FLEISCHMANN, Eugene - Fin de la sociologie dia­ lectique? Essai d'appreciation de I'Écol'e de Francfort, in Archives Européennes de Sociologie, Tome XIV, 1973, Número 2, pp. 1 59- 1 84.

 

 

NELSON BOEIRA

 

 

O trabalho contém uma bibliografia atualizada e bem sele­ cionada, relativa a análise críticas da Escola de Frankfurt. O autor, bem conhecido por seus trabalhos sobre Hegel e Weber, propõe-se a examinar as razões do impasse teórico com que se defronta atualmente a Teoria Crítica da Escola de Frankfurt. (A denominação "escola", já se disse insistente­ mente, não é muito rigorosa, pois os autores reunidos sobre essa sigla não estão claramente integrados em um mesmo corpo doutrinário sistematizado). Para Fleischmann, esse impasse é na verdade um fracasso, espelhado na incapacidade de compreender os acontecimentos políticos recentes e orien­ tar sua solução. Assim, a Teoria Crítica, que pretende ser uma teoria dotada de eficácia política, experimenta sua debi­ lidade no terreno mesmo que a deveria legitimar. O impasse dessa teoria politicamente orientada possui um valor exemplar para o autor: tais dificuldades revelam os embaraços com que se confronta a racionalidade das ciências sociais em nossos dias.

A análise de Fleischmann está dividida em três partes relati­ vamente estanques. Num primeiro momento, o autor analisa as contribuições mais clássicas da Escola (Horkheimer, Adorno, Marcuse), descrevendo, de um lado o impasse de suas propostas de transformação ou intervenção na sociedade, de outro o irracionalismo que parece estar na raíz da Teoria Crítica - nas suas formulações mais tradicionais. Num se­ gundo momento, Fleischmann examina as contribuições de Habermas, que considera de qualidade muito superior às men­ cionadas acima. Surpreendentemente, a ironia crítica e pode­

-se dizer, um certo desprezo dispensados aos autores exami­ nados no primeiro momento da análise, é aqui substituída pela candidez crítica - que impede o autor de ver problemas óbvios existentes nas propostas de Habermas. A última etapa do trabalho é dedicada à recente polêmica sobre o Positivismo na Sociedade alemã, análise de valor muito reduzido, que se coloca aquém do puramente descritivo. Examinemos brevemente esses três momentos da análise, completando-os, quan­ do possível.

Se a Teoria Crítica vê sua eficácia na possibilidade de realizar uma emancipação ou um esforço de emancipação do ser hu­ mano, através de um exercício crítico que revela, nas dimen­ sões mais variadas da prática histórica, as estruturas de do­ minação que regulam a vida social, cabe perguntar em que medida satisfaz esse desiderato. Por outra: em que medida a Teoria C rítica, que se quer pensamento eficaz, tem no exer­ cício crítico a que se propõe, um instrumento capaz de com­ preender a sociedade e apontar-lhe soluções? O tema central da análise de Fleischmann é portanto o exame das alterna­ tivas e instrumentos de transformações sociais propostos pela Escola. Num outro plano, não claramente tematizado, mas que perpassa toda a análise, procura-se fazer refluir sobre a Teoria Crítica os critérios com que esta examina outras pro­ duções culturais. Infelizmente, a análise de Fleischmann reduz-se ao estudo da irracionalidade presente ou latente em alguns de seus defensores. Como é sabido, um dos alvos cen­ trais da Escola de Frankfurt é a racionalidade formal da ciência e da sociedade modernas. (Preocupação que de resto a integra profundamente na tradição filosófica e sociológica alemã). A tarefa crítica consiste aqui em desvendar o irracio­ nalismo das estruturas de dominação subjacentes a essa sociedade tecnicamente sempre mais eficaz e mostrar como uma ciência puramente formal, desligada de valores huma­ nos, não é senão a contrapartida dessa sociedade. O que a análise de Fleischmann mostra é que, no esforço de desvendar a irracionalidade oculta da ciência e da sociedade tecnica­ mente manipuladas, a Teoria Crítica coqueteia sempre mais com o irracionalismo, destruindo a nova racionalidade que visava constituir. Fleischmann descreve esse impasse, mas não aprofunda seu exame, identificando na teoria o fracasso dessa crítica. De fato isso seria tanto mais necessário quanto a Teoria Crítica parece incapaz de superar suas funções pu­ ramente negativas, isto é, a desideologização da ordem social existente. Seria interessante detectar nessa teoria o que impe­ de uma integração entre a crítica da ideologia e uma teoria da revolução. Isso implicaria numa elaboração das bases sociais que contêm os interesses que a Teoria Crítica visa realizar. As­ sim, a Teoria Crítica que desvenda em todas as produções so­ ciais a sua natureza interessada, não é capaz de assumir refle­ xivamente essa mesma dimensão nela própria. Isso, ao contrário do que poderia parecer, não resolve seus impasses frente à prática - pois nega para si o que considera constituir toda e qualquer prática - mas a condena a permanecer negativa, capaz de revelar o interesse alheio, incapaz de justificar um interesse transformador. Infelizmente, todas essas questões ligadas a reflexividade crítica necessária ou a fundamentação do interesse universal que a Teoria Critica deve incorporar não são examinados pelo autor. O problema poderia ter sido explorado pelo lado da ideologia (que a Escola vê presente em toda manifestação social), procurando examinar a validez da universalidade que lhe é atribda. Ou melhor: como, frente a ideologização universal, a crítica da ideologia legitima-se a si mesma. Veremos mais adiante que o modelo marxista de uma classe que realiza ao mesmo tempo a crítica da ideologia e a transformação da sociedade (vale dizer, uma confirma­ ção histórica, para além do teórico) não parece aceitável a Escola de Frankfurt. A fundamentação husserliana, que jutifica-se transcendentalmente ao tematizar seus fundamentos na Lebenswelt ou o modelo hegeliano, onde a "ideologia", que é momento do itinerário, ponto-de-vista parcial, é utilizada como conteúdo que orienta para o ponto-de-vista da totali­ dade, são, uma e outro, recusados pela Teoria C rítica. Assim, esta última pode apenas revelar o que outras teorias possuem de ideológico, mas não pode fundamentar sua pretensão à verdade, vale dizer, da acusação de ideologia.

Retornemos à análise de Fleischmann. A Teoria Crítica pro­ cura partir do elemento central da sociedade moderna: a do­ minação voltada para a manipulação técnica, que faz dos individuos instrumentos para a exploração da Natureza. Para entender como essa dominação pode se apresentar (e de fato

se apresenta) como perfeitamente racional, exige-nos o exa­ me de dois problemas diversos e interrelacionados. pe um lado a tradicão do Iluminismo via no advento da Razao como condutora da história humana, o sinal indicativo do reino da liberdade. De fato, a Razão, faculdade essencialmente crítica, permitiria uma autonomia da decisão e yma e:rnc.ipação da coerção que a Natureza exerce sobre os._ A clenla I?aecIa

então como o instrumento para a reahzaçao desse lmpeno da Razão. O marxismo, por sua vez, nos mostra que racional­ dade da história pode ser coagida pelas estruturas _de dom!­ nação, cuja base é, em última instância, a dominação economica. A Teoria Crítica, por sua vez, ve na reahzaçao da racionalidade histórica uma dialética negativa: a lógica da História nos conduz não à liberação, mas à destruição da liberdade. Com isso, a revolução deixa de apresentar-se como uma necessidade histórica. A racionalização da vida social, conduzida pelo interesse na dominação da natureza, resulta no oposto da liberação humana. Essa racionalidade perver­ tida tem como única reação possível, para a Teoria Crítica, um esforço ainda maior de crítica, isto é, uma tentativa de oposição no plano teórico.

O elemento que serve tanto de instrumento como de ideologia para a racionalização formal da sociedade é a ciência na sua acepção positivista. O caráter positivista dessa ciência con­ siste fundamentalmente num saber orientado para a domina­ ção e a manipulação da Natureza, avesso aos valores humanos, que na formalização um ideal do procedimento científico. Desse modo, como aparece mais claramente em Habermas, a ciência positivista e a técnica não só servem a dominação - organização da vida social segundo as leis da Natureza - como igualmente a justificam. Não é de estranhar, nota Fleischmann, que tal concepção nos leva a compreender a ati­ vidade teórica como o lugar específico da atividade política liberadora.

Fleischmann examina rapidamente as sugestões de Marcuse, Horkheimer e Adorno para uma modificação dessa racionali­ dade pervertida. Horkheimer pensa na possibilidade de duas ocorrências: de um lado, uma revolta espontânea contra a dominação irracional, revolta que não está livre de uma mani­ pulação ainda mais irracional, como no nazismo; de outro, a possibilidade de uma resistência no plano filosófico, através da defesa de um ideal de uma sociedade livre. Essa última tarefa requer a crítica contínua da dominação existente. A preservação ou instalação do reino da liberdade é transferida para o futuro e além disso a consciência crítica passa a ser encarnada por indivíduos. A transferência para o futuro, retira a possibilidade de uma confirmação histórica da efi­ cácia da crítica. Essa impossibilidade de intervenção na sociedade, aliada a universalidade da ideologização desta, geram e justificam o caráter utópico das proposições da Es­ cola. Somente as propostas que se põe no futuro, na dimensão do imaginário, escapam a essa ideologização. A tarefa crítica acaba-se reduzindo a crítica da dissimulação. O impasse da filosofia da história da Escola de Frankfurt torna-se o im­ passe de sua tarefa crítica e a partir daí, de sua eficácia.

Fleischmann é especialmente rigoroso com relação a Marcuse. Se em Horkheimer via a demissão do pensamento eficaz, em Marcuse o abandono ao irracionalismo. De fato, o conceito de repressão, tal como desenvolvido em Eros e Civilização, implica no abandono completo de um sujeito histórico res­ ponsável. A transformação da sociedade não é mais dada pelo pensamento crítico, mas pela revolta biológica. A reação instintiva, fundamento da transformação, reduz a interven­ ção racional e a função da teoria a um segundo plano.

 

Em Adorno, que concebe a História como um processo onde a racionalidade se nega a si mesma, o pensamento não pode ir além do reconhecimento de sua impotência. O sujeito da His­ tória é transformado pela lógica da racionalização no objeto desse processo. Além da resignação, resta ao homem a pos­ sibilidade de, pela mimesis, buscar uma nova relação com a Natureza, não fundada na manipulação e na utilização téc­ nica. Fleischmann aproxima esta concepção da concepção heideggeriana da história do pensamento, onde os desencon­ tros do pensamento regem-se por uma lei contra a qual o ser humano é impotente. Lucio Colletti indicou essa aproxi­ mação entre o pensamento da Escola e de Heidegger: em ambos a ciência é vista como oposta ao pensamento, em ambos a história humana é vista como uma errância, um extravio. Fleischmann conclui que o abandono da intervenção prática da Teoria Crítica vem a par com o irracionalismo de sua con­ cepção de Histótia. A Teoria C ritica mostrou-se assim incapaz de realizar sua intenção principal. Se a critica de Fleischmann descreve o impasse, ela não mostra que mesmo assim a Teoria Critica pode servir a reflexão consistente, obrigando-nos a examinar todas as implicações sociais das produções cientí­ ficas, mostrando-nos ainda que a crítica da ideologia pode ser estendida ao estudo das concepções de metodologia científica, revelando a natureza da compreensão que uma ciência tem de si mesma. Esse esforço de reconstruir uma dimensão crítica no interior da ciência, embora não empreendida pelos autores examinados até aqui, é uma herança latente que foi retomada por Habermas.

 

Na segunda parte de seu trabalho, Fleischmann examina a contribuição de Habermas. Distingue claramente a contri­ buição deste último da de seus antecedentes, insistindo espe­ cialmente em sua proposta prática para a realização do ideal utópico, bem como na recusa a qualquer irracionalismo. Fleischmann divide corretamente as contribuições de Haber­ mas numa solução de princípio e numa solução prática. Antes de examiná-las, vejamos alguns pressupostos de sua contribuição à Escola de Frankfurt.

Antes de mais nada cabe indicar a extensão das áreas de es­ tudo alcançados pelos trabalhos de Habermas, que englobam Sociologia, Política, Filosofia, Epistemologia, Linguística e Metodologia das Ciências Humanas. O tratamento dos pro­ blemas revela, ainda assim, influência as mais diversas, que vão da Psicanálise à Filosofia Analítica, passando pela Lin­ guística de Chomsky.

Habermas realiza uma leitura muito particular do marxismo e propõe que, dadas as novas funções desempenhadas pelo Estado e pela ciência e técnica, não é mais possível falar de uma prática revolucionária emancipadora no sentido tradi­ cional, isto é, encarnada numa classe. A racionalização cien­ tífica impede a formação de uma consciência crítica no ope­ rariado. Assim, a luta pela libertação humana deve ser transferida para o plano da cultura, ou mais precisamente ainda, para o debate científico. Do lado da ordem estabele­ cida, encontramos os intelectuais positivistas, que produzem a ideologia (e os instrumentos) necessários à dominação, de outro, os intelectuais mantenedores de uma reflexão crítica. Dado que a ciência adquiriu o caráter de força produtiva, Habermas pensa que o trabalho teórico assumiu, ou melhor, pode incorporar uma função histórica prática.

A solução de princípio dos impasses da Teoria Crítica consiste em encontrar um fundamento para o interesse que orienta a atividade critica. Fleischmann mostra que tomando a idéia hegeliana (periodo de Jena) de reconhecimento (Anerken­ nung), é possível para Habermas compreender o processo histórico como um movimento para a aceitação do outro como igual, estabelecendo-se uma relação onde não existiria dominação. Entretanto, sabemos que toda a comunica­ ção é interessada. Como realizar essa discussão sem domi­ nação. sem que a comunicação seja engolfada pelo interesse? Nota Fleischmann (e isto é decisivo aqui) que estamos falando de interesses do saber, vale dizer, dos interesses do gênero humano quando tenta compreender-se a si mesmo. Para des­ cobrirmos um interesse que seja universal é necessário, se­ gundo Habermas, examinar os modelos de ciências existentes e ver em que medida eles satisfazem essas exigências. A crítica dos modelos científicos nos serve para o estabeleci­ mento de um fundamento para a comunicação sem domina­ ção, na medida em que puder revelar o tipo de interesse que pode dirigir essa comunicação. Por extensão, permitir-nos-à construir um modelo de ciência que sirva a tal interesse. O exame de Habermas nos mostra que de um lado temos as ciências da natureza, dirigidas por um interesse pragmático e instrumental, que visa a dominação da Natureza. De outro, temos as ciências humanas, compreendidas a partir da her­ menêutica de Dilthey, que visam um consenso obtido a partir do reconhecimento dos valores aceitos por uma cultura, isto é, por uma sociedade. Se o primeiro interesse é cego para os valores humanos, o segundo pode orientar-se para valores inaceitáveis - embora não o faça necessariamente. Assim, segundo Habermas, cada interesse contém em si uma escolha quanto ao que quer compreender, escolha essa parcial, que não pode servir de fundamento a um saber que vise a supe­ ração do relativismo. O método psicanalítico oferece um mo­ delo de procedimento científico onde se dá um conhecimento que é capaz de excluir a dominação.

 

A realização analista-paciente, por intermédio da transferên­ cia, acaba por estabelecer uma relação entre iguais. Trata-se de um modelo de discussão, onde através da participação mútua, são progressivamente revelados e controlados (me­ lhor: afastados) todos os fatores que constragem a livre co­ municação e expressão pessoal. O interesse presente nesse saber é o da emancipação da coerção. Habermas aplicará esse modelo, indicando seu caráter essencialmente linguís­ tico. De fato, o interesse na emancipação está antropologica­ mente encarnado na estrutura da linguagem humana. O próprio funcionamento da linguagem pressupõe um consenso prévio.

 

A linguagem é um meio de comunicação que permite, ao mesmo tempo, que o indivíduo compreenda a si mesmo e ao outro. É preciso pois pensar uma situação de comunicação onde esse interesse (reconhecimento de mim mesmo e do Outro através da supressão dos constrangimentos que impe­ dem a comunicação) - o interesse da emancipação humana

- possa realizar-se plenamente. Fleischmann pergunta-se, com razão, que objetividade pode garantir esse interesse emancipador. Segundo Habermas, essa objetividade é garan­ tida pela universalidade do ideal da emancipação, que visa o gênero humano como um todo, Caberia explicitar claramente a natureza desse a priori histórico que é o interesse da eman­ cipação. De qualquer maneira, entre o interesse ideológico e o interesse emancipador é preciso estabelecer o modo pelo qual o segundo opera. A par disso, seria interessante pergun­ tar em que medida podemos generalizar um modelo tomado a prática psicanalítica.

Dado o interesse da emancipação, é preciso mostrar como esse ideal pode realizar-se praticamente. A solução aqui consiste em realizar as potencialidades da situação linguística. Como dissemos, o ato de comunicação proporciona imediatamente um consenso a respeito de regras e um reconhecimento mútuo dos participantes do diálogo. Evidentemente, essa natureza ideal da comunicação linguística deve ser alcançada - tor­ na-se necessário suprimir os constrangimentos que limitam a livre expressão da linguagem. Nossa tarefa torna-se a cons­ tituição de uma situação linguística ideal (ideale Sprechsitua­ tion) - a idealidade se define pela ausência de dominação e iguais oportunidades de expressão. A situação linguística ideal exige por sua vez uma competência comunicativa, que permita ao indivíduo relacionar-se em termos intersubjetivos com o Outro. As habilidades comunicativas são apreendidas e nesse sentido, submetidas as distorções possibiltadas pelo sistema cultural (expressão, por sua vez, da dominação auto­ ritária e da organização econômica). Essas distorções podem fazer com que os indivíduos coloquem-se na situação linguís­ tica em posições desiguais quanto a possibilidade de interven­ ção. A tarefa crítica consiste em reconstituir as condições do diálogo ideal, revelando os constrangimentos ideológicos. Assim. os constrangimentos sobre a comunicação - a comu­ nicação distorcida - é a expresão ideológica da estrutura de dominação que gera a distorção. A tarefa teórica é agora igualmente prática: reconstituir a comunicação humana no seu plano emancipador.

Infelizmente Fleischmann não continua a análise, deixando de considerar a utilização que Habermas procura fazer das idéias de Wittgenstein, ao tentar estabelecer uma relação entre as regras que regem a linguagem e formas de vida, na tentativa de estabelecer ligações entre a estrutura social e a atividade linguística. Poderia examinar ainda as questões relativas a intervenção da ideologia na comunicação eman­ cipadora, discutindo as possibilidades de um processo crítico nesse nível - um controle da própria tarefa crítica de eman­ cipação. Fleischmann entretanto reduz a sua análise consci­ entemente, em vista do caráter inacabado da teoria da comunicação de Habermas.

Na terceira seção do ensaio trata do problema de uma ciência desvinculada de valores (mais precisamente: procedimentos científicos livres de orientação valorativa.. Fleischmann pro­ cura mostrar, depois de uma breve exposição das propostas de · Popper, que as duas posições ("positivistas" e " dialéticos") concordam quanto a impossibilidade de uma ciência livre de valores, mas opõem-se no que toca a relação dessa ciência com a intervenção na realidade. Para os positivistas a reforma da sociedade não é tarefa da ciência, para a teoria Crítica essa recusa de intervenção esconde apenas a passividade que serve ao status quo ou a intervenção velada. O autor mostra ainda que, seja no individualismo metodológico, seja na orientação dialética, as concepções metodológicas nos levam a orienta­ ções políticas determinadas. Torna-se necessária uma nova racionalidade para as ciências humanas. A conclusão do autor é que essa racionalidade não parece avançar através dos debates como os examinados, nem através da reflexão sobre a natureza da dialética.

Ante o que considera o fracasso da sociologia dialética em nos apresentar um método claramente articulado que permita o tratamento das questões concretas, torna-se necessário voltar-se para o trabalho sociológico concreto, sem prevenções meto­ dológicas, tentando examinar em todas as dimensões dos pro­ blemas que se nos apresentam. Surpreendentemente, vemos que ao final, Fleischmann aceita a impotência teórica que reconhece na Escola Crítica e se converte à utopia metodoló­ gica. Não precisamente a utopia, mas a um ecletismo - cujo fundamento, esse sim, é a resignação. Os leitores têm o des­ tino dos seus livros?