ENS IMAGINARIUM: KANT E WOLFF
DOI:
https://doi.org/10.36311/2318-0501.2016.v4n2.08.p119Resumo
No final da “Analítica transcendental”, Kant apresenta uma subdivisão do conceito de “nada”, cujo terceiro lugar fica ocupado pelo ens imaginarium, definido como “intuição vazia, sem objeto” (KrV A 292/B 348, trad. p. 274), e colocado em relação com o espaço e o tempo puros. O significado do ens imaginarium foi também recentemente objeto de controvérsias, principalmente relacionadas com a interpretação da “Estética transcendental”.2 Em contrapartida, pouca atenção tem sido dada à origem desta expressão: alguns autores mencionam fontes escolásticas e protomodernas,3 mas pouco tem sido feito, seja para reconstruir as teorias pré-kantianas do ens imaginarium, seja para avaliar a atitude de Kant no que diz respeito a elas. Além disso, o debate centrou-se principalmente sobre a mencionada passagem da primeira Crítica, deixando quase sempre na sombra as não raras ocorrências da mesma expressão em outros textos de Kant. Por isto, buscarei mostrar que o conhecimento das fontes é essencial para compreender-se corretamente a tese kantiana acerca dos entes imaginários, bem como para tornar as declarações da primeira Crítica coerentes com o que Kant escreve em outros lugares. Defenderei, por um lado, que, para Kant (como para as doutrinas tradicionais), é apenas a maneira como nós pensamos o espaço e o tempo que os torna entes imaginários. Por outro lado, mostrarei que a recuperação kantiana do conceito tradicional de ens imaginarium é acompanhada de uma rejeição da maneira pela qual este conceito foi definido por Wolff; e isto porque, do ponto de vista da “Estética transcendental”, as teses wolffianas sobre o papel da imaginação na representação do espaço e do tempo tornaram-se inaceitáveis.