Orientações e práticas na alimentação de crianças com paralisia cerebral

Autores

  • Luiza Maggioni Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – Recife (PE)/ Instituto de Medicina Integrada Professor Fernando Figueira (IMIP) – Recife (PE)/ Real Hospital Português (RHP) – Recife (PE)
  • Cláudia Marina Tavares de Araújo Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – Recife (PE)

DOI:

https://doi.org/10.7322/jhgd.v30.9974

Palavras-chave:

Paralisia cerebral, Alimentação, Cuidadores, Transtornos de deglutição, Cuidado da criança

Resumo

Introdução: paralisia cerebral refere-se a distúrbios no desenvolvimento com repercussão direta no controle da postura e na motricidade. De caráter não progressivo, acontece por insulto em um cérebro ainda em desenvolvimento. Crianças com Paralisia Cerebral (PC) apresentam alterações nas funções orais, que torna o alimentar difícil, podendo trazer graves consequências para saúde, como desnutrição e pneumonia. O cuidador é presença essencial na alimentação dessas crianças, de modo que precisa conhecer e praticar meios para oferecer uma alimentação de forma segura. A fim de evitar complicações e reduzir estresse de cuidador e criança, orientações de práticas e cuidados alimentares são essenciais e precisam ser satisfatórias e efetivas. O fonoaudiólogo é o profissional habilitado na assistência e na intervenção das dificuldades alimentares das crianças e na orientação do cuidador. Todavia, orientações fornecidas nem sempre são incorporadas à prática diária, sendo necessário conhecer essa realidade mais de perto.

Objetivo: analisar a qualidade das orientações recebidas e as práticas alimentares de mães/cuidadores de crianças com paralisia cerebral.

MÉTODO: trata-se de um estudo exploratório, transversal, envolvendo 59 cuidadores principais de crianças com paralisia cerebral de um a 10 anos de idade, classificadas com nível IV ou V no Sistema de Classificação da Função Grosso Motora (GMFCS), com controle cervical ausente ou por compensação e que se alimentavam por via oral. Coleta de dados realizada através de entrevista com questões relacionadas à caracterização da amostra, qualidade das orientações recebidas quanto aos cuidados na alimentação e prática desses cuidados. Os dados foram digitados, pré-codificados e processados pelo programa Epi-info 3.5.4, utilizando o teste exato de Fisher para comparação de variáveis categóricas.

RESULTADOS: Do total da amostra, 52 participantes já haviam recebido orientações fonoaudiológicas quanto aos cuidados na alimentação. Dessas, 76,9% foram classificadas como orientações satisfatórias. O aspecto mais enfatizado relaciona-se à postura, enquanto que sinais de risco de broncoaspiração foram os menos orientados. O utensílio utilizado na oferta demonstrou maior inadequação na prática, como também maior divergência entre conhecimento e prática. A qualidade das orientações esteve relacionada com consistência segura, utensílios inadequados e realização de manobras facilitadoras durante a alimentação das crianças.

CONCLUSÃO: os achados revelam que orientações fonoaudiológicas são oferecidas aos cuidadores não havendo, no entanto, acompanhamento periódico e sistemático do que é oferecido ao que é de fato incorporado à prática alimentar das crianças com paralisia cerebral, demonstra assim, lacuna na eficácia de ação, principalmente no que concerne a medidas protetivas às vias respiratórias inferiores.

Biografia do Autor

  • Luiza Maggioni, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – Recife (PE)/ Instituto de Medicina Integrada Professor Fernando Figueira (IMIP) – Recife (PE)/ Real Hospital Português (RHP) – Recife (PE)

    Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente

  • Cláudia Marina Tavares de Araújo, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – Recife (PE)

    Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente

Referências

1. Rosenbaum P, Paneth N, Leviton A, Goldstein M, Bax M, Damiano D, et al. A report: the definition and classification of cerebral palsy. Dev Med Child Neurol. 2007;109:8-14.

2. Arevalo MPG, Calderon MY, Rangel SYA. Participación de la fisioterapia en los procesos de alimentación de niños con parálisis cerebral. Umbral Científico. 2004;(5):83-91.

3. Zapata LFG, Mesa SLR. Alimentar y nutrir a un niño con parálisis cerebral. Una mirada desde las percepciones. Invest Educ Enferm. 2011;29(1):28-39.

4. Rocha PFA, Boehs AE, Silva AMF. Rotinas de cuidados das famílias de crianças com paralisia cerebral. Rev Enferm UFSM. 2015;5(4):650-60. DOI: http://dx.doi.org/10.5902/2179769215685

5. Sullivan PB, Lambert B, Rose M, Ford-Adams M, Johnson A, Griffiths P. Prevalence and severity of feeding and nutritional problems in children with neurological impairment: Oxford Feeding Study. Dev Med Child Neurol. 2000; 42(10):674-80. DOI: http://doi.org/10.1017/s0012162200001249

6. Aurélio SR, Genaro KF. Comparative analysis of swallowing patterns between children with cerebral palsy and normal children. Rev Bras Otorrinolaringol. 2002;68(2):167-73. DOI: https://doi.org/10.1590/S0034-72992002000200003

7. Monteiro CBM, Abreu LC, Valenti VE. Paralisia cerebral: teoria e prática. São Paulo: Plêiade, 2015; p.385-97.

8. Ribeiro MFM, Barbosa MA, Porto CC. Paralisia cerebral e síndrome de Down: nível de conhecimento e informação dos pais. Cienc Saúde Coletiva. 2011;16(4):99-106. DOI: https://doi.org/10.1590/S1413-81232011000400009

9. Vieira NGB, Mendes NC, Frota LMCP, Frota MA. O cotidiano de mães com crianças portadoras de paralisia cerebral. Rev Bras Promoç Saúde. 2008;21(1):55-60. DOI: http://dx.doi.org/10.5020/177

10. Milbrath VM, Siqueira HCH. Cuidado da família à criança portadora de paralisia cerebral nos três primeiros anos de vida. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande. Porto Alegre: 2008.

11. Quadros VAS. Educação em saúde para familiares cuidadores de pacientes disfágicos pós-acidente vascular cerebral. Dissertação (Mestrado) - Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba: 2007.

12. Silvério CC, Henrique CS. Paciente com paralisa cerebral coreoatetóide: evolução clínica pós-intervenção. Rev CEFAC. 2010;12(2):250-6. DOI: https://doi.org/10.1590/S1516-18462010005000007

13. Goldani HAS, Silveira TR. Disfagia na Infância. In: Jotz GP, Angelis EC, Barros APB. Tratado da deglutição e disfagia: no adulto e na criança. Rio de Janeiro: Revinter, 2010; p.219-29.

14. Zangirolami-Raimundo J, Echeimberg JO, Leone C. Research methodology topics: Cross-sectional studies. J Hum Growth Dev. 2018;28(3):356-60. DOI: http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.152198

15. Araújo BCL. Acurácia do diagnóstico clínico da disfagia em crianças com paralisia cerebral. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco. Recife: 2012.

16. Dantas MAS, Pontes JF, Assis WD, Collet N. Facilidades e dificuldades da família no cuidado à criança com paralisia cerebral. Rev Gaúcha Enferm. 2012; 33(3):73-80. DOI: https://doi.org/10.1590/S1983-14472012000300010

17. Carvalho APC, Chiari BM, Gonçalves MIR. Impacto de uma ação educativa na alimentação de crianças neuropatas. CoDAS. 2013;25(5):413-21. DOI: https://doi.org/10.1590/S2317-17822013005000004

18. Perez ICS, Takayanagui OM. Orientações fonoaudiológicas para cuidadores e/ou familiares de pacientes adultos com demência. Dissertação (Mestrado) - Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto: 2011.

19. Silva MAOM, Domingos NAM. Cuidadores de pacientes com disfagia neurogênica: perfil e conhecimentos relacionados à alimentação. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto. São José do Rio Preto: 2007.

20. Arvedson JC. Feeding children with cerebral palsy and swallowing difficulties. Eur J Clin Nutr. 2013;67(Suppl 2):S9-12. DOI: https://doi.org/10.1038/ejcn.2013.224

21. Braga WS, Mendes JFR. Avaliação do estado nutricional, terapia nutricional e queixas gastrointestinais em crianças com paralisia cerebral: uma revisão da literatura. Comun Ciênc Saúde. 2013;24(1):27-38.

22. Vianna CIO, Suzuki HS. Paralisia cerebral: análise dos padrões da deglutição antes e após intervenção fonoaudiológica. Rev CEFAC. 2011;13(5):790-800. DOI: https://doi.org/10.1590/S1516-18462011005000057

23. Díaz AM, Sanmartin CS, Navarro VS. Parálisis cerebral infantil y disfagia. Nuberos Científica. 2010;1(1):62-65.

24. Furkim AM, Behlau MS, Weckx LLM. Avaliação clínica e videofluoroscópica da deglutição em crianças com paralisia cerebral tetraparética espástica. Arq Neuropsiquiatr. 2003;61(3A):611-6. DOI: https://doi.org/10.1590/S0004-282X2003000400016

25. Benfer KA, Weir KA, Bell KL, Ware RS, Davies PS, Boyd RN. Oropharyngeal dysphagia in preschool children with cerebral palsy: oral phase impairments. Res Dev Disabil. 2014;35(12):3469-81. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ridd.2014.08.029

26. Araújo CMT, Silva GAP. Alimentação complementar e desenvolvimento sensório motor oral. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. Recife: 2004.

27. Holanda NMV, Andrade ISN. Dinâmica familiar na alimentação de crianças com paralisia cerebral. Rev Bras Promoç Saúde. 2010;23(1):374-9.

Publicado

2020-03-27

Edição

Seção

ORIGINAL ARTICLES