de vista estritamente lógico, os argumentos a favor da privatização de serviços públicos – e de
toda agenda neoliberal – são tão coerentes quanto a afirmação de que 1+2=5 ou de que “Ele
não nasceu no Brasil, logo ele é carioca”. Eles são frágeis. Eles são deploráveis. Eles são
asquerosos. Deixados à própria sorte, tendem a acumular poeira e a ser triturados pelas
engrenagens do tempo. Portanto, é necessário (a) construir um exército de ideólogos preparados
para defendê-los com unhas e dentes, e (b) fomentar um ambiente intelectual menos crítico e
menos politicamente consciente de modo a facilitar o trabalho dos marines do neoliberalismo.
Não é a primeira vez que uma fundação que se apresenta como puramente filantrópica
usa seu poderio econômico para interferir no mundo intelectual. Washington já sabe há muito
tempo que as universidades possuem uma enorme importância estratégica. Não foi por outro
motivo que a Ford Foundation, trabalhando junto com a Central Intelligence Agency (CIA),
distribuiu bolsas de estudo pelo mundo inteiro. Antes da derrubada de Allende em 1973, por
exemplo, ambas já tinham formado uma horda de economistas chilenos convencidos de que a
melhor coisa a fazer era abrir o país ao capital estrangeiro e entregá-lo de bandeja aos Estados
Unidos (SEABRA, 2022a).
Um pouco de senso crítico não faz mal a ninguém. A religião pode, sim, ser estudada e
discutida de maneira séria e rigorosa pela filosofia (até mesmo em sua face judaico-cristã (aliás,
o fato de que ela frequentemente contradiz o que prega a torna especialmente apetitosa)). A
reflexão filosófica – a reflexão radical, responsável e corajosa – sobre a religião, porém, parece
ter sido terminantemente banida da “filosofia da religião”. Ela se ocupa apenas com perguntas
anódinas. As perguntas de importância capital – as perguntas verdadeiramente fundamentais –
estão excluídas por princípio. Qual é o papel que o cristianismo continua a desempenhar no
etnocídio (por exemplo, no etnocídio dos Yanomami que recentemente virou manchete
internacional)? Por que os judeus israelenses estão tratando os palestinos como foram tratados
pelos nazistas (a ideia de superioridade étnica já latejava em forma embrionária no judaísmo,
antes mesmo da mutilação da Palestina e da criação de Israel)? E por que a filosofia da religião
qua disciplina acadêmica – que deve ser nitidamente distinguida da filosofia da religião qua
atividade intransigente de reflexão sobre os fenômenos religiosos – insiste em fechar os olhos
para o cristianismo em seus aspectos mais fulgurantes e sórdidos, limitando-se a tentar provar
que Jeová existe por meio de pseudoargumentos lógicos e pseudocálculos matemáticos?
Talvez a resposta não esteja fora do alcance. A Templeton Foundation não tem nenhum
interesse em apoiar a filosofia no sentido estrito do termo. Ela não tem nenhum interesse em
apoiar a filosofia qua atividade intransigente de reflexão. Por que o faria? O que ela ganharia?
E já deveríamos ser maduros o suficiente para saber que, em se tratando dos Estados Unidos,