Aliás, como sempre na vida, estou em marcante
contradição com o que faço. Como pretendo fundar novamente
o jornal, tenho cinco reuniões por semana e trabalho pela futura
organização. Mas apesar disso, por dentro, nada mais quero a
não ser calma e renúncia, para sempre, a toda esta enorme
atividade sem sentidoB (1985).
Manifestações assim, tão tipicamente femininas, são constantes
na correspon- dência, na qual podia revelar seus estados de alma aos
amigos, sem medo de ser censurada. Sob este aspecto, Rosa nada
tem de excepcional. É uma mulher dedicada à política revolucionária
que, ao mesmo tempo, revela seu lado sensível, "feminino",
lamentando gastar a vida tão somente na luta árdua para tornar o
mundo belo, justo, harmonioso. Por que não conciliar as duas
coisas, a política e a felicidade pessoal?
Era precisamente esse o seu desejo, tanto que sua amiga e biógrafa
Henriette Roland Holst chega a dizer, e com razão, que: "Ela não era
uma pura natureza política, simplista, como os grandes dirigentes
polítiCOS e revolucionários de todos os tempos, Cromwell,
Robespierre, Marat ou Lenin" (1937, p 34).
Mas no que consistiria a diferença entre ela e os seres
estritamente políticos?
Embora correndo o risco da simplificação, talvez possamos
considerar que aquilo que a torna uma personalidade única nos
meios de esquerda da época seja a maneira particular como assimila
a cultura "burguesa" passada e presente, o que tentarei delinear em
grandes traços. A literatura alemã, francesa, russa, Tolstoi em
primeiro lugar, têm papel fundamental na sua formação humanista,
além do poeta romântico
polones Adam Mickiewicz que, segundo
Ettinger (1989, p. 36), "personificou 0 drama de seu pais
-
dividido entre 0
Oriente e 0 Ocidente, entre a emOC;ao e a razao".
Mickiewicz
teria
sido
,
muito
antes
de
Rosa
conhecer
Marx
,
a
sua
fo
nte
inspirad
ora
,
revelan
do-