PENSAMENTO, FENÔMENO EXPERIMENTAL E EXPERIMENTO NA PROPOSTA PRAGMATICISTA

 

Lauro Frederico Barbosa da SILVEIRA

 

RESUMO: O Pral/Jaticislllo de Charles Sumias Pl'irce, COIIIO teorill lieral du COI/Cl'IJ\,Ü(}. " 111/1<1 teoria do siRno e unia teoria do penSGl11el7{O.  LiI11itundo-.I;e iI l"UIISiderw.;ào do  . "cor raciona!"  dos sÍlnbolos, () prORnloticislIlU procura estabelecer u tipo de CUU."ill{'UO atribuível (lO !H'tl\'lII11ell{o: sarão eficiente centralizada I/a percep('ão e 1/0 expailllel1l() e IIl11a CUII.\lI('ÜO /il/al C/lle det(,/,lIIil/a 1(/1/ bilo racional de condula dianle da classe lieral dl' fel/6111enos experil/lelllais reprl'Selll(/(llI I() C()I/(·"il(}.

UNITERMOS: Pralil/l<llicisl/Jo; pensall/enlV; fel/ól/lel/O  eXIJerill/el/lal;  eXI/aillll'I//():   l'el/l;',liclI: símbolo: cOl1cep(·ão.

 

 

Em 1905, Charles Sanders Peirce (1839-1914) já na fase mais madura de seu pensamento filosófico, propõe desenvolver a teoria de que ... "uma concep('ü(), isto é, o teor (conteúdo significativo) racional de uma palavra ou outra expressão, reside exclusivamente em sua concebível influência sobre a conduta da vida; de modo que, já quc obviamente nada que não possa resultar de um experimento pode exercer qualqucr influência direta sobre a conduta, se se puder definir acuradamente todos os fenômenos experimentais concebíveis que a afirmação ou a negação (rejeição) de um conccito poderiam implicar, ter-se-á aí a definição completa do conceito, c nele n(/o há absolUlamenle nada mais. (4, v. 5, 412; os grifos são do autor).

Em primeiro lugar, cabe notar que a proposta peirceana é il elaboração de uma teoria da concepção de uma palavra ou de uma outra expressão.

No inte! ior do pensamento peireeano uma teoria constitui-se numa argumentação dedutiva que desdobra, com rigor lógico, as implicações contidas numa hipótese iniciaI. Mantém o caráter conjecturai logicamente possível que caracteriza a hipótese, permitindo por seu desdobramento, o estabelecimento das condições de experimentação que indutivamente, no decorrer da experiência, irá verificar sua adequação ao real. Tal adequação constituir-se-á, precipuamente, no estabelecimento do grau prohabilístico de freqüência em que a hipótese se adequará aos ratos da experiência (a).

O que se tem, portanto, no enunciado é uma construção hipotética. á qual se scguirá um discurso dedutivo.

Subj acente ao texto, encontra-se a concepção de signo para Peirce e a identi ficação deste com o pensamento . O pensamento, por sua vez , é aceito como ação e como produto - em suma, como semeiose (b) - de uma inteligência "cientí fica" : aquela que é capaz de aprender com a experiência, aquela que pensa no tempo .  (cf. 4, v .  3 , 22 7). (c)

O signo - ou representamen -, res um idamen te, é algu ma coisa que pode estar no lugar de uma outra (seu objeto) determinando uma idéia interpretante dessa relação . O objeto determina a relação do signo para com ele e, da relação assim estabelecida, decorre a determinação da idéia interpretante . (d) A idéia interpretante é da natureza do signo, e o objeto, na rede triádica relacional , constitui-se igualmente em signos . (e)

Pensar é, fundamentalmente, interpretar as relações semióticas e desse modo produzir seus próprios signos .

Toda consideração do pensamento manterá necessarimente,  na proposição peiorceana, relação estreita com a correlação semiótica e explorará o diagrama fundamental desta última.

Sej a qual for a consideração do universo da significação, e a investigação no interior do universo dos signos, tanto uma quanto a outra terão por referência necessária o pensamento, e constituir-se-ão numa investigação do próprio pensamento .

A teoria da concepção apresenta, portanto, essa dupla dimensão: é uma teoria do signo e uma teoria do pensamento; é uma semiótica e uma teoria da conduta racional .

Parece pois que a articulação básica da hipótese sobre a qual Peirce pretende teorizar,  constitui-se exatamente naquela que vincula produção do signo e conduta racional .

Deve-se notar que no vasto domínio aberto pela semiótica e por uma teoria do pensamento, um recorte é realizado pela hipótese em consideração - a restrição da classe de signos a ser estudada e do fundamento ou aspecto pelo qual tais signos serão considerados : o ' teor racional ', ou o 'conteúdo signi ficativo racional ' - como parece mais proximamente traduzir-se 'the rational purport' - 'de uma palavra ou repressão', inicialmente dirige a atenção do filósofo para um su bconj unto bastante determinado de signos .

Desenvolver-se-ão as relações determ inantes do símbolo (cf. 4, v . 2, 247 ; 254; 264; 265-27 3) como signo de natureza convencional , determinado por classes gerais de objetos e determinando, por sua vez, hábitos gerais de conduta . Importa aqui, por conseguinte, o signo em sua forma mais genuína, em sua mais plena generalidade . (f)

No mesmo artigo em que Peirce apresenta a hipótese central de sua teoria , respondendo à objeção que faltam ao experimentalista - tipo de investigador com o qual Peirce se identifica - os méritos do bom observador que desej a pela história natural entrar num contacto apaixonado com a natureza e cantar . . . "no glorioso órgão da observação, os tesouros que só a ele a natureza confia" ... , confirma o caráter seletivo da operação que, em outro texto (c f. 4, v. 2, 22 7) denomina observação abstrativa. Reco- ' nhece com o objetante que a riqueza (o grifo é do autor) dos fenômenos encontra-se em sua qualidade sensual , mas que não é a exploração dessa dimensão que a teoria que propõe - o pragmaticismo - pretende empreender .

"O pragmaticismo, diz o texto (4, v . 5, 42 1\), não pretende definir os equivalentes fenomenais das palavras e das idéias gerais, mas, ao contrário, elimina seu elemento sensual e se esforça em definir o conteúdo signi ficativo racional , e este ele encontra no procedimento intencional (ou talvez, utilitário) (o parêntese é do tradutor e se refere à tradução de "purposive bearing ") da palavra ou da proposição em questão ... "

E que é sempre o caráter geral da palavra ou da proposição que se procura investigar e estabelecer, reafirma o autor quando questionado sobre a postura a ser tomada diante dos nomes próprios (4, v. 5, 429). (g)

A esse caráter geral e intencional do simbolo, Peirce denomina concepção. Eis a tese do texto: "a concepção reside exclusivamente em sua concebível in fluência sobre a conduta da vida."

A seqüência do texto e sua dimensão estratégica consistem em estabelecer como o geral exerce uma causação real . Duas correlações se apresentam e seu conj unto perfaz a especificidade dessa causação .

De um lado, a relação eficiente; de outro, a relação final . O símbolo realizando aí o papel de mediador genuíno dessas duas vertentes .

Da parte da causação eficiente, declara Peirce sob a forma de um pressuposto:

... " somente o que pode resultar de um experimento pode exercer qualquer influência sobre a conduta da vida" .

A fatualidade, o con fronto efetivo com o outro, é condição necessária para a modificação da conduta. A modificação efetiva da conduta supõe em sua raiz a particularidade de experimento. A modificação da conduta será real somente ao se constituir num fato consumado . Antes, é uma potencialidade que meramente pode realizar-se.

A conduta da vida, no entanto , não é uma mera sucessão desconexa de fatos consumados, ela se constitui numa continuidade. O experimento, interagente com a conduta, é um fato, mas integra um universo fenomenológico . A percepção do fato possibilita tal integração , pois, ao ser percebido ele é recebido como idealmente possível e, na ocasião, tomado como real . (cf. I, v. 8, 14 8). Baseando-se principalmente no texto

de Peirce, "Introduction to the Logic of Quantity " (4, v .3, 526 -552), datado de 1 897 ,

Sandra B. Rosenthal (5, p. 1 5 -22) esclarece esse estatuto do Fato no interior do universo fenomenológico - no interior do mundo:

"Um mundo é, por definição, consistente porque um mundo é o conteúdo concreto que é delineado por um conj unto de proposições consistentes . O mundo responde às leis do terceiro excluído e da contradição (não sendo, diríamos com Peirce, nem vago nem indeterminado) e assim representa o ideal do que foi conceitualmente articulado

- e desse modo tornado preciso a seu limite ideal . "O mundo", portanto, é a um tempo a base para toda experiência e o ideal de uma ntese completa da experiência possivel . Talvez sej a possível dizer, metaforicamente, que enquanto a realizada é a in finitude de um processo contínuo ou em avanço, o mundo é a fixação lógica de um mero infinito de cortes possíveis no seu interior . O mundo, então, é o contexto de significado no interior do qual todos os outros quadros e objetos podem ser articulados no sentido em que o mundo é o "mais amplo" conteúdo (content) ou a moldura envolvente da referência da aplicação e de um conj unto de estruturas signi ficativas relativas ao independentemente real e, portanto, das proposições que podem del inear a experiência consistentemente dentro do contexto desses signi ficados . Tal mundo, pois, abre em uma direção para as estruturas do independentemente real e para as possibilidades que ele apresenta e, em outra direção, para a estrutura de modos de apreender a independentemente real e para as possibilidades que tais modos de apreender permitem ." (5, p. 19 ). (h) .

A noção de fato nos textos peirceanos dedicados à Fenomenologia ou Faneroscopia que instauram as categorias denominadas pelo autor, coenopithagóricas , é caracterizada pela força bruta (cf. 4, v. l, 322 - 325 ; v.5, 45-5 8; \ , v.8. 265 -266, 330- 332), sofre no texto que está sendo analisado uma modificação devido à sua inserção pressuposta no universo da experiência. O universo da experiência, por sua vez, torna-se possível para a conscíência quando, na percepcão, aprescnta-se consistente com o universo li gicamente possível .

Tal como o mundo se distingue do independentemente real, o fato distin guir-se-á, sem se ver destitu ído de seu aspecto "h ie et nunc" da mera ocorrência. Tal disti ncão não é uma elaboracão fei ta por conta da ilustre in térprete do pensam ento peirceano; esta a encont ra num texto que não integra os Collected Papers. Na Th e Microfi/m Edition of the Peirce Papers (S ec tioll 647, p. X ) , Sandra Rose llthal lê a seguinte passagem do autor :

"P reciso em primeiro lugar estabelecer a distinção entre um fato e o que em outras conexões é freq üentemente chamado um Evento mas que, dev ido ao fato desta palavra ser usada na Doctrine of Chances num sentido mais estrito ... deve aqui ser denomi nado uma Ocorrência. Uma Ocorrência, a qual o Pensamento analisa em Coisas e Acontecimentos , é necessariamente Real ; mas ela não pode nu nca ser conhecida ou mesmo imaginada em todos os seus in finitos detalhes . Um fato, por outro lado, pertence ao Universo real na medida em que pode ser representado numa Proposicão , e em vez de ser, tal como uma Ocorrência, uma fatia do Un iverso, deve mais ser com parado a um principio químico extraído pela forca do Pensamento ; e embora ele sej a ou possa ser Real , ainda em sua existência Real está inseparavelmente combi nado com um enxame infin ito de circun stâncias que não fazem pane do pt úprio rato. t impossível tracar nosso caminho através do intri ncado lógico do ser se não mantivermos em nossos Pensamentos, nitidamente separadas, essas duas coisas : a Ocorrência e o Fato Real ." (5, p. 1 6 - 17 ). (Os gri fos e as maiúsculas obedecem à apresentacão do texto no artigo ci tado e certamente encon tram-se no original do auto r).

O experimento, capaz de modi ficar a conduta, está por sua vez centrado no fato e o excede; o fato interagente e percebido é índ ice do real no uni verso fenomênico . Consistente com o mundo lógico, ele concretude ao pensamento, conectando-o com os demais componen tes do mu ndo do fen ômen o.

Desse modo torna-se mais clara a decomposicão do experimento realizada por Peirce na resposta a uma das obj ecões de What Pragmatism is (4, v. 5, -124 ), onde se acen tua o lugar do ato no interior do complexo do experimento e a distincão sut il, mas fundamental, entre experimento e even to:

Primeiramente, os experimentos , di ferentemente do que parecia supor o objetante - certamente o senso com um e mais de um posicionamento filosófico -, não são isolados uns dos outros, são componíveis, com postos e se desenvolvem no tempo guardando sua identidade.

Em segundo lugar , o experimento estrutu ra-se de maneira bipolar, tensionado em seus elementos essenciais pela representação e pela interacão com o un iverso exterior (ou quase - exterior) numa constante passagem de um polo ao outro . Peirce insiste nesta polarização e seu texto merece ser lido integralmente; alguns comentários sendo in tercalados , recorrendo-sc então ao uso de parênteses .

"Quais são os ingredientes essenciais de um experimento? Em primeiro lu gar , naturalmente, um experimen tador de carne e osso (de carne e sangue, no texto original ). Em segundo lugar, uma hi pótese veri ficável. Tal hi pótese é uma proposição relacionada ao universo que envolve o cxperimentador, ou alguma parte bem conhecida desse un iverso, afirmando ou negando dele somente alguma possi bili dade ou impossibilidade experimen tal .

O tercei ro ingred iente é uma dúvida si ncera na mente do experimen tador sobre a verdade daquela hipótese .

Passando por cima de vários ingredientes nos qu ais não precisamos nos deter . .. (seria, cabe notar, fundamental deter-se nesses ingredientes caso se tratasse de analisar os elementos generalizadores) ... , - o propósi to, o plano e a reso lu(,:ão -, chegamos ao ato de escolha pelo qual o experimentador isola (singulariza) certos objetos identi ficáveis sobre os quais operar. ( Tais elemen tos, obj etos de escolha e exem pli fica (,:ão  são fatos pertinentes ao mundo do real e subm issos ao mundo ideal das possibil idades ).

Em seguida ... (e aí se encontra o vórtice da singulariza(,:ão fat ual) ... dá-se o ATO (em letras maiúsculas nos ' Collected Papers) pelo qual o experimentador modi fica  aqueles obj etos . Depois chega a reação su bseqüente do mundo sobre o experimen tador em uma percepção ... (t rata-se pois da reação percebida enquanto tal . A palavra rea (,:ão está sublin hada no texto do autor) ... e finalmente o reconhecimfnto do ensinamento do experimento ." (4, v.5, 424).

O caráter conectivo do experimento - do pensamento e da a (,:ão física com o mundo - fica mais claro ainda quando Pei rce distribui para cada paio, os ingred ientes do experi mento: experimento e evento nitidamente se distinguem e, se for aceito o texto citado por Sandra Rosen thal , tam bém Fato e Evento (ou Ocorrênci a).

Assim, na continua(,:ão do tex to, pode-se ler:

"Enquanto as duas principais partes do evento propriamente dito o a a (,:ão e a reação, a un idade de essência do experimento ( ... sua partici pa(,:ão no mundo in tencional , geral sem iótico, diríamos -, pois unidade de uma plural idade ... ) encontra-se em seu propósito e em seu plano, aqueles elementos sobre os quais passou-se por cima na enumera(,:ão . (E lementos estes que desdobram dedut ivamente a hi pótese) ." (4v 5 , 424).

Por sua especi ficidade, o experimento modifica eficientemente a conduta cobrando dela um novo posicionamento que interprete sua referência à realidade . A realidade referida é aquela que indicialmente, existentemente, se impôs à considera(,:ão .

Pesa agora, em especial, a causação fi nal , interpretante e terceiro correlato do signo.

"Se se puder definir acuradamente todos os fenômenos experimentais conceb íveis  que  afirmação ou a negação (rej ei (,:ão) de um conceito poderiam impl icar, ter-se-ia aí definição completa do conceito .. ...

Em sua forma hi potét ica, o conceito chega à conduta da vida, ao contínuo da experiência racional , pelo exper imento por ela designado. O experimento, por sua vez, implica a in tera(,:ão experimentador - mundo. O evento in tegrado no experi mento é um exemplo do objeto (geral ) rep resentado no símbolo hipotético .

O conceito que pretende Peirce teorizar, é o "medium" que transforma o mero evento no objeto de uma conduta racional, ou sej a, de um processo contínuo e generalizante, au toconsciente e autocontrolado - em suma - no objeto de um hábito racional . ( c:f. 4, v.5, 417 - 420, 42 7, 470 - 4H7 ).

Isto se faz na medida em que o experimento, representado no concei to, é tomado como concretização de uma classe geral de fenômenos exper imentais à qual pertence .

A concep (,:ão explicita a inser (,:ão possível çlos experi mentos na regularidade de um mundo imerso no acaso mas pertinente ao domínio da lei e do pensamento.

Se for possível prever as rea(,:ões do mun do diante de determ i nadas circun stâncias experimentais ou suas futuras intera(,:ões eom o experi mentador, mesmo que certas particu laridades do evento escapem a tal previsão, a conduta diante do mundo emergirá do universo do imprevisível .

Por esse ato judicativo concernente às relações entre as cond ições de experi mentação e suas conseq uências todas vez que tais cond ições se efetivarem, ao menos numa freqüência calculável , a cond uta da vida tornar-sc-á mais preparada para con frontar-se eom o mundo e para procurar com efet iva esperança de sucesso , os objetos que elegeu como um fim .

Interiorizadas essas correlações sob forma de hábitos, mediante a ação dos símbolos a conduta cresce em sua integração com o mundo, efetiva sua racionalidade e contribui para a concreção crescente da racionalidade do próprio mundo a que pertence .

Esse é o trabalho da ciência, a ética da conduta racional , o dever ser da conduta da vida e o objeto da teoria que Peirce pretendeu desenvolver sob a denominação de Pragmaticismo.

Voltando-se intrinsecamente para o futuro que caracteriza as relações gerais, completa-se assim a dupla causação da teoria da concepção .

Em resposta ao objetante que pretendia encontrar no pragmaticismo uma doutrina redutora do pensamento à ação , Peirce encontra ocasião para explicitar mais o caráter geral e contínuo do processo do pensamento e do hábito dele decorrente .

... "O pragmaticista, diz o texto, não faz com que o summum bonum consista na ação, mas faz com que consista naquele processo de evolução pelo qual o existente chega a incorporar cada vez mais aqueles gerais dos quais dizia-se ainda há pouco estarem destinados (i), que é o que procuramos expressar chamando-os razoáveis . Em seus mais elevados estágios, a evolução se efetiva cada vez mais amplamente através do autocontrole, e isto parece ao pragmaticista uma espécie de justi ficativa para tornar geral o conteúdo significativo racional " . . . (4, v.5, 43 3 ).

Se o fim último procurado, a maior perfeição do pensamento, não é a particularidade da ação - e toda ação de um pensamento que interage com o mundo é particular

- mas um crescimento contínuo evolutivo, a mediação do signo, e em especial do conceito como signo genuinamente geral , é condição indispensável para sua efetivação . Dada essa generalidade intrínseca máxima do pensamento conceitual , o hábito por ele determinado é o maior bem que o pensamento pode alcançar .

Um texto como esse último é certamente su ficiente para apresentar o hábito racional como o summum bonum do pensamento. Peirce contudo, tinha encontrado anteriormente ocasião de melhor explicitar o que espera a Razão como sua mais perfeita realização . Dado o caráter genuinamente geral e dinâmico de sua atividade, Peirce rejeita numa conferência em 1 902 (4 , v. 1 , 59 1 - 615 ) que o ideal da conduta racional possa ser algo utilitário, uma mera sensação ou algo estático .

Após uma longa exposição , o autor alcança a caracterização precisa de que pode ser o ideal último da Razão , seu summum bonum.

"O próprio do Geral ,  da Razão ,  consiste em governar os eventos individuais. Desse modo, portanto, a essência da Razão é tal que seu ser jamais estará completamente acabado (perfeito) .

Ela sempre deve estar num estado de incipiência, de crescimento .  Isto assemelhase ao caráter de um homem o qual consiste nas idéias que ele conceberá e nos esforços que ele fará, e que se desenvolve quando as ocasiões de fato aparecem . E ainda mais, durante toda sua vida nenhum filho de Adão mani festou plenamente o que havia em seu interior. Desse modo, o desenvolvimento da Razão requer como uma parte, mais eventos individuais do que jamais poderá ocorrer. Requer, também, todo o colorido de todas as qualidades de sentimento, incluindo o prazer no seu lugar próprio dentro do conj unto. Este desenvolvimento da Razão consiste, será possível observar, na incorporação, isto é, na manifestação . A criação do universo , que não se deu numa certa semana atarefada, no ano 4004 a.C., mas que está se encaminhando hoje e nunca estará acabada, é o próprio desenvolvimento da Razão . Não vej o como é possível ter-se um ideal mais satisfatório do admirável do  que  o desenvolvimento da Razão assim compreendido. A única coisa que não é devida a uma razão interior é a própria Razão compreend ida em sua plenitude, enquanto nos for possível compreendê-Ia. Segundo esta concepção, o ideal de conduta será executar nossa pequena função na operação da criação dando uma mão para tornar o mundo mais razoável do que nunca, e, como diz a gíria, ele está "prontinho" para que assim façamos " (4, v. 1 , 61 5).

É possível existir dimensões da Razão que o pragmaticismo não pretenda teorizar .

Esta exclusão parece con firmar-se quando o autor declara limitar ao conceitual o domínio de investigação . Por outro lado, no entanto, o cume da racionalidade está no pensamento dotado de plena generalidade.

Aparentemente um texto como o IdeaIs of Conduct parece fazer exceder ao escopo da proposta pragmaticista o summum bonum da Razão , mas é somente o exercício da atividade mais alta da racionalidade que poderá, incorporando-se, elevar as diversas outras qualidades que a in tegram .

O pragmaticismo, poder-se-ia concluir, é J.lma doutrina do summum bonum racional e o prosseguimento do texto dos IdeaIs of Conduct, se bem que truncado na edição dos Co//ected Papers, parece vir plenamente de encontro com essa conclusão e reconhecer, ao nível do raciocínio - e, consequentemente, do conceitual - a caracterização do ideal racional como sendo a proposta do pragmaticismo: "Na lógica, observarse-á que o conhecimento é racionalidade; e o ideal do raciocínio será seguir os métodos que farão com que o pensamento se desenvolva o mais rapidamente possível " . . . (4, v. I , 615 ).

Se o texto de What Pragmatism is, que foi tomado desde início como objeto de leitura, caracteriza-se como um programa de investigação , ele mesmo exige ser explorado em suas implicações para fazer surgir, ao menos parcialmente, sua potencialidade. Peirce. foi o primeiro a proceder dessa maneira e, no artigo em que expõe o enunciado da teoria, deixa entrever como esta é capaz de enfrentar as di ficuldades que sua problemátiça suscita . Outros escritos se seguiram nos quais pacientemente foram desdobradas as partes fundamentais do conceito e da conduta racional . Um texto como IdeaIs of Conduct precede à formulação em questão mas tão claramente prepara seu surgimento, que tem sua longa argumentação retomada e resumida em parágrafos posteriores de What Pragmatism is, quando, por exemplo, se trata de estabelecer a ética da conduta racional (cf. 4, v.5, 41 8-419 ).

Colocar como horizonte mais largo o processo evolutivo da razão no cosmos para a proposta pragmaticista e ai inserir a meta última da conduta cientí fica, parece encon-· trar legitimação não só no desenvolver do What Pragmatism is mas no conj unto da obra de Peirce, contemporânea ao texto. Ao afirmar, pois, que estabelecida sua definição segundo as prescrições da proposta teórica que acaba de enunciar, no conceito . . . " não há absolutamente nada mais" , sublinhando a asserção para mais enfatizá-la, o autor estende a dimensões cósmicas e até ao summum bonum da Razão as conseqüências do pensamento cientí fico, aquele que é capaz de aprender com a experiência. (cf. 4, v. 227).

 

NOTAS

a)              Teoria para Peirce é um proced imento racional com características bastante determinadas . Em 1 8 78 (cf. 4. v.2. 63 6-640), ela se coloca em continuidade com o levantamento das correlações hipoteticamente estabelecidas pela observação mas acrescenta uma explicação , igualmente hipotética, dos desvios das fórm ulas de correlação . Em 1 897 (cf. 4v . 3.5 1 6), ateorização é vista como o proced imento inverso à generalização : enquanto a generalização atribui o predicado observado numa amostra à totalidade da classe a que pertence a amostra a teorização decorre da necessidade de si ntetizar uma multidão de. predicados num único conceito . O trabalho do pensamento hipotético , denominado abdutivo ou retrodutivo, a construção de diagramas pela ded ução e a veri ficação nos fatos das freq üências da efeti vação das correlações deduzidas das hi póteses caracteriza a teoria nos textos peirceanos do início do século XX . Pode-se conferir esse último encam inhamento nas seguintes passagen s: em 1 901 , 1, v. 7, 220 ss; em 1 902 , 4, v. 2, 1 - 17 ; em 1 905 , 4, v., 5, 14 5, c, em 1 905 , l, v. 8, 209 . O texto em ap reciação no presen te artigo insere-se pois, com certeza , no qu ad ro aqui exposto da concepção pei rcea na de teoria .

b)        Em 1 906, no tex to intit ulado A Survey of Pragll1aticism (4, v.5 ,4H4), Peirce conccitua "semiosis " como sendo .... "u ma ação , ou influência, que é, ou envolve, a cooperação de três sujeitos (o grifo é do auto r), tal çomo um signo, seu obj eto, e seu in terpretante, esta tri -relativa influ ência não sendo de maneira alguma resolúvel em ações entre pares . Semeiosis (em caracteres gregos no original), em grego do per íodo rom ano, desde ao menos a época de Cícero, se lembro-me bem , signi fica a ação de praticamente toda espécie de signo; e minha defin ição con fere a tudo que age dessa maneira o título de um "signo" ... Para uma in formação mais ampla sobre "semeiosis" e suas impl icações , conferir em Methods for A l laininR Tru th, em 1 898, uma formu lação que parece impl icar o referido concei to, em bora não o mencione explicitamente (cf. 4, v.5, 594), e no A Survey of PraRmaticism, mencionado, a irred utibil idade da tr iadicidade da "semiosis" e a im portância fundamental do elemen to mediador da tr iáde . (cf. 4, v.5, 473 ). Recorrer tam bém ao artigo de T.L. SHOR T, Semiosis and Intentionafity (8).

c)         Quanto á relação entre "ser capaz de aprender com a experiê ncia" e "pensar no tempo", veri ficar as cons ide rações elaboradas pelo autor do presente artigo em Semiótica Peirceana e Produção Poética (7).

d)         Entre diversas ocasiões em que Peirce concei tua signo estabelecendo as relações aqui sum arizadas, conferir: 1 897 (4, v.2, 22H) - " Um signo, ou representall1 en, é alguma coisa que se coloca para alguém no lu gar de alguma coisa por algum caráter ou capacidade . Di rige-se a alguém , isto é, cria na mente daquela pessoa um signo eq uivalente, ou tal vez um signo mais desen volvi do. Esse signo que ele cria, eu denomino o in terpretante do primeiro sig no. O signo coloca-se no lugar de alguma coisa , seu objeto. Ele se coloca em lugar daquele objeto, não sob todos os as pec tos (ou carac teres ) mas com referê ncia a uma espécie de Id éia, á qu al algums vezes denominei o fundamen to do representamen ... "

1 903 (4, v. 1, 539) - "Um Represen tamen é um sujeito de uma relação triád ica a um segundo, chamado seu objeto, para um tercei ro, chamado seu In terpretante, essa relação triádica sendo tal que o Representamen determ ina seu in terpretante a colocar-se na mesma relação triádica para com o mesmo obj eto para algum interpretante" .

Paralelamente a este texto, embora mais anal ítico, conferir, de 1 902 (4, v.2, 27 4).

1 906 (4, v. 4, 53 1) - "A essência do signo ... alguma coisa que, sendo determ in ada por um objeto, determina uma inrerpretação afim de que ela sej a determ in ada, através dele, pelo mesmo objeto ... "

De 19\0 , con fer ir (4, v.2 30- 232).

Antes da formu lação defini tiva do qu adro categorial peirceano e mesmo das noções de Representamen , Objeto e In terprctante - o·qu e só se dará a partir de 1 H 70, a estrutura triádica do signo pode ser encont rada no On the New L ist of Categorie.s (1 867) sob a form ul ação :

" A concepção de um terceiro é a de um objeto que é de tal maneira reiacionado a dois outros, que um deles deve ser relacionado ao outro do mesmo modo com que o terceiro é relacionado áquele outro . Ora isso coincide com a concepção de um inte rp rctante . Um Outro é plenamente eq uivalente a um corre lato . A concepção de segundo difere da de outro, ao implicar a poss ibil idade de um tercei ro . Seguindo a mesma linha de pensamento, a concepção de "si mesm o" (sel O, impli ca a possi bili dade de um outro . O fundamento é o "s i-mes mo" , abstraído da concret ude que implica a possibilidade de um outro ... " (4, v. 1, 556 )

Quanto às modi ficações ocorridas na concepção de signo no decorrer da obra de Peirce, consultar o artigo de David SA V A N, - Questions ConcerniR Certain Classifications Claimed for Signo (6).

1 908 Dec . 23, 3, p. 80- 83 ). e)ara a compreensão mais completa do estatuto dos interpretantes e dos objetos do sIgno, convém estabelecer a disti nção entre objeto imediato e objeto dinâmico do signo e entre as duas tricotomias de int erpretantes, quer no in terior de cada uma delas quer nas relações entre am bas . O objeto, na medida em que in tegra a correlação triádica, é o objeto imediato. O objeto que é respon sável pelo grau de realidade do referente (ou relacionado) da relação sem iótica e pela anco ragem do signo no real, ou objeto dinâmico, pode ser apreendido por relação colateral ao signo . Essa colateral idade não implica, con tudo, que como percepto, o objeto não venha a se ap resen tar sem iot icamen te. (cf. 1 906 - 4,v.4, 536-539; Letter to Lady Welby,

 

Quanto ao estat uto sem lotlCO do in terpretante, sej a ele um se ntim ento (interpretante emociona/),  uma ação  (interpretante energético) ou sej a uma lei interpretante lógico e apresen tando-se potenc ialmente (interpretante imediato), atualmente  (interpretante  dinâmico)  ou  tendenci almente  (interpretante  final)  é mais cl aro que se in sere no dom ínio do signo . Somente a inserção do interpretante último no domínio do signo aq ui considerado deveria ser excl uída. O interpretante último, com efei to, é o responsável último pela verdade do signo e, se pertencesse a este do mesmo modo como os outros pertencem , ou seja, articulado no contínuo do processo triádico, determinaria in terpretantes su bseq üentes, e isto ad infinitull1, con tradizendo sua função precípua de ser último. A ele Pei rce propõe o est atuto de mudança de hábito . (cf. 8, p. 209 e 4 , v.5, 473 sS ).

f) Convém lembrar que o un iverso estritamente simbólico ou concei tual não preenche necessariamente para Pei rce os aspectos mais importantes da vida. A longa con ferência de 1 898 sobre Vitally Important Topics (4, v . 1 ,6 1 6 -677) parece exat amente estabelecer a pouca util idade do pensamento teórico, estritamente concei tual, para a conservação da vida. Esta seria devida quase totalmente ao instinto herdado da espécie e à sua exp ressão no sentimento. O tex to chega a afirmar que: "A teoria é aplicável a assun tos práticos menores, enquanto que questões da importância vital devem ser deixadas ao sen timento, isto é, ao instinto" (4, v. I ,(37 ). 

g)                  Em resposta à obj eção que diante da proposta pragm aticista de somente abordar os signos em sua generalidade, questiona o filósofo de como seriam en frentados os nomes próprios, os únicos nomes que, su bentende-se, designam adeq uadam ente os indivíduos em sua individ ualidade, ou seja, os únicos existentes reais . Peirce explicita que os no mes próprios, diferen temente dos conceitos gerai s, não estão no centro da investigação pragmatici sta. Não há, no entanto, uma exclusão completa dos nomes próprios da teoria proposta, pois di feren temente do que o obj etante quer levar a entender, tais nomes, enquanto palavras, são dotadas de uma certa ge neralidade. Um nome próprio não é ele mesmo uma coisa ex istente, pois permanece o mesmo sej a falado ou escrito e quantas vezes aparecer . Ele é um t ipo, ou forma, ao qual os objetos designados podem se conformar (o grifo é do autor) mas não podem exatamente ser e, diríamos, coincidir existencial mente. Os nomes próprios seriam , no dizer de Peirce, dotados de generalidade subjetiva ( c f. 4,v. 5, 429)

Quanto à distinção , em Peirce, entre Type e Token, ou sej a, entre o signo e sua instanciação ou realização particular (si nsigno) cf. 4, v.4, 537, texto datado de 1 906 .

h)              O mundo, como circunstante mais próximo ou mais longínquo, integra-se na relação semiótica como Obj eto Dinâmico .  Identi ficado como  Un iverso (cf.  4,  v. 4, 552n, 553n2; v.5, 1 5 2, 506, 543 ), deu origem a interpretações que o despojaram de qualquer interesse mais relevante para a análise do signo (cf. 9, p.205 e 2, p.65 ss e 7 1  ss) .  Muito mais em conformidade com o pensamento peirceano, parece colocarse a perspectiva de conferir ao universo ao qual o Obj eto  Dinâmico se identificaria, a signi ficação de contexto empírico onde o signo e seu interpretante atuam e que, através da relação colateral que o caracteriza, real idade experiencial ao que é denotado pelo signo (cf. 6, p. 191-1 94) .

i)                O texto referido é o seguinte: "Assim como a conduta controlada pela razão ética tende a firmar certos hábitos de conduta, a natureza dos gerais (desde que por ela se entendam hábitos pací ficos e não contenciosos) não depende de qualquer circunstância acidental, e que nesse sentido pode ser dita destinada; também , o pensamento, controlado por uma lógica experimental racional, tende à fixação de certas opiniões, igualmente destinadas, cuj a natureza será finalmente a mesma, embora a perversidade de pensamento de gerações inteiras possam causar o adiamento da fixação última" (4 , v .5, 43 0). Acentua-se assim a realidade da causação determinante dos interpretantes lógico e final do conceito e sua futura tendência de efetivar, no hábito geral, o interpretante último . Notam-se também as dimensões do propalado "otimismo" peirceano . Peirce con fia na potencialidade do pensamento pois o integrado ao processo evolucionário dos cosmos e na conseqüente força direcional para a verdade que a experiência atualiza . Quanto, no entanto, a qualquer otimismo face aos himens e aos atos de pensar em sua particularidade, Peirce guarda, não um pessimismo, mas uma visão crítica decorrente de uma experiência histórica e, sobretudo, de uma concepção de que o contínuo evolucionário, necessariamente geral, é o detentor de toda a potência direcional face ao fim , não cabendo a qualquer particularidade individual , ou à mera somatória, dar sen tido a um processo . A individualidade, no  mundo fenomênico, atualidade ao geral ,  mas enquanto tal é mera negação . Assim, "as circustâncias acidentais" são intrinsecamente incapazes de determinar a natureza dos hábitos de conduta adeq uados e destinados ao fim último e "a perversidade do pensamento de gerações inteiras" não pode desviar o destino do pensamento em se fixar em hábitos gerais como suas instâncias últimas; podem tão somente postergar a atualização de tal destino.

 

SI LVEI RA, L.F.B. da - Thoughl, experimenlal phenomcnon and experimenl accord ing lO Pragmaticism o Trans/Form/ Ação , São Paulo, 7:49-59, 1 984.

 

ABSTRACT: The Pragmalicism of Charles Sanders Peirce, as a Reneral lheory of conccpl ion , is a Iheory of sign and a Iheory of Ihoughl. Limiling ilself on lhe consideralion of lhe "ralional purporl " of symbols, lhe Pragmalicism seeks lO eslablish lhe kind of causalion alribuilive lO IhOURhl: an efficienl causalion cenlralized in perceplion and experimenl and a final causalion delermininR a ra lional habil of conducl before lhe general class of experimenlal phenomena represenled by lhe concepl.

 

KEYWORDS: Pragmalicism; Ihoughl; experimenlal phenomenon; experimenl;  semiolics; symbol; conceplion.

 

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