo, negligente e permissivo) preocupam-se apenas com aspectos referentes ao controle e/ou ao cuidado das progenituras. Com isso, acabam não contemplando outros fatores necessários ao desenvolvimento, como a liberdade e a confiança. Em decorrência, no presente artigo, espera-se que as informações apresentadas sobre a psicologia moral de Piaget possam auxiliar na compreensão da importância do diálogo entre pais/responsáveis e filhos, no tocante ao uso de tais substâncias. O presente estudo é de cunho teórico e, quanto ao método, trata-se de uma pesquisa teórica ou bibliográfica. Esse tipo tem como fonte, material já elaborado (livros e artigos científicos). No tocante aos procedimentos, foi eleito como cerne as relações de cooperação. Para a execução da análise, empregou-se a psicologia moral piagetiana. Verificou-se que o construtivismo piagetiano afirma ser o sujeito o próprio construtor do seu conhecimento, desde que interaja com o meio físico e social, de tal maneira que certos estímulos sejam concebidos de forma significativa. Mais especificamente, a psicologia da moralidade construtivista defende o diálogo, o qual pressupõe: a) a existência de dois sujeitos; b) o uso da linguagem; e c) a disposição (interesse) para resolver o problema. Contudo, ele só é possível entre pessoas que se reconheçam como tendo a mesma competência afetiva, cognitiva e moral. Nesse assunto, observa-se que pais e filhos não se reconhecem como autoridades, i é, como tendo a mesma competência nessas três esferas. Em decorrência, um não busca se colocar no lugar do outro, não exercitando a reciprocidade. Por causa disso, os autores concluíram que os envolvidos devem empregar a psicologia moral construtivista e uma pedagogia baseada na ação, como a renovada progressivista ou a libertária. É certo que – ao menos, teoricamente –, o diálogo, na perspectiva construtivista, possibilita aos sujeitos a reflexão sobre os malefícios do uso de substâncias psicoativas, além de desenvolver a reciprocidade, o respeito mútuo e o espírito cooperativo. A propósito: agir de maneira cooperativa é essencial, sobretudo em uma sociedade cujo objetivo tem sido o de fazer prevalecer o ponto de vista de cada um, inviabilizando o regime democrático. Com a defesa do diálogo, espera-se que todos busquem construir uma sociedade pautada na justiça, no respeito mútuo e na generosidade e – evidentemente – que tal procedimento seja fator protetivo ao uso de drogas lícitas e, sobremaneira, ilícitas.
Descargas
Referencias
ADORNO, T. W. et al. The authoritarian personality. New York: Harper, 1950.
ALTHUSSER, L. Idéologie et appareils idéologiques d’etat. Paris: Pensée, 1974.
APPOLLONI, Rossana. Despertar Libertar Crescer. Portugal: Vida Self, 2019.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo (SP): Cultural, 1996. p. 118-320.
AZEVEDO, M. C. de. A esthetic education and comunicative reason: an other of reason or another rationality? Santa Maria, 2007. 197f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria (RS), 2007.
BARBOSA; Z. P.; ROCHA-COUTINHO, M. L. Ser mulher hoje: a visão de mulheres que não desejam ter filhos. Psicologia & Sociedade. v. 24, n. 3, p. 577-587, 2012.
BARBOSA-SILVA, L.; PEREIRA, Á.; ALVES, F. A. Reflexões sobre os conceitos de adolescência e juventude: uma revisão integrativa. Revista Prática Docente, [S. l.], v. 6, n. 1, p. e026, 2021.
BATISTA, S. S. Cultura do narcisismo e educação. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. v. 81, n. 197, p. 40-49, Jan. - Abr. 2000.
BAUMAN, Z. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
BAUMRIND, D. Child care practices anteceding three patterns of preschool behavior. Genetic Psychology Monographs, 75, 43-88, 1967.
BAUMRIND, D. Current patterns of parental authority. Developmental psychology, v. 4, n. 1, p. 2, 1971.
BAUMRIND, D. Effective parenting during the early adolescent transition. In: COWAN, P. A.; HETHETINGTON, M. (Orgs.). Family transitions. New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates Publishers, 1991.
BEUVOUIR, S. (1949). O segundo sexo. Rio de Janeiro (RJ): Fronteira, 2008.
BÖINGMARIA, E.; CREPALDI, A. Relação pais e filhos: compreendendo o interjogo das relações parentais e coparentais. Educ. Rev. v. 59, p. 17-33, Jan.-Mar. 2016.
BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente (1991): Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Brasília: Câmara dos Deputados, 2001.
BRASIL. IBGE. Rendimento domiciliar per capita no Brasil foi de R$ 1.625 em 2022. Disp. em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2023-02/rendimento-domiciliar-capita-no-brasil-foi-de-r-1625-em-2022. Acesso em: 15 abr. 2023.
BRUCKNER, P. A tentação da inocência. Rio de Janeiro (RJ): Rocco, 1995.
CALLIGARIS, C. A adolescência. São Paulo (SP): Publifolha, 2000.
CARNEIRO, ÉVERTON N.; ZEFERINO, J. Refletindo sobre a proposta da pedagogia da gratuidade. Diálogos e Perspectivas Interventivas, v. 1, p. e10729, Dez. 2020.
CASSONI, C. Estilos parentais e práticas educativas parentais: revisão sistemática e crítica da literatura. Ribeirão Preto (SP), 2013. 203f. Dissertação (Mestrado em Psicologia), Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto (SP), 2013.
CASTORINA, J. A. et al. Psicologia genética: aspectos metodológicos e implicações pedagógicas. Porto Alegre (RS): Artes Médicas, 1988.
CIA, F.; D’AFFONSECA, S. M.; BARHAM, E. J. A relação entre o envolvimento paterno e o desempenho acadêmico dos filhos. Paidéia, Ribeirão Preto (SP), v. 14, n. 29, p. 277-286, 2004.
COSTA, J. F. Somos todos responsáveis. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 27 abr. 1997. p. 12.
COSTA, J. Entrevista com Jurandir Freire Costa. In: CARDOSO, M. R. (Org.). Adolescentes. São Paulo (SP): Escuta, 2006. p. 17-23.
CRUZ, L. A. N. da C.; MARTINS, R. A.; SILVA, I. A. (Orgs). Meus alunos estão bebendo! E agora? 1ª ed. Bauru, São Paulo: Gradus, 2022.
CUSTÓDIA, M. Pesquisa mostra como a culpa materna afeta os filhos. Disp. em: https://cangurunews.com.br/culpa-materna/ Acesso em: 7 abr. 2023.
DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1992.
FANTE, C. Fenômeno bullying. Campinas (SP): Verus, 2005.
FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre (RS): Artes Médicas, 1985.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro (RJ): Paz e Terra, 1975.
FREIRE, P. Educação e mudança. Rio de Janeiro (RJ): Paz e Terra, 1987.
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro (RJ): Paz, 1994.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. São Paulo (SP): Paz e Terra, 1999.
FREIRIA, M. H. da. Relações parentais e a prevenção ao uso de drogas: contribuição piagetiana. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Filosofia e Ciências, Marília (SP), 2017.
FREITAG, B. Sociedade e consciência. São Paulo (SP): Cortez, 1984.
FREITAG, B. A teoria crítica: ontem e hoje. São Paulo (SP): Brasiliense, 1988.
FREUD, S. (1920). Além do princípio do prazer. Obras completas. Madrid: Nueva, 1973. v. 3.
GÂDELHA, L. N.; GONÇALVES, F. M. da S. A adolescência e a responsabilidade social. Psicologia PT, p. 1-18, 2020.
GAZZANIGA, M; HEATHERTON, T.; HALPERN, D. Ciência psicológica. Porto Alegre (RS): Artmed, 2018.
GROSZ, J.; RODRIGUEZ, S. Y. S. Relação entre violência interpessoal e discriminação. Aletheia, Canoas (RS), v. 54, n.2, p. 112-122, Dez. 2021.
GUIMARÃES, L. P. (Org.). Crianças e docência: experiências para além da escola. Santa Maria (RS): Arco Editores, 2021.
HABERMAS, J. Discurso filosófico da modernidade. Lisboa: D. Quixote.1990.
JAPIASSU, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de filosofia. Rio de Janeiro (RJ): Jorge Zahar, 1989.
KANT, I. (1786). Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: 70, 1960.
KOHLBERG, L. (1981). Psicologia del desarrollo moral. Bilbao: Desclée, 1992.
LA TAILLE, Y de. (Org.). Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo (SP): Summus, 1992. p. 47-73.
LA TAILLE, Y de. A educação moral: Kant e Piaget. In: MACEDO, L. de. Cinco estudos de educação moral. São Paulo (SP): Casa do Psicólogo, 1996a. p. 151-152.
LA TAILLE, Y. de. A indisciplina e o sentimento de vergonha. In: AQUINO, J. G. Indisciplina na escola. São Paulo (SP): Summus, 1996b. p. 9-23.
LA TAILLE, Y de. Limites. São Paulo (SP): Summus, 1998.
LA TAILLE, Y de. Autoridade na escola. In: AQUINO, J. G. Autoridade e autonomia na escola. São Paulo (SP): Summus, 1999. p. 9-29.
LA TAILLE, Y de. Vergonha, a ferida moral. Rio de Janeiro (RJ): Vozes, 2002.
LA TAILLE, Y. de. A escola e os valores: a ação do professor. In: LA TAILLE, Y. de ; JUSTO, J. S.; PEDRO-SILVA, N. Indisciplina/disciplina: ética, moral e ação do professor. Porto Alegre (RS): Mediação, 2005. p. 5-21.
LA TAILLE, Y. de. Formação ética. Porto Alegre (RS): Artmed, 2009.
LACAN, J. Os complexos familiares. Rio de Janeiro (RJ): Jorge Zahar, 1987.
LASCH, C. The culture of narcissism. New York: Warner Books, 1979.
LASCH, C. O mínimo eu. São Paulo: Brasiliense, 1986.
MACCOBY, E. E.; MARTIN, J. A. Socialization in the context of the family: parent-child interaction. In: MUSSEN, P. H.;
HETHERINGTON, E. M. (Eds.). Handbook of child psychology. New York: Wiley, 1983. p. 1-101.
MARANO, H. E. De olhos bem fechados. Folha de S. Paulo. 20 fev 2005. p. 1-6.
MACEDO, L. de. Ensaios construtivistas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1985.
MENIN, M. S. de S. Autonomia e heteronomia às regras escolares: observações e entrevistas na escola. São Paulo, 1985. 215p. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo.
MEZAN, R. Entrevista. Folha de S. Paulo, São Paulo, 1º nov. 1992. p. 5-6.
PEDRO-SILVA, N. Ética, indisciplina & violência nas escolas. Rio de Janeiro (RJ): Vozes, 2004.
PEDRO-SILVA, N. Entre o público e o privado. São Paulo: Ed. UNESP, 2006.
PEDRO-SILVA, N; BELUCCI, A. M. O fenômeno bullying e a sua relação com o não exercício dos valores morais e éticos. III Congresso Brasileiro de Educação. In: MESSIAS, V. L. et al. (Org.). Formação de professores: compromissos e desafios da Educação Pública. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2013. p. 650-670.
KESSLER, F. et al. Psicodinâmica do adolescente envolvido com drogas. R. Psiquiatr, Porto Alegre (RS), v. 25 (supl. 1), p. 33-41, Abr. 2003.
PATIAS; N. D.; BUAES, C. S. Tem que ser uma escolha da mulher! Psicol. Soc. v. 24, n. 2, Ago. 2012. https://doi.org/10.1590/S0102-71822012000200007.
PIAGET, J. (1932). O juízo moral na criança. São Paulo (SP): Summus, 1994.
PIAGET, J. (1964). Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro (RJ): Forense, 1973.
PIAGET, J. (1974). Fazer e compreender. São Paulo (SP): Melhoramentos, 1978.
PIAGET, J. (s.d.). A epistemologia genética / Sabedoria e ilusões da filosofia / Problemas de psicologia genética. São Paulo (SP): Abril, 1983. p. 226-241.
PIAGET, J. (1974). A tomada de consciência. São Paulo: Melhoramentos, 1978.
PIAGET, J. (1948). Para onde vai a educação? Rio de Janeiro (RJ): Olympio, 1978.
PRATA, E. M. M.; SANTOS, M. A. Reflexões sobre as relações entre drogadição, adolescência e família: um estudo bibliográfico. Estudos de Psicologia (Natal), Natal (RN), v. 11, n. 3, p. 315-322, Dez. 2006.
PUIG, J. M. A construção da personalidade moral. São Paulo (SP): Ática, 1998.
RAMOZZI-CHIAROTTINO, Z. Piaget: modelo e estrutura Rio de Janeiro (RJ): Livraria José Olympio, s. d..
ROUANET, S. P. As razões do iluminismo. São Paulo (SP): Cia das Letras, 1987.
ROUANET, S. P. Teoria crítica e psicanálise. Rio de Janeiro (RJ): Tempo, 1989.
SANTOS; C. E. dos; COSTA-ROSA, A. da. A reincidência na drogadição a partir da visão do adicto. Assis (SP), 2013. 110f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) –Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2013.
SCHENKER, M.; MINAYO, M. C. DE s. Fatores de risco e de proteção para o uso de drogas na adolescência. Temas livres – Ciênc. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 10, n. 3, p. 707-717, set. 2005.
SCHOEN-FERREIRA, T. H.; AZNAR-FARIAS, M.; SILVARES, E. F. de M. Adolescência através dos séculos. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Porto Alegre (RS), v. 26, n. 2, p. 227-234, Abr.-Jun. 2010.
SOUZA, P. C. Prefácio. In: KUPFER, M. C. Freud e a educação: o mestre do impossível. São Paulo: Scipione, 2000.
TAYLOR, C. Sources of the self: the making of the modern identity. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 1989.
TOGNETTA, L. R. P. Sentimentos e virtudes: um estudo sobre a generosidade ligada às representações de si. São Paulo, 2006. 320f. Tese (Doutorado em Psicologia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.
TRINDADE, R. Pouco conhecido, navegador é figura fundamental do rali. 2014. Disponível em: https://www.terra.com.br/esportes/automobilismo. Acesso em: 10 jun. 2022.
VINHA, T. P. O educador e a moralidade infantil: uma visão construtivista. Campinas (SP): Mercado de Letras/FAPESP, 2000.
VINHA, T. P. Os conflitos interpessoais na relação educativa. Campinas, SP, 2003. 426f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas.
WANDERLEY, A. A. R. Narcisismo contemporâneo: uma abordagem laschiana. Physis. v. 9, n. 2, p. 31-47, Dez. 1990.
Descargas
Publicado
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2023 Schème: Revista Eletrônica de Psicologia e Epistemologia Genéticas
Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Reconocimiento-NoComercial-CompartirIgual 3.0.