A MATEMÁTICA NA METAFÍSICA CARTESIANA: UMA DISPUTA ENTRE DESCARTES E MERSENNE

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DOI:

https://doi.org/10.36311/1984-8900.2024.v16n40.p438-450

Palavras-chave:

Descartes, Mersenne, verdades eternas, matemáticas

Resumo

A construção da metafísica de Descartes foi inspirada na exatidão da matemática. Entretanto, em 1630 essa fórmula se inverte: a tese de que a própria exatidão da matemática depende de Deus culminou na demonstração de como a metafísica é fundamento de todas as ciências, inclusive das matemáticas. O propósito deste estudo é investigar o papel das verdades matemáticas na metafísica cartesiana, partindo da hipótese de que o estabelecimento livre das verdades eternas é realizado por Deus, tese que Descartes inaugura nas cartas de 1630 enviadas a Mersenne. Enquanto diversos cientistas e filósofos – incluindo seu correspondente Mersenne – elaboraram teses metafísicas inspiradas na exatidão matemática, Descartes se opôs a todas elas, oferecendo uma interpretação radicalmente distinta, frustrando qualquer expectativa devido à sua fama de exímio matemático. Assim, ao contrário do que se poderia esperar, para Descartes, o Deus cartesiano não é um Deus matemático. Mersenne defendia a tese de que as verdades matemáticas provinham de Deus e regulavam sua atividade criadora. Segundo ele, a matemática divina era a mesma dos homens, já que sua exatidão não admitia dúvidas; assim, sentenças como 1+2=3 eram verdadeiras tanto para os seres humanos quanto para Deus, estabelecendo uma similitude entre o criador e a criatura, consequentemente um compartilhamento da ratio divina. Em contraste, Descartes, apesar de concordar com a inegável exatidão da matemática, sustentava que essas verdades foram estabelecidas por Deus, sendo Ele ut efficiens et totalis causa, implicando, primeiro, que elas não orientavam as decisões divinas e, segundo, uma separação daratio divina da ratio humana.

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Publicado

2024-08-22

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Artigos