LACAN X BUBER/PAZ: ENTRE O CONTINGENTE E O ETERNO

 

Sílvia Simone ANS PACH[1]

 

RESUMO: Um confronto entre as idéias de Lacan de um lado e as de Buber e O. Paz de outro revela uma in­ compatibilidade absoluta de posições. Para Lacan, a unidade primordial é irresgatável e, aliás, jamais existiu, não passando de uma alucinação. O nascimento impõe ao sujeito uma condição de fragmentaridade. Toda a empresa humana se reduz à busca da unidade perdida, ao desejo, que visa a objetos que, produzirem um si­ mulacro de gozo, preenchem uma ausência primeira com sua presença de maneira falseada. Inversamente, para Buber/Paz, o todo primordial se instala desde o princfpio e jamais deixa de existir. A ação humana pode desper­ tar este todo a cada momento, em cada ato e fato corriqueiro.

 

UNITERMOS: Todo primordial; luto primordial; objeto perdido; hiância; homem do humanismo; ordem sirr bólica; Outro absoluto; Ser; religião; pala vra-princfpio; EU- TU; outridade; EU-ISSO; aliedade; dia lógico.

 

" (... ) uma im possi bil idade geradora de uma certa nosta lgia busca. o enco ntro im­ possível com o objeto perd ido, sendo que ele não é um objeto mas uma ausência." (11, p. 95)

( A. Val lejo e L. C. Magalh ães, Lacan-Operadores de Leitura )

 

"Dessa maneira, pa ra que eu os convide a se indignarem de que após ta ntos sécu­ los de hi pocrisia re ligiosa e de blefe fil osófico, nada ten ha sido ain da validamente a rti culado do que liga a metáfora à qu estão do ser e a metonímia à sua fa lta, seria preciso que, do objeto dessa indig nação enquanto promoto r e víti ma, alguma co isa haja para corresponder-l hes: a sa ber o homem do humani smo e a crença, irre­ mediavelm ente protestada de que ele obteve so bre suas inte nções." (7, p. 259)

(J. Laca n, Escritos)

 

" O senti do do TU (... ) não pode ser saci ado, até que ele te nha enco ntra do o Tu in­ fi n ito, que lhe estava presente desde o começo."

"Cada evento da re lação é uma eta pa que lhe possi bil ita um olhar sobre a relação co mp leta."

" (... ) os entes vivem em to rno de você, mas ao se aproxi mar de qualquer um deles você ati nge sem pre o Ser."

"Através de cada Tu ind ivid ualizado a palavra- pri ncípio invoca o Tu eterno." ( 4, p. 93, 18, 87).

(M. Buber, Eu e Tu )

 

" (... ) um protesto contra o desterro de Deus co mo a procu ra da meta de perdida, descida a essa regi ão que nos co mun ica com o 'o utro'."

" (... ) ser o mundo sem cessar de ser ele mesm o. No ssa poesia é se paração e tenta ­ tiva de reu nir o que fo i se parado. No poema, o ser e o desej o se pactu am por um insta nte, co mo o fruto e os lábios. Poesia, mom entâ nea reco nci liação: onte m, hoje, amanhã; aqui e ali; tu, eu, ele, nós. Tudo está presente: será presença. (8, p. 1 09, 122-1 23)

(o. Paz, Signos em Rotação)

 

In iciando este traba lho através de uma longa epíg rafe - co lcha de reta lhos tecida de idéias de três pensadores: Lacan, Buber e O. Paz, to rno aud ível e dou corpo ao diálogo surdo, porque nu nca rea lizado, que se processa entre eles.

As citações apreendem disco rdâncias e consonâ ncias fu ndam entais que se ex pressa m nesse diálogo imaginá rio e que re pousam sobre elem entos cruciais do pensame nto dos três teóricos. As disco rdâncias sepa ram Laca n dos dois outros auto res; as co ncordâncias harmo niza m as visões destes últi mos num ún ico acordo.

Lacan distoa do trio, ao sustenta r que o todo primordial - a unidade mãe-filho - se perde com o nasci mento - primeiro dilaceramento, primeira perda, primeira castração. O nasci mento impõe ao sujeito uma co nd ição de fragm enta riedade e muti lação que perma nece com ele a.o longo de sua exisncia, insta lando n·ele o desejo, a busca nostálgica do o bjeto primeiro - busca esta ca racte rizada em citação aci ma co mo "im possíve l", uma vez que O objeto "não é (nem mesmo) um objeto mas uma ausência". O sujeito desejan­ te, na ânsia de resgata r a tota lidade ou unidade prim ordial, busca objetos que, por pro­ duzi rem um simu lacro de gozo, preenchem a ausência com sua presença e su bstituem, de maneira fa lseada, o o bjeto primeiro - objeto "perdido", co nforme vi mos aci ma - e, segu ndo Fábio Hermann "nu nca tido". O resgate da totalidade original (Nota a) não pas­ sa, po rta nto, de uma miragem, metáfora que red iz de fo rma ca muflada a fa lta, a mutila­ ção, a castração irremed iável e sem reto rno, presença sob a qual se esco nde uma hiância, um vazio irrepa rável.

Não espa nta, porta nto, que a re lig ião, se se co mpreende a mesma no sentido orig inal da pa lavra, como "religação", reu nião do que está separado na Un idade Divina, seja vista por Lacan co mo "hipocrisia", uma vez que, pa ra ele, un idade e total idade não passa riam de mi ragens. Nem su rpreende sua qual ificação da tradição fi l osófica ocide nta l como "blefe", desde que esta repousa sobre a imagem do Sujeito ca rtesiano, do "homem do humanismo", Sujeito tota l, centro de toda a Histó ria, co ntrolador de seu pensamento e, através deste pensa mento, do un ive rso que o ce rca. Im agem que não passa de uma mi­ ragem, uma vez que o sujeito é irremediavel mente fragmento, desg arrado de uma uni­ dade ou de um todo primordial jamais alcançado (ou ti do) e alca nçável e uma vez que ele se expressa através de uma linguagem ou "ordem sim bólica" onde seu ser se aliena e se cinde. A ling uagem é um Outro, "O utro absol uto (... ) que pode anulá -lo a ele próprio" (7, p. 59 ).

Pa radoxa lm ente, é pela li nguagem que o sujeito é, mas é nela que se perde (7, p. 248). A ling uagem "i nvoca a mentira como ga rantia da verdade na qual ele (o sujeito) su bsi ste (7, p. 256 ). O sujeito total cartesiano é, porta nto, uma menti ra un itária que ca mu fla uma cisão irremediável. Além do ma is, ta l sujeito - sujeito pensa nte que co ntro la suas ações e o mundo com seu pensamento oni potente - não co manda, mostra -nos Lacan, a lingua­ gem - o instrum ento que lhe pe rm ite pensa r - mas é co mandado po r ela. Seu pensa ­ mento não está nele: É ele quem está no pe nsamento que, possi bil itado pela ling uagem ­ o Outro que o fende - o aliena. A máxima ca rtesi ana "Penso logo existo", que afirma o sujeito co mo dono, centro de seu pensa r e existi r, se desa rticula pa ra ressu rg ir no siste­ ma lacaniano co mo "penso onde não existo, portanto existo onde não penso" e como "eu não sou, onde sou o joguete de meu pensa me nto; eu penso no que sou, onde não penso pensa r" (7, p. 248 ).

Buber discorda ria de Laca n, ao afirmar que a totalidade original, "o Ser", "a relação com pleta", "o Tu infinito", "o Tu ete rno" em que o eu, sem deixa r de ser eu integ ra l se co mpleta, "estava presente desde o co meço" e jamais deixou de ex isti r. Em ca da ato e fato pa rti cu lar - nos atos e fatos que seriam co mpree ndidos por Laca n co mo busca de su bstitutos do objeto primeiro - resi de o Ser. Basta despertá -lo através da vivência ra di­ ca i, responsável e absoluta da di mensão dia lóg ica da vida, da relação plena e tota l ou da pa lavra pri ncípio "E U- TU" - binômio indissolúvel feito de pa rtes tão ínteg ras e tão tota is qua nto o todo.

O. Paz alia-se a Buber e demonstra que, no indivíduo que não deixa de ser ele mesmo, lê-se o mu ndo; no microcosmo, o macrocosmo, a parti r da vivência da "outridade" (8, p. 1 06-1 07) que a experiência poética - ex periência de "rel igação" (ou religião?) possi bil ita. Para Paz, a tota lidade não está perdida: "tudo está presente". E onde ela está presente? Como pa ra Bu ber, no "tu ", no além. Além que se encontra no aqui e no agora ; tu que comunga com cada eu.

Paz cita B reto n: "Ia vérita ble existence est ailleurs" e endossa a citação, acresce nta ndo: "Esse além está aqui, sem pre aqui e neste momento. A verdadei ra vida não se opõe à vi­ da cotidiana nem à heróica; é a percepção do relam pejar da 'outridade' em qualq uer dos nossos atos, sem excl uir os mais mesquin hos." (8, p. 1 06)

E co mp leta:

 

"(... ) sem deixa r de ser, o que so mos e t.. ) sem deixar de esta r on de esta mos, nosso verdadeiro ser está em outra pa rte. Somos outra pa rte. Em outra pa rte quer dizer:

aq ui, agora mesmo quando eu faço isto ou ' aquilo" (8, p. 107).

 

A voz de Buber soa com a de Paz em cla ro e afi nado unísso no:

 

" 'Que é que aco ntece u de pecu liar? Não era algo semel hante ao que me aco ntece todos os dias?' (... ) 'Realm ente, nada de pecu liar aco nteceu, é assim todos os dias, que nós não esta mos presentes to dos os di as.' (... ) As on das do éter vi bram

sem pre, mas, na maioria das vezes, esta mos co m nossos rece ptores desl igad os." (3,

p. 43).

"(... ) se sa ntificas a vida, enco ntras o Deus vivo" ( 4, p. 92)

" A palavra- princípio EU- TU pode ser proferida pelo ser em sua totali dade. t.. ) Não EU em si, mas apenas o EU da palavra- princípio EU -TU (... )" (4, p. 4).

 

Ou seja, ta nto pa ra Paz quanto para Bu ber, (contra riam ente a Lacan) a tota lidade ja­ mais deixo u de ex isti r. Antes que resgatada, deve ser desperta da: devemos ter "os re­ ce pto res ligados" pa ra perce ber a harmonia que empreendemos, ca da fato co m que nos relaci onam os. Pa ra am bos, o sujeito é pleno, "não deixa de ser eu", é "ser em sua totali­ dade". Não é sujeito mutilado, frag menta do e fragmentário como é concebido o sujeito lacania no. E sta entidade plena, conti ngente, insta lada no aqui e no agora, dialoga com o Tu, com a outri dade- plenitude cósmica divi na. O incidente e temporal em patiza co m o essencial e eterno e faz aud ível sua inaudível e intradu zível voz. O cotidiano e co rriqueiro revel a o (Nota b) "verdadeiro Ser", o "Deus vivo" que está em outra pa rte, o TU da in­ disso l úvel pa lavra -p ri ncípio EU- TU.

Pa ra os dois, fi nalmente a pal avra não apresenta uma feição puramente lingü ística e, antes que ci ndi r o sujeito, marca- lhe a di mensão dialógica e tota liza nte, sintoniza-o à unidade existente "desde o começo", un idade primordial jamais perd ida. Assi m, diz- nos Buber:

"Sig nos nos aco ntecem sem cessar. Viver sign ifica se r alvo da pal avra dirigida (... ) Se chamamos de Deus o em isso r desta lingu agem, então ele é sem pre o Deus de um mom ento, um Deus do momento. ( ••. ) O Senhor da voz, o único." (3, p. 48).

 

E refo rça Paz:

" A poesia não diz: eu so u tu: diz: meu eu és tu ". (8, p. 102)

"(... ) conju nção insta ntâ nea do eu e do tu. Poema: busca do tu." (8, p. 121)

As incom pati bilidades entre a visão lacaniana de um lado e a bu beriana e a de Paz de outro são evidentes: Aq úilo que Paz e Buber lêem co mo possi bilidade de tra nscen dência, desperta r de um todo jamais perdido, ressu rreição do primeiro sempre existe nte e não nunca tido, religião ou "rel igamento", não passa ria, pa ra Lacan, de mera metáfo ra ou si ntoma - tam pão que sutu ra um vazio irrecu perável. Tudo se reduziria a uma miragem ou menti ra que cam ufla a verdade ún ica e última (ja mais tida e, po rta nto, tam bém em si um logro) que remonta à perda primordial. Como toda a perspectiva tradicional da filosofia ocidental e co mo toda a co ncepção human ista, como toda a re ligião, su a. s teo rias não passa riam de "hi pocrisia" e "blefe".

Inve rsa mente, para Buber e Paz seria a visão lacaniana que não passa ria de um log ro: Laca n em nada se afasta ria dos seres "imu nes à revelação" (3, p. 51 ), seres distraídos pelas apa rências e conti ngências daquilo de fu ndamenta l que elas escondem. Seres que têm seus "recepto res desl iga dos" pa ra "as ondas do éte r", pa ra o tudo que "está sem pre presente" e "será (sempre) prese nça". Seres que, im ersos na superfície, na materia lidade dos co r pos, são inca pazes de "bater suas asas" pa ra percebe r nos jogos próprios a estes, "o fogo original" (3, p. 63 ). Seres que, na acepção de Bu ber, meram ente "observa m e anotam" os objetos enqua nto o bjetos a eles exte rnos e al heios, ao invés de "toma rem conhecimento ínti mo dos mesmos" via uma relação de entrega plena, de resposta viva e vivida à palavra que vibra no seio de cada fenômeno qual pergu nta. Seres que deixam de "se r alvo da pal avra dirigida" (3, p. 41 -43 ) e que ao fazê -lo, cessa m de ter o privi légio de ter o mun do como palavra. Pois, quem cessa de proferir a resposta, cessa de ouvi r a pa­ lavra. Laca n seria o EU da palavra -pri ncípio EU- ISSO, eu que experiencia a rea li dade a n ível su pe rficial, ao invés de vivê-Ia plena e relacionalm ente, ou seja, ao invés de fazer-se o EU da palavra-pri ncípio que conj u ra a com pletude ou "relação": E U- TU.

Chegamos ao fi m desta exposição e ao seio e ce rne de um anta gonismo entre duas posições extremas. As duas posturas nos deixam em suspenso, obrigando- nos a uma perma nente ince rteza: Será a interpenetração dialética entre ambas uma total idade rea l ou será sua total idade mera mi ragem, mera invenção menti rosa que nos satisfaz fa lsea ­ damente de nossa frustação em te rmos, no co mpartimento rese rva do às respostas, uma incóg nita? A tensão entre as idéias de Laca n e Bu ber/Paz deixam-nos bem no centro deste im passe. E da ce rteza de que qualquer ce rteza é suspensão, interrogação e, po ta nto, ince rteza.

Inútil seria tenta r traduzir o siste ma lacaniano em te rmos bu berianos e vice-versa. Conforme sabemos, seg uindo o lingüista Ferdinand de Sa ussu re (9), um sistema se or­ ganiza de ma nei ra ta l que, suprimida, acresce ntada, permutada, alterada qualquer uma de suas pa rtes, o todo se modifica. Verte r um sistema em outro é sem pre vertê-lo parcial e disto rcidamente e, po rta nto, ao invés de traduzi- lo, reduzi-lo a algo que ele não é. Além do ma is, creio se r saudável ao pensam ento científico a atitude antidog mática, que ques­ tiona se r cada modelo cie ntífico o modelo por excelência. Conforme demonstra a teo ria do dialogismo bakhti niana (1 ), a obra de T. S. Eliot (6 ), a de J. L. Bo rges (2), só pa ra cita r alguns autores, não modelo privilegiado, mas uma co nfl uência de modelos. Mesmo o modelo que pa recer parad igm ático material iza uma co nfl uência de processos, atra i para si toda a tra dição e toda a produção humana.

Ao dizermos que a verdade é sempre pa rcial, esta ría mos ecoa ndo Lacan? Não. Para Laca n, o ca ráte r pa rcial da verd ade residiria no fato de que o dadó verdadei ro que se re­ vela é mera po nta de um "iceberg" - do momento primordial, da verdade que é ir resgatável. Temos de nos contenta r com "pontas de icebergs" que o sím bolo nos ofe rece, com "i nsta ntes de ver", insta ntes de revelação do que o fa ntasm ático metafo riza e encobre.

Entendemos, inversamente, que a verdade é pa rcial porque é pa rte de uma confluên­ cia dia lóg ica de onde o todo, o acordo - "acordo que nasce de desaco rdos" (10, ato V, ce na 1 ), acordo maleável, dinâm ico e vivo que herda sua natu reza vital e dinâmica do diálogo-emerge. Parece -nos que, neste po nto, aproximamo- nos de Ba khti n, de El iot, de Bo rges. E de Buber / Paz para quem o Ser se revela na dim ensão dia lóg ica (N ota c) da rea lidade, na outridade que dela se desco rtina, na natu reza de conflu ência relacional que ela apresenta.

Laca n nos ataca ria a todos, nova mente, co ndenando nosso pensa mento a se r metá ­ fo ra do vazio primeiro, reela boração do luto primordial. Ao co ndenar toda a em p resa humana a ser reelaboração de ta l luto, a ser vida que re pete uma mo rte pri meira (vida desvita lizada de fato e vista po r nós com um senti do em si e não na morte a que ocu lta, po rq ue somos víti mas do desejo e busca mos um simu lacro de gozo) pa ra Buber / Paz nova mente Laca n esta ria se co ndena ndo a se r o EU da palavra-princípio EU-I SSO ou o vivente na dimensão da "al iedade" (8, p. 1 07). O EU da palavra EU-I SSO, o al ienado, não na vida a ressurreição do Ser, a revivicação do TU que se na dimensão dia lóg ica.

"Todo aco ntece r traz em si a eternidade", diz N. Lohfink, segundo citação de Haroldo de Campos (5). Ecoamos sua frase. E, ao fazê -lo, ve mos o ete rno esboça r uma "névoa de nad as" (Nota d) a miragem que Lacan leria no perene. Ficamos no centro do im passe: entre o eterno e o mom entâ neo, exti ngü ível. E ntre o Ser e o nada. Entre o Ser e (como diria Lacan) a fa lta-a-ser.

 

NOTAS

(a)    Herma nn, F., em pal estra proferi da no cu rso de E xtensão - "Abordagem da A rticu lação Sexo­ Li ng uagem em Psica nál ise" - 12 sem estre de 1 986, PUC/ SP.

 

(b)    No sentido -d e ve lar duas vezes e, neste ve la r, dialeticamente, desvelar.

 

(c)   Cabe distingüir entre a noção de dialogismo para Bakhtin - entendida co mo polifonia de vozes textu ais, co nfl uência de postu ras ou pa lim psesto e a di mensão dialógica buberiana, onde o dia­ lóg ico é a vivência da re lação EU- TU, ou' o em patiza r co m o outro sem perder, na em pati a, o ca ráter de eu e o resgate, na responsa bil idade e reciprocidade absol uta da re lação, da eternidade e co mpletude do Ser.

 

d) No a rti go citado em ( 5) aci ma, Haroldo discute sua tra dução do "Qohélet" (Eclesiastes) e de­ monstra que optou pela trad ução do "tema da 'nulificação' proclamado no refrão reco rrente: 'ha­ ve i havalim/va n itas van itatu m' por "névoa de nadas".

 

ANS PA CH, S. S. - Laca n X Buber / Paz: between the conti ng ent and the etern al. Trans/ Form/ ção, São Pa ul o, 9/ 10: 49- 54, 1986/87.

 

'ABS TRAC T: A comparison between Lacan's ideas on the one hand, and Buber's and Paz 5 on the other re­ veals an absolute incompatibility of positions. According to Lacan, an original unity cannot be recuperated and has never actually existed. Birth imposes a condition of incompleteness upon human beings, bringing about desi­ re and a nostalgic search for a lost object. Ali human actions are reduced to a search for objects that produce a fal­ se satisfaction and joy and replace a basic emptiness with their presence. Conversely, for Buber/Paz, an original unity is established since the beginning and has never ceased to existo Human actions can awake this unity at ea­ ch and every moment and in each, and every fact and act of daily life.

 

KEY-WORDS: Primai unity; primai mourning; lost object; void; subject of humanism; symbolic order; abso­ lute Other; Being; religion; principle-word; 1- THEE; otherness; 1- THIS; alienation; dialogic.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.     BAKHTI N, M. - Problemas da poética de Dostoiévski. Rio de Janei ro, Forense - Un iversitá ria, 1981.

2.     BORGES, J. L. - Jorge Luis Borges: prosa completa. Barcelona, Bruguera, 1 980.

3.     BUB ER, M. - Do diálogo e do dialógico. São Pa ulo, Perspecti va, 1982. (Co leção Debates).

4.     BUBER, M. - Eu e Tu.    São Pau lo, Co rtez e Moraes, 1979.

5.     CAMPOS, H. de - Oo hélet, O-Oue -Sabe. Folha de São Paulo, Folhetim, 08/06/ 1986.

6.     E LlOT, T. S. - Tradition and the individual talent. In: BRAD LEY, et alii, org. - The American tradi- tion in literature. New York, Grosset and Dun lap, 1 967. Y.2.

7.     LA CAN, J. - Escritos. São Pa ul o, Perspecti va, 1978.  (Coleção Debates). 

8.     PAZ, O. - Signos em rotação. São Pau lo, Pers pectiva, 1 976. (Co leção Debates).

9.     SA USSURE, F. de - Curso de Lingüística Geral. São Pau lo, Cu ltri x, 1 977.

1 0. SHAKESPEARE, W. - A Midsu mm er Nig ht's D ream. In: The Complete Works of William Shakespea­ re. Lo nd res, Spring Books, 1970.

11. VA LLEJO, A. & MAGALHÁES, L. C - Lacan: Operadores de L eitura. São Paulo, P.erspectiva, 1 981. (Co leção Debates).



[1] Professo ra de Literatu ra Ing lesa e Americana na PUC-SP. Mestre em Li ngüística Apl icada pela Uni­ versidade de Reading - Beveshire - Ing laterra. Douto randa em Co mun icação e Semiótica na PUC - SP e Un iversidade do No rth Carolina at Chapel Hi ll.