Da Ação à Reflexão: O Processo de Tomada de Consciência
DOI:
https://doi.org/10.36311/1984-1655.2008.v1n2.p31-54Palavras-chave:
Tomada de Consciência, Período Sensório-Motor, Inteligência Prática, Inteligência RefletidaResumo
Este texto tem o objetivo de investigar o processo de tomada de consciência. Para isso, parte do funcionamento da ação do sujeito e caminha em direção à elaboração dos conceitos, considerando, de acordo com a Epistemologia Genética de Jean Piaget, que há uma continuidade entre o funcionamento dos reflexos e a inteligência refletida. A tomada de consciência não consiste numa iluminação de aspectos pré-formados na mente do sujeito. Trata-se de um processo que se inicia nos primeiros meses de vida de uma criança (inteligência prática – saber fazer) e progride, à medida que se constrói, em direção à inteligência refletida (compreensão). Inicialmente, diante da indiferenciação entre a assimilação e a acomodação, sujeito e objeto permanecem igualmente indiferenciados. À medida que acontece a assimilação do objeto, há a transformação do sujeito que modifica suas estruturas ou esquemas de ação, ou seja, acomoda-se ao objeto. Desse modo, objeto e sujeito vão sendo construídos correlativamente, graças à tomada de consciência. Este processo é, assim, uma reconstrução, no plano conceitual, do que tem sido feito na ação, ou seja, a tomada de consciência é uma ação realizada pelo sujeito que foi interiorizada em forma de pensamento. Esta organização acontece desde o período sensório-motor (consciência ainda em atos) e, posteriormente, internaliza-se na condição de pensamento. No primeiro estágio do período sensório- motor, observa-se a exercitação dos reflexos que garante a conservação do funcionamento do organismo. Seguem-se as adaptações adquiridas ou hábitos que acrescentam ao funcionamento dos reflexos a novidade do meio externo, através das reações circulares primárias. As reações circulares secundárias marcam o terceiro nível e garantem a repetição dos espetáculos interessantes, embora a diferenciação entre os esquemas meios e esquemas fins só aconteça a posteriori. Podemos já falar da existência de consciência, porém apenas em atos. A consciência caracterizar-se-á no quarto nível, quando há uma distinção entre os esquemas meios e fins, pois o sujeito passa da análise dos resultados da sua ação para os meios que possibilitaram o êxito. Há, então, mobilidade interna ao esquema e na coordenação entre os esquemas, que podem dissociar- se para reagruparem-se de forma diferente. Há, na passagem para a quinta fase, um enriquecimento dos esquemas que permitirá ao sujeito experimentar, para tentar solucionar os desafios, novos esquemas meios. Isto confere, no sexto nível, um refinamento maior das coordenações: o sujeito já é capaz de evocar novos meios por combinação mental. Ao final do período sensório-motor, temos um sujeito mais poderoso diante do mundo, pois agora o pensamento antecede a sua ação.
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