Estrutura Profunda e Padrões de Representação Semântica
Telmo Correia Arrais
1.1.
Os últimos doze anos têm-se mostra do fecundos quanto a publicações rela cionadas com a "semântica gerativa". Se por meados da década de 60 tais publi cações se caracterizaram pelo aspecto polêmico, já em fins dessa década esbo çam uma fase de maior reflexão e elabo ração, caminhando hoje para uma boa formalização e síntese, graças, sobretu do, à progressiva integração da lógica aos estudos semânticos.
O interesse pelo sentido - tão des prezado no quadro da lingüística norte americana anterior ao gerativismo - advém de uma comprovação bastante simples: a do quanto é óbvio, para o falante de uma língua, que o significado é um elemento central e decisivo em sua atividade lingüística. Mas, a partir do momento em que os gerativistas se dão conta deste fato, os problemas se levan tam: Como considerar um nível tão flui do como o semântico? Em que parte da gramática se deve localizá-la e qual será seu papel? Qual será sua (possível) rela ção com o componente transformacio nal? Enfim, será a semântica gerativa propriamente uma "teoria do sentido"?
Para os gerativistas da "teoria pa drão", tão fortemente centralizada na sintaxe, a solução foi tratar o nível se mântico como um componente interpre tativo. Preservava-se, dessa forma, a independência e autonomia da sintaxe na estrutura profunda. A certa altura, po rém, os gerativistas dão-se conta de que a distinção entre sintaxe e semântica era relativamente precária. Daí o surgimento de duas orientações teóricas: de um lado, a teoria interpretativa, que tenderá a manter a distinção entre sintaxe e se mântica; de outro lado, a teoria da semântica profunda, que tenderá a apa gar tal distinção, com noções de ordem sintático-semântica que acabam por constituir o princípio organizador do seu sistema. Esta última orientação, con seqüentemente, teve de reconsiderar alguns princípios teóricos do modelo transformacional, embora sem rompi mento com a tradição gerativista[1].
1.2.
A questão fundamental das pOSlçoes teórico-críticas assumidas contra a teo ria clássica diz respeito ao estatuto da estrutura profunda[2]. Não se tratava, certamente, de pôr em causa a hipótese fundamental da concepção transforma cionalista da gramática, segundo a qual a descrição lingüística deve postular um nível subjacente, suficietemente simples, geral e universal, que pode ser posto em relação com o conjunto das frases de uma língua. Como bem mostra Charles Fillmore (1 966, passim, 1968, p. 1 7- 19 ) , o nível de estrutura profunda, tal como havia sido considerado até então, não correspondia às exigências de gene ralidade e universalidade : tratava-se, antes, de um modelo heterogêneo, onde noções relacionais (sintáticas ) como "Suj eito" e "Objeto Direto" aparecem ao lado de noções semânticas como "Advérbio de modo", "Advérbio de tempo", etc. E Fillmore ressalta, nota velmente, que as primeiras têm um pa pel apenas secundário na caracterização das frases : a noção de sujeito, por exem plo, só intervém nas questões relativas à colocação dos constituintes na frase e à concordância gramatical do verbo em pessoa e número, ou sej a, diz respeito de fato aos fenômenos próprios da estrutura de superfície. Além do mais, é impos sível conferir às noções de Sujeito e Objeto qualquer pertinência semântica; em outras palavras : estas funções não têm um sentido constante.
Percebe-se, facilmente, a inadequação de uma teoria que considera este gênero de "estrutura profunda" como o nível destinado à interpretação semântica. Daí a necessidade de substituir tais noções por um aparelho conceptual mais adequado. Este aparelho conceptual, variá vel de autor para autor, assenta na idéia básica de que só um nível de representa ção semântica é capaz de atingir o poder explicativo que se espera de um nível subjacente.
2.1.
Faz-se necessário, neste ponto, expli car a noção de "representação semân tica" e sua relação com a estrutura pro funda. Não haverá, certamente, coinci dência entre os vários autores quanto a tal noção, embora concordem quanto à Vlsao das representações semânticas como compostas de conceitos universais,
o que faz supor que elas sejam, em princípio, independentemente motivadas. Assim, para George Lakoff ( 1 969-1971,
p. 339-340) , a representação semântica RS compreende uma estrutura inicial 11 (estrutura pós-Iexical gerada por um componente categoria!) e a indicação das Pressuposições, do Tópico e do Foco da frase. Daí, RS = (lI P, T, F, . . . )[3].
Já para J ames McCawley (1 968, p. 138), a representação semântica das frases deve envolver não os simples "marcadores do tipo traço" mas antes "predicados" no sentido lógico-simbólico do termo. Para ele, a leitura mais comum da palavra homem não deve ser repre sentada como um conjunto de marcado res [humano, macho, adulto] e sim como um conjunto de propriedades ('humano', 'macho' e 'adulto') que são predicadas a partir do ser ou indivíduo ao qual se pretende referir[4].
Por outro lado, o que caracteriza alguns dos trabalhos lingüísticos recen tes é a tendência a considerar a estrutura mais profunda da frase como a repre sentação isomórfica de uma situação extra-ingüística referida pelo locutor. Qualquer situação extra-lingüística se caracteriza por relações entre processo e substâncias, relações essas que se obser vam quer na natureza, quer na vida social, quer em nossa atividade psíqui ca. Assim, a substância pode represen tar o papel de agente de um processo, de origem ou de causa de uma ação, de afetado por um evento, de instru mento de uma ação, de destinatário de um processo, de objeto visado por uma ação, etc. O conjunto das relações extra linguísticas existentes entre processo e substâncias constitui a estrutura da refe rência de uma dada situação extra-lin güística. Processo e substâncias são re presentados, na estrutura profunda das frases de uma língua, por unidades lin güísticas apropriadas - por semantemas verbais e por semantemas nominais, res pectivamente. Como afirma M. Kubik (1 972, p. 20), "as relações extra-lingüís ticas entre o processo e as substâncias se transformam, no nível da estrutura profunda da frase, em relações semân ticas entre os semantemas nominais e o semantema verbal". Estas relações se mânticas, entretanto, não refletem pro priamente as relações extra-lingüísticas entre os elementos; antes "representam o resultado de um arranjo destas rela ções na consciência do homem por inter médio da língua" (idem, p. 20).
Os semantemas nominais - mais comumente tratados como sintagmas nominais -, aos quais têm sido pro postos vários termos para identificá-los em estrutura profunda (actantes segundo Greimas, casos segundo Fillmore, subs tantemas segundo Kubik), são definidos e classificados de acordo com o caráter de suas relações semânticas com o se mantema ou sintagma verbal. Na literatura lingüística atinente, distinguem-se as seguintes categorias para os sintag mas nominais: agente (instigador do processo verbal), objeto (ser visado pela ação verbal), instrumento (estímulo ou causa física imediata de um evento), receptor (ser que recebe ou sofre as conseqüências da ação), locativo (enti dade na qual a ação é localizada) , desti natário (ser ao qual a ação é destinada), etc.[5] Será esta a base com que Fill more esboçará uma "gramática dos casos", cuja estrutura subjacente é uma representação semântica da relação entre verbo e sintagmas nominais, estes pro vidos de etiquetas semânticas do tipo acima apontado.
O ponto comum aos diversos autores é que se deve conceber um sistema de representação no qual o conteúdo se mântico dos nomes e verbos se origina no exterior das frases em que são utili zados. Em outros termos: devem rece ber um modo de representação que dê conta de sua função semântica de refe rência, tanto real como intencional.
Pensamos, entretanto, que tal repre sentação seria incompleta se se consi derasse apenas o conteúdo semântico original exterior à frase. Nomes e verbos vêm a adquirir um conteúdo semântico complementar relacionaI, resultante das relações específicas que mantêm uns com os outros no interior da frase em que são inseridos.
2.2.
Para nós, o que acabamos de expor em 2. 1 como "representação semântica", resultado do que se encontra corrente mente nos trabalhos lingüísticos gerati vistas destes últimos anos, parece sem dúvida bastante heterogêneo. Fala-se, de um lado, em relações extra-lingüísticas entre processo e substâncias (o que constitui, portanto, a estrutura da refe rência) e, de outro lado, em categorias atribuídas a sintagmas nominais de acordo com o caráter de suas relações semânticas com o verbo (o que eviden cia, certamente, uma estruturação lin güística de natureza sintático-semânti ca) . Percebe-se, mesmo, o valor nocio n al variável com que cada autor empre ga a expressão "representação semânti ca", adquirindo tal expressão uma gama de significações relativamente gran de[6] .
De nossa parte, cremos que o pro blema está em não se distinguirem dife rentes padrões de representação semân tica na estrutura mais profunda das frases da língua, que não deve ser con fundida com a estrutura profunda sintá tica do modelo clássico. Esta última deverá reduzir-se, pois, a uma estrutura intermediária, constituída de um con junto de regras sintagmáticas e de um componente transformacional, cujas regras permitem derivar estruturas sin tático-semânticas em estruturas de super fície. Fica implícito, portanto, que a nosso ver não é válido postular a exis tência de um só tipo de representação na estrutura profunda semântica; admi timos, antes, a existência de pelo menos três padrões nessa estrutura, cuja dife rença é marcada pela presença de regras formativas diversas em cada padrão, as quais se apresentam em diferentes graus de complexidade.
O primeiro padrão, a que chamare mos "referencial-semântico", é caracte rizado por "regras de formação léxica"; dele trataremos no item 3. O segundo padrão, caracterizado por processos formativos a que propomos o nome gené rico de "formações por modalização", será chamado "lógico-semântico"; dele trataremos no item 4. Enfim, ao terceiro padrão nos referiremos como o "sintá tico-semântico", caracterizado por pro cessos formativos a que damos o nome geral de "formações por concatenação"; este será tratado no item 5. Reservamos o item 6 para tratar do problema da equivalência semântica de frases, com relação a esses três padrões.
3 .
O padrão "referencial-semântico", caracterizado por regras de formação léxica, é o da representação dos itens lexicais por conjuntos de propriedades inerentes, e estas em concordância com as características peculiares do objeto ou processo referido, tal como é "menta do" pelo falante-ouvinte. Isto corres ponde, pois, a considerá-lo primeira mente como o padrão em que se pro cede à análise do significado das pala vras - tomadas individualmente - por definições de caráter externo. Definições externas são, pois, as que relacionam itens lexicais de uma língua com enti dades fora do próprio sistema lingüís tico. Este tipo de análise do significado das palavras tem tido especialmente dois tratamentos: o primeiro é baseado nas regras semânticas (ou "meaning postu lates") de Carnap (1 956, p. 222-9), o segundo nos componentes semânticos em que os significados lexicais são de compostos. Eis os exemplos que ilustram o tratamento baseado em regras semân ticas:
(1) (a) homem � macho
(b) mulher � fêmea
Uma regra como (l a) diz que homem implica macho ou, ou que dá na mesma, que sentenças como Um homem é macho ou Se x é um homem, eutão x é macho são analíticas As regras semânticas podem também envolver partículas lógicas como 'e', 'ou', 'não', etc. :
(2) (a) homem � macho e adulto
(b) mulher � fêmea e adulto
(c) fêmea � não macho
(d) criança � não adulto
(e) homem ou mulher ou criança
� humano
Assim, o significado de um item lexi cal de uma língua é definido implicitamente pelo conjunto de todos os postu lados significativos que nele ocorrem.
O segundo tratamento mencionado, o da análise componencial, define o signi ficado de um item Iexical explicitamente em termos de componentes semânticos. Mas tais componentes não devem ser tomados como parte do vocabulário da própria língua, e sim como elementos teóricos, requeridos a fim de descrever as relações semânticas entre os elemen tos lexicais de uma língua. Estes com ponentes são também conectados através de partículas lógicas, como se depreende dos seguintes exemplos:
(3) (a) homem: ANIMADO e HUMANO e MACHO e ADULTO
(b) mulher: ANIMADO e HUMANO e Ff:MEA e ADULTO
(c) potro: ANIMADO e não HUMANO e EQÜINO E MAC��O
e não ADULTO
Na verdade, tal sistema de definições de itens lexicais compreende regras de implicação que acarretam à descrição grande redundância. Eis algumas regras depreendidas dos exemplos acima:
(4) HUMANO -> ANIMADO
MACHO ou Ff:MEA � ANIMADO MACHO � não FÊMEA
Ff:MEA � não MACHO
EQÜINO � não HUMANO mas ANIMADO
Daí podermos ter (5a) como uma sim plificação da forma plena (5b), expres sando a primeira as generalizações mais relevantes sobre a estrutura semântica do vocabulário descrito:
(5) (a) homem: HUMANO e MACHO e ADULTO
(b) homem: ANIMADO e HUMANO e MACHO e não Ff:MEA e ADULTO
Do confronto dos dois tipos de tra tamento acima expostos, conclui-se que há certamente uma grande relação entre ambos. Assim, uma análise componen cial do tipo ilustrado em (3) e (5) pode ser convertida em um sistema de regras semânticas e, ao contrário, um sistema de regras semânticas como o ilustrado em (1) e (2) pode ser convertido em um sistema componencial. Contudo, obser ve-se que o estatuto de elementos como macho em (1) e (2) não é o mesmo que MACHO em (3) e (5) : no primeiro caso é entendido como pertencente à língua descrita, enquanto no segundo caso são elementos puramente teóricos. De qualquer modo, consideramos ambas as análises como formalmente equiva lentes, não havendo motivos suficientes para quebrar lanças por uma ou por outra.
Outra comprovação a que nos levam tais análises é a da existência de rela ções do significado entre os diferentes itens lexicais, ou seja, os itens lexicais acabam por poder ser descritos através de definições internas. De um modo mais explícito, queremos dizer que, se o significado de uma p alavra é um com plexo de componentes (ou traços, ou marcadores) semânticos, há relações entre as propriedades semânticas dos diversos itens que podem ser definidas. Assim, homem e mulher são 'antôni mos' porque o primeiro item lexical tem um componente C onde o segundo tem C', sendo C e C' componentes mutua mente exclusivos; celibatário e solteiro são 'sinônimos' porque apresentam os mesmos componentes conectados pelas mesmas partículas lógicas, etc.
4.1.
No padrão de representação lógico
-semântica, as formações por modali zação são entendidas como procedimen tos lógico-gramaticais qUe! conduzem a esquemas lingüísticos determinados, em pregados para indicar ou identificar "coisas" (substâncias) ou "processos". Em síntese, trata-se de uma estrutura abstrata ell função da qual se podem conceber os esquemas lingüísticos que têm a função de identificar e os que têm a função de predicar. Os primeiros devem ser representados na estrutura lógico-semântica por expressões quanti ficadas do tipo argumento, os últimos serão representados como predicados lógicos, a que reservamos o nome de predicadores. Assim, com os termos predicador e argumento queremos carac terizar, neste nível, respectivamente o "processo" e a "substância".
A frase é pois aqui vista como uma unidade estruturada na base de um predicador e pelo menos um argumento, ambos determinados por formadores ou expoentes lingüísticos de diferentes tipos. Está claro, dessa forma, que os símbolos categoriais que vão representar a estru tura lógico-semântica profunda não deverão conter a noção de "classes de palavras" (N, V, Adv, Art) ou de "constituintes imediatos" (SN, SV, SA). Os símbolos categoriais deverão ser re presentações de classes semânticas reais ou propriedades que atravessam as áreas cobertas pelas tradicionais classes de palavras.
Há, portanto, a possibilidade de re presentar simbolicamente a estrutura lógico-semântica da frase como uma proposição de dois elementos mínimos: Pr + Argn, ou seja, um predicador e um número variável de argumentos, nunca inferior a 1. Desta forma, não há, na estrutura mais profunda, proposições reduzidas ao predicador [7], e sim pro posições com argumento implicado no predicador, por um processo transfor macional comum a muitas línguas. Assim, em chove (IngI. it's raining, Fr. iI pluit, Esp. lIueve, It. piove) há um argumento implicado no predicador, como uma declaração que se faz sobre o tempo[8]
4. 2.1.
Irena Bellert (1969) estudou os tipos de argumentos depreensíveis numa estrutura lógico-semântica, tendo chegado a três tipos. O argumento tipo- l corres ponde ao que aparece em sentenças em que o locutor identifica tão somente um "objeto", e lhe atribui um predicado. As frases (6)-(9) exemplificam as ocorrên cias desse tipo de argumento:
(6) Mário casou-se.
(7) O rapaz casou-se.
(8) Mário foi horrivelmente acidentado.
(9) Aconteceu um horrível acidente com o rapaz[9].
Ê plausível supor que, para cada sen tença com uma referência particular, é possível encontrar uma paráfrase em que ocorrerão tantos índices lingüísticos quanto o número de "seres" que se supõe serem identificáveis no momento
em que uma sentença é pronunciada num processo normal de comunicação. Assim, consideramos a frase (7) como paráfrase de (6) e a frase (9) como paráfrase de
(8). O emitente de qualquer uma dessas mensagens ( consideremo-las como men
sagens intencionais, e não como meros exemplos) tenciona identificar tão so mente um indivíduo (o qual deverá ser identificado pelo destinatário da mensa gem, de acordo com o contexto situa cional), ao qual aplica o predicado (casou-se ou foi horrivelmente aciden tado). Certamente, se não forem satis feitas as condições de identificação pelo contexto situacional, o destinatário sem dúvida reagirá, para compreender inte gralmente a oração, perguntando: "Qual Mário?" ou "Que rapaz?". Dessa forma, um índice lingüístico pode estar acom panhado de um esclarecimento mais detalhado, cuja realização será do tipo:
(10) ) Mário, o filho do compadre, casou-se.
(11) Meu sobrinho Mário casou-se.
(12) Aconteceu um horrível acidente com o rapaz que mora na minha casa.
Enfim, tal tipo de argumento pode ser chamado "operador descritivo".
4.2.2.
O argumento tipo-2, de acordo com Irena Bellert, corresponde àqueles que servem para indicar todos os "objetos" ou "indivíduos" aos quais se aplica um predicado lógico. São reconhecidos na estrutura de superfície por quantificado res como "todos", "cada" e outros tipos de formadores. As frases (1 3)-(1 6) são exemplos em que ocorre tal tipo de argumento:
(13) Todos os membros do partido aprovaram o nome do candidato.
(1 4) Cada empregado deve ter seu próprio seguro.
(15) Os alunos podem matricular-se até fevereiro.
(1 6) Meus pais são jovens.
Em vista dos exemplos acima, a pri meira observação a ser feita diz respeito à possibilidade de deslocamento do quantificador na superfície, podendo mesmo aparecer como determinante do verbo. Assim, o exemplo (17) será uma perfeita paráfrase de (1 3), com argu mentos de mesmíssimo valor:
(1 7) Os membros do partido aprova ram unanimemente o nome do candidato.
Observe-se, ainda, que o argumento da frase (1 6} é do tipo-2 porque tem um valor distributivo, pois a juventude se aplica a cada membro individual refe rido pela expressão descritiva "pais": Meu pai é jovem, Minha mãe é jovem. O exemplo (1 6) não pode ser confun dido com o exemplo (18): Meus pais compraram uma casa.
Os exemplos (1 5)-( 1 6) evidenciam, por outro lado, que não há necessaria mente a presença de um quantificador explícito na estrutura de superfície. É a interpretação do valor subjacente à expressão do argumento que permite depreender a referência à totalidade. E é essa mesma interpretação do valor subjacente que deve ser levada em conta quando da análise de "aparentes" ope radores descritivos (tipo- I), como em (1 9)-(20):
(18) O homem é mortal.
Por certo, subjacentemente às expres sões "o homem" e "o rato" nos exem plos acima, ocorrem operadores que indicam a totalidade: "todos os homens são mortais"; "todos os ratos pertencem à família dos roedores". Mas observe-se que tal interpretação se dá em função do predicado lógico aplicado ao argu mento. A mesma interpretação não seria possível para o argumento do exemplo (2 1):
(2 1) O rato escondeu-se atrás. da geladeira.
4.2.3.
c:ial", que 'pode ser do sub-tipo quân tIco-determmado, como em:
(22) Cinco pessoas estiveram hoje
aqui.
(23) Um menino chorava copios a mente.
(24) Poucas pessoas estiveram hoje aqui.
(25) Vários meninos choravam copio samente.
(26):
(26) Poucas pessoas, exatamente cinco, estiveram hoje aqui.
4.3.1.
Os exemplos (27)-(29) ilustram as ocorrências com predicadores descriti vos:
(27) O herói lutou bravamente.
(28) Todos os cachorros correm atrás de gato.
(29) Alguns alunos pensavam com propriedade.
Os exemplos (30)-(3 3) ilustram as ocorrências com predicadores atribu tivos:
(30) Aquele rapaz tem valor.
(3 1) Algumas meninas eram simpá ticas.
(32) A Terra parece redonda.
(33) Todos os marginais estão presos.
Percebe-se claramente a diferença formal entre os dois tipos de predica·· dores: o segundo é marcado pela pre sença de um formador atributivo, repre sentado em português pelos verbos copulativos, enquanto o primeiro não tem tal marca.
4.3.2.
Um papel semântico importante é
desempenhado pelo formador negativo 'não', determinante do predicador[10]. Assim, nas frases contraditórias, a
adição do formador negativo transfor ma-as em tautologias. Vejamos alguns exemplos:
(34) (a) Estes meninos são adultos.
(contradição)
(b) Estes meninos não são
adultos. (tautologia)
(35) (a) O irmão mais velho de
Pedro é m ais novo
que Pedro. (contradição)
(b) O irmão mais velho de
Pedro não é mais novo
que Pedro (tautologia)
Inversamente, a adição de um forma dor negativo a uma frase tautológica acarreta uma contradição. Assim:
(36) (a) Este menino é uma criança.
(tautologia)
(b) Este menino não é uma
criança. (contradição)
(37) (a) Os fiatelistas colecionam
selos. (tautologia)
(b) Os filatelistas não colecionam
selos. (contradição)
4.3.3.
Pode-se afirmar, entretanto, que as características dos predicadores descri tas nos sub-itens acima em nada afetam a seleção deste ou daquele tipo de argu mento. Mas, a presença de propriedades semânticas particulares nos predicadores, como as relacionadas ao tempo, espaço, duração do processo, etc., pode ser deci siva quanto à seleção ou restrição deste ou daquele tipo. Assim, algumas ativi dades são vistas como necessariamente prolongadas no tempo, outras não; este contraste é normalmente apresentado em termos de processo "continuativo" e processo "momentâneo", respectiva mente[11]. Por exemplo, dormir, é um predicador continuativo, acordar é mo mentâneo. Uma prolongada atividade, ou estado, ocupa necessariamente uma porção do tempo; daí ser possível deter minar um verbo continuativo com um expoente que precise a duração. Faz sentido, portanto, o que se exprime em (38), mas não o que se exprime em (39):
. por três dias
(38) Ele dormIU até sábado
(39) '"' Ele acordou { por três dias }[12] .
Por outro lado, a forma negativa de um verbo momentâneo pode identificar um estado contínuo, admitindo, pois, a construção com tal tipo de expoente. Daí fazer sentido a frase (40):
(40) Ele na_ o acordou r por três dias Observe-se, entretanto, que, se a ex
pressão complemento de um predicador momentâneo for representada por um operador múltiplo-parcial, do sub-tipo quântico-indeterminado, tal predicador adquirirá um valor "iterativo", identifi cando um prQcesso que é repetido em espaços de tempo. Assim, acordar re presenta, no exemplo (41), um valor iterativo: um expoente que especifique a duração' como é o caso do exemplo (42):
(42) Ele esmurrou o adversário até o
89 assalto.
Com relação ao valor iterativo que podem apresentar os predicadores mo mentâneos, uma restrição deve ser feita: se o predicador momentâneo indicar "mudança de estado", ele não poderá ser usado iterativamente quando um objeto específico ("operador descritivo") está envolvido, como em (43):
(43) * Ele quebrou o vaso até as 5
h da tarde.
Mas se estiver tal predicador seguido de um argumento tipo-2 ou tipo-3 ("ope rador total" ou "operador múltiplo-par cial"), então poderá ser empregado ite rativamente, como em (44)-(45):
(44) Ele quebrou todos os vasos até as 5 h da tarde
(45) Ele quebrou vários vasos até as 5 h da tarde.
Enfim, com relação ao emprego do "operador total" nesta construção, cabe a seguinte nota: dada a agramaticalidade do uso do quantificador cada nesse tipo de frase, como mostra o exemplo (46), seu valor semântico será expresso, na estrutura de superfície, através do des dobramento sintático do argumento,
(4 1) Ele acordou, alguns dias
t vários sábados como bem ilustra o exemplo (47):
Ele quebrou cada vaso atéJá os predicadores tipicamente itera tivos, como esmurrar, poderão ser acom panhados de operador descritivo mais as 5 h da tarde .
(47) Ele quebrou vaso por vaso até as 5 h da tarde.
4.4.
Há, ainda, a possibilidade de carac terizar os predicadores de acordo com o número de argumentos que admitem
Conforme já assinalamos no item 4 � 1 . • toda construção de tipo lógico-seniâqtico se dá na base de uma relação mínima entre um Argumento e um Predicadpr. Mas deixamos entrever que podemos ter, numa proposição, dois ou mais Argu mentos. Daí a fórmula de . proposição sugerida: Pr + Argn, em que n � 1. Há, não obstante, um limite teórico' 'd,e 'argu mentos. Em português, por exem,plo, podemos ter verbos de 1, de 2, de , 3 ,e até mesmo de 4 argumentos, respectiva
mente ilustrados nas frases abaixo: ·
(48) Pedro caiu.
(49) Pedro comprou tecidos.
(50) Pedro ofereceu alguns livros à namorada.
(5 1) Pedro comprou do João um livro para a Clélia[13].
Entretanto, muitos predicaclores · são flexíveis quanto ao número , de . argu mentos, como comprovam os dois exem plos acima com o predicador . comprar. Também com quebrar, afundar, incen diar, etc., podemos ter, por exemplo, os
seguintes tipos de concatenação. · com argumentos:
(5) a) Mário quebrou a janela com uma pedra.
(b) Uma pedra quebrou a j anela.
(c) A j anela quebrou.
(53) (a) Os inimigos afundaram o navio com um tiro de canhão.
(b) Um tiro de canhão afundou o navio.
(c) O navio afundou.
(54) (a) Um rapaz incendiou o depó sito com um cigarro aceso.
(b) Um cigarro aceso incendiou o depósito.
(c) O depósito incendiou.
5.1.
A exemplificação acima, como todo o item 4 . 4 ., serve-nos como ponte para a apresentação do terceiro padrão de preendido na estrutura profunda, o "sin tático-semântico". Como vimos, este padrão se caracteriza por processos for
mativos a que propusemos o nome geral de "formações por concatenação". Já chamamos a atenção, no item 2. 1., para o . caráter das relações semânticas dos sintagmas nominais (argumentos do 29 padrão) com o verbo ou sintagma verbal (predicador do 29 padrãó). Ora, na des crição lingüística do padrão sintático
-semântico deve-se, portanto, proceder a abstrações do papel específico desem penhado por cada sintagma nominal de
uma dada proposição. Esta tarefa con,duzirá à observação de que os papéis desempenhados por tais sintagmas estão em estreita relação com o próprio cará ter semântico dos verbos com que se associam. A "formação por concatena ção" corresponde, pois, a constituir uma proposição em que se estabelece uma interdependência semântica e sintánais, cuja escolha e opcionalidade são determinadas pelo próprio verbo. É oque nos evidenciam os exemplos (53)
(55 ) acima arrolados. Se conferirmos a cada argumento (Sintagma Nominal) um rótulo "casual" - de acordo com a teoria de Fillmore - em conformi dade com o papel semântico que desem penhe (Agentivo para instigador do pro cesso verbal; Objetivo para objeto ou coisa atingida pelo processo verbal; Instrumental para nome de força ou objeto inanimado causalmente envolvido na ação expressa pelo verbo, etc.), tere mos determinado o traço de construção característico de qualquer um daqueles três verbos, isto é, a forma como se con catenam, sintática e semânticamente, os argumentos passíveis de ocorrer com aquele tipo de predicador. Seria o se. guinte o traço de construção: [
O (1) (A) l. Isto significa que tal tipo
de verbo deve ter um caso Objetivo, e pode ter facultativamente um caso Ins trumental (I) e um caso Agentivo . (A). Em outros termos: predicadores como quebrar, afundar ou incendiar são verbos que se concatenam com três casos (Ob jetivo, Instrumental e Agentivo) ou com dois casos (Objetivo e Instrumental) ou com um caso (Objetivo)[14]
As descrições lingüísticas deste padrão estrutural ' deverão conduzir a um con junto finito de casos universais que estão presentes em cada língua parti cular� Não se trata de investigar os "casos"� . portanto, como "funções se mânticas de afixos flexionais nos nomes ou , as relações de dependência que se mantêm entre afixos nominais específi cos e propriedades léxico-gramaticais de elementos 'vizinhos" (Fillmore, 1968, p. 2). Enfim, o "caso" não é examinado como uma categoria da estrutura de superfície, ; tal como é apresentado nas gramáticás do grego e do latim (caso nominativo, genitivo, acusativo, ablativo, etc:) e ' sim como um estudo dos impor tantes e formais universais lingüísticos.
'Dt;Ssa ' forma, os "casos" constituem verdade�ras "categorias encobertas", na medida ' em que se apresentam como propriedades semântico-gramaticais des providas de realizações morfêmicas ma nifestas, mas que "têm uma realidade que' pode Ser observada na base de res trições ' seletivas e possibilidades trans
formacionais" (Fillmore, 1968, p. 3).
Daí Serem vistas as "relações casuais" como relações sintáticas, semanticamente :.relevantes, envolvendo os nomes e ils estruturaS que os contêm, e formando
um conjunto finito específico.
5.2.'
, A' ahálise das relações casuais entre os ' : siMàgm.as nominais e o sintagma verbal " na estrutura profunda permite
'desd:ibrir o modelo único subjacente a toda série de frases superficialmente diferentes. Tomemos, por exemplo, as frases (56)-(59) com estruturas sintáticas superficiais específicas:
(56) Os meninos começaram a correr
, " " por um caminho sem fim.
(57) ' Acabou de correr mar adentro.
(58) Bandos de camponeses haviam corrido as ruas da cidade.
(59) As ruas da cidade haviam sido corridas por b andos de campo neses.
As diferenças entre estas quatro frases são patentes. Vejamos algumas: quanto ao sujeito, ora está claramente expresso, ora oculto; além disso, se ele é ativo nas frases (56), (57) e (58), já na frase (59) não o será; o verbo auxi liar varia de exemplo para exemplo, com conseqüente variação do valor aspectual; também se observa a varia
. ção entre os tempos pretérito perfeito c pretérito mais-que-perfeito; o comple mento é preposicionado numas frases e diretamente relacionado ao verbo nou tras, com conseqüente variação de funções: complemento adverbial, com plemento direto e complemento agente da passiva; aliás, a própria voz verbal se manifesta como ativa nas frases (56)
(58) , e como passiva na frase (59 ) .
Embora outras diferenças mais pos sam ser apontadas na estrutura de super fície, a análise das relações semânticas entre os sintagmas nominais e o verbo, em estrutura profunda, há de mostrar a identidade estrutural dessas quatro frases. Assim, em todas elas há um sintagma nominal (não importa se expresso ou se oculto na estrutura de superfície) que
funciona como agente - instigador que é da ação verbal; há outro sintagma nominal que assinala a direção exten sional do verbo - funcionando pois como direcional. Por isso, podemos falar de uma arquifrase subjacente a essas quatro frases realizadas, cuja estru tura pode ser assim representada: (SNag + SV + SNdi) ou [
Di, Ag l.
6.
Uma vez analisados os três padrões de representação semântica por nós propostos, cabe uma abordagem final do problema da equivalência semântica entre frases. O problema, que pode ser colocado a partir das frases (56)-(59) acima, é o seguinte: se apontamos uma mesma arquifrase subjacente às quatro frases, quer isso dizer que elas são semanticamente equivalentes? A respos ta correta deverá ser esta: as duas pri meiras, (5 6) e (57), são semanticamente equivalentes quanto ao terceiro padrão (sintático-semântico), mas não quanto aos demais; já as duas últimas, (58) e (59), são semanticamente equivalentes com relação a todos os padrões.
Assim, a equivalência semântica pode ser relativa a um padrão particular, com exclusão dos demais, ou simultaneamente a dois padrões, ou, de forma total, aos três padrões. Vejamos, inicialmente, estes dois exemplos:
(60) Aquele celibatário coleciona selos.
(6 1) Alguns solteiros são filatelistas.
Com respeito a estas duas frases, pode-se dizer que são semanticamente equiva lentes relativamente ao padrão referen cial-semântico, mas não aos demais. De fato, em relação ao primeiro padrão, uma vez consideradas as regras de im plicação (p. ex ., filatelista � colecionar selos), vamos encontrar os mesmos com ponentes semânticos nos termos corres pondentes de uma frase à outra. Mas o mesmo não se pode dizer com relação ao segundo e terceiro padrões. Assim, na análise do padrão lógico-semântico, logo deparamos com um "operador des critivo" em (60) e um "operador múl tiplo-parcial" em (6 1), além de se apre sentarem ambas as frases com um núme ro diferente de argumentos; já na aná lise do padrão sintático-semântico, per cebe-se não ser o mesmo o papel repre sentado pelos sintagmas nominais nos dois exemplos: basta notar o papel ativo de celibatário em (60), em contraposi ção ao papel estático-descritivo de solteiros em (6 1), além de um "caso" a mais representado em (60).
(62) Todos os alunos aclamaram o professor.
Quanto a estas duas frases, pode-se dizer que não apresentam qualquer equi valência semântica com relação ao pri meiro padrão, já que os itens lexicais correspondentes de uma à outra apre sentam pouquíssimos componentes se mânticos em comum; mas são semânti camente equivalentes quanto aos padrões segundo e terceiro, já que os mesmos tipos de operadores, e predicadores também de mesmo tipo, aparecem em ambas, desempenhando os Sintagmas Nominais correspondentes o mesmo papel semântico com relação aos verbos, que aliás apresentam o mesmo traço de construção.
(64) Alguns funcionários censura ram o colega.
Nelas se nota, primeiramente, uma cor respondência semântica termo a termo, de tal forma que os itens lexicais que ocupam a mesma posição nas duas frases apresentam os mesmos compo nentes semânticos; podemos dizer, por isso, que são sinônimos. Os operadores são também correspondentemente do mesmo tipo ("múltiplos-parciais" e "des critivos"), apresentando os verbos as mesmas características semânticas ("des critivos", "continuativos", etc.). Enfim, o traço de construção é o mesmo para ambos os verbos, que selecionam "casos" idênticos. Pode-se dizer, portanto, que estamos diante de uma equivalência semântica total, uma vez que se dá com relação aos três padrões subjacentes.
7.
a) Só um nível de representação semântica tem o poder explicativo que se espera de uma teoria lingüística.
° conteúdo semântico relacional, resul tante das relações específicas que os nomes e os verbos mantêm entre si no interior da frase.
d) Na estrutura profunda distin guem-se três diferentes padrões de re presentação semântica, caracterizados pela presença de regras formativas com diferentes graus de complexidade (V. gráfico representativo).
152
3.
ESTRUTURA DE SUPERFíCIE
� frase realizàda
2.
ESTRUTURA INTERMEDIÁRIA
1.
ESTRUTURA PROFUNDA
Padrão lógico semântico
(regr. formo lexical) (regr. formo p/modaliz.) (regr. formo p/concat.)
- - Definições
r Operador descrit.
- Argumentos total
Relações caSUaiS
TELMO CORREIA ARRAIS 153
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[1] Para uma visão pormenorizada das idéias dos vários autores de ambas as correntes, consulte-se Michel Galmiche (1975), que faz um balanço crítico de tais orientações teóricas de modo bem abrangente.
[2] Chomsky (1972, p. 75-76) aponta a "obscuridade" e a "confusão" como os véus que cobrem este domínio, confor me se depreende desta passagem: "A good part of the critique and elabora tion of the standard theory in the past few years has focussed on the notion of deep structure and the rela tion of semantic representation to syntactic structure. This is quite natu ral. No area of linguistic theory is more veiled in obscurity and confu sion, and it may be that fundamentallv new ideas and insights will be neected for substantial progress to be made in bringing some order to this domain."
[3] Lakoff desenvolve cada uma dessas noções, mas deixa em aberto, declara damente, a questão da existência de outros elementos da representação semântica de que se deva dar conta.
[4] McCawley explica que emprega referi?em conexão com o 'referente intencio nal' de um sintagma nominal, e não com seu 'referente real', ou seja, os índices correspondem a itens no quadro do universo mental do falante e não a coisas reais no universo.
[5] Cf. Charles Fillmore (1968, p. 24-25 ; 1969, p. 115-116 ) e Don Lee Fred Nilsen (1972, passirn).
[6] o mesmo ocorre com a expressão "estrutura profunda", que para alguns corresponde ao componente sintático da frase, enquanto para outros cor responde ao componente semântico ou sintático-semântico.
[7] Trata-se, na superfície, das tradicio nais "orações de verbo intransitivo sem sujeito".
[8] Os "casualistas", por exemplo, expli cam tais construções como um verbo + um caso nacional agentivo, transfor mado em zero numa asserção sobre o tempo. ( Cf. Ivan POldauf, 1970, p. 124 >.
[9] Note-se que o argumento não coincide necessariamente com os termos que ocupam a posição do sujeito grama tical.
[10] A análise desse e de outros formado res é desenvolvida por Geoffrey Leech <1969, p. 44-59 ).
[11] Cf., por exemplo, Charles Fillmore (1969, p. 112 e segs. ).
[12] A anteposição do asterisco à frase indica sua agramaticalidade.
[13] Os argumentos, sintaticarrierit� conca tenados em funções diversas com <> predicador, apresentam-se em ; número finito. 11: ilusório pensar-se: que, · com' argumentos em desempenho de uma mesma função, pode ter-se um ilimitado. Assim, a frase
(52) Pedro comprou uma borracha, dois lápis, três livr:>s, alguns cadernos, . . ,
é tão somente o resultado na superfí cie de uma transformação por supres são e conseqüente coordenação dos elementos de função idêntica. Em profundidade, teríamos :
(a) Pedro comprou uma borracha'. ,
) Pedro comprou dois l�pis. Etc..
[14] Convém não confundir a concatena ção em estrutura profunda com a concatenação em estrutura de super fície, esta também passível de descri ção. :EJ certo, entretanto, que a con catenação em estrutura de superfície tem grande dependência da concate nação em estrutura profunda, uma vez que dela deriva. Pode-se observar, assim, na construção em que ocorre o Agentivo, que este é automatica mente o Sujeito na estrutura de superfície ; na construção que n,ão tem Agentivo e sim Instrumental, este assume a posição de Sujeito na 'super fície ; enfim, na construção em que não há Agentivo ou Instrumental; 'o Objetivo torna-se automaticamente . o Sujeito na superfície (Cf. FilImore, 1968, p. 33) .