Interações de pares de bebês em programa de acolhimento institucional

Autores

  • Gabriella Garcia Moura Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) – Vitória (ES)
  • Gisele Mathias de Souza Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) – Vitória (ES)
  • Kátia de Souza Amorim Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (USP) – Ribeirão Preto (SP)

DOI:

https://doi.org/10.7322/jhgd.v30.9975

Palavras-chave:

Bebês, Criança acolhida, Interação social, Interação de pares

Resumo

Introdução: Com base na perspectiva da intersubjetividade infantil, entende-se que bebês são capazes de interagir com bebês desde muito cedo; e tais interações podem oferecer importantes experiências constitutivas às crianças.

Objetivo: Investigou-se como se dão as interações de bebê-bebês/crianças pequenas em instituição de acolhimento (abrigo), descrevendo: a frequência destas interações; os recursos emocionais-comunicativos envolvidos; a responsividade dos parceiros; e, a organização do ambiente enquanto circunscritor.

Método: Conduziu-se Estudo de Caso descritivo-exploratório, de abordagem qualitativa, acompanhando as interações de bebê focal (10-13 meses) com seus pares (de 4 a 17 meses), em instituição acolhimento. Realizaram-se videogravações semanais, por três meses no contexto naturalístico. Categorias como “orientação da atenção”, “busca/manutenção de proximidade”, “trocas sociais” e “responsividade” foram quantificadas e comparadas com interações bebê-cuidadores. Episódios interativos foram minuciosamente descritos.

Resultados: A organização do espaço físico-social foi marcada por berços, carrinhos, portões e grades, com poucos brinquedos disponíveis. Verificou-se que os bebês permaneceram grande parte do tempo em atividades individuais (sozinhos) e seus comportamentos sociais foram mais frequentemente direcionados aos cuidadores. As interações bebê-bebês/crianças pequenas ocorreram em menor frequência e, mesmo assim, foram nestas que mais se observaram atividades conjuntas e interações co-reguladas (envolvendo reciprocidade e compartilhamento). A responsividade dos pares envolveu, inclusive, comportamentos empáticos e pró-sociais (com experiência de engajamento interpessoal), onde operavam processos atencionais, emocionais e motivacionais.

Conclusão: As interações de pares de bebês acolhidos se mostraram pouco frequentes. Mas, quando ocorreram, as crianças demonstraram sensibilidade e responsividade às expressões emocionais-comunicativas dos seus coetâneos. A organização do ambiente institucional mostrou-se relevante circunscritor das interações de pares: pelo arranjo material/espacial que dificultava o contato entre as crianças pequenas; e pela ausência do adulto como agente promotor destas interações. Destaca-se a importância de novas investigações sobre indicadores interacionais no acolhimento de bebês.

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Biografia do Autor

Gabriella Garcia Moura, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) – Vitória (ES)

Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento, Centro de Ciências Humanas e Naturais

Gisele Mathias de Souza, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) – Vitória (ES)

Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento, Centro de Ciências Humanas e Naturais

Kátia de Souza Amorim, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (USP) – Ribeirão Preto (SP)

Programa de Pós-Graduação em Psicologia

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Publicado

2020-03-27

Edição

Seção

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