Marcos Antonio Alves1
Este é o úlitmo fascículo da publicação seriada da revista. A partir de 2024, quando comemoramos nosso jubileu de ouro, em outra decisão histórica, adotaremos a publicação em fluxo contínuo. Assim, uma vez aprovados e cumpridos todos os trâmites de correção, os artigos podem ser publicados isoladamente, independentemente de estarem inseridos em um número dentro de um volume. Com essa decisão, esperamos agilizar a publicação dos textos aprovados. Aproveitamos este espaço para, além de apresentar este significativo último número do ano, também para divulgar algumas ações concretizadas nos últimos dois biênios da revista, prestando contas ao nosso leitor e demais parceiros da revista.
Trans/Form/Ação (ISSN 0101-3173; e-ISSN: 1980-539X) é a revista de Filosofia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Criada em 1974, busca integrar o Departamento de Filosofia e o Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UNESP a outros departamentos e programas congêneres do país e do exterior. Em 2011, a Trans/Form/Ação passou oficialmente a ser um periódico de publicação quadrimestral (contando com três edições regulares e um número especial). Desde 2016, a periodicidade passou a ser trimestral, publicando-se, portanto, quatro fascículos anuais regulares e um ou mais fascículos especiais. A partir de 2024, adotaremos a publicação em fluxo contínuo.
A revista é um meio de divulgação de resultados de pesquisas de interesse filosófico realizadas por pesquisadores com doutorado. Os textos são publicados em forma de artigos, resenhas, traduções, comentários, entrevistas de profissionais cujos papéis concernem à relevância da produção e dedicação à pesquisa filosófica. Todas as formas de publicação obedecem à variedade temática, metodológica e de períodos históricos, mantendo-se, com isso, o respeito às diversas tendências do conhecimento, em todas as áreas de Filosofia.
A abrangência científica da Trans/Form/Ação envolve as áreas da filosofia, humanidades em geral, além de temas e problemas interdisciplinares com viés filosófico, de autores do país e do exterior. O público-alvo é formado por docentes, pesquisadores e estudantes da área de Filosofia e áreas congêneres, bem como demais interessados, regulares ou não, nos temas abordados. A revista se dirige prioritariamente à pesquisa universitária em Filosofia, embora reconheça que o leitor leigo, porém culto e interessado em Filosofia, também pode constituir seu público-alvo.
A Trans/Form/Ação vem assentando-se como uma das mais tradicionais e prestigiosas revistas na área. Foi a primeira revista da área de Filosofia a ser integrada ao SciELO, entrando nessa base de dados em 2005. Desde 2010, está ainda indexada pelo ISI Web of Science e em bases como Scopus, REDIB, LatinREV e Redalyc. No triênio 2004-2006, a revista obteve pela primeira vez o Qualis Nacional A e, no quadriêncio 2017-2020, fomos classificados como A2. Em 2023, a revista voltou a figurar no Estrato Qualis/CAPES A1, retornando ao seleto grupo das melhores revistas do País, segundo esse índice avaliativo. Também vem crescendo em outros indicadores internacionais, em rankings como do Scopus, JCI, SJR, conforme mostraremos mais abaixo.
Processo de seleção do material
Os manuscritos submetidos são encaminhados pela plataforma do SEER, no formato de “avaliação cega” (sem dados que identifiquem o autor), via homepage da revista, em versão do Word (.doc,.docx) ou Rich Text Format (.rtf). São aceitos trabalhos redigidos em português, espanhol, italiano, francês e inglês. Nessa primeira fase, os manuscritos passam ainda por processo de análise de similaridade, no sistema Turnitin.
Os dados e conceitos emitidos nos trabalhos, bem como a exatidão das referências bibliográficas, são de inteira responsabilidade dos autores, os quais podem se basear no “modelo-padrão” da revista, arquivo que pode ser baixado a partir do seu site. Toda identificação e dados dos/as autores/as são obtidos via cadastro no sistema. O preenchimento incorreto de dados, sua ausência e eventuais problemas em seu cadastro podem levar à recusa de sua submissão. A revista não tem a tradição de aceitar trabalhos de estudantes, geralmente negando textos enviados por não doutores, reservando-se o direito de exceção, se assim julgar razoável.
Uma vez aceitos na primeira fase, os trabalhos sao direcionados para um avaliador da área de Filosofia, que comumente será o editor ou eventualmente algum membro do Conselho Editorial, a fim de checar a pertinência de sua possível publicação, bem como a adequação de seu formato, para posteriormente ser encaminhado aos pareceristas.
Uma vez na fase de avaliação, o manuscrito é submetido ao exame por pares “duplo- cego”, de modo a possuir avaliação por pelo menos dois pesquisadores. Eles são, preferencialmente, professores vinculados a Programas de Pós-Graduação em Filosofia ou Humanidades, nacionais ou estrangeiros. As modificações e/ou correções sugeridas pelos pareceristas quanto ao conteúdo e/ou à redação (clareza do texto, estrutura argumentativa, gramática ou novas normas ortográficas) das contribuições são repassadas aos respectivos autores, os quais terão um prazo delimitado para efetuar as alterações requeridas. No caso da necessidade de alterações substanciais, sem ter sido recusado, o manuscrito, depois de modificado pelo autor, pode passar por nova rodada de avaliação, podendo ser reavaliado pelos mesmos avaliadores ou por novos, dependendo da disponibilidade destes.
Uma vez aprovado, o artigo passa por revisão gramatical e normalização por profissionais contratados pela revista. Os autores deverão novamente observar as sugestões e realizar as correções necessárias, permitindo-lhes, assim como no processo avaliativo, o direito de discordar justificadamente de pontos das avaliações. Feito isso, o artigo é enviado para edição, diagramação, atribuição de DOI e publicação no portal de revistas da FFC/Unesp. Depois é realizada a conversão XML por empresa contratada para inserção na SciELO, Redalyc e demais portais e bases de dados.
Continuaremos seguindo parecer por pares duplo-cego por entendermos que essa modalidade ainda garante maior autonomia dos avaliadores, confiabilidade e isenção no processo avaliativo, evitando, por exemplo, avaliações subjetivas de textos, baseadas no prestígio do autor.
Considerando que, no caso de pareceres negativos, solicitamos pelo menos três avaliações, o processo avaliativo é sempre didático. Mesmo no caso de artigos recusados, a proposta é que os autores possam aprimorar seus textos, favorecendo a possibilidade de eles serem novamente submetidos, seja na própria revista, seja em outras, como temos visto acontecer com frequência.
Algumas ções da revista nos últimos anos
Nos úlitmos cinco anos, foram publicados artigos de autores oriundos de 227 instituições nacionais e estrangeiras. Essa ampliação de submissões se deve a muitos fatores, alguns dos quais são elencados abaixo.
Diminuímos sobremaneira o tempo de avaliação das submissões e decisão editorial. Fizemos um esforço para reduzir esse período, que já foi superior a um ano. Já diminuímos esse prazo para três meses (no caso de artigos estrangeiros, a média é de dois meses). Entendemos ser importante uma avaliação rápida, principalmente em respeito aos autores dos manuscritos. Entretanto, isso nem sempre isso é possível, dada a dificuldade, muitas vezes, de encontrar pareceristas e de receber os pareceres no tempo solicitado ou mesmo da necessidade de novas avaliações, quando da existência de número igual de pareceres favoráveis e contrários à aprovação da submissão.
Também reduzimos o tempo entre a aprovação final do artigo e sua publicação. Esse período, porém, não tem como ser muito menor do que seis meses, dado o processo de correções gramaticais e suas revisões, normalizações, edição, diagramação, publicação no site da FFC, conversão XML e publicação no SciELO e Redalyc, cada um demandando seu próprio tempo, além do limite de publicação em cada fascículo, por conta dos custos com a publicação. Apesar de estarmos buscando maximizar elementos referentes à agilidade no serviço, a revista prioriza a qualidade da publicação, quer do conteúdo propriamente dito, quer da apresentação do material publicado. Com a adoção da publicação em fluxo contínuo, esperamos diminuir esse prazo para três meses.
Conseguimos passar a publicar os fascículos sempre no primeiro mês do trimestre da publicação. Neste ano, foi possível, inclusive, publicá-los antes do início dos trimestres correspondentes.
No tocante à Comissão Editorial, considerando que a revista está associada ao Departamento de Filosofia e ao Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Unesp, procuramos fazer uma divisão dos seus membros de acordo com as áreas dos seus integrantes. Nas últimas gestões, todos os membros eram homens e da área da História da Filosofia. Para ficar equilibrado, tanto na questão do gênero quanto na das áreas de pesquisa, alteramos os critérios e inserimos pesquisadores de fora da Unesp, oriundos de instiruições do Brasil e do exterior.
Quanto ao Conselho Consultivo, fizemos alterações significativas. Ampliamos o conselho com mais integrantes, filósofos e filósofas, da América Latina e demais regiões do Hemisfério Sul, com parcerias institucionais.
Também favorecemos a participação do Editor e de membros da equipe editorial em cursos e eventos sobre a qualidade de revistas. O editor já vem participando dessas atividades, em cursos promovidos pela ABEC, referentes ao trabalho de editoração, gerenciamento de revistas, compartilhamento e gestão de dados, além de cursos e eventos promovidos pelo SciELO, geralmente relacionados ao projeto Ciência Aberta. O editor da revista apresentou trabalho como convidado, em evento organizado pela LatinRev e Redalyc, sobre criatividade e inovação nas revistas acadêmicas. Também participamos anualmente dos eventos das revistas adacêmicas da Unesp, promovida pela Prope/Unesp, onde são discutidas questões referentes ao aprimoramento das revistas da instituição.
Reformulamos igualmente as regras para publicação, montando um modelo-padrão de publicação da revista, o qual pode ser acessado em seu site, tanto nas instruções aos autores quanto no link para novas submissões.
Intensificamos a comunicação com a comunidade, por meio de redes sociais, principalmente Facebook: https://www.facebook.com/RevistaTransFormAcao, Instagram https://www.instagram.com/revista.transformacao/ e outras redes, como ANPOF, além de fazê-lo através de notícias publicadas pela revista, em sua própria página. Com isso, aumentamos significativamente o número de seguidores nas redes sociais e a consequente busca por artigos publicados.
Renovamos e atualizamos a página da revista, inserindo informações, deixando a página mais leve, clara e informativa. Efetuamos a tradução ou revisão do conteúdo da página da revista para as outras quatro línguas: inglês, espanhol, francês e italiano, almejando sua internacionalização. O link para acesso é: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/transformacao/index.
Em 2021, a revista publicou, através de convênio com o Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Unesp, livros de egressos e integrantes do PPGFil. Os livros foram avaliados em parceria com a revista Trans/Form/Ação. Depois de aprovados, passaram por revisão gramatical e normalização, para posterior diagramação via Laboratório Editorial da FFC. Foram publicados pela Editora Cultura Acadêmica e Oficina Universitária e possuem acesso livre e aberto, no portal desta Editora.
Desde 2020, também começamos uma série de parcerias para publicação de Dossiês. Em parceria com o Centro de Filosofia, Política e Cultura, sediado na Universidade de Évora, Portugal, publicamos o “Dossier Filosofia da Técnica e da Tecnologia”. Em parceria com a UFBA, publicamos o “Dossier Ernest Sosa”, uma homenagem ao pensador em questão, com um artigo do próprio homenageado. Em parceria com a UFPE, via Instituto de Estudos de África da Universidade Federal de Pernambuco, publicamos um Dossiê sobre o pensamento do Hemisfério Sul, denominado “Filosofias do Sul: entre a África e a América Latina”. Em parceria com editores chineses, publicamos duas edições sobre Filosofia Oriental. Neste ano de 2023, publicamos o dossiê “Filosofia autoral brasileira”, dividido em dois tomos.
A revista vem crescendo na internacionalização, quer no quesito de autoria de pesquisadores de Instituições estrangeiras, quer na publicação de textos em outras línguas além do português. O aumento significativo de textos do Oriente, por exemplo, deve-se à publicação dos Dossiês sobre Filosofia Oriental. Trata-se de uma conquista importante, no sentido da visibilidade internacional da revista. Entretanto, não desconsideramos a participação de brasileiros nas publicações e de textos escritos na língua portuguesa ou mesmo espanhola, buscando fortalecer a presença de publicações de autores do Hemisfério Sul em suas línguas nativas. Entendemos ser este um fator essencial, se desejamos que os textos publicados tenham também impacto regional para o desenvolvimento social, acadêmico. Como mostra Alves (2023), foi com esse intuito que publicamos o último fascículo especial, voltado à Filosofia nacional.
Buscamos levar em conta todas as metodologias, bem como as diferentes áreas de pesquisa da Filosofia. Para ilustrar essa questão, observe-se que, em 2019, já havíamos publicado uma edição especial da revista exclusivamente sobre o pensamento de autores do Hemisfério Norte. Ressalte-se, no entanto, que trabalhos desse Hemisfério são comuns e predominantes na Filosofia. Tentamos inovar, ao dar oportunidade também à publicação de pesquisas que não possuem tanto acesso e facilidade para publicação, democratizando o acesso, a produção e a socialização do conhecimento. Nos dossiês, seguimos todos os critérios e trâmites normais de avaliação da revista. Ademais, solicitamos aos nossos parceiros uma contrapartida financeira para custear os serviços de normalização, correção gramatical e conversão XML para inserção no SciELO e Redalyc.
Por fim, destacamos o que talvez tenha sido uma das maiores inovações da revista, a nova modalidade de textos denominada “comentários”. Conforme descrito em sua página, a revista adota como objetivo a socialização do conhecimento, procurando promover o debate e a interlocução de ideias. Em vista disso, desde 2020, inauguramos uma nova modalidade de textos, a qual consiste em comentários de artigos aprovados no processo avaliativo, consentidos previamente pelos autores da apreciação. Eles são produzidos pelos pareceristas do manuscrito submetido e anexados ao artigo original. Trata-se de uma crítica construtiva, não mais da qualidade do artigo, uma vez que o processo avaliativo já foi ultrapassado.
O comentador pode expor possíveis discordâncias de ideias, comparação de conceitos entre autores, perspectivas ou sistemas filosóficos, diferenças hermenêuticas, metodológicas, epistemológicas. É possível ainda construir uma ampliação, explicitação ou mesmo a inserção de algum conceito importante para a compreensão da linha argumentativa do artigo comentado, notas explicativas relevantes ou a posição do comentador a respeito da tese exposta. Nesse sentido, procuramos promover um diálogo entre ambos os textos, almejando o aprimoramento e a ampliação do conhecimento. Os comentários são igualmente uma forma de valorizar formalmente o trabalho dos avaliadores do periódico, oferecendo-lhes a oportunidade de publicação de suas ideias e reflexões, as quais podem, inclusive, ter tido origem a partir da análise do manuscrito avaliado.
Alguns resultados das ações realizadas
As ações da revista, nos últimos anos, podem ser avaliadas por meio da considerável melhora nos rankings conceituados, tais como nos índices Scopus e REDIB. No REDIB, passamos a ocupar a 17ª posição entre as revistas de Filosofia de todo o mundo cadastradas no indexador, figurando no quartil Q2. A tendência é de crescimento.
Já no “CiteScore do Scopus”, em 2023, ascendemos 143 posições. O JCR, em 2020, era de 0,1. Em 2021, passou para 0,4 (107 citações); em 2022, foi de 0,5 (com 136 citações) e, em 2023, até julho, mantivemos 0,5, com 159 citações. Ocupamos, no ranking, em 2022, a 326ª posição, de 762 revistas indexadas. Em 2020, ocupávamos a 469ª posição, entre 644 revistas. Em 2022, passamos a ocupar o 57º grupo percentil e, em 2020, ocupávamos apenas o 27º percentil. O SJR, em 2022, era de 0,116 e, em 2020, 0,102. O JCI, em 2020, era de 0,17, em 2021, de 0,34, e, em 2022, passamos para 0,54. Tais dados comprovam que, além do aumento sigminificativo de citações, a revista também está sendo citada por outros periódicos bem avaliados, aumentando seu fator de impacto.
Outro resultado das ações acima descritas está na quantidade de busca dos artigos da revista e de suas citações. O elevado índice de citações pode ser conferido, por exemplo, pelo Google Scholar, https://scholar.google.com.br/citations?user=QpIvv0kAAAAJ&hl=pt-BR&authuser=1. Conforme essa referência, em todos os tempos, foram 7.893 citações. Desde 2016, foram 3.797 citações. O índice h da revista é 34, enquanto o valor desse índice, desde 2018, é de 21. Já o índice i10 de todos os tempos é 202, e, desde 2018, é de 81. Conforme pode ser verificado no site acima, há um crescimento linear das citações dos artigos da revista.
De acordo com o SciELO, https://www.scielo.br/j/trans/, são 101 fascículos, com 1419 documentos, com 24.923 referências. O acesso às publicações via página SciELO, em 2018, foi de 545.020 acessos, em 2019, de 698.952, em 2020, de 1.271.033 acessos; em 2021, foram 990.943, e, em 2022, foram 893.438. Com a inserção de diferentes formatos de leitura (PDF, HTML, MOBI e EPUB), na página da revista, algo inédito nas revistas brasileiras e até estrangeiras, o número de acessos e downloads na página da revista também cresceu exponencialmente.
Ações para os próximos anos
Para manter a qualidade da revista e continuar aprimorando cada vez mais, planejamos continuar com as ações adotadas e iniciar algumas outras. Desejamos, por exemplo, conservar a inserção dos artigos nos formatos PDF, HTML, MOBI, EPUB na página da revista, no portal da FFC. Isso facilitará ainda mais o acesso às publicações, propiciando a socialização do conhecimento, além de favorecer o crescimento da revista, seja na leitura, seja na citação dos artigos.
Continuaremos ampliando o Conselho Editorial, aumentando o número de participação feminina e de integrantes do Hemisfério Sul do planeta. Incentivaremos a ampliação das regiões de abrangência da revista, no Brasil e no exterior, tanto no sentido da origem dos/as autores/as das publicações quanto à divulgação e consequentes citações dos artigos publicados. Providenciaremos a inserção de todo o acervo da revista em págonas como Academia.edu. e ANPOF, bem como ampliaremos a divulgação da revista nas redes sociais. Já houve aumento considerável do número de seguidores e consequente visita e downloads dos arquivos. Trabalharemos pela ampliação da internacionalização da revista. Em 2021, já houve um considerável número de artigos publicados oriundos do exterior, o que se intensificou em 2022 e 2023. Planejamos continuar aumentando a proporção de artigos estrangeiros, nos próximos anos. Desejamos inserir uma seção específica para comentários livres, na página da revista, aos artigos publicados, sem uma avaliação formal prévia do conteúdo.
Procuraremos sempre encontrar meios de minimizar os gastos com as publicações, almejando o bom uso do dinheiro público. Manteremos a política de não cobrar de nossos colaboradores, nem no momento da submissão, nem da publicação. Entendemos, principalmente no campo da Filosofia, em que os recursos são escassos também aos seus profissionais, que a prática de cobrança de qualquer taxa dificultaria o acesso à socialização democrática, universal, de qualidade, do conhecimento na área.
Estamos discutindo sobre a questão, também relacionada às boas práticas legisladas pelo Ciência Aberta, de tornar os pareceres abertos. Ainda entendemos que essa prática pode dificultar uma avaliação mais livre, dada a interferência da “autoridade”, o que não acontece no parecer por pares duplo cego. Ao saber a autoria do artigo avaliado, o avaliador pode se sentir pressionado em emitir um parecer com base no currículo do avaliado. Isso, ao contrário de tornar a avaliação transparente, como é a proposta do Ciência Aberta, pode dificultar uma avaliação incondicional, isenta e livre de influências externas ao conteúdo do texto propriamente dito.
Ainda estamos na discussão se adotamos a prática de preprints de artigos. Na Filosofia, não é costume publicar textos ainda não finalizados. Em geral, seus autores enviam para avaliação textos já finalizados, entendendo que o processo argumentativo deve estar encerrado para ser avaliado. Obviamente, como prática filosófica, há sempre a possibilidade de contra-argumentação. No ano de 2021, nós iniciamos um piloto com inserção de preprints no SciELO, no Academia.edu e na ANPOF, mas ainda não temos dados suficientes para tomar tal decisão.
Ainda que não tenhamos adotado já formalmente a prática de preprints, a atividade inaugurada de comentários, de alguma forma, possibilita esse diálogo entre especialistas que avaliaram o artigo e o autor. Pretendemos intensificar essa modalidade de publicação dos comentários, na revista, nos próximos anos.
Com essas práticas, esperamos continuar contribuindo para o desenvolvimento da Unesp, da Filosofia e de áreas afins, da socialização do conhecimento, com vistas à inserção social. Nossa meta é manter a qualidade do periódico, sustentando seu caráter aberto, sem qualquer cobrança ou taxa de publicação, buscando a difusão, democratização e socialização do conhecimento filosófico, por meio desta IES de reconhecida qualidade e prestígio nacional e internacional.
O último fascículo em publicação seriada
O número quatro do volume 46 é composto de 11 artigos originais e 17 comentários, um recorde para um fascículo desde o início desta modalidade de textos. Os autores nacionais são oriundos de instituições da Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Já os estrangeiros vêm da Argentina, Chile, China, Coreia do Sul, Cazaquistão e Ucrânia.
O primeiro texto é “The actualization of loneliness in modern philosophy”, assinado por Beken Balapashev, Aigul Tursynbayeva e Ainur Zhangaliyeva, comentado por Lydia Sobol. A solidão é uma das questões-chave na Filosofia contemporânea, afirmam Beken e colegas. A sua pesquisa visa a determinar o papel da solidão na Filosofia moderna e diferentes questões sobre o fenômeno. O texto apresenta algumas conclusões a esse respeito. Em particular, ilustra o papel desempenhado pelo tema da solidão em diferentes períodos, como na Antiguidade, na Idade Média, no Renascimento e na Modernidade. Foi feita ainda uma classificação moderna da solidão, determinando quais de seus tipos são positivos e quais são negativos, bem como as relações entre eles. O artigo identifica igualmente alguns fatores objetivos de prevalência da solidão, no mundo atual. Beken e colegas sugerem uma nova perspectiva sobre a solidão na Filosofia moderna e mostram a inter-relação entre diferentes tipos de solidão e o estado espiritual de uma pessoa.
“El infierno de Frantz Fanon”, de autoria de Carlos Aguirre Aguirre, comentado por Cristina Pósleman, é o segundo texto publicado. Aguirre produz um estudo exegético sobre a figura do “Inferno”, contida na obra de Frantz Fanon. Tal alegoria é tomada como elemento central da narrativa de Piel negra, máscaras blancas, a qual se vincula a reflexões sobre a alienação racista, a epiderme, o olhar e a zona do não-ser. Explorando as diferentes modulações do “Inferno”, o artigo faz um deslocamento que busca argumentar como o infernal da história de Fanon, mais do que uma metáfora, dá conta do “real vivido” do mundo colonial. Consequentemente, o corpo analisado sob a ótica racial e sua experiência vivida oferecem uma leitura sobre o "Inferno" em uma chave anafórica e existencial que tensiona as gramáticas hegemônico-modernas sobre identidades. Com base nesse ponto de partida, o autor discute o problema da temporalidade associado ao teor crítico que, em vários momentos, em Piel negra, máscaras blancas, assume a arquitetura infernal do colonialismo narrado por Fanon.
Em seguida, publicamos “Francis Bacon e o livro da natureza: interpretação da natureza e relação entre ciência e religião”, de Celi Hirata, com comentários de Homero Silveira Santiago e de Luís César Guimarães Oliva. A autora explora a concepção da natureza como livro, em Francis Bacon. Procura mostrar que, por um lado, utilizando essa imagem e confrontando a leitura do livro da natureza e a leitura dos livros dos autores consagrados, Bacon contrapõe duas vias completamente distintas da Filosofia natural: a interpretação da natureza em contraste com a via da antecipação da mente. Por outro lado, ao se referir ao livro revelado e ao livro das criaturas como dois volumes distintos da mesma autoria, Bacon pleiteia a especificidade da investigação científica da natureza e sua relativa autonomia em relação ao âmbito da religião, ao mesmo tempo que evidencia o caráter de continuidade e complementação dos dois livros.
O quarto texto é de autoria de Cesar Candiotto. Intitulado “Entre erros férteis e verdades anódinas: sobre ‘Foucault, a arqueologia e As palavras e as coisas: cinquenta anos depois’, de Ivan Domingues”, foi comentado por Celso Kraemer e por Sergio Fernando Maciel Corrêa. Candiotto busca tecer uma apreciação da recepção de As palavras e as coisas, de Michel Foucault, em função do último livro de Ivan Domingues, intitulado “Foucault, a arqueologia e As palavras e as coisas: cinquenta anos depois”. Conforme o autor do artigo, um dos escopos do livro consiste em examinar o alcance de As palavras e as coisas e sua estratégia arqueológica, para dar conta da apresentação do nascimento das ciências humanas.
Ademais, revela sua fragilidade e instabilidade, diante de uma possível mudança na disposição do saber, cujos sinais podem ser observados por ocasião do advento, no século XX, da psicanálise lacaniana, da etnologia e da linguística estrutural. Ao privilegiar suas repercussões, expansões e retificações, cinquenta anos depois, a pretensão do autor do artigo e do livro comentado não é “corrigir” Foucault, a partir de um olhar de epistemólogo, todavia, é apontar a fertilidade e a potência de seu pensamento para a posteridade. Trata-se de trafegar entre erros férteis e verdades anódinas, segundo Ivan Domingues. Na visão de Candiotto, possíveis hiatos, erros ou confusões identificáveis pelo próprio Foucault e por seus críticos, à época, jamais invalidam a fertilidade de uma discussão acerca das ciências humanas, as quais nunca mais foram as mesmas, depois dele.
Vem a seguir “Naturaleza y ficción en la imitación artística: consideraciones desde Aristóteles”, de Hugo Costarelli Brandi e Mariano Fagés, comentado por Sebastián Buzeta Undurraga. Os autores tratam da questão da mímesis artística, buscando iluminar a discussão contemporânea entre duas posições aparentemente inconciliáveis. A primeira, enquadrada numa interpretação tradicional dos textos aristotélicos, concebe a obra de arte como uma imitação da natureza, encontrando nela a sua única regra. A segunda, amparada em outra interpretação, afirma que, segundo o próprio Aristóteles, a criatividade artística é ficcional, ou seja, independente da realidade natural e, portanto, devedora apenas à subjetividade do artista. Entretanto, ao se ter em vista a analogia entre téchnē e phýsis, dentro da cosmovisão teleológica de Aristóteles, é possível perceber uma espécie de “trabalho comum” que as harmoniza. Nesse quadro – e avançando na consideração da poiesis mimética, segundo os autores do artigo procuram mostrar –, os textos do filósofo grego permitem uma interpretação que, sem se desvincular da naturalidade original da arte e tomando-a como guia, abre o horizonte à criatividade do artista.
O sexto artigo é de Jiancheng Bi, nomeado “Symbiotic nurture between literature, culture and nature in Gary Snyder’s meta-picto-poetry of landscape”, comentado por Ludan He e por Monong Tian. O autor defende que algumas meta-picto-poesias de paisagem, compostas pelo poeta americano Gary Snyder, tomam como tema a pintura de paisagem chinesa com as características da sua antiga poesia, brilhando com incomparável charme artístico e substância cultural. Conforme Bi, poesia desse tipo é uma combinação perfeita de elementos orientais e ocidentais, integrando as culturas, pensamentos e artes de ambos os lados. A apreciação dessa poesia cria uma experiência complexa, com um híbrido de formas artísticas e espaços estéticos. Gary Snyder não é apenas um eco-poeta, mas também um estilista e um homem de prática. Suas obras poéticas revelam a relação fomentadora entre literatura, cultura e natureza. A partir dessas observações, Bi almeja constituir uma abordagem transcultural, interdisciplinar e multidisciplinar da obra de Snyder, com base em métodos analíticos que incluem culturas orientais e ocidentais, visões antigas e atuais, além de experiências dinâmicas e estáticas.
“O princípio do comum como apófase ao princípio da propriedade nas democracias contemporâneas”, de Joel Decothé Jr., possui dois comentários, escritos por Odair Camati e por William Costa. A implicação filosófica que guia o problema abordado pelo autor é a seguinte: como o princípio do comum se constitui em apófase frontal ao princípio da propriedade, nas democracias contemporâneas? Decothé Jr. não pretende oferecer uma resposta exaustiva para esse problema. Ele divide o texto em três seções. Na primeira, investiga especulativamente a tensão dialética entre o princípio do comum e o princípio da propriedade. Na segunda, observa analiticamente a premissa posta como contribuição às práticas comportamentais de individualismo exacerbado como ato de aversão ao princípio do comum. Por fim, na terceira seção, detém-se na articulação da noção de princípio do comum como fator presente no limiar entre o vulgar filosófico e o universal filosófico. O autor fecha o texto com algumas considerações que problematizam a noção naturalizada de princípio da propriedade, nas democracias atuais, tendo em vista o poder constituinte do princípio do comum, na perspectiva de realização do bem-estar dos agentes humanos, na vida comunitária contemporânea.
O oitavo texto publicado é “Os monstros humanos em Foucault e existências transgêneros”, de Regiane Lorenzetti Collares e Giovana Carmo Temple, comentado por Marcos Nalli e Rodrigo Diaz de Vivar y Soler. As autoras escrevem o artigo a partir das formulações de Michel Foucault, no curso Os anormais (1975), a respeito da dimensão da monstruosidade humana. Em suas linhas gerais, salientam elas, Foucault não apenas nos fornece um panorama da lenta formação da “família indefinida e confusa” dos anormais, como também trata da importante participação da figura do monstro humano na sua composição. Tomando, assim, a tematização do monstro humano como fio condutor de seu artigo, Collares e Temple debruçam-se sobre questionamentos a propósito das tecnologias de saber e estratégias de poder que tornaram possível a sua existência, quais sejam: como a dimensão da monstruosidade veio a se atrelar ao quadro da sexualidade? De que modo o dispositivo da sexualidade se implicou à proliferação dos vultos pálidos dos monstros humanos? Elas refletem também sobre as possibilidades de resistência política, do ponto de vista de corpos dissidentes, na medida em que eles fazem frente ao universalismo violento das determinações pautadas pelo verdadeiro sexo.
Em seguida, aparece “Entre a utopia e a realidade: as possibilidades do mundo, segundo Ernst Bloch”, de Thiago Reis. Segundo Reis, o aspecto mais importante da filosofia de Ernst Bloch se baseia na afirmação de que "S ainda não é P" – premissa ontológica que sustenta todos os desdobramentos do seu pensamento. Nesse sentido, articula Bloch: "O proletário ainda não se sublevou, a natureza ainda não é nossa casa, a realidade ainda não foi desdobrada em sua totalidade" – tudo isso permanece em processo e a tarefa da Filosofia é a de considerar as reais possibilidades do ainda-não-realizado e transformar o mundo, de acordo com o que ele pode ser. O autor almeja contribuir com a investigação acerca das premissas fundamentais do pensamento blochiano, sobretudo de sua ontologia do ainda-não, baseada em uma teoria das possibilidades que pretende reinterpretar a noção aristotélica de matéria.
O penúltimo texto publicado é “Teaching with filial piety: a study of the filial piety thought of Confucianism”, de Xueyin Wang e Xiaolei Tian, comentado por Jin Wang e por Yuejia Wang. A piedade filial é um valor moral fundamental na cultura chinesa e desempenhou um papel significativo, na sua história. Suas origens remontam ao período pré-Qin, onde se desenvolveu, durante as dinastias Xia e Shang, tendo florescido na Dinastia Zhou Ocidental. Confúcio, o renomado filósofo e educador, introduziu pela primeira vez o conceito de piedade filial no confucionismo. Ele o combinou com a ideia de "Ren" e especificou os elementos essenciais da piedade filial. Mêncio, um de seus discípulos mais proeminentes, continuou a desenvolver o conceito, integrando-o a outras abordagens, como "a teoria da boa natureza" e "a política do modo real". Ele introduziu ainda o critério de "desfiliação", enriquecendo ainda mais a compreensão da piedade filial. Dadas essas informações, os autores desse artigo analisam a evolução e a influência da piedade filial, examinando os pensamentos dos estudiosos confucionistas pré-Qin. Ademais, discutem o papel e o significado da piedade filial, na sociedade contemporânea.
Por fim, o décimo primeiro artigo, intitulado “Cultural thought and philosophical elements of singing and dancing in Indian films”, foi escrito em parceria por Yue Yang e Ensi Zhang. Possui dois comentários, ambos produzidos a quatro mãos: o primeiro por Ce Gao e Xinyun Liang; o segundo por Changping Hu e Ruiying Kuang. Yang e Zhang defendem que a arte é a personificação da cultura e do espírito de uma nação. Cantar e dançar são duas das primeiras e mais ricas formas de arte humana. Não constituem apenas o produto da experiência sensível e emocional, mas também a transcendência da vida cotidiana vulgar. Como a característica mais distintiva dos filmes indianos modernos, a arte de cantar e dançar herda as ideias estéticas tradicionais indianas e a filosofia religiosa pode ser encontrada no ambiente audiovisual moderno. Mantém uma impressão nacional distinta, na onda da internacionalização. Yang e Zhang procuram mostrar que esse tipo de forma de arte é de grande importância para a exploração da nacionalidade da arte chinesa de cantar e dançar.
Assim está constituído este último fascículo de 2023. Desejamos boa leitura e discussões dela resultantes. Agradecemos a sua colaboração no desenvolvimento da revista e intensificação de seus objetivos, em busca da socialização e produção do conhecimento filosófico e das humanidades em geral.
Referência
ALVES, M. A. Apresentação. Trans/Form/Ação: Revista de Filosofia da Unesp, v. 46, n. esp. “Filosofia autoral brasileira”, p. 09-22, 2023.
Recebido: 19/08/2023
Aceito: 23/08/2023
1 Docente no Departamento de Filosofia e Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Marília, SP – Brasil. Líder do Grupo de Estudos em Filosofia da Informação, da Mente e Epistemologia – GEFIME (CNPq/UNESP). Editor responsável da Trans/Form/Ação: revista de Filosofia da UNESP. Pesquisador CNPq/Pq-2. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5704-5328. E-mail: marcos.a.alves@unesp.br.