Transmissão de valores morais entre gerações de famílias em condições de vulnerabilidade social e econômica

Autores

  • Gilson Parra aDocente. Faculdade Santa Marcelina, São Paulo, Brasil https://orcid.org/0000-0001-9243-9448
  • Claudio Leone Jr bDocente Colaborador Sênior do Departamento de Ciclos de Vida e Sociedade da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo FSP-USP São Paulo, SP, Brazil
  • Renata M. M. Pimentel cPesquisadora do Departamento de Ciclos de Vida e Sociedade da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo FSP-USP São Paulo, SP, Brazil

DOI:

https://doi.org/10.36311/jhgd.v33.14752

Palavras-chave:

Desenvolvimento moral, relação entre gerações, psicanálise

Resumo

Introdução: analisou a passagem dos valores entre as gerações em grupos de pessoas em condições econômico e sociais desfavoráveis. O estudo foi realizado com avôs, seus filhos e netos, moradores de um bairro periférico da capital de São Paulo que vivem em condições econômicas restritas e sob o impacto cotidiano da violência. Buscou-se responder como se processa a passagem de valores entre as gerações, tendo em vista a exposição a condições de privação a que estas pessoas estão submetidas, ao mesmo tempo que carregam a obrigação de assegurar o mínimo aos seus filhos, mas não dispõem de recursos para isso. O que se configura então, é a pergunta de como é possível afirmar uma noção de certo e errado diante deste quadro social. A base de sustentação teórica foi a Psicanálise, resgatando os conceitos de Identificação, Ego Ideal, Ideal de Ego, Édipo e as dinâmicas subjacentes à inserção do pai na tríade edípica.

Método: foram realizadas entrevistas por meio de encontros grupais de discussão de assuntos relacionados à moral. Estas discussões envolveram os três componentes geracionais de três famílias, em diferentes arranjos que envolviam o mesmo grupo geracional em um primeiro momento e em outro a mescla de diferentes gerações e diferentes famílias respondendo a temáticas pré-estabelecidas e que envolviam dilemas morais focados no cotidiano cultural e social destas famílias.

Resultados: os avôs se mostraram ambíguos pois possuem uma referência de Lei, de moral, deslocada no espaço e no tempo; os pais percebendo a ambiguidade destes avôs em relação à realidade reformulam estas questões morais pautando suas convicções em uma Lei que se estabelece dentro das contingências do cotidiano e, portanto, mutável; os netos adolescentes percebem esta ambiguidade nos pais e nos seus discursos.

Conclusão: há maior identificação de padrões morais entre netos e avôs do que entre filhos e pais. Os pais entrevistados se mostraram ambíguos na forma de agir e de discursar, sendo o modelo de reprodução transgeracional mais pautado entre netos e avôs do que na sequência geracional temporal sequencial.

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Publicado

2023-08-14

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