A etnomatemática entre o conhecimento subalterno e o epistemicídio

o caso de Moçambique

Autores

  • Laura António Nhaueleque Universidade Aberta de Lisboa

Palavras-chave:

Epistemologias, Saberes locais, África, Curricula escolares

Resumo

A pesquisa aqui apresentada resulta de uma reflexão sobre as epistemologias subalternas, sobretudo de matriz africanas, tomando como exemplo a etno-matemática. O discurso filosófico sobre o “epistemicídio” dos saberes locais e tradicionais por parte do paradigma científico dominante pode ser aplicado a vários âmbitos disciplinares. Entre eles, a matemática, nas suas duas vertentes principais, a aritmética e a geometria, representa um caso paradigmático e significativo. Teorizada pela primeira vez pelo brasileiro D’Ambrosio e o holandês-moçambicano Paulus Gerdes, a etnomatemática vive hoje uma contradição: ela foi aceite em termos epistemológicos, mas, sobretudo em África, teve muitos problemas em se afirmar, entrando com dificuldades nos curricula oficiais. A pesquisa mostra como se deu tal processo em Moçambique, um país símbolo do caminho da etnomatemática africana, em consideração da contribuição de Gerdes e da educação progressiva na primeira fase da sua independência.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Laura António Nhaueleque, Universidade Aberta de Lisboa

Investigadora do Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI) da Universidade Aberta de Lisboa, Lisboa – Portugal. Professora do curso de mestrado em Direitos Humanos da Universidade Técnica de Moçambique (UDM), Maputo – Moçambique.

Referências

ANTA DIOP, C. Nations nègres et culture. Paris: Presence Africaine, 1995.

ANTHONY, K. The Meaning and Nature of African Philosophy in a Globalising World. International Journal of Humanities Social Sciences and Education, v. 1, n. 7, p. 86-94, 2014. Disponível em: https://www.arcjournals.org/pdfs/ijhsse/v1-i7/10.pdf. Acesso em: 15 nov. 2019.

ASANTE, M. K. Afrocentricity. Chicago (Illinois): African American Images, 2003.

BUANAÍSSA, E. F.; PAREDES, M. de M. Severino Ngoenha: política e liberdade no Moçambique contemporâneo. Opinião Filosófica, v. 9, n. 1, p. 5-26, 2018. Disponível em: periódico.abavaresco.com.br. Acesso em: 12 dez. 2019.

BUSSOTTI, L. Media Freedom and the “Transition” Era in Mozambique:1990-2000. In: BUSSOTTI, L.; BARROS, M.; GRATZ, T. (ed.). Media Freedom and Right to Information in Africa. Lisbon: ISCTE-IUL, 2015. p. 45-71.

BUSSOTTI, L.; NHAUELEQUE, L. A. A Invenção de uma tradição: as fontes históricas no debate entre Afrocentristas e seus críticos. História – Revista da UNESP. São Paulo, v. 37, p. 1-28, 2018. Disponível em: DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1980-4369e2018005. Acesso em: 12 dez. 2019.

CASTIANO, J. P. Referênciais da Filosofia Africana: em busca da intersubjectivação. Maputo: Ndjira, 2010.

CASTIANO, J. P. A “liberdade” do neoliberalismo: leituras críticas. Maputo: Educar, 2018.

FALOLA, T. (ed.). Africa, Volume 1: African History Before 1885. Durham, NC: Carolina Academic Press, 2018.

GUERRA HERNANDES, H. Modernidade seletiva e estado predador. Antropologia e políticas globais, v. 41, p. 201-232, 2014. Disponível em: https://journals.openedition.org/horizontes/588?lang=fr. Acesso em: 12 out. 2019.

HÁ esquadrões da morte para abater opositores, revela agente da Polícia da República de Moçambique. @Verdade, 11 mar. 2016. Disponível em: http://www.verdade.co.mz/tema-de-fundo/35-themadefundo/57164-ha-esquadroes-de-morte-para-abater-opositores-revela-agente-da-policia-da-republica-de-mocambique. Acesso em: 12 out. 2019.

LOURENÇO, V. Estado(s) e Autoridades Tradicionais em Moçambique: Análise de um Processo de Transformação Política. Lisboa: Centro de Estudos Africanos. Occasional Paper n. 14, 2012. Disponível em: https://repositorio.iscte-iul.pt/bitstream/10071/3826/1/CEA_OP_VITOR_MO%C3%87AMBIQUE_14.pdf. Acesso em: 12 out. 2019.

LUNDIN, I. A pesquisa piloto sobre a autoridade/poder tradicional em Moçambique: um somatório comentado e analisado. In: LUNDIN, I.; MACHAVA, F. (org.). Poder e Autoridade Tradicional, V. I. Maputo: MAE/NDA, 1995.

MACAMO, E. A nação moçambicana como comunidade de destino. Lusotopie, p. 355-364, 1996.

MACHEL, S. Educar o homem para vencer a guerra - criar uma sociedade nova e desenvolver a pátria. Maputo: FRELIMO, 1970.

MATSINHE, D. M.; VALOI, E. 2019. The genesis of insurgency in northern Mozambique. Pretoria: Institute for Security Studies. Disponível em: https://issafrica.s3.amazonaws.com/site/uploads/sar-27.pdf. Acesso em: 12 out. 2019.

MAZULA, B. (org.). Moçambique: eleições, democracia e desenvolvimento. Maputo, 1995.

MONDLANE, E. Lutar por Moçambique. Lisboa: Sá da Costa, 1976.

NCOMO, B.L. Uria Simango: Um Homem, Uma Causa. Maputo: Novafrica, 2003.

NGOENHA, S. Por uma dimensão moçambicana da consciência histórica. Porto: Salesianas, 1991.

NGOENHA, S. Filosofia africana: das independências às liberdades. Maputo: Imprensa Universitária, 1993.

NGOENHA, S. Os tempos da filosofia. Maputo: Imprensa Universitária, 2004.

NGOENHA, S. Samora Machel. Ícone da 1ª República. Maputo: Ndjira, 2009.

NGOENHA, S. Intercultura, alternativa à governação biopolítica? Maputo: Publifix, 2014.

NGOENHA, S.; CASTIANO, J.P. Pensamento engajado. Maputo: Educar, 2011.

NGOENHA, S.; CASTIANO, J.P. Manifesto por uma terceira via. Maputo: Real Design, 2019.

NUVUNGA, A. Políticas de eleições em Moçambique: As experiências de Angoche e Nicoadala. In: DE BRITO, L.; CASTEL-BRANCO, C. N.; CHICHAVA, S.; FRANCISCO, A. (org.). Desafios para Moçambique 2013. Maputo: IESE, 2013. p. 39-54.

PAREDES, M. de M. A construção da identidade nacional moçambicana pós-independência: sua complexidade e alguns problemas de pesquisa. Anos 90, v. 21, n. 40, p. 131-163, 2014. Disponível em: seer.ufrgs.br/anos90/article/view/46176. Acesso em: 12 out. 2019.

RENAMO acusa FRELIMO de reativar “esquadrões da morte”. Deutsche Welle, 12 nov. 2019. Disponível em: https://www.dw.com/pt-002/renamo-acusa-frelimo-de-reativar-esquadr%C3%B5es-da-morte/a-51211525. Acesso em: 12 nov. 2019.

SILVA, C. R. As eleições e a democracia moçambicana. Janus 2015-2016, p. 34-35, 2015. Disponível em: http://janusonline.pt/images/anuario2015/1.13_CarolinaSilva_DemocraciaMocambique.pdf. Acesso em: 12 nov. 2019.

SOARES, J. G.; PEREIRA, M. A. S. Ubuntuísmo: A Solidariedade Africana. Revista Litterarius, v. 15, n. 1, 2016. Disponível em: http://br60.teste.website/~fapas413/index.php/litterarius/article/viewFile/804/682. Acesso em: 12 nov. 2019.

SOUSA SANTOS, B. de. Boaventura quer verdade. Correio da Manhã, 4 set. 2004. Disponível em: https://www.google.com/amp/s/www.cmjornal.pt/cm-ao-minuto/amp/boaventura-quer-verdade. Acesso em: 12 nov. 2019.

THOMAZ, O. “Escravos sem dono”: a experiência social dos campos de trabalho em Moçambique no período socialista. Revista de Antropologia, v. 51, 2008. Disponível em: DOI: https://doi.org/10.1590/S0034-77012008000100007. Acesso em: 12 out. 2019.

TRANSPARÊNCIA INTERNACIONAL. Índice de Percepção da Corrupção 2019. Disponível em: https://ipc.transparenciainternacional.org.br/?gclid=EAIaIQobChMImruPl4Gq5wIVk4aRCh0HNwBEEAAYASAAEgLfp_D_BwE. Acesso em: 25 fev. 2019.

Recebido: 06/3/2020 - Aceito: 11/7/2020

Publicado

06-01-2022 — Atualizado em 23-06-2022

Como Citar

Nhaueleque, L. A. (2022). A etnomatemática entre o conhecimento subalterno e o epistemicídio: o caso de Moçambique. TRANS/FORM/AÇÃO: Revista De Filosofia Da Unesp, 45(Special Issue 2), 67–88. Recuperado de https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/transformacao/article/view/10738