POR QUE REJEITOU KANT EXPLICAÇÕES FISIOLÓGICAS NA SUA ANTROPOLOGIA?
DOI:
https://doi.org/10.36311/2318-0501.2016.v4n1.09.p117Resumo
Um dos princípios centrais de Kant com respeito às ciências humanas é a pretensão de que não se pode, e não se deve usar um vocabulário fisiológico ao estudar cognições, sentimentos, desejos e acções humanas do ponto de vista da sua antropologia «pragmática». A pretensão é bem conhecida, mas os argumentos que sobre ela Kant apresenta não foram ainda devidamente discutidos. Eu arguo contra interpretações erróneas desta pretensão, e apresento as razões de Kant em favor dela. Os críticos contemporâneos de uma «antropologia fisiológica» rejeitam explicações fisiológicas de estados mentais como mais ou menos epistemologicamente dúbias. Kant não favorece tais pretensões de ignorância – e ainda bem que o faz, pois nenhuma destas pretensões era à altura suficientemente justificada. Ao invés, ele desenvolve uma original tese de irrelevância com respeito ao conhecimento empírico da base fisiológica da mente. Os seus argumentos em favor desta pretensão derivam da sua original e, até agora, pouco compreendida crítica de uma certa concepção de história pragmática, a qual está relacionada com as suas visões antropológicas com respeito à nossa capacidade de criar novas regras de acção, com a dinâmica social da acção humana e a relativa inconstância da natureza humana. A tese de irrelevância altera também as suas visões do objectivo e da metodologia da antropologia. Mediante isto, Kant argumenta em favor de uma abordagem distinta à descoberta de uma «ciência geral do homem».