Orientações e práticas na alimentação de crianças com paralisia cerebral
DOI:
https://doi.org/10.7322/jhgd.v30.9974Palavras-chave:
Paralisia cerebral, Alimentação, Cuidadores, Transtornos de deglutição, Cuidado da criançaResumo
Introdução: paralisia cerebral refere-se a distúrbios no desenvolvimento com repercussão direta no controle da postura e na motricidade. De caráter não progressivo, acontece por insulto em um cérebro ainda em desenvolvimento. Crianças com Paralisia Cerebral (PC) apresentam alterações nas funções orais, que torna o alimentar difícil, podendo trazer graves consequências para saúde, como desnutrição e pneumonia. O cuidador é presença essencial na alimentação dessas crianças, de modo que precisa conhecer e praticar meios para oferecer uma alimentação de forma segura. A fim de evitar complicações e reduzir estresse de cuidador e criança, orientações de práticas e cuidados alimentares são essenciais e precisam ser satisfatórias e efetivas. O fonoaudiólogo é o profissional habilitado na assistência e na intervenção das dificuldades alimentares das crianças e na orientação do cuidador. Todavia, orientações fornecidas nem sempre são incorporadas à prática diária, sendo necessário conhecer essa realidade mais de perto.
Objetivo: analisar a qualidade das orientações recebidas e as práticas alimentares de mães/cuidadores de crianças com paralisia cerebral.
MÉTODO: trata-se de um estudo exploratório, transversal, envolvendo 59 cuidadores principais de crianças com paralisia cerebral de um a 10 anos de idade, classificadas com nível IV ou V no Sistema de Classificação da Função Grosso Motora (GMFCS), com controle cervical ausente ou por compensação e que se alimentavam por via oral. Coleta de dados realizada através de entrevista com questões relacionadas à caracterização da amostra, qualidade das orientações recebidas quanto aos cuidados na alimentação e prática desses cuidados. Os dados foram digitados, pré-codificados e processados pelo programa Epi-info 3.5.4, utilizando o teste exato de Fisher para comparação de variáveis categóricas.
RESULTADOS: Do total da amostra, 52 participantes já haviam recebido orientações fonoaudiológicas quanto aos cuidados na alimentação. Dessas, 76,9% foram classificadas como orientações satisfatórias. O aspecto mais enfatizado relaciona-se à postura, enquanto que sinais de risco de broncoaspiração foram os menos orientados. O utensílio utilizado na oferta demonstrou maior inadequação na prática, como também maior divergência entre conhecimento e prática. A qualidade das orientações esteve relacionada com consistência segura, utensílios inadequados e realização de manobras facilitadoras durante a alimentação das crianças.
CONCLUSÃO: os achados revelam que orientações fonoaudiológicas são oferecidas aos cuidadores não havendo, no entanto, acompanhamento periódico e sistemático do que é oferecido ao que é de fato incorporado à prática alimentar das crianças com paralisia cerebral, demonstra assim, lacuna na eficácia de ação, principalmente no que concerne a medidas protetivas às vias respiratórias inferiores.
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