A crise do capitalismo global: bolhas especulativas e os novos espaços de acumulação na periferia

The crisis of global capitalism: speculative bubbles and the new spaces of accumulation in the periphery

Autores

  • Francisco Luiz Corsi
  • José Marangoni Camargo
  • Agnaldo Santos

DOI:

https://doi.org/10.36311/2237-7743.2018.v7n2.05.p267

Palavras-chave:

crise, capital financeiro, taxa de lucro, periferia, acumulação de capital

Resumo

O objetivo do presente artigo é discutir a crise do capitalismo global aberta a partir de 2007, enfatizando o papel da periferia do sistema neste processo. Embora o epicentro da crise tenha sido os EUA, o centro hegemônico do capitalismo, os países periféricos têm ganhado crescente importância na dinâmica da acumulação de capital nas últimas décadas. O fio condutor da análise é o comportamento da taxa de lucro, variável que sintetiza múltiplos determinantes e comanda o processo de acumulação. Abordamos a questão a partir de uma perspectiva histórica, pois defendemos a tese segundo a qual a atual crise só pode ser compreendida no bojo das transformações ocorridas no capitalismo como resposta à crise estrutural da década de 1970. Dentre essas transformações, que visavam responder a queda da rentabilidade e ao acirramento da luta de classes, salientamos o inchaço da esfera financeira, que acompanhado de crescente endividamento e de bolhas especulativas intensificaram a instabilidade do sistema, e a abertura de espaços de acumulação na Ásia, que se expandiram de forma articulada a economia norte-americana. A nova configuração do sistema criou as condições para o predomínio do capital financeiro na fase de mundialização do capital. Estes processos impediram que a economia mundial entrasse em profunda depressão a partir dessa época e sustentaram, em boa medida, a acumulação de capital. A crise atual coloca em questão este padrão de desenvolvimento e a capacidade de os EUA manterem-se como centro hegemônico do capitalismo.

 

Abstract: The aim of this article is to discuss the crisis of global capitalism initiated in 2007, emphasizing the role of the periphery of the system in this process. Although the epicenter of the crisis has been the US, the hegemonic center of capitalism, peripheral countries have been growing in importance in the dynamics of capital accumulation in recent decades. The driver of the analysis is the behavior of the rate of profit, a variable that synthesizes multiple determinants and controls the accumulation process. We approach the question from a historical perspective. We defend the thesis according to which the current crisis can only be understood in the wake of the transformations that occurred in capitalism as a response to the structural crisis of the 1970s. Among these transformations, which aimed to respond to the decline of the profitability and the intensification of the class struggle, we highlight the swelling of the financial sphere that accompanied by growing indebtedness and speculative bubbles, intensified the instability of the system and the opening up of the accumulation spaces in Asia, which have expanded in an articulated way with the American economy. The new configuration of the system created the conditions for the predominance of financial capital in the phase of globalization of capital. These processes prevented the world economy from going into deep depression from that time on and sustained, to a large extent, the accumulation of capital. The current crisis calls into question this pattern of development and the ability of the U.S. to remain as hegemonic capitalism center.

Keywords: Crisis; Financial Capital; Profit Rate; Periphery; Capital Accumulation.

 

 

Recebido em: novembro/2017

Aprovado em: junho/2018

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Francisco Luiz Corsi

    Professor de Economia Política da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC). Doutor em Ciências Sociais pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Desenvolve pesquisas na área de história e desenvolvimento econômico, com ênfase na inserção das regiões periféricas na economia mundial.

  • José Marangoni Camargo

    Professor de Economia Política da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC). Doutor em Economia pelo Instituto de Economia (IE) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Desenvolve pesquisas na área de agricultura, comércio de produtos agroindustriais, inovação tecnológica, emprego e distribuição de renda.

  • Agnaldo Santos

    Professor de Economia Política da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC). Doutor em Sociologia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Desenvolve pesquisa em Economia Política e Sociologia do Desenvolvimento, com ênfase em desenvolvimento tecnológico. 

Referências

AGLIETA, Michel. O que escondem os sobressaltos financeiros na China. Le Monde Diplomatique Brasil, out, 2015. Disponível em: http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1955 Acesso em 13/06/2016.
ARRIGHI, Giovanni. Adam Smith em Pequim. São Paulo: Boitempo, 2008.
BANCO MUNDIAL. DATA. Disponível em: https://data.worldbank.org/indicator, Acesso em: 14/10/2017.
BASUALDO, Eduardo e ARCEO, Enrique. Neoliberalismo y setores dominantes. Tendencias globales y experiências nacionales. Buenos Aires: CLACSO, 2006.
BELLUZZO, Luiz Gonzaga. Os antecedentes da tormenta. Origens da crise global. São Paulo: UNESP, 2009.
BLACKBURN, Robert. La crisis de las hipotecas subprime. New Left Review (Edição em espanhol), Madri, jan-jun, 2008.
BRENNER, Robert. O Boom e a bolha. Os Estados Unidos na economia mundial. Rio de Janeiro: Record, 2003.
_________________. Novo boom ou nova bolha? A trajetória da economia norte-americana. In: SADER, Emir. (org.). Contragolpes. São Paulo: Boitempo, 2006, pp. 90-120.
CAMARGO, J. M. Evolução recente da economia brasileira e o processo de desindustrialização. In: CORSI, Francisco Luiz; CAMARGO, José Marangoni e SANTOS, Agnaldo. (Orgs.). Economia e sociedade: o Brasil e a América Latina na Conjuntura de crise do capitalismo global. Marília/São Paulo: Oficina Universitária/Cultura Acadêmica, 2014.
CANO, Wilson. Soberania e política econômica na América Latina. São Paulo: UNESP,2000.
CARNEIRO, Ricardo. Desenvolvimento em crise. A economia brasileira no último quarto do século XX. São Paulo: EDUNESP, 2000.
CEPAL. Blance Preliminar de las Economías de Amaérica Latina y Caribe. Santiago: CEPAL, 2017.
CHESNAIS, François. (Org.). A mundialização financeira. Gênese, custos e riscos. São Paulo: Xamã, 1998.
__________________ . As finanças mundializadas. São Paulo: Boitempo, 2005
__________________. Dívidas impagáveis. Lisboa: Círculo, 2012.
__________________. Finance capital today. Boston: Liden, 2016.
CONCEIÇÃO, César. Desenvolvimento industrial e mudança estrutural: tendências recentes nas indústrias mundial e brasileira. Economia FEE, Porto Alegre, v.43, n.2, 2015.
CORSI, Francisco Luiz. Economia do capitalismo global: um balanço crítico do período recente. In: ALVES, Giovanni. (org.). Trabalho e educação. Contradição do capitalismo global. Maringá: Praxis, 2006, pp. 12-35.
_____________________ A crise estrutural e a reconfiguração do capitalismo global. In: FIGARI, Claudia. e ALVES, Giovanni. (orgs.) La precariación del trabajo en América Latina. Bauru: Praxis, 2009. Pp. 13-44.
____________________ Crise e reconfiguração do capitalismo global: a ascensão do Leste asiático. In: PIRES, Marcos Cordeiro. (org). As relações entre China e América Latina num contexto de crise. Estratégia, intercâmbios e potencialidades. São Paulo, LCTE, 2011. pp. 109-130.
__________________ A crise de superprodução aberta em 2007 em perspectiva histórica. ANPUH – SP, Anais do XXIII Encontro Estadual de História, Assis, 2016 a.
_________________ A União Europeia e a crise do capitalismo global: a política de austeridade. In: PASSOS, Rodrigo Duarte Fernandes dos e FUCILLE, Alexandre (orgs.). Visões do Sul: crise e transformação do sistema internacional. Marília/São Paulo: Oficina Universitária/Cultura Acadêmica, 2016b.
DUMÉNIL, Gerard e LÉVY, Dominique. A crise do neoliberalismo. São Paulo: Boitempo, 2014.
ENFU, Cheng e XAIOQIN, Ding. A Theory of China’s “miracle”. Eight principles of contenporay chinese political economy. Monthly Review, New York, 2017. Disponível em: www.monthlyreveiw.org , Acesso em: 16/10/2017.
FMI. IMF Data . Disponível em: http://www.imf.org/en/data . Consultado em: 01/10/2017.
FOSTER, John e MAGDOFF, Fred. Financial implosion and stagnation. Back to the real economy. Monthly Review, New York, Dez, 2008. Disponível em: www.monthlyreveiw.org Acesso em: 14/02/2009.
GAULARD, Mylene. Los limites del crescimento chino. Herramienta, Buenos Aires 2010. Disponível em: htt://www.herramienta.com.ar-web-4/los-limites-del-crecimiento-chino. Acesso em 19/10/2017.
_________________ . A crise do capitalismo chinês. Esquerda.net, 2016. Disponível em: http://www.esquerda.net. Acesso em: 19/10/2017.
HARVEY, David. Los límites del capitalismo y la teoría marxista. México: Fondo de Cultura Económica, 1990.
_______________. A Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1996.
______________. O novo imperialismo. São Paulo: Loyola, 2005.
______________. O neoliberalismo. História e implicações. São Paulo: Loyola, 2005 a.
______________. O Enigma do capital. São Paulo: Boitempo, 2011.
KLIMAN, Andrew. The failure of capitalist production. London: Pluto, 2012.
_________________ A grande recessão e a teoria da crise de Marx. Outubro, São Paulo, n. 24, 2 semestre, 2015. pp. 61-108.
KRUGMAN, Paul. A crise de 2008. Rio de Janeiro: Campus, 2009.
MAITO, Esteban. La transitoriedad histórica del capital. La tendência descendente de la tasa de ganancia desde el siglo XIX. Razón y Revoución, Buenos Aires, n. 26, 2013.
MEDEIROS, Carlos. Desenvolvimento econômico e ascensão nacional: rupturas e transição na Rússia e na China. In: FIORI, José Luís. O mito do colapso do poder americano. Rio de Janeiro: Record, 2008.
NAYYAR, Deepak. A corrida pelo crescimento. Países em desenvolvimento na economia mundial. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014.
PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.
PINTO, E. C. ; CINTRA, M. A. M. América Latina e China: limites econômicos e políticos do desenvolvimento. Rio de Janeiro: UFRJ, 2015.
___________________; GONÇALVES, Reinaldo. Globalização e poder efetivo:
transformações globais sob efeito da ascensão chinesa. Economia e Sociedade, Campinas, v. 24, n. 2 (54), p. 449-479, ago. 2015.
ROBERTS, Michael. The long depression. How it happened, why it happened, and what happens next. Chicago: Haymarket Books, 2016.
___________ . Debate sobre a taxa de lucro. Revista Olho da História, n. 24, dez. 2016.
SANTOS, Bruno G. O ciclo econômico da América Latina dos últimos 12 anos em uma perspectiva de restrição externa. Revista do BNDES, n. 43, junho, 2015.
SHAIKH, Anwar. La primera gran depresión del siglo XXI. Revista Sin Permiso, 2011. Disponível em: http://www.sinpermiso.info/sites/default/files/textos//XXI.pdf. Acesso em: 17/10/2017.
SMITH, John. Il imperialismo nel XXI secolo. Disponível em: https://www.sinistrainrete.info/ Acesso em: 04/06/2017.
STIGLITZ, Joseph. E. O mundo em queda livre. São Paulo: Cia. das Letras, 2010.
VAROUFAKIS, Yanis. O minotauro global. São Paulo: Autonomia Literaia, 2016.

Downloads

Publicado

2018-09-17

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

CORSI, Francisco Luiz; CAMARGO, José Marangoni; SANTOS, Agnaldo. A crise do capitalismo global: bolhas especulativas e os novos espaços de acumulação na periferia: The crisis of global capitalism: speculative bubbles and the new spaces of accumulation in the periphery. Brazilian Journal of International Relations, Marília, SP, v. 7, n. 2, p. 267–299, 2018. DOI: 10.36311/2237-7743.2018.v7n2.05.p267. Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/bjir/article/view/8203.. Acesso em: 23 nov. 2024.