instituiu. (1970, p. 156-7)
Fundamentada sobre essa concepc;:ao inteiramente original da relac;:ao
entre 0 individuo e poder, a polis propiciou 0 solo adequado para que a
liberdade pudesse florescer. Nenhum outro Estado conseguiu instituir tao
bern quanto este 0 compro
misso entre liberdade e poder, afirma Arendt,
porque soube compreender a estreita
interdependencia de natureza entre
liberdade e politica, ou a inviabilidade de qualquer
ação política sem a
efetiva presença da liberdadeB Mais que um atributo do pensa-
mento e da vontade, a liberdade é então considerada uma qualidade
própria da prática política. Por oposição ao homem moderno, o
grego não valorizava a possibilidade de desenvolver atividades
particulares sem interferência do Estado, porque resultariam na
atomização dos indivíduos. O essencial para ele era poder interagir
intensamente com os concidadãos a propósito da coisa pública,
instaurando, assim, a solidariedade social: o indivíduo só poderia ser
livre no interior do Estado e não isolado dele (Coulanges, 1885, p.
268-9).9
A liberdade é, pois, a característica determinante da
democracia, enquanto condição indispensável para o seu
exercício. E é em virtude dos contatos e trocas
estabelecidos na
ágora, espaço onde cada qual coloca livre e contraditoriamente seu
ponto de vista, que se cria a atmosfera propícia à perplexidade, à
interrogação incessante, à busca de definições mais precisas e
coerentes. Do advento da polis, e, mais especificamente, da
democracia, surge uma atividade racional inovadora. A
racionalidade e a estrutura social próprias à cidade grega são duas
ordens de fenômeno indissoluvelmente ligadas, e não por acaso: a
razão manifestou-se primeiramente na
Grécia, com seus conceitos
e princípios, porque a experiência social, fundamentada
na
liberdade de argumentar, sobre o que seria mais justo e mais favorável
ao bem-estar
comum, assim o permitiu, afirma Vernant (1977). Da
perfeita conjunção, nesse momento da história da civilização
ocidental, entre as normas do jogo político e do jogo intelectual, sob
o patrocínio da democracia, pode nascer a filosofia.
Eu não vejo para que serviria a filosofia