Revista Aurora, v. 17, 2024. Fluxo Contínuo
https://doi.org/10.36311/1982-8004.2024.v17.e024007
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diferentes autoras e autores, nacionais e internacionais, quanto a tal objeto. Deste modo,
pretendemos (re)afirmar a Análise de Narrativas como uma rica possibilidade teórico-
metodológica para pesquisar nas Ciências Sociais e Humanas, e, ao cabo, dialogar acerca
das narrativas a partir das leituras da Análise de Narrativas Autobiográficas, que fora
escolhida dentre o leque da Análise de Narrativas, como exemplo, para o estudo em
questão
2
.
Isto dito, passemos, então, ao diálogo proposto.
2. Notas Gerais sobre Narrativas em Ciências Sociais e Humanas
Registros históricos irão nos apontar que entre os primeiros teóricos a desenvolver
estudos sobre as narrativas em nossa sociedade, encontra-se o filósofo russo Mikhail
Bakhtin (Bakhtin, 2008; Machado, 1998; Germano; Bessa, 2010). Bakhtin desenvolveu
grande parte de seus estudos perscrutando a linguagem humana, compreendendo esta
como uma construção marcada pelo dialogismo (Bakhtin, 2008; Germano; Bessa, 2010).
Em outras palavras, na perspectiva do filósofo, o princípio dialógico, constituinte basilar
da linguagem humana, se dá pelo desenvolvimento da palavra, e de tudo o que ela
representa, no laço comunicacional; assim: “(...) a palavra é uma espécie de ponte lançada
entre mim e os outros. Se ela se apoia sobre mim numa extremidade, na outra, apoia-se
sobre meu interlocutor” (Bakhtin, 2008, p. 113).
No transcorrer de seus estudos, Bakhtin chegará à conclusão de que a linguagem
é condição fundamental para o desenvolvimento da humanidade, e que o seu estudo pode
ser uma forma bastante significativa de compreensão sobre como se conforma a própria
2
Em tempo, na condição de um ensaio teórico-metodológico, as referências utilizadas foram selecionadas a partir de
um modelo inspirado no de revisão narrativa, em que, nas palavras de Rother (2007): “Os artigos de revisão narrativa
são publicações amplas, apropriadas para descrever e discutir o desenvolvimento ou o ‘estado da arte’ de um
determinado assunto, sob ponto de vista teórico ou contextual” (p. 05). Em outras palavras: “As revisões narrativas não
informam as fontes de informação utilizadas, a metodologia para busca das referências, nem os critérios utilizados na
avaliação e seleção dos trabalhos” (p. 05), na medida em que elas se constituem, basicamente, de uma “(...) análise da
literatura publicada em livros, artigos de revista impressas e/ou eletrônicas na interpretação e análise crítica pessoal do
autor” (p. 05, grifo nosso). A seleção de textos por via de um modelo de revisão narrativa, outrossim, serve muito bem
à fundamentação de um ensaio teórico-metodológico, na medida em que, como nos diz Meneghetti (2011): “Diferente
do método tradicional da ciência, em que a forma é considerada mais importante que o conteúdo, o ensaio requer
sujeitos, ensaísta e leitor, capazes de avaliarem que a compreensão da realidade também ocorre de outras formas.” (p.
321).