Parceria estratégica nas Relações Internacionais: aportes teóricos e o caso brasileiro

Strategic partnership in International Relations: theoretical contributions and the Brazilian case

Autores

  • Jéssica Maria Grassi Universidade Federal da Integração Latino-Americana

DOI:

https://doi.org/10.36311/2237-7743.2019.v8n3.10.p616

Palavras-chave:

Parceria, Aliança, Estratégia, Brasil, Relações Internacionais

Resumo

Parceria estratégica trata-se de um conceito amplamente utilizado nas relações internacionais, porém ainda impreciso e frequentemente utilizado de modo abstrato ou como mero recurso discursivo. Isso se faz notar por meio das relações bilaterais brasileiras durante o governo Lula. Nessa perspectiva, esta pesquisa tem o objetivo principal de discutir os contornos teóricos do termo parceria estratégica nas relações internacionais, propondo alcançar uma definição mais precisa para este objeto, principalmente no que diz respeito às relações bilaterais brasileiras. Para isso, pretende-se, a partir de ampla revisão da literatura da área, compreender as definições e usos do termo, aprofundando a análise com dois exemplos de parcerias ditas estratégicas para o Brasil durante a primeira década do século XXI, são estas com a Argentina e com a Venezuela. Contudo, antes disso, aponta-se a necessidade de clarificar outros conceitos também utilizados para se referir a relações interestatais, com especial atenção ao termo aliança estratégica que, frequentemente, é utilizado como sinônimo de parceria estratégica. A partir disso, defende-se o emprego de parceria estratégica para tratar de relações bilaterais marcadamente prioritárias, que se destacam por fatores históricos, geopolíticos, geográficos e/ou identitários, bem como pela sua profundidade e, ao mesmo tempo, abrangência de agendas. No Brasil, o termo é adotado para muitas relações bilaterais, sem o devido rigor teórico. No caso da Venezuela, apesar de ser caracterizada parceira/aliada estratégica, esta não atingiu os parâmetros para ser considerada desse modo no período. Por outro lado, as relações estabelecidas com a Argentina têm se caracterizado como uma legítima parceria estratégica brasileira. Dito isto, ressalta-se que esta pesquisa é qualitativa, baseia-se em uma revisão bibliográfica e documental para alcançar os objetivos estabelecidos. Ademais, utiliza-se alguns aportes teóricos do construtivismo para melhor compreensão do objeto de estudo.

 

 

Abstract: The strategic partnership is a concept widely used in international relations, but still inaccurate and often used in an abstract way or as a mere discursive resource; This is observed in Brazilian bilateral relations during the Lula administration. From this perspective, this research has the main objective of discussing the theoretical contours of the term strategic partnership in international relations, proposing to reach a new definition for this object, especially concerning Brazilian bilateral relations. For this, it is intended, from an extensive review of the literature of the area, to understand the definitions and uses of the term; deepening the analysis with two examples of so-called strategic partnerships for Brazil during the first decade of the 21st century, these are with Argentina and Venezuela. However, before that, it is pointed out the need to clarify other concepts also used to refer to interstate relations, with particular attention to the term strategic alliance, which is often used as a synonym for the strategic partnership. From this, we defend the employment of strategic partnership to refer to priority bilateral relations, which stand out for historical, geopolitical, geographic and/or identity factors, as well as for their depth and, at the same time, extension of agendas. In Brazil, the term is adopted for many bilateral relations, without due theoretical rigour. In the case of Venezuela, despite being characterized strategic partner/ally, it did not reach the parameters to be considered in this way in the period. On the other hand, the relations established with Argentina have been characterized as a legitimate Brazilian strategic partnership. It is emphasized that this research is qualitative, based on a bibliographic and documentary review to achieve the established objectives. In addition, some theoretical contributions of constructivism are used to understand the object of study better.

Key-words: Strategic Partnership. Alliance. Brazil. Argentina. Venezuela

 

 

 

Recebido em: dezembro/2018.

Aprovado em: outubro/2019.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Jéssica Maria Grassi, Universidade Federal da Integração Latino-Americana

Doutoranda em Relações Internacionais no Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestra em Integração Contemporânea da América Latina pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Bacharela em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Pesquisadora colaboradora do Núcleo de Estudos Estratégicos, Geopolítica e Integração Regional (NEEGI). Pesquisadora colaboradora do Grupo de Pesquisa em Estudos Estratégicos e Política Internacional Contemporânea (GEPPIC). Bolsista CAPES.  

Referências

ABREU, Marcelo Paiva. Parcerias estratégicas. O Estado de São Paulo, 24 de março de 2008. Disponível em: <http://www.economia.puc-rio.br/mpabreu/pdf/oesp08.03.23.pdf>. Acesso em 31 de maio de 2018.

AMORIM, Celso. A grande estratégia do Brasil: discursos, artigos e entrevistas da gestão no Ministério da Defesa (2011-2014). Brasília: FUNAG, 2016.

ARON, Raymond. Paz e guerra entre as nações. Brasília: Ed. UnB, 2002.

BECARD, Danielly Silva Ramos. Parcerias Estratégicas nas Relações Internacionais: Uma análise conceitual. P. 37-66. In: LESSA, Antonio Carlos; ALTEMANI OLIVEIRA, Henrique (2013) [org.]. Parcerias estratégicas do Brasil: os significados e as experiências tradicionais. vol. 1, Belo Horizonte: Fino Traço, 2013.

BRANDS, Hall. Dillemas of Brazilian Gran Strategy. Strategic Studies Institute, Agosto, 2010.

BRASIL; ARGENTINA. Constitución del Mecanismo de Cooperación y Coordinación Bilateral Argentina-Brasil. Montevideo, 18 de dezembro de 2007. Disponível em: < https://tratados.cancilleria.gob.ar/tratado_ficha.php?id=mp6mng== >. Acesso em 06 de janeiro de 2019.

BRASIL; ARGENTINA. Declaração Conjunta dos Presidentes da República Federativa do Brasil e da República Argentina sobre Cooperação Nuclear. San Juan, 3 de agosto de 2010. Disponível em: < http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2010/declaracao-conjunta-dos-presidentes-da-republica-federativa-do-brasil-e-da-republica-argentina-sobre-cooperacao-nuclear>. Acesso em 06 de janeiro de 2019.

BRASIL; ARGENTINA. Declaração do Rio de Janeiro – Encontro dos Presidentes da República Federativa do Brasil e da República Argentina. Rio de Janeiro, 27 de abril de 1997. Disponível em: < https://concordia.itamaraty.gov.br/detalhamento/4342>. Acesso em 29 de maio de 2018.

BRASIL; VENEZUELA. Comunicado conjunto – Aliança estratégica Brasil-Venezuela. Caracas, 14 de fevereiro de 2005. Disponível em: < https://concordia.itamaraty.gov.br/detalhamento/5312>. Acesso em 06 de maio de 2018.

CAMERON, Fraser; YONGNIAN, Zheng. Key Elements of a Strategic Partnership. p. 3-14. In: CROSSICK, Stanley; REUTER, Etienne [org.]. China-EU: a common future. Singapura: World Scientific, 2007.

CEPALUNI, Gabriel. Coalizões internacionais: revisão da literatura e propostas para uma agenda de pesquisa. Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais – BIB. São Paulo, n. 69, p. 5-22, 2010.

CERVO, Amado Luiz. Inserção internacional: formação de conceitos brasileiros. São Paulo: Saraiva, 2008.

CLAUSEWITZ, Carl Von. Da Guerra. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2010.

CORTES, Maria Julieta; CREUS, Nicolas. Argentina-Brasil: intensidad variable en una relación estratégica inevitable. p. 117-139. In: LECHINI, Gladys; KLAGSBRUNN, Victor; GONÇALVES, Williams [org.]. Argentina y Brasil venciendo preconceptos: las variadas aristas de una concepción estratégica. Rio de Janeiro, Revan, 2009.

CZECHOWSKA, Lucyna. The concept of strategic partnership as an input in the modern alliance theory. The Copernicus Journal of Political Studies, n. 2, v. 4, p. 36-51, 2013.

DOVAL, Gisela Pereyra (2014). Relaciones Argentina- Brasil: cooperación con algunas discordias. Conjuntura Global. Curitiba v. 3, n. 2, p. 80-88, abr./jun., 2014.

FARIAS, Rogério Souza. Parcerias estratégicas: marco conceitual. In: LESSA, Antonio Carlos; ALTEMANI OLIVEIRA, Henrique [org.]. Parcerias estratégicas do Brasil: os significados e as experiências tradicionais. P. 15-36. vol. 1. Belo Horizonte: Fino Traço, 2013.

GALVÃO, Thiago Gehre. Brasil-Venezuela: uma parceria relutante? Mural Internacional. Rio de Janeiro, n. 2, ano 2, p. 16-22, dez., 2011.

GRIFFITHS, Martin; O’CALLAGHAN, Terry. International relations: the key concepts. Londres: Routledge, 2002.

KALOUT, Hussein; DEGAUT, Marcos. Brasil, um país em busca de uma grande estratégia. Brasília: Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos, Relatório de Conjuntura, n.1, maio, 2017.

KERR OLIVEIRA, Lucas. Energia como recurso de poder na política internacional: geopolítica, estratégia e o papel do Centro de Decisão Energética. Tese (Doutorado em Ciência Política) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2012.

KLOTZLE, Marcelo Cabus. Alianças estratégicas: conceito e teoria. Revista de Administração contemporânea. Curitiba, v.6, n. 1, jan./abr., 2002.

LESSA, Antonio Carlos. A diplomacia universalista do Brasil: a construção do sistema contemporâneo de relações bilaterais. Revista Brasileira de Política Internacional. N. Especial Comemorativo dos 40 Anos, Brasília, v. 41, p. 29-41, 1998.

LESSA, Antonio Carlos. Brazil’s strategic partnerships: an assessment of the Lula era (2003-2010). Revista Brasileira de Política Internacional. Brasília, v. 53, n. especial, dez., 2010.

LESSA, Antonio Carlos. No canteiro das ideias: uma reflexão sobre o conceito de parceria estratégica na ação internacional do Brasil à luz das suas relações com a União Europeia. In: REZENDE MARTINS, Estevão C.; GOMES SARAIVA, Miriam [org.]. Brasil, União Europeia, América do Sul: anos 2010-2020. P. 97- 105. Rio de Janeiro: Fundação Konrad Adenauer, 2009.

LESSA, Antonio Carlos; OLIVEIRA, Henrique Altemani. Parcerias Estratégicas do Brasil: uma busca por conceitos. In: LESSA, Antonio Carlos; OLIVEIRA, Henrique Altemani [org.]. Parcerias estratégicas do Brasil: os significados e as experiências tradicionais. p. 9-12, vol. 1. Belo Horizonte: Fino Traço, 2013.

LIMA, Maria Regina Soares. Relações interamericanas: a nova agenda sul-americana e o Brasil. Lua Nova, São Paulo, n. 90, p. 167-201, 2013.

LORENZINI, María Elena. Las relaciones argentino-chilenas 2008-2011, ¿realidade o ficción de la “alianza estratégica”? Si Somos Americanos Revista de Estudios Transfronterizos. Santiago, Chile, v. 13, n. 1, jan./jun., 2013.

MARIANO, Karina Pasquariello; RIBEIRO, Clarissa Correa Neto. Regionalismo na América Latina no século XXI. In: SALATTI, Rafael [org.]. Cultura e Direitos Humanos nas Relações Internacionais: reflexões sobre cultura. V.1. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2016.

MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. O Eixo Brasil-Argentina: o processo de integração na América Latina. Brasília: Editora UnB, 1987.

MORAES Y BLANCO, Luis Fernando de. Parceria estratégica: a linguagem que constitui as relações entre Rússia e a União Europeia. Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais) – Pontificia Universidade Católica, Rio de Janeiro, RJ, 2009.

MRE. Acervo de atos internacionais do Brasil. Ministério das Relações Exteriores. Atos Internacionais. Concórdia. Disponível em: <https://concordia.itamaraty.gov.br/pesquisa-avancada>. Acesso em 19 de outubro de 2019.

MRE. Visita ao Brasil do Presidente da República da Venezuela, Hugo Chávez. Ministério das Relações Exteriores. Brasília, 6 de junho de 2011. Nota. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/notas-a-imprensa/2631-visita-ao-brasil-do-presidente-da-republica-da-venezuela-hugo-chavez-brasilia-6-de-junho-de-2011>. Acesso em 10 de janeiro de 2019.

MRE. Visita da Presidente Dilma Rousseff à República Argentina. Ministério das Relações Exteriores. 23 de abril de 2013. Nota. Disponível em: < http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/notas-a-imprensa/3403-visita-da-presidenta-dilma-rousseff-a-republica-argentina-buenos-aires-25-e-26-de-abril-de-2013>. Acesso em 10 de janeiro de 2019.

NARLIKAR, Amrita. International trade and developing countries: bargaining coalitions in the GATT e WTO. Londres: Routledge, 2003.

PECEQUILO, Cristina Soreanu. As relações Brasil-Estados Unidos. Belo Horizonte: Fino Traço, 2011.

PUIG, Juan Carlos (1986). Integración y autonomía de América Latina en las postrimerías del siglo XX. Integración Latinoamericana. Buenos Aires, Argentina, n. 109, p. 40- 62, jan./fev., 1986.

REITER, Dan. Learning, realism and alliances: the weight of the shadow of the past. World Politics. v. 46, n. 4, p. 490-526, 1994.

SARAIVA, Miriam Gomes. Encontros e Desencontros: o lugar da Argentina na política externa brasileira. Belo Horizonte: Fino Traço, 2012.

SARDENBERG, Ronaldo Mota (1995). A inserção estratégica do Brasil no cenário internacional. São Paulo: Instituto de Estudos Avançados - USP, 1995. Disponível em: <http://www.iea.usp.br/publicacoes/textos/sardenberginsercao.pdf>. Acesso em

SCHTREMEL, Sandro. La alianza estratégica argentino-brasileña en la política exterior de Itamaraty. Cuadernos de Política Exterior Argentina, CERIR, Rosário, Argentina, n. 96, abr./jun., 2009.

VARGAS, Everton Vieira. Brasil y la Argentina, una sociedad estratégica. La Nación, 07 de julho de 2015. Disponível em <https://www.lanacion.com.ar/1935217-brasil-y-la-argentinauna-sociedad-estrategica>. Acesso em 15 de dezembro de 2019.

VAZ, Alcides Costa. Cooperação integração e processo negociador: a construção do Mercosul. Brasília: IBRI, 2002.

VAZ, Alcides Costa. Parcerias estratégicas no contexto da política exterior brasileira: implicações para o Mercosul. Revista Brasileira de Política Internacional. Brasília, v.42, n.2, jul./dez., 1999.

VILLA, Rafael Duarte. Brasil-Venezuela: cooperação e dificuldades nas relações bilaterais contemporâneas. P. 239-259. In: LESSA, Antonio Carlos; ALTEMANI OLIVEIRA, Henrique (Org.). Parcerias estratégicas do Brasil: os significados e as experiências tradicionais. V. 1. Belo Horizonte, Fino Traço, 2013.

WENDT, Alexander. Anarchy is what states make of it: the social construction of power politics. International Organization, v. 46, n. 2, p. 391-425, 1992.

WENDT, Alexander. Social Theory of International Politics. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.

Downloads

Publicado

2020-01-01

Como Citar

GRASSI, J. M. Parceria estratégica nas Relações Internacionais: aportes teóricos e o caso brasileiro: Strategic partnership in International Relations: theoretical contributions and the Brazilian case. Brazilian Journal of International Relations, Marília, SP, v. 8, n. 3, p. 616–650, 2020. DOI: 10.36311/2237-7743.2019.v8n3.10.p616. Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/bjir/article/view/8515. Acesso em: 29 mar. 2024.

Edição

Seção

Artigos