O acolhimento dos primeiros grupos de venezuelanos interiorizados em Belo Horizonte
DOI:
https://doi.org/10.36311/2237-7743.2021.v10n2.p410-435Palabras clave:
Acolhimento Institucional, Administração Pública, Venezuelanos, Imigrantes, RefugiadosResumen
O deslocamento de venezuelanos pelo continente tem se aprofundado, e o Brasil, que historicamente recebe poucas solicitações de refúgio, viu esse número crescer exponencialmente a partir de 2018. Uma resposta que o Estado Brasileiro tem dado a esse fluxo consiste no processo de interiorização, ou seja, no deslocamento voluntário de venezuelanos instalados no estado de Roraima, para outros estados do Brasil. Assim, este artigo busca responder a seguinte pergunta: como foi o acolhimento dos primeiros grupos de venezuelanos interiorizados em Belo Horizonte, em 2019? Para isso, a pesquisa se utilizou de um vasto referencial teórico (ZUZARTE E MOULIN, 2018; MILESI, 2003; HADDAD, 2008; FACUNDO, 2014; HAMID, 2012; PENNINX, 2015; STRANG ET AL, 2019), bem como de uma pesquisa de campo baseada em análises qualitativas de entrevistas semi-estruturadas realizadas com atores do poder público e atores não governamentais (três atores do poder público a nível federal, estadual, e municipal; representante das Nações Unidas e representantes das redes de acolhimento locais). Os resultados da pesquisa apontam para um acolhimento federal emergencial, mas a não continuidade dessas políticas a nível local, promovendo uma espécie de abandono dessas pessoas em momento posterior ao da interiorização. Os espaços institucionais são escassos e não existem políticas públicas adequadas voltadas as populações migrantes e refugiadas.
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