O ENSAIO DE ADORNO E A PRODUÇÃO SOC IAL DA FORMA

 

Iná Camargo COSTA[1]

 

 

RESUMO: Com o objetivo de participar num debate em torno da forma ensaio em sua relação com a filosofia. discutimos essa opção formal da Escola de Frankfurt a partir do texto de Adorno "O ensaio como forma ". Uma vez encontrada sua proposição de que o objeto do ensaio é um conflito detido. tentamos sugerir algumas das razões sociais que induzem essa escolha.

UNITERMOS: Marxismo clássico; marxismo ocidental; método dialético; dialética negativa; teoria cnlica;  inte II i 9 e nts i a; organização polftica.

 

 

   . intencionalme nte. ele não fazia nada. Esperava (que alguma coisa acontecesse .)"

 

Robert Musil. L 'homme sans qualités.

 

1.       ADVERTÊNCIAS

 

1.1.   . As co nsiderações que seg uem a pro pósito do texto de Adorno "O ensaio como fo rma" (1, p. 12 -36) se to rnaram possíveis graças ao privi lég io que tivemos de consultar alguns dos escritos inéditos do Professo r Paulo Eduardo Ara ntes, pa rte de uma exau stiva pesq uisa sobre o processo histó rico no qual germinou a dialética enqua nto "espírito de co ntradição orga nizado", fo rmu lação sua que va mos adotando (4, p. 37 -70). Por outro lado, co mo sua pesq uisa diz respeito às peri pécias da vida inte lectual na Alemanha de fi ns do século XVI II e início do sécu lo XIX, as eventuais improp riedades e preci pitações na tentativa de exa minar a reto mada do problema do ensaio em meados do século XX co rrem evidenteme nte por nossa conta. A mesma restrição va le para os mais prováveis cu rto -circu itos, incom preensões e ou tras debilida des.

 

1 .2. A ci rcunstância em que o texto foi original me nte elaborado ex pl ica o aspecto mais imediato do seu interesse: tratava -se de inte rvenção num de bate em que, a pa rtir do tema geral "Filosofia e literatu ra", estava m em pauta os ensaios de Sêneca. O elo de ligação entre Sêneca e Adorno pode ser o ensaio e, que em Adorno enco ntra mos uma defesa empenhada da opção por essa fo rma, o caso era tenta r re por a fo rma ensaio como problema (e ta mbém exe rcita r o espírito de co ntradição - pa ra não dizer espírito-de- po rco - posto que em situação de debate). Motivos de fo rça maior, entreta nto, obrigaram, meio a toq ue de ca ixa, uma reformu lação ra dical de planos e aquilo que não passava de um ar razoado em to rno dessa fa mília de ensa ístas iniciada por Sêneca teve que se tra nsformar numa palestra independente e sem a prévia exposição sobre o vel ho fi l ósofo. O resu lta do dessas aventu ras é o texto que seg ue.

 

2.        O EspíRITO DE CONTRAD ÃO RE DESORGAN IZADO

 

No referido texto da revista Manuscrito , Paulo Arantes mostra algu mas das razões que leva ra m Hegel à tentativa de "orga nizar o espírito de co ntradição", trabalho que resu ltou no tão detratado quanto pouco con heci do métod o dialético. Como expl ica o Paulo, "espírito de contradição" era o traço mais típico da intel ectual idade co ntem porânea de Hegel, apa rece ndo tam bém so b a fo rma do nihi lismo, da dialética negativa, entre outras. Para Hegel, tratava -se de "pôr nos tril hos" o "espírito de contra dição", ou seja, organ izá lo, da r-lhe método. Daí o filósofo ter defin ido pa ra Goethe a dialética como espírito de contradição organizado (4, p. 37 ).

Quem co nhece um pouco da história da descendência hegel iana sabe no que deu a principal tentativa de pôr em prática o "espírito de contrad ição organ izado". Trata -se, evidenteme nte, do marxismo, que tem entre se us créditos (ou débitos, depende do po nto de vista ) a di reção do mais im po rta nte aconteci mento histórico do sécu lo XX, a revo lução de outubro de 1917 . No período que vem de Hegel à Revo lução de Outu bro boa pa rte (para não dizer a melhor) da intelectu al idade eu ropéia foi atraída pelo "espírito de con trad ição orga n izado" e algu ns, a começa r por Marx e En gels, leva ram -no às últimas co nseq üências, isto é, to rnaram -se mil ita ntes do movim ento operário.

Mas a Revol ução de Outu bro, em seus desdobrame ntos, vai pa rtici par sign ificativa mente de uma nova situ ação na qual o espírito de contradição volta a se desorganiza r, mas sem que se possa seq uer cog ita r de uma reed ição do contexto histó rico dos tem pos de Hegel. O que não im pede o rea pa recimento de mais de uma das facetas daquele ante pa ssa do. E dentre as novas, a principal vem a ser primeiro o abandono e depois a crítica da organ ização: após as catástrofes que o movime nto operário sofreu desde a déca da de vi nte, prog ressiva me nte intelectu ais ma rxistas deixam de ser mil ita ntes de partidos operios, sem entreta nto deixa rem de se r ma rx istas e adeptos da dialética. O marxismo oci dental e uma de suas ve rte ntes, a Escola de Frankfu rt, são exemplos da produção fi l osófica ind issoluvelm ente vinculada a esse contexto . É essa a expl icação de Perry Anderson pa ra o fe nômeno: "nasci do do malogro das revo luções proletá rias nas zonas desenvo lvi das do capitalismo eu ropeu após a Primeira Gu erra Mu ndial, ele desenvo lveu -se no meio de uma crescente cisão entre a teo ria soci al ista e a prática da classe operária (  . ) Em co nseq üência disso, os teóricos refugiaram-se nas un iversida des, afasta ndo -se da vida do proleta riado dos seus próprios pa íses, e a teo ria abandonou a economia e a política pela fi losofia" (3, p. 1 20 -12 1 ). Em outra fo rmulação que resume um pouco o pensa mento de Pe rry Anderson, o ma rxismo ocidenta l, enqua nto exp ressão mais inte ressa nte do espírito de co ntrad ição redeso rg an izado, se ca racte riza pelo rompi mento dos laços que ligaram o ma rxismo clássico ao movi mento operário e a esse ro mpimento co rresponde uma alte ra ção do foco intelectu al do marxismo: enqua nto Marx sai da fi l osofia em di reção à eco nomia po l ítica, os ma rxistas ocide nta is volta m pa ra a fi losofia. Isto im pl ica uma outra característica, agora relativa ao discu rso, que põe o marxismo ocide nta l em novo co ntraste com o clássico: enqua nto neste o local do discu rso é o sind icato ou o pa rti do, naquele é o ce ntro de pesq uisa ou o depa rta mento universitário; o discu rso fi losófico, acompan hado de suas dificul dades técnicas prog ressiva mente proi bitivas, por se desenvolve r numa linguagem altamente especial izada, su bstitu i o discu rso de intervenção política.

Qua nto às facetas reintrod uzidas pela redeso rganização do espírito de contradição, enumeremos apenas algum as das que Perry Anderson desenvolve: pessimismo generalizado, ecletismo teórico (tentativas de com binar o marxismo com outros sistemas intelectu ais, como os de Max Weber, Husse rl/H eidegger, Freud, Nietzsche, Bachela rd, etc.), preocu pação esse ncial com a cu ltu ra burguesa, ta nto co mo fo nte de informação quanto como objeto de crítica e, pelo menos no nível das intenções, postu ra de não-capitu lação ao status quo.

 

3.        O ENSAIO COMO FOR MA, DE ADORNO

 

Dentre os pa íses que "sobrevivera m" à Segu nda Guerra Mu ndial, ce rta mente a Alemanha Ocidenta l con heceu a história mais sing ular: berço da dialética moderna, do marxismo e do maior pa rtido operário até então con hecido, o preço que pagou (e paga ) pela sobrevi da do ca pita lismo (com di reito à prese nça pe rmanente das fo rças armadas angloam ericanas) inclui a manutenção da ordem social mais reacioná ria do mundo dito livre. Não resistimos à tentação de tra nscreve r a passagem de Perry Anderson a seu respeito: "A Alemanha Ocidental do pós-gu erra era agora, soci al e pol iticamente, o mais reaci onário dos pa íses ca pita l istas da Eu ropa Ocidenta l; a sua tradição ma rxista fo ra exti rpada pe lo cha uvi nismo nazi e pela re p ressão norte-a mericana e o se u proleta riado encontra va -se de momento passivo e inativo (  . ) o Partido Com unista seria ba nido e o Partido Socia l Democrata aba ndona ria ofici almente qualquer conexão co m o marxismo" (3, p. 48 - 49 ). É nesse país e nesse co ntexto que a Esco la de Adorno, o Instituto de Pesq uisas Sociais de Frankfu rt, onde se refugiou o pe nsa mento ma rxista, con hece seu pe r íodo de maior produtividade. O próprio texto que vamos apresenta r é do período 1954 -58. E é o co nheci mento profu ndo dessa si ngularidade alemã que faz o nosso fi l ósofo logo de início defender a fo rma do ensaio por razões ex plicita mente po líticas (mas de política de intelectu al, bem entendido): "Na Alem an ha, o ensaio provoca a defesa porque reco rda e exo rta a liberdade de espírito, a qual, desde o fracasso de uma tíbia ilu stração já fracassada nos tem pos de Lei bniz, não se desenvolveu suficientemente nem ainda hoje, sob as co nd ições da liberdade fo rmal, mas ao contrário sempre esteve disposta a proclamar co mo sua mais própria aspi ração a subm issão a quaisq uer instâ ncias" (1 , p. 12 ).

Ainda que seu pa no de fu ndo seja a situação alemã esboçada, todos sabemos que as setas de Ado rno têm um alvo bem preciso: a intelectu al idade alemã apresentada co mo sem pre disposta à submissão. Mas é possível precisa r um pouco mais esse alvo, que o próprio fi lósofo não se lim ita a fazer- lhe alusões tão vagas. Esse alvo mais preciso é apresentado como feroz inimigo do ensaio.

Para co mpreender ao menos superficialmente as razões do ataque de Adorno a essa facção da intel ectual idade alemã, é necessária uma dig ressão mesmo que rápida: a sobrevida do capitalismo no pós -guerra teve conseqüências mais que desastrosas pa ra a vida intelectu al de um modo geral. Além da proleta rização dos intelectuais (e, po rta nto, do fim ra dica l de qualquer il usão sobre liberdade), im plicou a su pe rfragmentação do sa ber. Ou, pa ra usa r a ex p ressão co rre nte, levou a divisão do trabalho às últimas co nseqüências. No ca pita lismo tardio, a palavra de ordem pa ra a unive rsidade é prod uzir especialistas - os profu ndos conhecedores de algum microcosmo do ca mpo do sa be r que, entretanto, são necessa riamente ignora ntes de todos os demais. É o fen ômeno que tam bém foi chamado de idiotia dos peritos. A própria fi l osofia, ca mpo que nos interessa, su cu mbiu à tendência geral. Daí o peso e a im portâ ncia política assu mida no pe ríodo portodas as co r rentes da fi l osofia anal ítica (e eis que acaba rT10s nomeando o adversá rio de Ado rno e do ensaio). Ernest Mandei, que resumi mos acima, encerra com as seg ui ntes pa lavras o seu ca pítu lo sobre a ideo logia no ca pita lismo ta rdio: "O verdadei ro ído lo do ca pital ismo tardio é o 'es pecialista' cego a todo o contexto global; o equ iva lente fi losófico dessa especi alização técnica é o neo positivismo" (9, p. 357 ).

Dada esta determi nação maior da fi losofia anal ítica, acom pa nhemos seus traços nos te rmos de Adorno: "só aceita co mo fi l osofia aquilo que se reveste da dign idade do unive rsa l, perma nente e, se possíve l, originário, sem se ocu pa r da formação espi ritual particu lar, a não ser na medida em que seja preciso exempl ifica r nela as categorias gera is, ou, pelo menos, na medida em que o particu lar se torna tran spa rente através delas" (1 , p. 12 ). Além de aceita r, mais que isso, aspi rar à subm issão, assu me e luta pelo modelo da moral ilimitada do tra balho (aquela exigência de produtividade qua ntificável do trabalho intelectual, tão propa lada por estas plagas ultimamante), te ndo um medo pãn ico da negatividade e da interpretação que pretende ir além das a pa rências. Aliás, proíbe isso que co nsidera "exe rcícios próprios de intel igências mal orientadas" e que leva m à "i nvenção de fa ntasmas", pondo "i nterpretativa mente conteúdos onde não nenhum conteúdo a ser ex pl icitado através de inte rpretação (1, p. 12 -1 3). Ora, diz Adorno, "uma vez que se sucum be ao te rror dessa proi bição de pensa r além do que se enco ntra pensado no dado, se está aceita ndo a fa lsa intenção que homens e coisas ab rigam de si mesmos" (1 , p. 13 ).

O veto à inte rpretação se a póia num motivo de peso: trata -se de expulsar a "esponta neidade da fa ntasia su bjetiva" em nome de um va lor maior, a "disci plina objetiva"; deve se, é cla ro, à "tendência positivista geral, que contra põe rigidamente ao sujeito todo objeto possível como o bjeto de investigação e pe rmanece, neste como em todos os seus momentos, na mera sepa ração entre fo rma e co nteúdo" (1 , p. 13 ). A pa rtir dessa radical sepa ração entre fo rma e conteúdo, a te ndência positivista pode ta mbém postu lar a exincia do método (daí o impu lso à "neutra" disci plina da metodologia científica ), seja ele obediente a Desca rtes ou à corrente empi rista (pois, lem bra Adorno, ai nda que se apresenta ndo sob a fo rma de ensaio, o empirismo, desde Bacon, sempre foi sob retudo método ) e sua conseq üência necessá ria: a ex igência de organização do pensam ento em sistema ou, como insiste Adorno, a fo rma adeq uada pa ra a exposição do pensa mento fi losófi co, seg undo a vitoriosa co rrente anal ítica, seria o tratado .

Nada pode se r mais avesso a todas essas exigências do que o ensaio defendido por Adorno. Sua im pertin ência, como vi mos, já co meça no desa grádavel fato de exo rta r à liberdade de espírito e de recusa r-se a admiti r que prescreva m sua com petência. Além do ma is, "o esfo rço do ensaio ainda reflete o ócio infa nti l que se infl ama sem escrúpu los co m o que outros fizera m (  . ) Não com eça por Adão e Eva, mas po r aquilo de que quer fa lar; diz o que lhe ocorre a seu respeito, termina qua ndo ele mesmo se sente chegado ao fi nal e não onde não fa lta mais nada a dizer" (1, p. 12 ). E tem mais: o ensaio não apenas não se submete à proi bição de inte rpreta r, mas ainda vai mais longe, pois suas interpretações não procu ra m fu ndamentos fi lológ icos e são por pri ncípio hiperi nterpretações. Neste p rocesso aca ba reti ra ndo a másca ra do que se apresenta co mo objetivi dade. O ensa ísta sa be, além disso, que qualquer fenômeno espi ritual (cu ltu ra l) é sem pre síntese de inúmeras sign ificações objetivas, de modo que o recepto r, pa ra desvendá- Ias, precisa lançar mão da espo nta neidade da fa ntasia su bjetiva. Como se vê, trata -se de fo rma que deve mesmo se r com batida pelo "grêmio anal ítico".

Ado rno não ignora entreta nto que ensaios e ensaios e, mais g rave, que essas mesmas caracte rísticas, com binadas com algu mas outras, perm item o cu ltivo do mau ensa io e este precisa ser criticado, em bora por motivos diferentes dos anal íticos. Um desses aspectos é o seu excessivo envolvi mento com a organ ização cu ltu ra l que prestigia os produtos do mercado, co mo nos casos lam entáveis de Sai nte- Beuve e Stefa n Zweig, ensa ístas que pa rtici pam do processo de mitificação das mercadorias cu ltu rais. Refe ri ndose especifica me nte a Stefa n Zweig, diz Adorno: "E sta literatu ra não critica os co nceitos abstratos fu ndamentais, os dados sem co nceito, os cl ich ês gastos, mas ao contrário os pressu põe impl icita mente e, por isso mesmo, concorda co mp leta mente com el es" (1, p. 14-1 5). Para ele, Stefa n Zweig abusa dos clichês psicolog iza ntes, por exem plo, e por isso fo rnece bons argumentos pa ra os inim igos da fo rma. Mas Adorno arremata: "Os maus ensaios não são menos confo rm istas que as más teses de douto ramento" (1 , p. 15 ).

Desca rta do o mau ensaio, voltemos aos ritos dos bons. Desenvo lvendo um de seus traços indicados - põe em dúvida o di reito abso luto do método - , Adorno desta ca que o ensaio se recusa a reduzir tudo a um ún ico pri ncípio, acentua o pa rcial dia nte do tota l, é frag mentário. E, usando algu mas moedas fra ncesas que ci rcu laram por aqui, podemos acresce nta r por nossa própria conta : expõe uma co mpreensão prismática dos seus objetos, olha -os de esg uelha, muda de planos, não tem nem procu ra um solo fixo. Mas volta ndo a Ado rno, o ensaio se disti ngue por reco loca r a ironia co mo fo rma de abordagem das coisas e de si mesmo e se insu rge co ntra toda doutri na que declara in digno da filoso fi a qualquer objeto muta nte ou efêmero: o ensaio prete nde repa ra r uma vel ha injustiça, pois "não se deixa intimidar pelos ataq ues de uma degenerada e medita bunda profundidade que afi rma a contra posição irreco nciliável entre história e verdade" (1 , p. 19 ). E porque toma experiência co mo referência à história, porq ue não aceita a disti nção entre fi losofia primeira e fi losofia da cu ltura, porq ue o prete nde bu sca r o ete rno no efêmero, mas eterniza r o efêmero, no ensaio o pensamento se li be rta da idéia tradicional de verdade, suspendendo o conceito tradicional de método. Ainda neste ca pítu lo encontra -se a razão por que é inerente à fo rma do ensaio a sua própria relativização: o ensaio se estrutu ra co mo se pudesse interrom per-se a qual quer mom ento. Por isso ta mbém o ensaio pensa descontinuamente. Como a rea lidade é desco ntín ua, o ensaio encontra a sua unidade através de ru ptu ras, e não tenta ndo encobri -I as[2]. É bom lem brar, entreta nto, que uma outra razão, muito mais importa nte pa ra Adorno, desse pensamento desco ntínuo: "a desco nti nu idade é essencial ao ensaio, seu objeto é sempre um conflito detido " (1 , p. 27 ). Voltaremos a isto logo mais.

De um modo gera l, mas não exaustivo, reu nimos boa pa rte da a rti lha ria em pregada por Ado rno co ntra o co nju nto da fi losofi a analítica. Mas, como se sabe, esta- co nstitui apenas seu pri ncipa l adversário. A teo ria crítica, tam bém dia lética negativa, tem outros, que vão se ndo esg rimidos aqui e ali. Como é im possível reco nstitu ir todos os se us entreveros, limitemo- nos ao debate com Lu kács. Este fi l ósofo qua ndo jovem (1910) escreve ra um ensaio co m o significativo títu lo "Sobre a essê ncia e fo rma do ensaio" (8, p. 15 - 39 ) no qual, por razões que não ca be discuti r aqui e de ma nei ra algo tatea rte, propõe que se pense essa fo rma co mo gênero a rtístico. Uma outra pro posição sua - qUe pa rece ter tido muito mais co nseq üência - é a de que o ensaio aspi ra ao sistema. Aliás, esta idéia é aprese nta da, ainda que apoiada em informações problem áticas, segu ndo Cacciari (5, p. 59 -79), numa fo rm ulação ferocíssima: "O ensa ísta é um Schopenhauer que escreve os Parerga à es pera de seu (ou de outro) Mundo como vontade e representação; é um Batista que prega no dese rto a vinda de alguém que de vi r, de alguém cujas sa ndálias ele não é digno de ama rra r" (8, p. 37 ). Ou, em outra fo rmulação do próprio Lu kács, os ensaios esta rão sempre antes do sistema. Seria o mesm o que dizer, inte rp reta ndo em uma direção a metáfora do Batista, aspi ram ao sistema, mas não têm co ndições de chegar a ele.

Essas as princi pais pro posições que Ado rno vai debater com Lu kács. Como a qu estão do sistema está devi damente determi nada (coisa de positivista s), é qu ase redu ndãncia dizer que por essa proposlçao Lu kács acaba recebendo a sua medalhinha de honra ao mérito positivista . Mas Adorno não fica nisso, pois para além dessa discussão ele tem uma pro posta - a da teo ria (crítica ) que não é sistema. Reu ni ndo, então, os dois problemas (a rte e ciência, teo ria e sistema). ap resenta a segui nte resposta a Lu kács: "o ensaio é ao mesmo tempo mais ábe rto e mais fechado do que gosta ria o pensa me nto tradicio nal.

É mais aberto po rque nega toda sistem ática e se ba sta tanto mais a si mesmo quanto mais rigorosa mente se atém a esta negação (  . ) E ta mbém é mais fechado porq ue trabalha enfaticamente na fo rma da exposição. A consci ência da não- identidade entre a ex po sição e seu objeto im põe um esfo rço ilimitado à exposição.

É nisto que o ensaio se apa renta com a a rte; no mais seu parentesco se com a teo ria, por ca usa dos co nceitos que nele apa recem, os quais trazem de fora suas significações e suas referências teóricas (  . ) Assim co mo absorve de fora co nceitos e experi ências, abso rve ta m bém teo rias (  . ) (M as) o ensaio consome as teo rias que lhe são próximas; sua tendência é sem pre a de liqu ida r a opin ião, inclusive a opin ião que to ma como ponto de pa rtida" (1, p. 29 -30 ). E com essa resposta a Lu kács encontram os, nada por acaso, boa pa rte da expl icação de Adorno pa ra a sua escolha metodol ógica (se ele nos perdoa a heresia): o máximo que se u pensa me nto anti - sistemático to lera em termos de exposição é a teo ria, nu nca o sistema.

Através de Paulo Ara ntes fica mos sabendo que Hegel co nsiderava o ensa io como exemplo de dissertação arbitrá ria. De fato, na I ntrodução aos Princípios da Filosofia do Direito , encontra mos um ataq ue aos que reivi nd icava m os di reitos da su bjetividade, a devoração de teo rias e a exposição co mprometida com o objeto: "o modo da consci ência imedi ata e do senti mento tra nsforma a co nti ngência, a subjetivi dade e o arbitrá rio em pri ncípios (  . ) Se este método é o mais cômodo, é ta mbém o menos fi losófico" (7, p. 49 ). Sem grande su rpresa, encontra mos no mesm o lugar a inform ação de que este método menos fi losófico veio su bstitu ir o mais ou menos desa pa recido m étodo fo rmalista das defi nições, silogismos e demonstrações . Mas voltemos a Adorno antes que se crie um im brog lio.

A digressão aci ma é provocada pelo próprio Adorno, uma vez que reivi ndica o ca ráte r dialético de sua fo rma. Como são bem con hecidas as objeções que vêm desde Marx ao ca ráter idea lista da dialética hegeliana e os mais recentes repa ros à dificu ldade que teve Hegel - dificu ldade afi nal não su perada - na tentativa de enquadrar sua dialética em sistema, passemos sim plesme nte a pa lavra a Ado rno: "o ensaio é mais dialético do que a dialética quando se expõe a si mesma, pois esta conti nuou fa lando em 'método' dialético, seg undo o costume ideal ista; o ensaio to ma a lóg ica de Hegel ao da letra; (  . ) pa ra sa lva r o pensa m ento da arbitra riedade assu miu-a em seu próprio proced imento, ao invés de masca ra r a arbitra riedade, disfa rça ndo -a de imediaticidade" (1 , p. 30 -31 ). Isto não pode, em nen huma hipótese, leva r à co ncl usão (tentadora) de que o ensaio, assu mi ndo a arbitra riedade, não tem lógica. Resumindo o argumento de Adorno, podemos dizer que o ensaio ta m bém tem a sua lógica. Está cla ro que não se trata da ve lha lóg ica meram ente discu rsiva ou da nova lóg ica das exigências matem áticas. Estamos fa la ndo da lógica dialética , a que não admite meras contrad ições que redundariam em inconseq üência; o que se encontra no ensaio são co ntradições que se fu ndamenta m como co ntradições da própria coisa. E encerremos este ca pítulo com as conside rações fi nais de Adorno am plia ndo o alcance das co ntradições presentes no ensaio: "a mais ínti ma lei fo rmal do ensaio é a heresia. Por violência contra a .o rtodoxia do pensamento se to rna visível na coisa aquilo que a ortodoxia tem por fi nalidade secreta e objetiva ma nter ocu lto" (1 , p. 36 ).

 

4.        A CONSOLAÇÃO DA TRAG É DIA

 

Com enta ndo esse texto de Adorno, em nota e como se fosse mesmo en passant, Paulo Arantes apo nta um detalhe fu ndamenta l: "Notemos de passa gem que Adorno mostra -se curiosa mente discreto acerca do processo que induz esse ti po de construção fo rmal". De fa to, é cu ri oso pois as exigências teó ricas do próprio Adorno passa m por aí. Ele trata disso inúme ras vezes, mas basta, pa ra exempl ifica r, a seg ui nte passa gem de sua Teoria Estética : "alguém que não compreende o aspecto puramente musical de uma sinfonia de Beethoven, com pree nde-a tão pouco co mo alguém que nela não percebe o eco da Revolução Fra ncesa" (2, p. 383 ).

Se Adorno foi discreto ace rca desse processo social, não seríamos nós a preencher ta l lacu na, al ém do que fez Perry Anderson. Mas não cu sta puxa r pelo menos um fio da . meada que vem de Ado rno e de Habermas pa ra tenta r ligar algumas coisas que ainda estão soltas. Para Adorno, "histo rica m ente o ensaio tem pa rentesco com a retó rica, que a mental idade científica quis com bater, desde Desca rtes e Bacon, até que, muito conseqüentemente, esta aca bou po r rebaixa r-se, na era científica, à categ oria de uma ciência sui generis , a ciência da com un icação. Por ce rto a retó rica desde sem pre foi o pensamento adaptado à linguagem co mun icativa. E ste pensa mento apontava pa ra a óbvia e trivial satisfação dos ouvi ntes. É precisamente na autonomia da ex posição, pela qual se dife rencia da com un icação cie ntífica, que o ensaio co nserva restos daquele elemento comunicativo que fa lta à co mu nicação científica" (1 , p. 32-33). Habermas apo nta mais claramente o que subjaz a esta defesa do momento retó rico no ensaio: "O ensaio fi l osófico pa ga po r suas va ntagens o preço de se r menos rigo roso, mas essas vantagens, apesa r de tudo, são reais, em confron·to com as fo rmas mais sistemáticas de apresentação que predom inam hoje na Alemanha Federal, so b a infl uência da fi losofi a analítica. G raças a seu ca ráte r literário, o ensaio tem acesso mais fácil à co nsci ência pública e, po rta nto, maior eficácia do ponto de vista publ icístico" ( 6, p. 68 -69 ). De modo que tanto Adorno como · Ha bermas, defendendo o retó rico, adm item ex pl icita mente a intenção de infl uenciar um públ ico.

Po r esse fi o va mos encontra r o que ao mesmo te mpo aproxima e afasta o marxismo ocidenta l do marxismo clássico, assim como um dos elementos daquele processo históri co referido. Qua nto ao marxismo clássico, ao invés de ensaios temos basica m ente dois tipos de textos. Os menos freq üe ntados, os tratados, co mo O Capital, obras de Lênin, Trotsky, Bukharin, Rosa de Luxem burgo e os mais acessíveis que, à falta de um nome próprio, podemos chamar de textos de inte rve nção, tais como a rtigos de jornais e revistas, contri bu ições em debates, pro postas program áticas, etc., que os mesmos autores acima ta mbém produz iram. Sem qualquer leva nta mento estatístico, ousaría mos aposta r que este seg undo ti po de textos predomina na literatu ra marxista clássica e é co m ele que o ensaio dos fra nkfu rtia nos reivi ndica pa re ntesco, se leva rmos a sério aquela va ntagem apontada por Habermas - o acesso mais fáci l à consci ência públ ica e po rta nto maior efi cácia do ponto de vista publ icístico : os ensaios da Escola de Frankfu rt pretendem ser alguma fo rma de intervenção. Outra coisa é sa ber no que pode da r essa inte rve nção, que a li nguagem altamente especial izada destes ma rx istas não é a menor das ba rreiras que seu "pú blico visado" tem a superar pa ra chegar a eles. (O uso da ex p ressão típica do jargão publ icitá rio é pro posita l: co mo não esta mos pretendendo prod uzir um ensaio, não ' precisamos seguir a "boa técnica ensa ística" que, conforme lem bra Paulo Ara ntes, "reco menda alusões tácitas, nu nca ex pl ícitas"). A dúvida so bre a "i nte rvenção" deco rre daquela sítu ação do marxismo oci dental que vimos com Perry Anderson - sua desvi ncu lação das organ izações po l íticas operárias. Na medida em que o ensaio é escrito para publ icação, fa lta -lhe o elemento essencial ao caráter do texto de inte rve nção, isto é, o seu modo de divulgação. Como um texto de inte rvenção visa a resu ltados práticos concretos (políticos em sentido estrito), podemos lem brar pelo menos dois modos de sua divu lga ção: circu lação imed iata e inte rna à organização com vistas a dar início ou conti nu idade a um processo de debates que necessa riam ente terá co mo resu ltado uma decisão pol ítica, ou publ icação em panfletos, manifestos, jornais ou revistas de militância com as fu nções de propaga nda e organ ização (de acordo co m Lênin). Ora, todos sa bem que os ensaios dos fi l ósofos de Frankfu rt, com exceção de alguns textos de Wa lter Benjamin, não têm esses modos de divulg ação, até porque, mesmo que Habermas fa le em "maior eficácia do ponto de vista publ icístico", nu nca esteve nas cogitações dos fra nkfu rtian os "orga nizar" qualquer te ndência po l ítica : eles não são políticos, mas fi lósofos e não escrevem textos políticos, mas ensaios fi losóficos que, no dizer de Ha bermas, no máximo podem comunicar-se com o pensamento po lítico. Mas fica , sem dúvida, a nostalgia da intervenção  .

 

Essa nosta lgia do es pírito de contrad ição redeso rganizado ta lvez seja assunto pa ra psica nalistas, não é po rta nto da nossa com petência examiná- Ia. Mas pa l pite pode- se dar. Dizíam os que pa ra Adorno o objeto do ensaio é ü m conflito detido . Por confl ito deti do entendemos a conjuntu ra que se abriu com a série de derrotas sofri das pelo proleta riado in iciada na Alemanha em 1918 . Derrotas à di reita (ascensão do nazismo, Seg unda Guerra Mu ndial) e à esq uerda (advento do stali nismo, pratica mente leva ndo o marxismo à liq uidação) que entretanto não resolve ra m, no sentido dialético, a contradição fu ndamental do modo de produção ca pita lista, tam bém co n heci da como luta de classes. Co nfl ito deti do porque em 1 958, qua ndo Ado rno publicou o seu ensaio, principalm ente na Alemanha era im possível pensa r em solução revolucionária: a reação comia solta. Não é de admirar que, em tais cond ições, intelectuais marxistas po nham sob suspeição qualquer pe rspectiva de militância pol ítica, abrigando-se na un ive rsi dade.

Mas este recuo tem um pro. Sugerido pelas aná lises que Paulo Ara ntes faz dos co ntemporâneos de Hegel e Marx dos seu s, faz pa rte do qua dro mais amplo da tragédia. A ce rta altu ra, Paulo Ara ntes diz: "O ensaio co mo fo rma e o intelectu al moderno têm a mesma ida de, de ta l so rte que as caracte rísticas estruturais de um espel ham -se na índole e nos humores do outro". vimos com Adorno a índole do ensaio. Vejamos co mo Mannhei m (dica de Paulo Ara ntes) alguns humores do intelectual: "O membro da intelligentsia pode mais faci lm ente mudar seu ponto de vista e está menos ri gidam ente engajado num lado do co nfl ito, pois ele é ca paz de expe rimenta r concom ita ntemente várias abordagens da mesma coisa (  . ) O fato de esta r exposto a rias facetas da mesma qu estão, assi m co mo seu acesso mais fáci l a outras interpretações da mesma situação, de um lado faz com que o intelectual se reco nheça numa área mais amp la de uma socied ade pola rizada; mas de outro, essas mesmas co nd ições fazem dele um al iado menos digno de co nfiança do que alguém cujas escol has se referem a uma seleção menor das rias fa cetas sob as quais a rea lidade se apresenta" (10 , p. 81 ). O passo dispensa comentá rios, mas conven hamos que "esta r menos ri gidam ente en gajado num dos lados do co nfl ito" se acomoda basta nte bem com exa minar de vários ângu los (ou com olhar prism ático) um "confl ito detido".

É ainda em Mânnheim, nos seus ensaios por sinal, que Paulo Ara ntes co lhe os segui ntes traços e observações sobre o fe nômeno mórbido da intelligentsia no sécu lo XIX: ex ílio dom éstico, dand ismo, ceticismo de bom tom, bova rismo às avessas, gosto pelo pa radoxo, pela acrobacia intelectual e pela gratuidade. Em outras pal avras, fa lta de ca te r e de convicções. Porqu e, tendo o se nso refi nado pa ra recolher o que fo r co nvenie nte na avala nche das idéias postas à sua dis posição, os intelectu ais pa recem sem pre prontos a dar as boas vindas às idéias novas e, instáveis, ta mbém prontos a mudar de idéia tão logo as coisas an dem mal ou não satisfaça m suas ex pectativas abstratas. Embora a transcrição de Mannheim diga respeito à situação da Alemanha no quadro da tra nsição reta rdatária pa ra o ca pita lismo (estu dado, diga-se de passagem, de "menos ângu lo" por Marx em obras co mo I ntrodução à Crítica da Filosofia do Di reito de Hegel, A Sagrada Fam/1ia ou A Ideologia Alemã), o emprego dos verbos no presente não deve se r to mado co mo eq voco : a idéia é apontar a possi bil idade que tais traços voltem a se man ifesta r em tem pos de ca pitali smo tardio. cla ro que esses hum ores não se aplicam a Adorno, mas não tem os tanta certeza qua nto a seus discípulos). Manifesta 9 ão acom pa nhada do mesmo ti po de opções fo rmais - o ensaio é apenas uma delas. E Massi mo Cacciari quem apresenta o ensaio como consolação da tragédia (5, p. 75). Tragédia po rq ue sua pro posição tem algo a ver com O momento do ensaio de Adorno em que a retó rica entrou em ce na: "A satisfação que a retórica quer proporcionar ao ouvi nte se sublima no ensaio até se tra nsformar na idéia da fe licidade de uma li berdade frente ao objeto" (1, p. 33). Mas se sa bemos que o objeto do ensaio é o confl ito deti do, não seria o caso de perg unta r se não se está repondo a vel ha il usão do intelectual sem ama rras? Ou, mais especificamente, as ilusões do protagonista da Ideologia Alemã?

 

 

COSTA, I. C. - Adorno's essay and the soci al production of fo rm o Trans/Fo rml Ação,  São Pa ul o, 9/ 10 : 41 - 48, 1 986/87.

 

ABS TRAC T: In order to discuss essay as a form in its relationship to philosophy, we take Adorno 's text, "Essay as form", to investigate this formal choice of Frankfurt School. Once we find Adorno's proposition about the object of essay as a detained conflict, we try to suggest some of the social motivations to this choice.

 

KEY-WORDS: Classic marxism; western marxism; dialectical method; negative dialectic; critical theory; intelligentsia; political organization.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

1. ADORNO, T. - E I ensayo como fo rma. In:---Notas de literatura. Barcelona, Ariel, s.d.

2. ADORNO, T. - Teoria Estética. Lisboa, Martins Fontes, 1980.

3. ANDERSON, P. - Considerações sobre o marxismo ocidental. Lisboa, Afrontamento, s/do

4. ARANTES, P. E. - Origens do espírito de contradição organizado. In: ---Manuscrito. Campinas, Unicamp, 1985.

5. CACCIARI, M. - Metropolis. Roma, Officina Edizioni. 1973 (Capo Ensaio e Tragédia, p. 59-79).

6. HABERMAS, J. -Prefácio ao leitor brasileiro. bermas. São Paulo, Ática, 1980. In: FREITAG, B. & ROVANETE, S. P., org. -Ha

7. HEGEL, G. W. F. - Principesde la philosophiedu droit. Paris, Gallimard, 1963.

8. LUKÁCS, G. - Sobre la esencia y fo rma dei ensayo. In: ---EI alma y las formas. Barcelona, Grijalbo, 1975.

9. MANDEL, E. - O capitalismo tardio. São Paulo, Abril Cultural, 1982.

10. MANNHEIM, K. - Sociologia da cultura. São Paulo, Perspectiva, 1974



[1] Departamento de Filosofia - Faculdade de Educação, Filosofia, Ciências Sociais e da Docu m enta ção - UNESP - 17500 - Marília - SP.

[2] Confo rme ficou referido, Perry And erso n chama de ecletismo teó rico esse traço do marxismo ocidenta l que consiste em fazer emprésti mos te óricos com o aparente objetivo de "enriquecer o pensame nto marxista". Este é um bom exemplo, pois se trata de emprésti mo to mado de Bachelard. Como não te mos cond ições de avaliar o seu al ca nce, lem bram os apenas que, do po nto de vista financeiro, norma lm ente quem sa i ganhan do com um em présti mo é o agiota  .