Um olhar para a vulnerabilidade: análise da ausência de acesso à saúde pelos quilombolas no Brasil

Autores

  • Alyne Nunes Mota Laboratório de Epidemiologia e Análise de Dados da FMABC e Secretaria de Estado da Saúde do Tocantins SES/TO
  • Erika da Silva Maciel Universidade Federal do Tocantins UFT/TO
  • Fernando Rodrigues Peixoto Quaresma Universidade Federal do Tocantins UFT/TO, Palmas, Tocantins, TO
  • Francisco Albino de Araújo Laboratório de Delineamento de Estudos e Escrita Científica (LaDEEC), Centro Universitário Saúde ABC, Santo André, São Paulo, SP
  • Hugo Macedo Junior Laboratório de Delineamento de Estudos e Escrita Científica. Centro Universitário FMABC, Santo André, São Paulo, SP 09060-870, Brazil
  • Fernando Luiz Affonso Fonseca Centro Universitário Saúde ABC FMABC, Santo André, SP
  • Fernando Adami Laboratório de Epidemiologia e Análise de Dados da FMABC, Santo André, São Paulo, Centro Universitário Saúde ABC FMABC, Santo André, SP

DOI:

https://doi.org/10.36311/jhgd.v31.11404

Palavras-chave:

populações vulneráveis, acesso aos serviços de saúde, sistemas de informação

Resumo

Introdução: No Brasil, o acesso à saúde é um direito constitucional garantido a partir do Sistema Único de Saúde que prevê, em seus princípios norteadores, a universalidade e a equidade de acesso aos serviços de saúde.

Objetivo: Analisar os fatores associados ao acesso da população quilombolas aos serviços de saúde.

Método: Estudo transversal com 91.085 quilombolas. Para mensurar a ausência do acesso à saúde utilizou-se as variáveis sexo, etnia, trabalho, deficiência, faixa etária, analfabetismo, local de domicílio e a renda média familiar. A ausência do acesso aos serviços de saúde se deu a partir da identificação dos estabelecimentos de assistência à saúde pelas famílias quilombolas na base de dados do Cadastro Único. A associação entre as características socioeconômicas e a ausência do acesso aos serviços de saúde foram avaliadas pelo teste qui-quadrado e as medidas de magnitude da associação e respectivos intervalos de confiança foram estimados por Regressão de Poisson com variância robusta.

Resultados: Dentre os fatores associados ao acesso aos serviços de saúde da população quilombolas, observa-se que o grupo com maior risco são os quilombolas idosos, que se autodeclaram indígenas e que residem na região centro oeste. Nota-se que no ano de 2004 houve uma redução na ausência do no acesso à saúde dos quilombolas aos serviços de saúde, entretanto entre 2005 a 2015 iniciou-se um aumento na ausência do acesso à saúde, a partir desse período uma ascendência do acesso à saúde por parte dessa população.

Conclusão: Diversos fatores estão associados ao acesso à saúde pelas populações quilombolas, os quais, relacionado às desigualdades vivenciadas por essa população, impactam diretamente nas ações governamentais.

Biografia do Autor

  • Alyne Nunes Mota, Laboratório de Epidemiologia e Análise de Dados da FMABC e Secretaria de Estado da Saúde do Tocantins SES/TO

    Bacharel em Enfermagem pela Faculdade Guaraí (2007) com especialização em Gestão em Enfermagem pela UNIFESP (2014), Preceptoria do SUS pelo Instituto Sírio Libanês (2016), Saúde Pública pela Universidade Federal do Tocantins (2017) e Mestrado em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina do ABC - FMABC-SP (2020). Atua como Assessora Chefe de Gabinete da Secretaria de Estado da Saúde do Tocantins. Experiência na área da Atenção Primária (PACS, Policlínica, UPA); Gestão em Saúde e na Área Hospitalar (Pronto Socorro, Unidade de Internação - Clínica Ortopédica e Especialidades, Coordenação do Núcleo Interno de Regulação - Hospital Geral de Palmas); Docência como professora do curso Técnico de Enfermagem e Preceptoria em residência multiprofissional.

  • Erika da Silva Maciel, Universidade Federal do Tocantins UFT/TO

    Licenciatura plena em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba (2001) com Especialização em Atividade Física e Qualidade de Vida pela Universidade Estadual de Campinas (2003) e Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela Universidade de São Paulo(2006). Doutora em qualidade de alimentos pelo CENA- USP.Pós doutora pelo Departamento de Agroindústria, alimentos e nutrição (USP-ESALQ).Pós doutorado em Ciência, Departamento de Clínica Médica (FCM-USP). Docente da Universidade Federal do Tocantins (UFT). Atua como coordenadora do curso de Educação Física Câmpus de Miracema do Tocantins. Docente do Programa de Pós graduação em Ensino em Ciência e Saúde, da UFT e colaboradora do Programa de pós graduação em ciências da saúde da Faculdade de Medicina do ABC. Atua principalmente nos seguintes temas: atividade física, consumo de alimentos e qualidade de vida, promoção de saúde, populações vulneráveis.

  • Fernando Rodrigues Peixoto Quaresma, Universidade Federal do Tocantins UFT/TO, Palmas, Tocantins, TO

    Graduação em Enfermagem, Especialização em Saúde Pública com ênfase em Saúde Coletiva e da Família, Especialização em Docência para Educação Profissional, Mestre em Saúde Coletiva, Doutor em Ciências da Saúde Fundação de Medicina do ABC. Professor nos Cursos de Enfermagem da UFT. Tutor Residência Multiprofissional da Fundação Escola de Saúde Pública de Palmas (FESP). Experiência na área de Saúde Coletiva (ênfase em Gestão em Saúde, atuando principalmente nos seguintes temas: atenção primária, avaliação de serviços de saúde, educação em saúde e populações vulneráveis).

  • Francisco Albino de Araújo, Laboratório de Delineamento de Estudos e Escrita Científica (LaDEEC), Centro Universitário Saúde ABC, Santo André, São Paulo, SP

    Doutorado (2021 em Andamento), Mestrado (2018), ambos na área de concentração Saúde Coletiva na (FMABC – SP, Brasil); Especializações em: Saúde indígena (UNIFESP, 2016, Brasil), Dermatologia (ISMD/UCMBH, 2010, Brasil), Doenças Tropicais ( UNB, 2006, Brasil); Graduações: Ciências Sociais com habilitação em sociologia (UFAC, 1996, Brasil), Medicina (UMRPSFX, 2003, Bolívia); Atualmente é supervisor do GES/PMMB – UNB/MEC/MS, Médico do APS – Secretaria Municipal de Saúde e Secretaria Estadual de Saúde, ambos em Cruzeiro do Sul, Acre, Brasil.

  • Fernando Adami, Laboratório de Epidemiologia e Análise de Dados da FMABC, Santo André, São Paulo, Centro Universitário Saúde ABC FMABC, Santo André, SP

    Epidemiologista e pesquisador na área de saúde. Possui pós-doutorado pela Universidade Federal de Santa Catarina (2013 e 2015) e doutorado em Epidemiologia pela Faculdade de Saúde Pública da USP (2011). Professor da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) onde atua como orientador de mestrado e doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, bem como coordenador do Laboratório de Epidemiologia e Análise de Dados. Possui experiência em delineamento de estudos, bioestatística, epidemiologia e pesquisa clínica, tendo como linha de pesquisa epidemiologia de doenças crônicas; saúde e crescimento de crianças e adolescentes e saúde de minorias.

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Publicado

2021-08-03

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