Existe diferença de raça/cor do feminicídio no Brasil? A desigualdade das taxas de mortalidade por causas violentas entre mulheres brancas e negras

Autores

  • Mario Francisco Giani Monteiro Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)
  • Jackeline Aparecida Ferreira Romio Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP)
  • Jefferson Drezett Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP)

DOI:

https://doi.org/10.36311/jhgd.v31.12257

Palavras-chave:

violência doméstica, violência por parceiro íntimo, violência contra mulher, Agressão, causas externas

Resumo

Introdução: O feminicídio é considerado a expressão extrema da violência de gênero. O cenário brasileiro aponta para um complexo problema de saúde pública, com evidência de um fenômeno social mais grave para as mulheres negras.

Objetivo: Comparar as taxas de mortalidade por causas violentas em mulheres brancas e negras.

Método: Estudo ecológico de séries temporais com dados secundários obtidos do Sistema de Informações sobre Mortalidade do DATASUS. Estimamos a taxa de mortalidade de 2016-2018 sobre suicídios, agressões e mortes indeterminadas por violência na faixa etária de 15 a 29 anos e 30-59 anos entre mulheres brancas e não brancas. Os casos de feminicídio foram comparados com armas de fogo ou outros meios. A análise estatística utilizou o teste qui-quadrado, com nível de significância de p<0,05 e Intervalo de Confiança 95%. De acordo com a resolução 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde, o estudo está isento da avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa.

Resultados: Entre 15 e 29 anos, a taxa de mortalidade por agressão foi maior entre as mulheres pardas, 10,5/100.000, do que entre os brancos, 4,9/100.000. O mesmo ocorreu entre 30 e 59 anos, com 12,5/100.000 óbitos entre mulheres pardas e 5,9/100.000 óbitos entre mulheres brancas. As taxas de suicídio foram menores entre as mulheres negras do que entre as brancas de 15 a 29 anos (1,2/100.000 versus 2,8/100.000) e entre 30-59 anos (2,0/100.000 versus 5,2/100.000). Entre as mulheres não brancas, o uso de armas de fogo foi maior e entre as brancas o enforcamento.

Conclusão: As mortes violentas de mulheres por agressão afetam com mais força as mulheres negras brasileiras, independentemente da idade. As armas de fogo continuam sendo o principal recurso do agressor para a prática de feminicídio, especialmente contra mulheres não brancas.

Referências

Inés Munévar DM. Delito de femicidio. Muerte violenta de mujeres por razones de género. 14(1): 135–75.

Romio JAF 1981-. Feminicídios no Brasil, uma proposta de análise com dados do setor de saúde. 2017 [cited 2021 Jul 8]; Available from: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/330347

Oliveira ACG de A, Costa MJS, Sousa ESS. FEMINICÍDIO E VIOLÊNCIA DE GÊNERO: ASPECTOS SÓCIOJURÍDICOS. TEMA - Revista Eletrônica de Ciências (ISSN 2175-9553) [Internet]. 2016 Apr 29 [cited 2021 Jul 8]; 16(24; 25). Available from: http://revistatema.facisa.edu.br/index.php/revistatema/article/view/236

Bandeira LM. Violência de gênero: a construção de um campo teórico e de investigação. Sociedade e Estado [Internet]. 2014 May 1 [cited 2021 Jul 8]; 29(2): 449–69. Available from: http://www.scielo.br/j/se/a/QDj3qKFJdHLjPXmvFZGsrLq/?lang=pt

Brasil. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002. Promulga o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional. Brasília: Diário Oficial da União; 2002.

Brasil. Presidência da República. Secretaria Geral. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei no 13.104, de 9 de março de 2015. Altera o art. 121 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos. Brasília: Diário Oficial da União; 2015.

FEMINICÍDIOS E POSSÍVEIS RESPOSTAS PENAIS: DIALOGANDO COM O FEMINISMO E O DIREITO PENAL | Gênero & Direito [Internet]. [cited 2021 Jul 8]. Available from: https://periodicos.ufpb.br/index.php/ged/article/view/24472

Jacobo Waiselfisz J. MAPA DA VIOLÊNCIA 2015 HOMICÍDIO DE MULHERES NO BRASIL.

Atlas da Violência 2019 [Internet]. [cited 2021 Jul 8]. Available from: https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=34784

Leite FMC, Mascarello KC, Almeida APSC, Fávero JL, Santos AS dos, Silva ICM da, et al. Analysis of the female mortality trend due to assault in Brazil, States and Regions. Ciência & Saúde Coletiva [Internet]. 2017 Sep 1 [cited 2021 Jul 8]; 22(9): 2971–8. Available from: http://www.scielo.br/j/csc/a/JV3D5PbN759q348rcQjNgzL/?lang=en

Garcia LP, Silva GDM da. Violência por parceiro íntimo: perfil dos atendimentos em serviços de urgência e emergência nas capitais dos estados brasileiros, 2014. Cadernos de Saúde Pública [Internet]. 2018 Mar 29 [cited 2021 Jul 8]; 34(4). Available from: http://www.scielo.br/j/csp/a/WgZw9hx8DNkMS749sR4zcQw/?lang=pt

População Brasileira D. SÍNTESE DE INDICADORES SOCIAIS UMA ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE VIDA. 2018;

Modelo de protocolo latino-americano para investigação de mortes violentas de mulheres (femicídios/feminicídios). 2014 [cited 2021 Jul 8]; Available from: www.oacnudh.org

SR K, YK D, G C, S C. Domestic violence in India: insights from the 2005-2006 national family health survey. Journal of interpersonal violence [Internet]. 2013 Mar 1 [cited 2021 Jul 8]; 28(4): 773–807. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22935947/

Ali TS, Asad N, Mogren I, Krantz G. Intimate partner violence in urban Pakistan: prevalence, frequency, and risk factors. International Journal of Women’s Health [Internet]. 2011 [cited 2021 Jul 8]; 3(1): 105. Available from: /pmc/articles/PMC3089428/

MR R, AA da S, MT EA, RF B, LM de R, LB S, et al. Psychological violence against pregnant women in a prenatal care cohort: rates and associated factors in São Luís, Brazil. BMC pregnancy and childbirth [Internet]. 2014 Feb 12 [cited 2021 Jul 8]; 14(1). Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24521235/

Puri M, Frost M, Tamang J, Lamichhane P, Shah I. The prevalence and determinants of sexual violence against young married women by husbands in rural Nepal. BMC Research Notes 2012 5:1 [Internet]. 2012 Jun 13 [cited 2021 Jul 8]; 5(1): 1–13. Available from: https://bmcresnotes.biomedcentral.com/articles/10.1186/1756-0500-5-291

Stöckl H, Heise L, Watts C. Factors associated with violence by a current partner in a nationally representative sample of German women. Sociology of Health and Illness. 2011 Jul; 33(5): 694–709.

Marabotti F, Leite C, Helena Costa M, Ii A, Wehrmeister FC, Petrucci D, et al. Violência contra a mulher em Vitória, Espírito Santo, Brasil. [cited 2021 Jul 8]; Available from: https://doi.org/10.1590/S1518-8787.2017051006815

Al-Tawil NG. Association of violence against women with religion and culture in Erbil Iraq: A cross-sectional study. BMC Public Health. 2012; 12(1).

D K, S B, R F, J B, R W. Effects of religious and spiritual variables on outcomes in violent relationships. International journal of psychiatry in medicine [Internet]. 2015 May 1 [cited 2021 Jul 9]; 49(4): 249–63. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26060260/

MC B, KC B, MJ B, GW R. Prevalence of Sexual Violence Against Women in 23 States and Two U.S. Territories, BRFSS 2005. Violence against women [Internet]. 2014 May 1 [cited 2021 Jul 9]; 20(5): 485–99. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24759775/

Rosa DOA, Ramos RC de S, Gomes TMV, Melo EM de, Melo VH. Violência provocada pelo parceiro íntimo entre usuárias da Atenção Primária à Saúde: prevalência e fatores associados. Saúde em Debate [Internet]. 2018 Dec [cited 2021 Jul 9]; 42(spe4): 67–80. Available from: http://www.scielo.br/j/sdeb/a/S6ft8GsckBZmQPPx3XKVNgL/?lang=pt

Schraiber LB, D’Oliveira AFPL, França Junior I. Violência sexual por parceiro íntimo entre homens e mulheres no Brasil urbano, 2005. Revista de Saúde Pública [Internet]. 2008 [cited 2021 Jul 9]; 42(SUPPL. 1): 127–37. Available from: http://www.scielo.br/j/rsp/a/J5yLFXNgh57dBBkpjwMrcWL/?lang=pt

(PDF) Estudo da OMS de vários países sobre saúde da mulher e violência doméstica contra a mulher [Internet]. [cited 2021 Jul 9]. Available from: https://www.researchgate.net/publication/237389201_WHO_Multi_Country_Study_on_Women’s_Health_and_Domestic_Violence_Against_Women

Abrahams N, Mathews S, Lombard C, Martin LJ, Jewkes R. Sexual homicides in South Africa: A national cross-sectional epidemiological study of adult women and children. PLOS ONE [Internet]. 2017 Oct 1 [cited 2021 Jul 9]; 12(10): e0186432. Available from: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0186432

Conselho Nacional de Justiça. O Poder Judiciário na aplicação da Lei Maria da Penha. Brasília: Conselho Nacional de Justiça; 2018. 24p.

Estatística SG, Em Saúde I. Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher PNDS 2006 Dimensões do Processo Reprodutivo e da Saúde da Criança. 2009;

Breiding MJ. Prevalence and Characteristics of Sexual Violence, Stalking, and Intimate Partner Violence Victimization—National Intimate Partner and Sexual Violence Survey, United States, 2011. Morbidity and mortality weekly report Surveillance summaries (Washington, DC : 2002) [Internet]. 2014 [cited 2021 Jul 9]; 63(8): 1. Available from: /pmc/articles/PMC4692457/

S H-M, M C, D E, G R. Intimate Partner Violence Screening in the Prenatal Period: Variation by State, Insurance, and Patient Characteristics. Maternal and child health journal [Internet]. 2019 Jun 15 [cited 2021 Jul 9]; 23(6):756–67. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30600519/

Cliffe C, Miele M, Reid S. Homicide in pregnant and postpartum women worldwide: a review of the literature. Journal of Public Health Policy 2019 40: 2 [Internet]. 2019 Feb 6 [cited 2021 Jul 9]; 40(2): 180–216. Available from: https://link.springer.com/article/10.1057/s41271-018-0150-z

Donohue JJ, Aneja A, Weber KD. Right-to-Carry Laws and Violent Crime: A Comprehensive Assessment Using Panel Data and a State-Level Synthetic Control Analysis. Journal of Empirical Legal Studies [Internet]. 2019 Jun 1 [cited 2021 Jul 9]; 16(2): 198–247. Available from: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/jels.12219

Cerqueira D, Mello JMP de. Evaluating a National Anti-Firearm Law and Estimating the Causal Effect of Guns on Crime. Textos para discussão [Internet]. 2013 [cited 2021 Jul 9]; Available from: https://ideas.repec.org/p/rio/texdis/607.html

AM Z, A M, S B, S F, D L, DW W. Analysis of the Strength of Legal Firearms Restrictions for Perpetrators of Domestic Violence and Their Associations With Intimate Partner Homicide. American journal of epidemiology [Internet]. 2018 Jul 1 [cited 2021 Jul 9]; 187(7): 1449–55. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29194475/

WL F, CH P, JC L, TT L, HL H. Adult femicide victims in forensic autopsy in Taiwan: A 10-year retrospective study. Forensic science international [Internet]. 2016 Sep 1 [cited 2021 Jul 9]; 266: 80–5. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27235593/

Caicedo-Roa M, Cordeiro RC, Martins ACA, Faria PH de. Femicídios na cidade de Campinas, São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública [Internet]. 2019 Jul 4 [cited 2021 Jul 9]; 35(6): e00110718. Available from: http://www.scielo.br/j/csp/a/hfXwbZWCBpxZnB3RYMDybXm/?lang=pt

Brasil. Presidência da República. Secretaria-Geral. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 13.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 8 ago 2006.

Gattegno MV, Wilkins JD, Evans DP. The relationship between the Maria da Penha Law and intimate partner violence in two Brazilian states. Int J Equity Health. 2016; 15 (1): 138. DOI: 10.1186/s12939-016-0428-3

Winzer L. The relationship between the Municipal Human Development Index and rates of violent death in Brazilian Federal Units. Journal of Human Growth and Development [Internet]. 2016 [cited 2021 Jul 9]; 26(2): 211–7. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12822016000200012&lng=pt&nrm=iso&tlng=en

Lima MEO, Vala J. Sucesso social, branqueamento e racismo. Psicologia: Teoria e Pesquisa [Internet]. 2004 Apr [cited 2021 Jul 9]; 20(1): 11–9. Available from: http://www.scielo.br/j/ptp/a/PgkQfRgVmPjY69Q7HpvHngh/abstract/?lang=pt

Publicado

2021-08-03

Edição

Seção

ORIGINAL ARTICLES