ALGUMAS CONSIDERAC;OES SOBRE 0 ESTATUTO
DO
PSICOL6GICO NO "PROJETO "
1
FREUDIANO
Carmen Beatriz MIUDONI
2
•
RESUMO
: Embora
no
"P
rojeto"
fr
eudiano
nao
seja
oferecida, de uma
maneira
explicita
,
uma concei- tua
<;:
ao
a
respeito do estatuto do
psicol6gico, pensamos que
e
possivel delinear
esse
estatuto
e
tentaremos
faziHo com base em uma maneira de interpretar 0 modelo do psiquismo
que e construido
no
texto
freudiano.
Isto
levar
-nos-a
tambem
a
situar
0
"P
rojeto
"
em
rela
<;:
ao
ao
classico
problema
mente-corp
o.
Pretendemos
dar
conta da
tarefa
propost
a
apoi
ando-nos,
sobretu
do,
em uma
distin
<;:
ao
que
estabeleceremos
entre
0
represent
ar,
entendido
como
ato inten
c
io
nal,
e
a
repres
enta
<;:
ao,
entendida
como
tra
<;:
o de mem6ria
.
Tambem
contemplaremos
a
forma
de comportamento do
fator
quantitativo-
energe
tico
nas
ordens
processuais do
psicol6gico
e
do
ne
urofisiol6gico
.
•
PALAVRA
S-CH
AVE
: Neur
onios
;
quantida
de;
fl
ue
ncia
;
tra
<;:
o
mnesico
;
representa
<;:
a
o;
intencionalida- de; identidade funcional.
Introdu�ao
E coisa sabida, para os leitores de Freud, que este manteve sempre uma
atitude agnostica quanto a possibilidade de desvendar a natureza do que
1
Abreviatura que usaremos para nos referirmos
a
obra freudiana .
,
Entwur{ einer PsychoJogie".
1.
2
Professora do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Ciencias e Letras
-
UNESP
-
17525- 900 -
Marilia
-
SP.
fosse propriamente
" 0
psiquico".
Em
"Algumas
li90es
elementares
de
psicanalise",
obra
tardia
(1940
[1938)),
coloca-se a seguinte tese: nao
conhecemos efetivamente a natureza do
psiq
ui
co,
senao
apenas
aquilo
que
e
psiq
ui
co
,
isto
e,
u
rn
conjunto
de
fe
nomen
os,
tais
como percep90es,
ideias
etc., e as leis que regem esses ienomenos, das quais se pode
fa
zer
u
rn
usa
prat
ico
.
E,
para
0
fu
ndador da
Psicanal
ise,
isto
ocorre
em
toda
ciencia da
natureza
-
incluindo a psicologia -, e provisoriamente satisfaz, mesmo que se
tenha consciencia da ignorancia daquilo que seguramente e " 0 mais
importante", qual seja,
a
nat
ureza
dos
fe
nomenos
(Freud,
19
64,
v.
XX
III
,
p.
282-
3)
.
Malgrado esta limita<;ao de principio, 0 genio de Freud evidenciou-se ao
tratar "daquilo que e psiquico", indo muito alem do meramente
fenomenico, isto e, fazendo
uso
de
conceitos
e
de
hip
oteses
de
teor
espe
culativo
ou do
nivel
do
metap
sicologico
,
3
o que Ihe permitira
desvendar os enigmas que estavam embutidos no material fenomenico que
se Ihe oferecia e ver a mente humana e seu funcionamento sob uma nova
luz.4
Mas uma coisa e a especula<;ao pSicanalltica, e outra coisa e a
especula<;ao filosofica, e 0 considerar as hipoteses metapsicologicas
enquanto possuidoras de urn valor fundamentalmente operacional e nao-
fundante com rela<;ao a uma dada ordem de processos constitui urn fato
marcante da epistemologia freudiana.
5
As hipoteses metapsicologicas
nao
dizem
resp
eito
a
nature
za
do
psiquico
,
nem
the
tra
<;
am
as
coordenadas
transcendentais, embora possam repousar sobre pressupostos filosoficos
e
con
stituam
,
as
vezes
,
bons pontos
de
partida
para
se
extrair
em
,
das
mesm
as,
conseq
li
enc
ias
que
se
jam,
sim
,
fi
losoficas
. Nada
im
pede
,
por
tan
to,
fo
calizar
com
olhar
filosofico
algo
nao- filosofico,
neste
caso,
as
constru<;oes
metapsicologicas.
E
isto
e
0
que tentaremos fazer com
rela<;ao
ao "Projeto" freudiano de
1895,
urn manuscrito pre-psicanalltico que 0
editor ingles rebatizara com 0 nome de "Projeto para uma
pSicologia
cientifica"
(Freud,
1966,
v.
I),
e
cujo
primeiro
batismo
correra
por
conta
de
sua primeira
edi<;ao
em alemao como "En twurf einer Psychologie
"
"Projeto para uma
psicologia") (Freud,
1950).
Nossa questao e a seguinte:
sera que nesse texto podemos encontrar
algumas pistas que esclare<;am algo a respeito da natureza do psiquico?
Propomo
-nos
a
realizar
aqui
essa
investig
a
<;
ao
,
circunscreven
do-nos
a
conside
-
ra<;ao do modelo de psiquismo que 0 "Projeto" fornece e fazendo
dos componentes basicos que 0 integram () objeto central de nossa analise.
Consideremos 0 trecho inaugural do "Projeto" que serve de
"Introdu<;ao" a sua Parte I ou "Plano GeraI'":
A
finalidade deste
projeto
e
fornecer
urna
psicologia
cienti
fi
co
-
na
turalista
:
isto
e,
apresentar
os processos psiquicos como estados
quantitativamente determinados de particulas materiais especificaveis,
tornando assirn esses processos claros e livres de contradiQao. Ha duas
ideias
principais ern jogo:
11J
Conceber
aquilo
que
distingue
a
atividade
do
repouso
como
Q,
sujeita
as
leis
gerais
do
rn
ovi
rn
ento
.
12J
Supor
como
particulas
rn
ateriais os
neuronios.
Comentando
este
trecho
,
diremos que
0
"P
roj
eto
"
tinha
como
meta
of
erecer
u
rn
certo
modele
de
psicologia
cienti
fi
ca
via
a
apresen
ta
c;:
ao
dos
processos
psiq
uicos na qualidade de estados quantitativamente determinados de particulas
materiais espe-
ci
fi
cadas
como neuron
ios
.
Es
te
tipo
de
apresenta
c;:
ao
teria
como
finali
dade
tomar
esses
processos
"
c
laros
e
livres
de
contrad
i
c;:
ao"
.
Ora
,
parece
ser
que dependendo do
sen
tido
e
alcances
que
0
"P
rojeto
"
possa
ter
dado
ao
es
tatuto
dessa
espe
cial
"
a
presenta
c;:
ao
" ,
os processos psiquicos
identificar-se-ao (fundir-se-ao) com esses estados, e entao 0
pSic
ologico
nao
sera
em
essenc
ia algo
distinto
do neuronal
,
algo
assim
como
uma
provincia
ontologica diferenciada, ou bern esses processos terao nesses
estados
meros
veiculos
de
e
xi
bi
c;:
ao
e
serao
tratad
os
,
por mera
vontade
metodolog
ica,
como
se
fo
ssem
tais
veicul
os
.
No
primeiro
dos
ca
sos,
haveria
u
rn reducionismo
naturali
sta
,
de
cunho
comteano
(C
omte
,
19
75,
Li
c;:
oes
2
e
45),
e
a
espec
if
icidade do
psic
ologico
fi
caria
compromet
ida,
mas de qualquer maneira ter-se-ia
ousado em teorizar acerca da natureza do psicolog
ico
.
No
se
gundo
dos
ca
sos
,
tendo
a
apresenta
c;:
ao
em questao
u
rn
valor
puramente
analogico,
as consequencias inverter-se-iam:
0 psicologico
conservaria urn estatuto
propr
io,
mas
,
em contrapartida,
poucas
chances
haveria
de
se
pene
trar
na
sua
ess
encia
.
De
qualquer
for
ma,
e
se
guindo
nisto
a
inspira
c;:
ao
de
Sear
le,
pensamos
que pouco adia
ntaria
elucidar
se
estamos
aqui
diante
de
uma
al
tema
tiva
monista
ou
dualista
,
que
se
colocar
ia,
diante
do
cl
assico
problema
da
rela
c;:
ao
mente-corpo
ou
,
no
ca
so,
da
rela
c;:
ao
psiq
u
ico-ne
uronal
,
em termos
exclu
dentes
(Sea
rle
,
1987,
p.
19).
Pensamos
que
a
"a
presen
t
a
c;:
ao
"
do
"P
rojeto
"
sabera
es
capar
a
esses
dilemas.
E,
embora no manuscrito nao se teorize de modo explicito acerca
da natureza do
psiqu
ico,
sera
pos
sivel
extra
ir,
via
uma
interpreta
c;:
ao
das
hi
poteses
e
es
trategias
de
constI
U
c;:
ao
que
estao
na
base
da
"a
present
a
c;:
ao
"
em
ca
usa,
cons
equenc
ias
que per
mitirao
delinear
0
esta
tuto
do
pSi
cologico
a
luz
de
certos
tra
c;:
os
vistos como
ess
enciais
.
o modelo do psiquismo no "Projeto"
Como expediente metodologico encarregado de veicular a mencionada "
apre-
sen
ta
c;:
ao
"
,
0
"P
rojeto
"
val
er-se-a
de
u
rn modele que adotara
a
fo
rma
de
u
rn sistema neuronico
,
0
sistema
"
cp
\fl
oo
" ,
em que
cada
letra
grega
des
ignara
u
rn sub
-
sistema
ao
qual
estara
assoc
i
ada
uma
fu
n
c;:
ao
ps
iquica
correlata
.
Assim
,
as
fu
n
c;:
oes
da
sensa
c;:
ao
,
da
memor
ia,
e
da percep
c;:
ao
-
cons
ciencia
corresponderao
aos
sistemas
(ou
sub
-s
iste-
mas) "
cp",
"\fI" e 00
",
respectivamente.
Pelo sistema
" cp\floo "
circulara
uma
certa
quantidade,
e ele
sera chamado de
" aparelho"
(Freud,
1966, v.
I,
p.
312; 1950, p. 32
1),
real
c;:
ando
-se,
por
esta
denomina
c;:
ao
,
seu
aspec
to
fu
ncional
.
Cabe agora a pergunta:
de que maneira 0 modelo proposto ira dar conta
da
"a
pres
enta
t;
ao"
que
esta
em
jo
go
no
"P
rojeto
"?
Para
adiantar
uma
pr
imeira
resposta
,
achamos que sera suficiente apontarmos, de maneira
sucinta, nosso ponto de vista no que
tange
ao
es
tatuto
epistemologico do
modelo em apr
e
t;
o
.
Esse
ponto
de
vista
repousa fundamentalmente em
algumas conceituat;6es acerca de modelos e de
metat
oras
,
que
foram
des
envolvi
das
por
M.
Black
ao
longo
dos
artigos
"A
me
tato
ra"
(1966a),
e "Modelos e arquetipos" (1966b).
Nos interessarao aqui dois tipos de recursos modelisticos explorados por
Black
(19
66a,
p.
48-
56)
:
as
metatoras
de
tipo
interativo
,
que
apesar
do
seu
uso
em
conte
xtos
literarios podem chegar a ter relevancia epistemologica
;
e
os que Black chama de "m
odelos
teoricos
" ,
de
uso
comum
na ciencia
,
mas
re
stringin
do-nos
,
no
entanto
,
ao caso
em que
os
ditos
modelos
,
longe
de
serem
vistos como
meras
fi
c
t;
6es
heurist
icas
,
sao antes empregados com
uma certa vocat;ao realistica
6
E
preciso
adver
tirm
os
,
todav
ia,
que
a
maneira
com
que iremos
tratar
esta
qu
estao
de
modelos
e
metaior
as
,
conforme
0
pensa
mento
de
Black
,
e
fruto
de
articula
t;
6es
que temos estabelecido com base em conceitos que estao
disseminados nos trabalhos do autor mencionados acima
;
e por esta razao que
sera dispensada a referencia aos textos
de
maneira po
ntual
.
Diremos, pois,
que tanto em uma metatora de tipo interativo, como
tambem em urn modelo te6rico (quando se faz do mesmo urn uso nao-
ficticio) haveria algo assim
como
uma
assi
m
il
a
q
8.
o,
veiculada
atraves do
dominio
que
e
pr
oprio
do modelo
,
entre
o dominio que se quer explorar
ou conhecer melhor (dominio original ou primario) e
o dominio do qual
esse modelo tirou as suas "entidades" (dominio secundario), que e
u
rn
dominio
em
cer
to
sen
tido
famil
iar
.
Sustentaremos
que
,
de
modo
seme
lhan
te,
0
mod
elo
construido
no
"P
rojeto
"
ter
ia
promovido
u
rn certo
tipo
de
assimil
a
t;
ao
,
via
0
dominio
que
the
e
pr
oprio
(0
do quantitativo-neuronal) entre 0 dominio dos processos
pSicologicos (dominio original ou primario) e uma especie de duplo dominio
secundario constituido pelo dominio do
propriamente
neuronal,
mais
0
dominio
do
pSic
opatologico
,
como verem
os
.
Resta frisar ainda que se trata de uma assimilat;ao baseada em algum
tipo de
semel
hanq
a
(pre
ex
istente
ou mesmo
criada)
entre
os
dominios
postos
em correla
t;
ao
,
assimilat;ao essa que, ao trabalhar pela via da
semelhant;a, incluira identidades e tambem diferent;as.
A materia prima do modelo
Consideremos
agora mais
de
per
to
a
ontologia
do modelo em questao
,
e
a
forma
pela qual nos pensamos que ela foi derivada do dominio ou
dominios secundarios acima assinalados. Tomando como ponto de partida 0
trecho introdut6rio do "Projeto" que
cit
amos
no
inicio
deste
a
rt
igo
,
podemos
inferir
que
as
"e
nt
idades
"
qu
e
integram
o dominio do modele sao
as seguintes: a) neuronios
;
b) quantidades (ou algo da ordem do quantitativo
que deterrnina os diversos estados dos neuronios).
Tambem no mesmo
trecho
introdut6rio avan
�
a-se 0 que pode ser visto como configurando a
linguagem
que
seria a
" linguagem
do
modelo".
Sao
assim
consignados
dois termos b8.sicos,
"N" e " Qn" ou "Q".
7
Mas deve-se fazer a ressalva de
que
essas
express6es
nao
sao
abreviaturas que simplesmente denominam as
entidades que fazem parte do modelo
;
elas devem ser vistas antes como
termos te6ricos que servem para condensar
(nomeando tambem) pontos de
vista metapsicol6gicos acerca daquelas entidades.
Para entender 0 que isto
significa, sera preciso prestarmos aten980 aos dominios dos
quais foram
tirados os elementos "neuronio" e " quantidade",
e as estrategias de
deriva
�
ao dos mesmos que foram empregadas.
8
Vejamos primeiramente 0 caso do elemento " quantidade", e partamos
daquilo que
e
chamado
,
na
prim
eira
se
�
ao
da
Parte
I
do
texto
do
"P
rojeto
" ,
de
"A
concep
�
ao
quantitativa", e que aparece na qualidade de "Primeiro
Teorema Principal":
Deriva-se diretamente de observa90es clinico- patoI6gicas,
sobretudo das relativas a repre-
senta90es
excessivamente intensas
-
na
histeria
e
nas
obsessoes
,
nas
quais
,
como
vere
mos,
a caracteristica
quantitativa surge com mais cJareza do que seria normal. Processos
como a estimula9ao
,
substitui9
ao,
conversao
e
desc
arga
,
que tiveram
de
ser
descritos
ali
(em
conexao com esses disturbios), sugerem
diretamente a concep9ao da excita9ao neuronal como quantidade em
estado fiuente. Nao parecia ilicito tentar generalizar 0 que se
comprovou ali. (Freud 1966, v.
I,
p. 295-6; 1950, p. 305).
Este trecho contem varios pontos que merecem ser analisados:
1.
A
"c
oncep
�
ao
"
em questao
est
a
dizendo
resp
eito
,
de
maneira
expli
cita
,
aos
neuronios
(ou
melb
�
r,
a
" excita
�
ao
neuronal").
E
0
"Primeiro
Teorema
Principal" postula
a
concep
�
ao
dessa
excita
�
ao
como
" quantidade
em
estado
fluente".
A
"
quantid
ade
"
e,
por
tanto
,
da
nature
za
da
"excita
�
ao
neurona
l"
,
e
a
"
fl
uencia"
e
seu
principal
atributo
.
2.
A
concep
�
ao
quantitativa
"deriva-se
de
observa
�
6es
clinico-
patoI6gicas":
temos aqui uma indica�ao de urn dos dominios do qual 0
modelo foi extraido, qual
se
ja,
0
dominio
do psi
copatol6gico
(entend
ido
,
claro
esta
,
tanto
no
nivel
dos
processos
dessa
ordem
,
quanto
no
nivel
de
sua
exp
rora
�
ao
e
terapia).
3. Na "concepQao da excitaQao neuronal como quantidade em estado
fluente",
M
a
tr
anspos
i980
de
uma
"c
aracteristica
quantitat
iva"
exibida
pOI
"r
epresenta
<;:
oes
"
para 0 ambito da " excitaQao neuronal".
Poderiamos
indagar
:
qual
e
a
operaQao
que
esta
na
base
des
sa
tran
sposi
<;:
ao
,
que
bern poderia ter 0 carater de uma operaQao de derivaQao
"metatoro-metonimica" a la Laplanche?9
Qualquer que
seja
a
resposta
,
ela
s6
po
dera
surgir
da
elucidaQao
daquele elemento que
e
0
resu
lt
ado
da
menc
ionada trans
posiQao
,
qual
se
ja:
"
q
uantidade
em
estado
fl
uente
" .
Com efei
to,
Freud
(1
955a,
v.
III)
tinha
assina
lado
,
em
sua
obra:
"A
s
neuropsicoses
de
defesa",
urn
fato
surpreendente
que
acontecia
em
relaQao
aos
dois
elementos basicos que
eram considerados componentes de qualquer fen6meno psiquico, quais
sejam, "representaQao"e "afeto" W A tese principal que se assentava nesse
artigo era a de que existiria, na origem de certos processos patol6gicos
-
notoriamente
a
histeria
e
a
neur
ose
obses
siva
-,
a
deflag
ra
<;:
ao
de
u
rn
processo
defensi
vo
,
0
qual
consist
iria
em
se
dissoc
iar
,
de
represent
aQoes
que em
si
mesmas
eram
de
nat
ureza
penosa,
qu
ase
que
invaria
velmente
de
conteudo
se
xual
,
e
tidas
como
incompa
tiveis
pelo
suj
eito
,
0
que
seria
sua
"s
oma
de
excit
aQao
"
ou
"
a
feto
" .
Uma
vez
operada
essa
dis
soc
iaQao
,
os
elementos
"repres
ent
aQao
"
e
"a
fe
to"
iriam
sofrer
vicissitudes pr6prias
(Freud, 1955a, v. III,
p. 47-9).
Em
Fr
eud:
0
movimento
de
u
rn
pensa
mento
,
Monzani
(1
989,
p.
91)
diz:
"A
grande descoberta da Psicanalise foi perceber que nao
M
relaQao
intrinseca entre representa-
Qao
e
afeto
e
que
,
ao
contrario
,
essa
relaQao
e
de
uma
pura
soldagem entre
uma
e
outro
,
de sorte que sao passiveis de se
dissociarem e tomarem rumos distintos." E
-
continuara o autor
-
embora
Ricoeur tenha razao ao afirmar que 0 afeto e sempre afeto de uma
represen
taQao
,
isto
nao
nos
deve
fazer
esq
uecer
qu
e,
uma
vez
produzida
a
disso
ciaQao
entre
representaQao
e afeto,
"a trajet6ria
desse afeto nem sempre
acabara numa ligaQao
com
uma
repres
entaQao
,
como
e
0
caso
do
puro
ata
qu
e
de
ang
li
stia
" .
(1
989,
p.
92)
.
Caso este em que - sempre segundo Monzani - 0 afeto revelaria sua
caracteristica
fu
ndamental
,
qual
se
ja,
"a
de
ser
u
rn
quantum
energet
ico
"
(19
89,
p.
92)
.
Pensamos
que
e
sobretudo
desse
afeto
qu
e,
separado
das
represent
aQoes
,
circula
a
caminho
de
dife
rentes
destinos
(c
onversao
so
matica
,
desloc
amento
,
transforma
<;:
ao),
que surgira a ideia de uma "
quantidade em estado fluente ". Mas consignemos, como elemento
complementar desta hip6tese, 0 seguinte trecho:
Nas
fu
nQoes
psiquic
as
,
ha
razao
para
distinguir alguma coisa
(quantum
de
afeto,
soma de excitaQao) que possui todas as
caracteristicas de uma quantidade (embora nao se possuam os meios
para
medi
-Ia)
;
que
e
capaz
de
au
mento,
diminuiQao,
deslocamento
e
descarga
,
e
que
se
espalha sabre as trayos-mn esicos das representayoes
mais au
menos como
uma
carga
eJetrica
a
faz sobre a superficie de urn
corpo. (Freud, 1955a, v.
III,
p. 60)
Fac;amos uma breve digressao para atendermos a algumas
considerac;oes que
sao tecidas por Green (1982, p. 17-20) em torno
das
expressoes
" afeto"
e
" quota de
afeto
" .
Aponta
Gr
een
,
em
pr
imeiro
lugar
,
que
a
pa
lavra
"
a
feto
"
("
a
f
fe
ct"
)
e
usada
por Freud de maneira alternada
com as expressoes "Empfindung" e " Gefiihl", cujas
tradu
c;
oes
sao
,
respec
tivamen
te,
"se
nsa
C;
ao
,
emo
C;
ao
"
e
"s
entimento
,
emo
C;
ao"
.
Assim
,
conclui
Green
,
"a
fe
to"
deve
ser
entendido
como
u
rn
termo
categorial
(metap
si
col6gico e nao-descritivo) que agrupa todos os aspectos subjetivos
quaJitativos da vida emocional em
se
ntido
amplo
(emo
c;
6
es
,
sen
timento
s,
pa
ix
6es)
. Em segundo
lug
ar
,
e
preciso distinguir 0 significado da palavra " afeto" isoladamente, que remete
para uma
quaJ
idade subj
etiva
,
do
significado
da
ex
pressao
"
q
uota
de
afeto
" ,
que designa
0
aspecto propriamente economico do fenomeno.
Das considerac;oes precedentes e possivel concluir que 0 afeto
quantitativamente determinado ou " quantum de afeto", quando dis socia do
do componente representa-
tivo
,
te
rn
a
propr
iedade
de
ser
deslo
cavel
,
fl
uente
,
e
que
e
essa
propr
iedade
do quantitativo (a fluencia) 0 que se
transpoe, no "Projeto", da ordem do psicopatol6gico para
a
ordem do
neuronal
.
A
luz
de
tudo
0
que
foi
ex
posto
,
e
voltando
ao
que temos chamado
de
"
J
ing
uagem
do model
o"
,
vejamos
qu
al
seria
a
fun
c;
ao
de
u
rn
dos
seus
termos
basicos
,
qual
se
ja,
"Q
" .
Por
u
rn lado
,
ele
vai
denotar
uma
quanti
dade
,
uma
soma
de
excita
c;
ao
que
circula
pelos neuronios (e que, deste modo
-
poderiamos acrescentar
-
investe ou desinveste
esses
neuronio
s,
atuando
assim
como
u
rn
fator
de
dif
erencia
C;
ao
dos
seus
estad
os,
que oscilariam entre
0 " cheio"
e o
"vazio").
Por
outro
lado
,
e
preciso
ter
em
conta
0
que
0
termo
"Q"
conota
,
i
s
to
e,
0
carater
fluente
da
excita
c;
ao
neurona
l
,
como
foi
sugerido pelo
compor
tamento
de
u
rn
quan
tum
de
afeto
quando
dissociado
da
representac;ao.
Neste
sentido,
pode-se
aventurar
que
uma
caracteristica
de
u
rn
processo
afetivo
e,
por
tanto
,
psicol6g
ico
,
ter-se-ia
"c
olado"
a
processos
neuronic
os
,
de
maneira que
a
quantidade
denotada por
"Q"
ca
rr
ega
ria
um
tanto
de
qua
li
da
de
psiquica
, por
assim
dizer
.
Pensamos que e mais do que evidente que "Q" nao e urn termo descritivo
mas
te6rico
.
Consideremos agora 0 elemento "neuronio".
0
dominio do qual foi
extraido esse
elemento e
0
do
neurol6gico,
e isto e
indicado
na
SeC;ao
2
da
Parte
I
do
"Projeto",
onde
e introduzido urn "Segundo Teorema Principal"
com 0 titulo de "A Teoria dos Neuronios", teoria essa que contempla as
principais descobertas histol6gicas da
epoca
.
A
ideia
principal
desta
"t
eor
ia"
e
a
de
que
0
sistema ner
voso
com
pae-se
de
neuronios que
sao
distin
tos
,
porem homogeneos em
sua
estr
utura
(Freud,
19
66,
v.
I,
p. 297-
8;
1950,
p. 307)
;
apesar desta homogeneidade estrutural, os neur6nios apre-
sentam-
se dicotomicamente como sensoriais e motores, conforme recebam ou des-
carreguem quantidade (Freud,
1966,
v.
I,
p.
296
;
1950,
p.
306).
Tal
homogeneidade
implicara tambem uma importante consequencia):
11
a de que
toda e qualquer diferenQa entre os neuronios nao sera morfologica mas
ficara em ultima instancia
determinada
por
fa
tores
outr
os
,
como
0
lugar
ou
a
posiQao
dos
neur6nios no sistema conforme 0 sub- sistema a que
pertenQam (diferenQa t6pica)
;
e por fatores quantitati- vos, como a forma
em que se da a passagem de quantidade entre esses neuronios, a
grandeza
e
proveniencia
das
quantidades
em jogo
etc.
E
as
diversas
funQaes psiquicas
correlatas a esses neuronios estarao tambem diferenciadas por fatores
desse tipo.
Assim
,
pelos
neuronios do sistema
(ou
sub-
sistema)
"
<p
"
, que
oc
upam
uma
posiQao
periferica no sistema e estao ligados aos 6rgaos dos sentidos, 0
aparelho recebe os estimulos procedentes do mundo extemo
-
cuja magnitude
acredita-se nao e muito pequena e isto na forma de impressaes sensiveis.
Mas competira ao sistema "w", 0
de
10calizaQao
mais
ce
ntral
e
0
que
trabalha
com
quantid
ades
infim
as
,
tomar
essas
impressaes
sensiveis
(uma
especie
de
in-put)
em
percepQaes
conscientes.
Isto
porque a
apariQao
da
conscienc
ia
,
par
a
0
"P
rojeto
",
esta
correIa
cion
ada
com
uma
max
ima
diminuiQao
de
quantid
ades
,
quase
que
com
uma
"v
olatili
zaQao
"
das
mesmas
.
0
sistema
dos
neuronios
"\}I
"
, ou sistema
mnemonico
,
que
esta
situ
ado
entre
"
<p
"
e
"w",
e no qual as quantidades em jogo sao menores
que a
do
sistema
" <p",
e o
sistema
em
que
fica
registrada
toda
estimulaQao
procedente
de
fora do sistema como
u
rn
todo
,
e
tudo
0
que
se
processa
no
sistema
.
Assim
,
as
percepQaes
que
pene
traram
no sistema pela estimulaQao
extema recebida por " <p" ficarao registradas na forma de represen-
taQaes ou
traQos
de
memoria
(algo assim como
"marcas"
despojadas
de toda qualidade
sensivel), em uma parte de " \}I" chamada "\}I do pallium".
0
fluir da "0"
que ativara
esses
tra90s
se
dan
�
a
traves de caminhos que ficaram
fixa dos
na
rede
neuronal,
e isto
pe1a
repetida
passagem
das
"Os"
excitator
ias
,
procedentes
de
fo
ra,
ao
10ngo
dos neuronios "\}I".
Nesse traQado
de caminhos,
as "Os" tiveram que vencer resistencias a
essa
sua
passag
em.
A
"c
ondu
ctibil
ida
de"
dessas
vias abertas
desse
modo
,
Freud
chamou de
"Bahnung",
em
nossa lingua,
" facilitaQao "
(Freud,
1966, v.
I,
p. 298-301
;
1950, p. 308-
10).
0 conceito de " facilitaQao " permitira definir a memoria
em termos das facilitaQaes existentes entre os neuronios "\}I", isto
e,
em
termos de urn conjunto
de
vias
pelas
quais
a
pas
sagem
de
"0
"
encont
ra-se
facilit
ada
,
e,
dada
a
origem
da
"0"
facili
tante
,
teriamos na
memoria
"a
representaQao
de
todas
as
in
fl
uencias que
'
\}I
'
experimentou a partir do mundo
externo" (Freud, 1966, v. I,
p.
365
;
1950, p.
364).
Tambem em " \}I do
pallium" ficara registrada a estimulaQao procedente do interior do corpo
;
neste caso, ha uma via direta pela qual ascendem quantidades end6genas
de
excita
c;:
ao
.
Tais
quanti
dades
iraQ
se
acumular
em
outra
pa
rte
de
"
\{'
''
,
mais pr6
xi
ma do interior do corpo, chamada
"\{'
do nucleo", erigindo-se
em urn fator de pressao
(posto
que
elas
proc
uram
a
des
carga)
e
impulsionan
do
,
desta
maneira
,
toda
a
ativ
idade
psiquica (Freud,
1966, v.
I,
p.
317
;
1950,
p.
325).
Pelo fato de
"\{'''
ser 0 sistema que
registra
informa
c;:
oes
de
tudo
0
que acontece
(ou
de
ser
0
sistema da
mem6r
ia)
,
os
seus
neur6nios
foram
vistos por Freud
enquanto
poss
uidores
de
u
rn
es
tatuto
espec
ial
:
eles
seriam, provavelmente, "os veiculos dos processos psiquicos em gera!"
(Freud,
1966, v. I, p. 300 ; 1950, p. 309).
Isto acarretaria a seguinte conseqtiencia:
tudo 0 que
acontecer fora de
"\{'
do pallium" adquirira valor psiquico na
medida em que ai for
registrado
.
Cabe
frisar ainda que
se
bern
0
elemento
"n
eur6n
io
"
foi
der
ivado
de
u
rn
contexte
cientif
ico
,
0
sistema
"
cp
/
qJ
/
ro
"
que
0
"P
rojeto
"
con
struira
a
partir
dele
foi
fruto
de
uma
montagem
espe
culativa
ou
metapsicol6g
ica
.
Voltando mais uma vez a " linguagem do modelo" e considerando 0
"Segundo Teorema Principal", temos de dizer que " N" (que junto com "Q"
faz parte da " linguagem do modelo") designa particulas materiais
especificadas como "neur6nios",
mas
que
,
pelo
fato
de
os
"n
eur6n
ios
"
do
modele
terem
sido
retrabal
hados
meta
psico-
logicamen
te,
"N"
nao
poss
uira
0
es
tatuto
de
u
rn
termo
descr
itivo
ou
empir
ico
,
ele
te
rn.
antes
0
es
tatuto
de
u
rn
termo
te6rico
,
conforme
antecipa
mos
.
Se
agora consider
armos
"N" em
rela
c;:
ao
com
0
"P
rimeiro
Teorema
Principa
l",
uma
conseq
uencia
de
insuspeitado
alcance
surgira
.
Lembremos
que
tinhamos
desta- cado
,
a
resp
eito
da ai
ass
entada
"c
oncep
c;:
ao
da
excita
c;:
ao
neuronal como
quantidade
em estado fluente", que na sua base
havia a transposi9ao de uma "caractenstica
quantitati
va
"
exi
bida
por
"r
epresenta
c;:
oes
"
para
0
ambito
da
"
e
xcit
a
c;:
ao
neuronal".
Sustentaremos
a
hi
p6tese
de
que
nessa
opera
c;:
ao
de
transposi
c;:
ao
(colagem
"m
etoni-
mic
a",
por
assim
di
zer,
metafori
za
c;:
a
o?)
junto
com
aquela
"c
aractenstica
quantita
ti
va
"
ter-se-ia
"c
olado
"
tamMm
algum
aspec
to
do elemento
"repres
enta
c;:
ao"
que presum
i-
mos pode ser definit6rio se encarado nos
termos em que 0 assunto fora colocado por
Br
entano
,
0
mestre
de
Freud em
fi
los
ofia
.
Em
A
psico1o
gi
a
do
pon
to
de
vista
empi
ri
co
,
0
ps
ic610go
e
fi
l6s
ofo
Bren
tano
sustenta
a
se
guinte
tese
:
"O
s
fen6menos psiquicos
sao
representa
c;:
oes
ou repousam
sobre
representa
c;:
o
es"
(19
44,
p.
94)
.
Consideremos
0
que
Bren
tano
entende por "f
en6menos
psiq
uic
os"
e
por
"r
epresenta
c;:
oe
s",
destacando
aqueles
elementos que
sao
interessantes
para
a
nossa
abordagem
.
No
intuito
de
caracter
izar
os
fe
n6menos
psiq
uicos,
Br
entano come
c;:
a
por
dividir
0
mundo
de
nossos
fe
n6menos
em
duas
classes,
a dos fen6menos fisicos e a dos fen6menos psiquicos (p.
92).
Os
fen6menos
psiquicos
podem-se
de
fi
nir
,
em
uma
primeira
instan
cia
,
neg
ativamen
te,
por contra- posi
c;:
ao
aos
fe
n6menos
fi
sicos
como
sendo
fe
n6menos
que
nao
implicam
nem
ex
tensao
nem
localiza
c;:
ao
espac
ial
(B
rentano
,
19
44
,
p.
99)
.
Mas
0
tra
c;:
o
que
os
define po
sitiv
amente
e
"0
que
os
es
colasticos medievais
chamavam
de
presen
c;:
a
intenciona
l
(ou ainda
mental) de urn objeto e que n6s podenamos chamar.
..
de referencia a urn
conteudo
,
de
dire
c;:
ao
a
u
rn objeto
(que
nao
e
precise
entender como algo
real)
, ou
de
objetividade imanente" (Brentano, 1944,
p. 102).
Co
nforme
0
conceito
de
repres
en
ta9
8.
0
que
e
formulado
por
Br
entano
,
nao
se
deve
entender por
representa
c;
ao
aquilo
que
e
represent
ado
,
0
objeto da
repres
enta
c;
oo
,
senao
"
0 ate mesmo de representar" (p.
93).
E
-
poderiamos acrescentar
-
na medida em que esse ate e urn ate psiquico e
definido como tal em termos do seu carater
intencional
,
isto
e,
pela
sua
referencia
a
conteudos ou
pe
la
sua
dire
c;
ao
a
obj
et
os,
pode-se
dizer,
dent
ro
desse
marco
conce
itual
,
que
0
repres
entar
e
u
rn
apontar
virtual
pa
ra
algo
.
Com base nestas considerac;oes sustentaremos que, se devido a conexao
de "N" com 0 " Segundo Teorema Principal" ele designa algo assim como u
rn lugar
fisico
(de
nat
ureza
neuronal)
,
sera
em
vir
tude
de
sua
conexao
com
0
"P
rimeiro
Teorema Principal" e pelo vies da " colagem" do elemento
representacional que " N" designara algo
assim
como
um
lu
g
ar
vi
r
tual
,
aquele que
seria
pr6prio
do represent
ar.
Portanto
,
a
"o
ntologia
neuronal" do modele
sera
uma
ontologia
de
qualq
uer maneira
mista
, posta que
0
elemento
"represen
ta
c;
ao
" ,
ja
implici
ta
,
ja
expli
citamente
(ao ponto que, avanc;ado ja 0 texto do
"Projeto",
ele parecera quase que substituir os
neuronios) encontrar-se-a sempre "colado" ao elemento "neuronio".
Uma
vez
caracterizadas
as
"e
ntidad
es"
que
fa
zem
parte
do modelo
,
passaremos
a encara-lo em seu aspecto dinamico
;
e para tanto introduziremos
um novo compo-
nente que poderiamos chamar de prin cipio operacional
desse modele em virtude de
ele ser indicador do seu modo de
funcionamento. Tal principio operacional ou principio
de inercia neuronica
e 0 principio da atividade neuronica em relac;ao a "0",
e e
enunciado da
seg
uinte
maneira
:
"Os
neuronios
tendem
a
se
desf
azer
de
0"
(Freud,
1966,
v. I, p. 296
;
1950, p. 30�.
Todav
ia,
esse
princi
pio
,
que estr
utura
0
sistema
nos
moldes
de
u
rn
simples
"a
rco
reflexo
"
(tudo
0
que
entra
no sistema
,
em termos
quantitativo
-e
ner
geticos
ou
quanti-
tativo
s-
excitat6r
ios
,
sai,
e
0
faz
pela
via
de
uma
des
carga
compl
eta
e
total
.
atraves
dos
neuronios
motor
es
),
sofrera
uma
importante
modi
fi
ca
c;
ao
. Com
efeito
,
com
essa
sua
conforma
c;
ao
,
tal
sistema
s6
se
en
contra
adaptado para
responder
aos
estimulos
que vern de fora.
E n6s sabemos que esse sistema tambem recebe
estimulos que provem do interior do corpo ou "estimulos end6genos", que
"se originam nas celulas do organismo
e
criam
as
gran
des
neces
sidad
es
:
fom
e,
respir
a
c;
ao
,
se
xual
ida
de"
(19
66,
I,
p.
29
6-7;
19
50,
p.
306)
.
Esses
est
imulos
precisam
ser
apazigua
dos
,
po
rque
sua
nao-satisfac;ao gerara
desprazer; para tanto far-se-a necessario efetivar, no mundo
externo, uma serie
de
condic;oes,
0 que
vai
requerer a
intervenc;ao
de
uma
ac;ao
que
Freud
chamara
de
"especifica"
(1966,
v.
I,
p.
297
;
1950,
p.
306).
Mas
para
se
realizar
tal
"a
c;
ao
"
(que
pressupoe
a
intera
c;
ao
entre
0
sistema
,
seu
meio
ambien
te
,
e
u
rn
outro
ser
humano
,
cuj
a
percep
c;
ao
sera
de
capital
importancia
para
a
conf
ig
ura
c;
ao
em
"
\{I
"
de circuitos representativos que
estarao na base de processos cogitativos e cognitivos,
e
tambem
para
a
emergencia da
ordem
m
o
ral
no
sistema)
,
0
sistema
de
vera
contar
com
uma especie de "reserva energetica", cuja origem estaria justamente nessas
"Os"
q
ue
os
estimulos
end6genos
vaG
acumulando
em
"
\{I
do nucleo
" ,
conforme
foi
exposto
.
Assim
,
0
sistema
"
.
. .
ve-se
obrigado
a
abandonar
sua
tendencia
inic
ia
l
a
inercia
(isto
e, a reduzir 0 nivel [da On'] a zero)" (1966, v. I, p. 297
;
1950,
p. 306).
E
aqui
tera
lugar
a
mo
dif
ica
r;:
ao
do mencionado
princi
pio
,
0
que
nao
impl
icara,
todav
ia,
sua
supre
ssao
,
ja
que
mesmo
a
maneira em
que
0
sistema abandonaria
sua
tendencia
a
inercia,
"
dem
onst
ra
que
a
m
e
sma
tenden
cia
persis
te
,
modi
fi
cada
pelo empenho de ao menos manter a
On' no mais baixo nivel possivel e de se resguardar
contra qualquer
aumento da mesma
-
ou
seja,
mante-la constante"
(1966, v. I,
p. 297
; 1950,
p. 306-7).
Freud acaba de enunciar uma versao daquilo que sera formulado
bern mais tarde com 0 nome de "principio de constancia"
(1955b, v.
XVIII,
p. 9).
Por
tan
to
,
0
"pr
incipio
de constancia"
se
ra
0
en
carregado
de
"a
d
rni
nistrar
"
as
quanti
dades
em
jo
go
no sistema
de
tal
mod
o
qu
e
este
possa,
na
medida
do
pos
sivel
,
se
ver
livre
das
mesmas
(inercia)
,
mas
dando
conta
,
ao
mesmo
tem
po,
das
e
xi
gencias
que
sao
colocadas
pela
pressao
dos
es
timulos
end6g
enos
,
ex
igencias
essa
s
que
sao
da ordem
do
organismico
ou
vital
.
o
estatuto do psico16gico
Temos
ex
posto
0
qu
e,
conforme
nosso
ponto
de
vista
,
teriam
sido
as
est
rategias de modelizar;:ao do psiquismo que 0 "Projeto" empregara na sua
tentativa de " apre-
sentaQao" dos processos psicol6gicos em termos de
quantidades e neur6nios.
Uma vez delineado tambem 0 estatuto dos componentes basicos do
modelo em apr
eQo
,
e
hav
endo
-se
apontado
0
principio
oper
acional do
mesmo
,
vej
amos
que
tipo
de assimilaQao esse modelo teria promovido entre
0 duplo dominio secundario e 0 dominio ariginal que foram postos em
correlaQao, isto e, entre 0 dominio do neuronal
e
do psic
opatol6gico
,
par
u
rn lado
,
e
0
dos
processos
psicol6gicos em geral
,
pelo
outro
.
12
a)
Atraves do elemento "quantidade", e via esse atributo do
quantitativo que fora
destacado
como
sendo
ess
enc
ial
,
a
flue
n
ci
a,
0
mode
lo
teria
ass
imilado
os
dominios
em
considera
r;:
ao
,
de
sorte
que
os
processos
psi
co16gicos
po
deriam
,
par
sua
vez,
ser
concebidos enquanto perpassados
par "uma quantidade em estado fIuente".
Mas isto sig
nifica
que
0
elemento
quantitativo
esta
se
compor
t
ando
,
nas
ordens
proces
suais
do
neuro16gico
e
do psic
o16gico
,
de
uma
maneira
identica
(a
"0"
fI
ui), mesmo
que
nao
se
saiba, a rigor, se se trata de uma "0" da mesma natureza agindo nos
dois casos.
To
davia
,
uma
tal
quanti
dade
pod
eria
1
3
ver
-se
"
q
uali
tizada
" ,
par
assim
di
zer,
nos process
os
ps
ico16g
ic
os,
par
uma
certa colora
r;:
ao
afetiva
,
0
que
erigi
r-se-ia
como
u
rn
elemento
de
carater diferen
cial
.
Ha ainda urn outro aspecto implicado pela assimilagao em questao.
0
fato de essa quantidade em estado fluente ser a forma assumida pela excitagao
neuronal nos autorizaria a inferir que a soma de excitagao que esta em
circulagao tanto nos processos psicologicos quanto nos processos neuronais
encontra-se regulada pelo mesmo
pr
inci
pio
,
ou "pr
incipio
de
constancia
" ,
isto
e,
a
tendencia
a
manter
u
rn
nivel
minimo de "0" em funcionamento
(ou pelo menos a mante-Ia constante). Assim (e considerando tamMm 0
comportamento fluente da "0"), poderiamos afirmar que haveria uma
especie de identidade funcional, do ponto de vista quantitativo/energe-
tico
,
entre
os
process
os
psicologicos
e
os
neuronais.
Ainda
consid
erando
0
fator
quantitativo
-e
ner
getico
,
devemos
relembrar
qu
e
0
"P
rojeto
"
assen
tara
,
como
uma
de
suas
teses
, que
a
quanti
dade
que penetrava em "\}1" a partir de elementos somaticos (do
interior do corpo) erigia-se em fator de
impulsao
de
toda
a
ativ
idade
psiquica
.
Par
tin
do
des
ta
colocagao
,
e
pos
sivel con
cluir
qu
e,
do
ponto
de
vista
da
"
f
orga
que alimenta", por assim dizer, tanto os processos pSicologicos
quanto os processos neuronais teriam como manancial a mesma fonte de
"energia"
14
E embora uma tal
"e
nergia"
nao
fique
def
inida
,
pensa
mos
que
ela
e,
em
todo
ca
so,
dados
os
elementos
com
que
contam
os,
da ordem do
biologico
no
sen
tido
do or
ganismico
ou
vital
.
b)
Atraves do elemento "neuronio", e pelo vies da "colagem" do
elemento
"repres
entagao
" ,
nos
termos em que
a
coisa
foi
colocada por
nos
,
isto
e,
a
pa
rtir
de
pressupostos brentanianos que teriam sido apropriados
por Freud, a assimilagao que o modele teria promovido entre os processos
neuronais e os pSicologicos seria algo do seguinte tipo: 0 neuronal
constituiria uma especie de ponto ou lugar do qual
emergeria
-
de uma
maneira que se ignora
-
esse "apontar para algo" (para urn conteudo ou urn
objeto) que e 0 que caracteriza a dimensao do propriamente intencional
ou
psic
ologico
,
de
sor
te
que
os
processos
psicologicos poder
iam
ser
vistos
como emergentes do neuronal e na qualidade de intencionais. Pensamos que
os neuronios
nao
apontam
para nada
,
no
sen
tido
intencional
,
claro
esta
,
mas
algo
,
em
seu
compor
tamento
,
parece
pe
rmitir
que
esse
apontar
se
de.
Assim,
para dar
u
rn
exemplo
,
sa
bemos que
0
repr
esentar
implica
intencional
ida
de,
e
u
rn
apontar
virtual
par
a
algo
;
mas
,
para que
isto
aconte
ga,
e
necess
ario
(nao
sabemos
se
tamMm
suficiente
-
0 que
significa que suspenderemos 0 juizo a respeito da questao da
causagao)
que as representac;oes que estao registradas no sistema
"\}1"
sob a forma
de tragos de memoria
sejam
ativadas ou investidas.
Isto
e,
os
neuronios
"\}1",
que
sao
seus "portadores", devem ser ocupados por "0".
Os
res
ulta
dos
que
acabamos
de
ex
por,
malgrado
seu
teor conj
ec
tural
,
posta que
eles
se
ass
entam
,
afin
al,
em alguns
pressupos
tos
filo
soficos
que
teriam
passado
pa
ra
Freud atraves
de
Brentano
,
en
contram
,
to
davia
,
bons
apoios
no
texto
do
"P
rojeto
" .
Vamos
nos
remeter
a
u
rn
desses
apoi
os
,
talvez
0
princip
al
.
Ao
abordar
a
emergencia do
dese
j
o
(
W
unsch)
no
aparel
ho
,
Freud conc
eitua
0
mesmo em termos
de
"
a
tra
c;
ao"
ou movimento
que, partindo da situac;ao de desprazer gerada pela acumulac;ao de Qn" em
"
'P
"
do nucleo
(via
a
est
imula
c;
ao
endogena)
,
investira
-
e
isto
de
u
rn
modo
puramente
mecanico
,
quanto
a
circula
c;
ao
de
Qn
'
-
a
represen
ta
c;
ao
do
objeto desejado, objeto esse que se encontra associado a desaparic;ao do
desprazer. Que estatuto outorgar, todavia, a uma tal representac; ao? Em
termos de quantidades e neuron
ios
,
e
atendendo
ao
processo
de
sua
con
stitui
c;
ao,
a
referida
represen
ta
c;
ao
nao
e nada mais do que urn trac;o de
memoria deixado em "'P" do pallium pela Q introduzida por uma percepc;ao
que estivera ligada a uma "vivencia": a da satisia
9ElO
de
uma
necess
idade
ou carencia que
"
'P
"
exp
erimentara
.
(Is
to
explica
por
que
a representa
c;
ao
de
dese
jo,
"h
erdeira"
dessa
percep
c;
ao
,
en
contra
-se
asso
ciada
a
desa-
paric;ao de desprazer.) (Freud,
1966,
v.
I,
p.
317-9, 321-2; 1950,
p.
325-7,
329
;
Milidoni,
1993,
p.
1 1
6
-22)
.
Ora,
pensamos
nos
,
0
investimento
desse
tra
c;
o
de
memor
ia
implicara
tambem a intervenc;ao de atos intencionais, posta que
0 investimento de desejo e
investime
nto
daq
uilo
que
0
dese
jo
dese
ja,
por
assim
dizer,
do
seu
objeto
intenciona
l
,
e
este
ate
intencional
do
dese
jo
esta
naturalmente
intermediado
pelo
ato
,
tambem
intencional
,
que vern
repres
entar
u
rn
tal
objeto
,
toma
ndo-o
pres
ente na
forma
de
uma imagem
ou ideia
.
(Freud
fala da "i
magem
mnemica
do
objet
o"
.
)
(1
966
,
v.
I,
p.
319;
1950, p. 327).
As conclusoes aqui expostas foram elaboradas com base em uma maneira
de interpretar a func;ao do modele do psiquismo proposto pelo "Projeto".
Essa interpre- tac;ao baseia-se
-
como j
s.
foi dito
-
em pressupostos
epistemologicos oriundos do
pe
ns
amento
de
Black
(19
66b
,
p.
222-
5)
,
pressupostos
estes
que conferem
u
rn
privilegio
ao que tal autor chama de
"uso existencial" de modelos teoricos, 0 qual pressupoe, por outro lado,
a
forma de operar por assimilac;ao ou identificac;ao de dominios que e propria
das metatoras in terativas. Via tal "uso existencial", 0 modele pretende
apreender as entidades que estao sendo visadas "tal como elas
sao",
opondo-
se assim
a urn usc que so conferiria a esses modelos 0 estatuto de ficc;oes
heuristicas.
Pensamos que 0 modelo do "Projeto" comportaria urn usc de tipo "
existencial", embora
nao
sem
cer
tas restr
i
c;
oes
. Com
efeito
,
a
indole
metapsicologica
do con
struto facultaria 0 mesmo para capturar a
realidade que esta sendo visada de uma maneira
que
e
somente
aproximativa
.
Tal
vez
se
ja
por
isso
-
entre outras
razoes
-
que
0
"P
rojeto
"
apresenta
osc
ila
c,;
oes
quanto
ao
usc que
faz
do con
struto
em
apre
c;
o,
indo
de urn usc decididamente "realistico", para outro meramente figurativo ou
" ficticio ".
A despeito de tais oscilac;oes, pensamos que 0 modele do "Projeto" fomece
pelo menos indicios a respeito do modo de ser proprio daquilo que esta
sendo " apresentado", isto e, dos processos psicologicos.
Tendo como
ponto
de
apoio
este
conjunto
de
pondera
c;
oes
,
nos
sen
timos
encoraj
ados
para tecer agora
,
finalm
ente
,
algumas
considera
c;
oes
qu
e
te
rn
a
ver
com
o estatuto ou a natureza do pSicologico em termos do
"Projeto", 0 que faremos dando primeiramente uma forma esquematica
aquelas consequencias que nossa interpreta-
c;
ao
em
tome
do
es
tatuto
e
fun
c;
ao
do modele em questao
nos
pe
rmitiu
extr
air
.
Co
nfOIme
,
pois
,
essa
interpret
a
<;:
ao
,
caberia
dizer
qu
e,
no
"P
rojeto
" ,
0
psi
co16gico
quali
fi
ca
processos
que
sao
em
si
cli
s
tin
tos
dos
processos
da
ordem do neuro
fi
sio16g
ico
,
mas
que
man
tern
com
estes
rela
<;:
oes
ou pontos
de
contato
que
sao
determinantes em termos
de
sua
con
fi
gur
a
<;:
ao
.
Com
base
nesses
pontos
de
co
ntato
ou
dessas
rel
a
<;:
o
es
,
podemos
of
erecer
a seg
uinte
caracteriza
<;:
ao
dos
processos
psi
co16gic
os
:
1.
Trata-se de processos que, do ponto de vista quantitativo-
energetico apre-
sen
tam
uma
iden
ti
dade
[u
n
ci
onal
com
os
processos
neuro
fi
sio16g
ic
os
.
2.
Trata-se de processos cujas concliqoes de ocorrencia estao no plano
do
ne
urof
isio1
6gico
.
E
a
partir
dai
que
eles
emergem
com
sua
caracteristica
dist
inti
va,
isto
e,
a
inten
ci
ona
li
da
de
.
Todav
ia,
esses
processos
pressupoem
a
in
t
era
q80
di
namica
com
0
meio
ambiente
e
os
outros
seres
humano
s,
pela
via
da
a
<;:
ao
(que
te
rn
0
seu
modele na
a
<;:
ao
que
foi
chamada
de
"
e
spec
ifica
").
Isto
si
gnif
ica
qu
e
a
emergencia do psi
co16gico
nao
se
da
a
par
tir
do
neurof
isio16gico
como
esfera
processual
isolada
.
3.
Trata
-se
de
processos
qu
e
compartilham
,
com
os
processos
neuro
fi
sio16g
ic
os,
a
mesma
[on
te
energe
tica
,
que
e
da
nat
ureza
do
organismico
ou
vital
.
Estes
se
riam
,
conforme nosso entender, os pontos de
destaque. Pode seguramente parecer estranho que nada tinha sido dito a
r�speito do elemento "consciencia". 8em entrar em detalhes
-
posta que
se trata de urn assunto que merece urn tratamento a parte
-
podemos apontar
aqui 0 que julgamos ser a tese central do "Projeto" a esse respeito: 0
elemento " consciencia" e urn agregado de qualquer processo "\}I", 0 que
significa que ele pode faltar. Como se entende isto?
8abemos que os neuronios encarregados de "veicular" a consciencia sao
os neuronios
perce
ptivo
s,
os
"
ffi
"
.
Mas
se
bern
toda
percep
<;:
ao
implica
consc
iencia
,
isto
e,
a
conciencia
de
uma
quali
dade
(seja
esta
qual
idade
de
tipo
sens
orial
,
se
ja
afetiva
ou
inten
siva
-
co
m
o
e
a
pr
6pria
das
sensa
<;:
oes
de
prazer/desprazer
-
se
ja,
pOI
assim
dizer,
verbal
-
aquela
que
esta
assoc
iada
as
sensa
<;:
oes
visua
is,
auditivas
e
motr
izes
da
fa
la,
e
qu
e
e
responsavel
pela
consc
ientiza
<;:
ao
de
repres
enta
<;:
oes)
,
M
processos
que
oc
orrem
sem
cons
ciencia
,
como
e
0
caso
de
certos
processos
de
pens
amento
(Freud 1966, v. I, p. 373
;
1950, p. 371-2).
A
cons
ciencia
,
no marco do
"P
rojeto
" ,
nao
e
pois
uma
caracteristica
qu
e
se
en
contre
asso
cia
da,
de
forma
pe
rmanente
,
a
qualquer
oc
orrencia no
plano psi
co16gico
.
Ela
acompanha
se
mpre
a
percep
<;:
ao
,
mas
pode
acompanhar ou
nao
urn
processo
puramente
repres
entac
ional
,
isto
e,
que
ocorre
s6
em
"
\}I
"
(feita
a
ressa
lva
de
qu
e,
ainda
nesse
caso
,
havera
esp
oradicas
con
sc
ient
iza
<;:
oes
de
alg
uns
dos
elos
desse
processo).
Esta falta de equacionamento entre "psiquico" e "consciente", e a
primazia que
e
dada
no
"Projeto"
ao
sistema
" \}I"
(0
sistema
mnemonico/representacional)
nos
induz a
acres
centar
mais
u
rn
item
aqu
eles
qu
e
temos arrolado
acima
.
Assim
,
teriamo
s,
fi
nalmente
:
4.
Os
processos
psico
16g
icos
sao
,
essenc
ialmen
te,
processos
represen
tacionais
que
te
rn
sua
base
em
u
rn sistema neuronico
privilegiado
,
0
"
\}I
"
.
(Nao
esque
<;:
am
os,
aq
ui,
que
as
repr
esenta
c;:
oes
envolvidas
sao
,
antes
de
mais
nada,
tra
c;:
os
mnesicos
despr
ov
idos
de
quali
dade
e,
por
tanto
,
de
consc
iencia
,
e
que
0
rep
resen
tar
que emerge
ria
corn
a
sua
ativa
c;:
ao
ser
ia
pos
suidor
de
uma
especie
de
intenciona
li
dade
sem consciencia).
Sinteti
zando
,
pois
,
0
que
foi
ex
posto
a
resp
eito
do
es
tatuto
do
psico
l6gico
no "Projeto", diremos que 0 psicol6gico e aquilo que emerge
do neurofisiol6gico na qualidade do intencional/representacional,
configurando uma categoria ontologica-
mente
distinta
de
proc
essos
,
mas
que
e,
ao
mesmo
tem
po,
aquilo
que
fu
nciona
,
do
ponto
de
vista
quantitativo
-ene
rget
ico
,
de
uma
maneira
identica
ao
ne
urofisiol6
gico
.
Se
qui
sermos
enc
aixar
tal
tipo
de
conceitua
c;:
ao
dentro
das
posi
c;:
oes
mais
extremas
que
e
rn termos
de
"
dual
ismo" ou
de
"monismo
"
se
colocam
corn rela
c;:
ao
ao
classico
problema
mente
-
corpo
(ou
psiq
ui
co-
neurona
l)
,
haver
emos
,
certamen
te
,
de
ter dificuldades que nos parecem ser
insuperaveis.
Pois
a
conce
itua
c;:
ao
apontada
nao
casaria
bern
nem
co
rn
a
posi
c;:
ao
dualista
cl
assica,
isto
e,
a
cartesiana
,
que sustenta
u
rn dualis
mo
mente
-
corpo
de
tipo
su
bs-
tancial
(Des
car
tes
,
19
79
-
Medi
t
.
6a)
,
nem
tampouco
co
rn
uma
posi
c;:
ao
monista
que
,
ern sua versao fisicalista radical, postulasse
a existencia de uma identidade de carater
empirico
entre cerebro
e
men
te,
como
e
a
posi
c;:
ao
de
fe
ndi
da,
entre
outr
os
,
por
Smar
t
(1
965,
cap
.
5)
.
Haveria, no enfoque freudiano do "Projeto", uma especie de dualismo
;
mas este nao seria substancial, posta que 0 psicol6gico e distinto mas nao
aut6nomo corn rela
c;:
ao
ao
ne
urofisiol6gi
co
;
e
have
ria
,
ta
rn
bem,
ao
mesmo
tem
po,
uma
esp
ecie
de
monismo, que seria de tipo funcional e seria
implicado pelo comportamento do fator quantitativo-energetico.
1 5
Talvez tenhamos que buscar novos r6tulos.
MILIDONI, C. B. Some considerations on the status of the psychic in
"Freudian Project".
TranslFormlAQ8o, v.
17, p. 151- 166, 1994.
•
ABSTRACT: Although Freud's "Project" does not contain overt
formulations concerning the nature of the psychic, we think that it is
possible to sketch some of its essential traits. To do so, we shall interpret
the model of the mind constructed in the "Project ". From this, we shall
proceed to put the "Project" views on the nature ofthe psychic in
connection with the classic mind-body problem. Our account will rest
especially on a distinction we shall make between "representing", seen
as an intentional act, and "the represen tation ", seen as a memorytrace.
We shall also consider the behaviour of the quan titative- energetic factor
in both the psychological and neuro-physio1ogica1 process orders.
•
KEYWORDS: Neurone; quan tity; fluen cy; memory-trace; represen
tation; intentionality; functional iden- tity.
Referencias
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