IDEOLOGIA ENTRE IPSEIDADE E ALTERIDADE: REFLEXÕES SOBRE A REALIZAÇÃO HUMANA NO AGIR ÉTICO SEGUNDO HENRIQUE CLÁUDIO DE LIMA VAZ

Autores

  • Leandro Bertoncello Doutorando em Filosofia pela Universidade do Rio dos Sinos (Unisinos)

DOI:

https://doi.org/10.36311/1984-8900.2021.v13n35.p229-252

Palavras-chave:

Lima Vaz, Ideologia, Intersubjetividade, Individualismo, Totalitarismo

Resumo

A articulação conceitual entre a Antropologia Filosófica e a Ética tem lugar, segundo Lima Vaz, na categoria do existir intersubjetivo. É no encontro com o outro que o sujeito afirma, numa relação recíproca de reconhecimento, a sua infinitude intencional, na medida em que compreende a infinitude intencional do outro e é por ela compreendido. A realização humana, nesse desenvolvimento ético, é a efetivação existencial do paradoxo de que o sujeito torna-se ele mesmo (ipse) na sua abertura constitutiva ao outro (alius vel aliud). Assim, a identidade ética tem caráter essencialmente dinâmico, expresso na conquista permanente da ipseidade que só se constitui plenamente pelo reconhecimento da ipseidade do outro. A passagem ao universo ético supõe, então, entre os sujeitos da comunidade ética, uma reciprocidade livre e consciente que pode desequilibrar-se, resultando na primazia de um dos seus termos sobre o outro. Lima Vaz identifica os dois extremos dessa assimetria na egologia radical de Husserl e na heterologia radical de Levinas, e propõe uma via media que permita ao sujeito auto-afirmar-se sem coisificar o outro nem coisificar-se pela presença do outro. O solipsismo absoluto (Eu sem Nós) e o absoluto altruísmo (Nós sem Eu) são extremos que se engendram mutuamente, evidenciam a impossibilidade de se fazer da comunidade dos sujeitos o horizonte universal do ser e incidem na vida política como inspiração para as ideologias do individualismo e do totalitarismo. Mediante a reunião, análise e interpretação da bibliografia, bem como a sistematização das ideias obtidas nessas diversas fontes, objetiva-se mostrar que as ideologias podem ser úteis para a afirmação e às reivindicações dos sujeitos em suas diversas formas de vida, mas podem também levar aos extremos da objetificação do outro e, portanto, do próprio sujeito, sendo imperiosa uma abertura transcendente ao Ser universal.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

BADHWAR, N. K.; LONG, R. T. “Ayn Rand”. The Stanford Encyclopedia of Philosophy. 2020. Edward N. Zalta (ed.). Disponível em: https://plato.stanford.edu/entries/ayn-rand/. Acesso em: 03 set. 2020.

CARR, D. On the difference between transcendental and empirical subjectivity. In: EVANS, J. Claude (Ed.); STUFFLEBEAM, Robert S. (Ed.). To work at the foundations: essays in memory of Aron Gurwitsch. New York: Springer, 2012, p. 175- 191.

CARVALHO, O. A nova era e a revolução cultural. Campinas: Vide, 2014.

CENCILLO, L. Experiencia profunda del ser: bases para una ontología de la relevancia. Madrid: Gredos, 1959.

COMTE, A. Catéchisme positiviste: ou sommaire exposition de la religion universelle. Paris: En Vente, 1890.

DAHLSTROM, D. O. The Heidegger dictionary. London: Bloomsbury, 2013.

DAVIS, Z.; STEINBOCK, A. “Max Scheler”. The Stanford Encyclopedia of Philosophy. 2018. Edward N. Zalta (ed.). Disponível em: https://plato.stanford.edu/archives/spr2019/entries/scheler/. Acesso em: 03 set. 2020.

DÍAZ, N. G. “Alienation”. In: SEIGNEURET, J.-C. Dictionary of literary themes and motifs. v. 1. New York: Greenwood, 1998. p. 31-43.

DOSTOIEVSKI, F. Notas do subterrâneo: romance. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand, 2003.

EAGLETON, T. Ideology: an introduction. London: Verso, 1991.

HENGSTENBERG, H.-E. Philosophische anthropologie. Stuttgart: W. Kohlhammer, 1966.

HUSSERL, E. Ideas pertaining to a pure phenomenology and to a phenomenological philosophy. First book: studies in phenomenology of the constitution. The Hague: Martinus Nijhoff, 1983.

______. Ideas pertaining to a pure phenomenology and to a phenomenological philosophy. Second book: studies in phenomenology of the constitution. § 18. Dordrecht: Kluwer, 2000.

LAO TSE. Tao te ching: o livro do caminho e da virtude. Tradução direta do chinês e comentários de Wu Jyh Cherng. Rio de Janeiro: Mauad X, 2011.

LECLERCQ, J. El derecho y la sociedad: sus fundamentos. Barcelona: Herder, 1965.

OFFER, J. An intellectual history of British social policy: idealism versus non-idealism. Bristol: The Policy, 2006.

RICOEUR, P. O si-mesmo como um outro. Campinas: Papirus, 1991.

SASS, L. A.; PARNAS, J. Schizophrenia, consciousness, and the self. Schizophrenia Bulletin, v. 29, n. 3, 2003, p. 427-444. Disponível em: https://doi.org/10.1093/oxfordjournals.schbul.a007017. Acesso em: 24 ago. 2020.

SCHELER, M. The nature of sympathy. Abingdon: Routledge, 2017.

SMITH, David Woodruff. Phenomenology. The Stanford Encyclopedia of Philosophy. 2018. Edward N. Zalta (ed.). Disponível em: https://plato.stanford.edu/archives/sum2018/entries/phenomenology/. Acesso em: 26

ago. 2020.

TOCQUEVILLE, A. Democracy in America. New York: Harper & Row, 1966.

TOMÁS DE AQUINO. De veritate. q.1 a.1. Disponível em: <http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/en/g14.htm> Acesso em: 14 set. 2020.

TRIANDIS, H. C. Individualism and collectivism. New York: Routledge, 1995.

VAZ, H. C. L. Antropologia filosófica. v. 1. 4 ed. São Paulo: Loyola, 1998.

______. Antropologia filosófica. v. 2. 2 ed. São Paulo: Loyola, 1995.

______. Escritos de filosofia IV: introdução à ética filosófica 1. São Paulo: Loyola, 1999.

______. Escritos de filosofia V: introdução à ética filosófica 2. São Paulo: Loyola, 2000.

______. Ética e direito. São Paulo: Landy; São Paulo: Loyola, 2002.

WAELHENS, A. La philosophie et les expériences naturelles. Le Haye: Martinus Nijhoff, 1961.

Downloads

Publicado

2021-11-17

Edição

Seção

Artigos