CONSIDERAÇÕES BEHAVIORISTAS RADICAIS SOBRE CAUSALIDADE MENTAL, REDUCIONISMO E O IRREALISMO DA MENTE

Autores

  • Diego Zilio Professor do Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

DOI:

https://doi.org/10.36311/1984-8900.2016.v8.n17.04.p41

Palavras-chave:

Causalidade mental, Fisicalismo não-redutivo, Irrealismo da mente, Behaviorismo Radical, Skinner

Resumo

Para o fisicalismo, existir consistiria em fazer diferença no mundo físico e fazer diferença seria possuir poder causal. Dessa forma, se a mentefor algo real, algo que faz parte do mundo físico, ela deve possuir papel causal. O objetivo deste artigo é refletir sobre a relação entre causalidade mental no contexto do fisicalismo não-redutivo e do reducionismo funcional de Kim (2005). Argumenta-se que ambas alternativas resultam no irrealismo da mente ao privarem-na de poder causal em função da adoção da tese da mente como epifenômeno ou da tese da mente como fenômeno redutível a processos neurofisiológicos. Diante desse resultado, é apresentada uma proposta alternativa baseada na filosofia da mente behaviorista radical. Tal proposta nega a existência da mente “imaterial” e da mente “cognitiva” a favor de uma análise comportamental dos fenômenos psicológicos, característica que a torna imune aos problemas do fisicalismo não-redutivo que são apenas coerentes no contexto da relação mente-corpo. Concluise que é exatamente por essa razão que a proposta aqui delineada pode ser considerada uma alternativa legítima de fisicalismo não-redutivo, que interdita a possibilidade de redução dos fenômenos comportamentais (antes vistos como “mentais”) a fenômenos neurofisiológicos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ALEXANDER, D. Space, time and deity.Macmillan, London, 1920.

ANDERY, M. A. P. A.; SÉRIO, T. M. A. P. O pensamento é uma categoria no sistema skinneriano? Arquivos Brasileiros de Psicologia Aplicada, v. 54, n. 3, p. 274-283, 2003.

BECHTEL, W.; RICHARDSON, R. C. Discovering complexity: decomposition and localization as strategies in scientific research. Cambridge: The MIT Press, 2010.

BOTOMÉ, S. P. O conceito de comportamento operante como problema. Revista Brasileira de Análise do Comportamento, v. 9, n. 1, p. 19-46, 2013.

CARRARA, K.; ZILIO, D. O comportamento diante do paradigma behaviorista radical. Revista Brasileira de Análise do Comportamento, v. 9, n. 1, p. 1-18, 2013a.

______. Sobre comportamento: comentários, réplicas e considerações finais. Revista Brasileira de Análise do Comportamento, v. 9, n. 2, p. 130-139, 2013b.

CHALMERS, D. J. The conscious mind: in search of a fundamental theory. New York: Oxford University Press, 1996.

CRANE, T. Mental causation and mental reality. Proceedings of the Aristotelian Society, New Series, v, 92, p. 185-202, 1992.

______. Mental causation. Proceedings of the Aristotelian Society, Supplementary Volumes, v. 69, p. 211-253, 1995.

DARWICH, R. A. Razão e emoção: uma leitura analítico-comportamental de avanços recentes nas neurociências. Estudos de Psicologia, v. 10, n. 2, p. 215-222, 2005.

DAY, W. F. On certain similarities between the Philosophical Investigations of Ludwig Wittgenstein and the operationism of B. F. Skinner. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, v. 12, n. 3, p. 489-506, 1969.

DE ROSE, J. Consciência e propósito no behaviorismo radical. In: PRADO JR., B. (Org.). Filosofia e comportamento. São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 67-91.

DONAHOE, J.; PALMER, D. Learning and complex behavior. Boston: Allyn and Bacon, 1994.

HAYES, S. C.; BROWNSTEIN, A. Mentalism, behavior-behavior relations, and a behavior-analytic view of the purposes of science. The Behavior Analyst, v. 9, n. 2, p. 175-190, 1986.

HINELINE, P. N. The origins of environment-based psychological theory. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, v. 53, n. 2, p. 305-320, 1990.

HORGAN, T. From supervenience to superdupervenience: meeting the demands of a material world. Mind, New Series, v. 102, n. 408, p. 555-586, 1993.

HÜBNER, M.; MOREIRA, M. Temas clássicos da psicologia sob a ótica da análise do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.

KIM, J. Concepts of supervenience. Philosophy and Phenomenal Research, v. 45, n. 2, 153-176, 1984.

______. Supervenience, determination, and reduction. The Journal of Philosophy, v. 82, n. 11, p. 616-618, 1985.

______. Philosophy of mind. Colorado: Westview Press, 1996.

______. Mind in a physical world: essays on the mind-body problem and mental causation. Cambridge: The MIT Press, 1998.

______. Physicalism, or something near enough. Princeton: Princeton University Press, 2005.

LEIGLAND, S. The functional analysis of psychological terms: in defense of a research program. The Analysis of Verbal Behavior, v. 13, p. 105-122, 1996.

LOPES, C. E. Uma proposta de definição de comportamento no behaviorismo radical. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 10, n. 1, p. 1-13, 2008.

LOPES, C. E.; ABIB, J. A. D. Teoria da percepção no behaviorismo radical. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 18, n. 2, p. 129-137, 2002.

LOWE, E. J. The causal autonomy of the mental. Mind, New Series, v. 102, n. 408, p. 629-644, 1993.

MACHADO, L. Consciência e comportamento verbal. Psicologia USP, v. 8, n. 2, p, 101-107, 1997.

MARR, M. J.; ZILIO, D. No island entire of itself: reductionism and behavior analysis. European Journal of Behavior Analysis, v. 14, p. 241-257, 2013.

MCLAUGHLIN, B.; BENNETT, K. (2011). Supervenience. Stanford Encyclopedia of Philosophy. Disponível em http://plato.stanford.edu/entries/supervenience/. Acesso em 10 de fevereiro de 2014.

MELNYK, A. Physicalism: from supervenience to elimination. Philosophy and Phenomenological Research, v. 51, n. 3, p. 573-587, 1991.

MOORE, J. On behaviorism and private events. The Psychological Record, v. 30, p. 459-475, 1980.

______. On behaviorism, theories, and hypothetical constructs. The Journal of Mind and Behavior, v. 19, n. 2, p. 215-242, 1998.

______. From a behavioral point of view: A psychological primer. New York: Sloan Publishing, 2015.

RYLE, G. The concept of mind. New York: Barnes and Noble, 1949.

STALNAKER, R. Varieties of supervenience. Noûs, v. 30, n. 10, p. 221-241, 1996.

STURGEON, S. Physicalism and overdetermination. Mind, New Series, v. 107, n. 426, p. 411-432, 1998.

TODOROV, J. C. Sobre uma definição de comportamento. Perspectivas em Análise do Comportamento, v. 3, n. 1, p. 32-37, 2012.

TODOROV, J. C.; HENRIQUES, M. B. O que não é e o que pode vir a ser comportamento. Revista Brasileira de Análise do Comportamento, v. 9, n. 1, p. 74-78, 2013.

TONNEAU, F. Comportamento e a pele. Revista Brasileira de Análise do Comportamento, v. 9, n. 1, p. 66-73, 2013.

TOURINHO, E. Z. Subjetividade e relações comportamentais. São Paulo: Paradigma, 2009.

SKINNER, B. F. The operational analysis of psychological terms. The Psychological Review, v. 52, n. 1, p. 270-277, 291-294, 1945.

______. Verbal behavior. New York: Appleton-Century-Crofts, 1957.

______. The problem of consciousness – a debate. Philosophy and Phenomenological Research, v. 27, n. 3, p. 325-337, 1967.

______. An operant analysis of problem solving. In: SKINNER, B. F. Contingencies of reinforcement: a theoretical analysis. New York: Appleton-Century-Crofts, 1969. pp. 133-157. (Obra original publicada em 1966).

______. About behaviorism. New York: Alfred A. Knopf, 1974.

______. Cognitive science and behaviourism. British Journal of Psychology, v. 76,p. 291-301, 1985.

______. The initiating self. In: SKINNER, B. F. Recent issues in the analysis of behavior. Ohio: Merrill Publishing Company, 1989a, p. 27-33.

______. The origins of cognitive thought. American Psychologist, v. 44, p. 13-18, 1989b.

______. (1989c). The place of feeling in the analysis of behavior. In: SKINNER, B. F. Recent issues in the analysis of behavior. Ohio: Merrill Publishing Company, 1989c. p. 3-12.

STRAPASSON, B. A.; CARRARA, K.; LOPES JR., J. Consequências da interpretação funcional de termos psicológicos. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 9, n. 2, p. 227-239, 2007.

WITTGENSTEIN, L. Philosophical Investigations. Oxford: Blackwell Publishing, 2001. (Obra original publicada em 1953).

YABLO, S. Mental causation. The Philosophical Review, v. 101, n. 2, p. 245-280, 1992.

ZILIO, D. A natureza comportamental da mente: behaviorismo radical e filosofia da mente. São Paulo: Editora Cultura Acadêmica (Unesp), 2010a.

______. Fisicalismo na filosofia da mente: definição, estratégias e problemas. Ciências & Cognição(UFRJ), v. 15, p. 217-240, 2010b.

______. Consciência verbal, não-verbal e fenomênica: uma proposta de extensão conceitual no behaviorismo radical. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 13, n. 1, p. 4-19, 2011.

______. Relacionismo substancial: a ontologia do comportamento à luz do behaviorismo radical. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 28, n. 1, p. 109-118, 2012.

______. Análise do comportamento e neurociências: em busca de uma possível síntese. Tese de Doutorado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.

______. On the Autonomy of Psychology From Neuroscience: A Case Study of Skinner’s Radical Behaviorism and Behavior Analysis. Review of General Psychology. doi: http://dx.doi.org/10.1037/gpr0000067, 2016.

ZILIO, D.; DITTRICH, A. O que fazer com os eventos privados? Reflexões a partir das ideias de Baum, parte I: a definição de privacidade. Acta Comportamentalia, v. 22. n. 4, p. 483-496, 2014.

______. O que fazer com os eventos privados? Reflexões a partir das ideias de Baum, parte II: a invasão da privacidade. Acta Comportamentalia, v, 23, n. 2, p. 213-227, 2015.

ZILIO, D.; HUNZIKER, M. H. L. (2015). Análise biocomportamental e os termos psicológicos: uma proposta metodológica para o estudo das emoções. In: COELHO, J. G.; BROENS, M. C. Encontro com as ciências cognitivas: cognição, emoção e ação. São Paulo: Cultura Acadêmica (Unesp), 2015. p. 73-97.

ZURIFF, G. E. Where is the agent in behavior? Behaviorism, v. 3, n. 1, p. 1-21, 1975.

Downloads

Publicado

2016-11-07