Fatores de risco clínicos para prever a duração da imunorreatividade do anticorpo anti-Sars-CoV-2 após infecção leve por COVID-19

Autores

  • Maria da Penha Gomes Gouvea a Programa de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) - Brazil; d Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (HUCAM-UFES/EBSERH) – Brazil.
  • Allan Gonçalves Henriques b Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) - Brazil;
  • Maria Eduarda Morais Hibner Amaral b Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) - Brazil;
  • Isac Ribeiro Moulaz b Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) - Brazil;
  • Jéssica Polese b Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) - Brazil; c Departamento de Ciências Fisiológicas, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) - Brazil;
  • Karen Evelin Monlevade Lança b Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) - Brazil;
  • Thayná Martins Gouveia b Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) - Brazil;
  • Bárbara Sthefany de Paula Lacerda b Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) - Brazil; https://orcid.org/0000-0003-2264-327X
  • Beatriz Paoli Thompson b Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) - Brazil;
  • José Geraldo Mill c Departamento de Ciências Fisiológicas, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) - Brazil; d Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (HUCAM-UFES/EBSERH) – Brazil.
  • Valéria Valim c Departamento de Ciências Fisiológicas, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) - Brazil; d Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (HUCAM-UFES/EBSERH) – Brazil.

DOI:

https://doi.org/10.36311/jhgd.v33.14298

Palavras-chave:

COVID-19, SARS-CoV-2, anticorpos, imunorreatividade, fatores de risco

Resumo

Introdução: a doença causada pelo coronavírus (COVID-19) é complexa e multissistêmica. Ainda não se sabe se os sintomas da fase aguda estão correlacionados com a duração da resposta imune e com a persistência dos sintomas crônicos.

Objetivo: o presente estudo visa acessar e monitorar os sintomas clínicos do COVID-19, correlacionando-os com a produção de anticorpos neutralizantes.

Método: uma coorte de 69 profissionais da saúde da Universidade Federal do Espírito Santo (HUCAM-UFES/EBSERH) diagnosticados com infecção por SARS-CoV-2 confirmada via RT-PCR (Real-Time Reverse Transcription-Polymerase Chain Reaction) foram avaliados do início dos sintomas até seis meses depois. Exames laboratoriais de IgG e IgM foram utilizados para detectar a presença de IgG e IgM contra a proteína do nucleocapsídeo do vírus SARS-CoV-2 nas amostras de plasma sanguíneo. Sorologia de anticorpos IgG e IgM, função pulmonar via espirometria e avaliação clínica dos pacientes foram realizadas nos dias 15, 30, 45, 60, 90 e 180 após o início dos sintomas da doença.

Resultados: sessenta e nove profissionais da saúde (idade, 40 ± 10 anos; 74% mulheres) foram avaliados por seis meses. Todos apresentaram a forma leve a moderada do COVID-19. O número médio de sintomas foi 5.1 (± 2.3). O sintoma inicial mais comum foi dor muscular (77%), cefaleia (75%), anosmia (70%), ageusia (64%), coriza (59%), febre (52%), e tosse (52%). Após 30 dias, os pacientes mantiveram anosmia (18%), astenia (18%), adinamia (14%), dor muscular (7%), e ageusia (7%). Em relação à função pulmonar, 9.25% apresentaram padrão obstrutivo e todos recuperaram ao final dos seis meses. Dentre todos os participantes analisados, 18/69 (26%) não obtiveram nenhum valor de IgG e IgM considerados reagentes nos exames realizados. A curva sorológica de IgG mostrou um pico enquanto a de IgM apresentou seu maior valor médio no 15º dia. Houve um declínio progressivo e níveis similares aos basais aos 90. 15/53 (28%) permaneceram com IgG reagente após seis meses. Dor de garganta e dispneia foram considerados fatores de risco independentes, e os pacientes com esses sintomas tiveram 5,9 vezes mais chances de apresentar IgG reativa no 180º dia. Pacientes com diarreia tiveram quatro vezes mais chances de apresentar IgM reagente.

Conclusão: nossos achados mostraram que 26% dos pacientes não produziram uma resposta humoral pós-COVID-19 leve. Seus títulos de anticorpos caíram significativamente após 90 dias e apenas 28% mantiveram anticorpos IgG reativos após seis meses. Dor de garganta e dispneia foram preditores de maior duração da resposta imune humoral.

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Publicado

2023-03-23

Edição

Seção

ORIGINAL ARTICLES