O INIMIGO NO ESPAÇO COLONIAL E O DISCURSO SOBRE RAÇA COMO OPERADOR BIONECROPOLÍTICO
DOI:
https://doi.org/10.36311/1984-8900.2020.v12n32.p102-112Palavras-chave:
Racismo, Biopolítica, Necropolítica, Colonialismo, Michel Foucault, Achille MbembeResumo
O presente artigo busca pensar, tomando como base as obras de Achille Mbembe (2018) e Grada Kilomba (2019), a construção da figura do “inimigo”, ou do “Outro”, a partir do advento do conceito de raça e das práticas de racismo no seio das sociedades colonialistas. Isso porque a lógica colonial, de acordo com os autores supracitados, não admite qualquer tipo de vínculo entre o conquistador e o nativo ou o escravizado que não seja a partir da negação, da exclusão e da violência exercida por aquele no corpo destes, de tal sorte que o espaço da colônia se converte em um grande laboratório bionecropolítico. Para compreendermos, portanto, a necessidade de hierarquização entre uns e outros –e da consequente inferiorização do Outro-, partiremos da proposição de Mbembe, em seu ensaio Necropolítica (2018), na qual o autor identifica o racismo como a “condição para aceitabilidade do fazer morrer”. Nesse sentido, a conversão daqueles considerados inferiores, com base em critérios construídos pelo discurso europeu sobre “raça”, em inimigos passou a atuar como forma de justificar o exercício do poder punitivo e do poder de morte sobre esses corpos. Por fim, à guisa de conclusão, tentamos ressaltar que o considerado passado colonial e escravocrata ainda se faz presente em nosso cotidiano e na maneira de fazer política na contemporaneidade, ao atentarmo-nos para os frequentes episódios de genocídio do povo negro ainda no século XXI.
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