O CONCEITO DE HÁBITO A PARTIR D’AS PAIXÕES DA ALMA DE DESCARTES

Autores

  • Abel dos Santos Beserra Mestrando em Filosofia na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) https://orcid.org/0000-0003-4323-3982

DOI:

https://doi.org/10.36311/1984-8900.2021.v13n34.p52-80

Palavras-chave:

Hábito, Dualismo, Moral, Experiência, Cartesianismo

Resumo

O dualismo cartesiano é alvo de crítica desde sua formulação e, conforme MerleauPonty, pode parecer contraditório sem a ideia de infinito positivo operante no grande racionalismo do século XVII. Nesse cenário, o dualismo cartesiano surge como: ou uma flagrante antinomia; ou dependente do conceito de infinito positivo. Cumpre então questionar se Descartes já não teria estabelecido argumentos capazes de aclarar o que muitos críticos consideram impasses de seu sistema. Nesse sentido, o Tratado das paixões emerge como central, pois apresenta como o corpo, algo determinado, se une à alma, que é livre, sem que isso os anule em sua especificidade. Descartes detalha os termos de seu dualismo ao desenvolver a ideia de união da alma e do corpo, isto é, a condição humana de ser uma alma unida a um corpo. Nessas circunstâncias, nos parece fundamental o aprofundamento desta união por meio da adequada consideração do conceito de hábito; apesar de pouco estudado, o hábito é aquilo que permite à alma reorganizar as próprias paixões, dirigir o corpo e agir virtuosamente. Assim, este artigo considera as indicações de Merleau-Ponty sobre o dualismo cartesiano e vale-se do conceito de hábito no Tratado das paixões para investigar se Descartes aponta possíveis soluções, ou inovações, para as questões engendradas pelo dualismo de sua filosofia.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ALQUIÉ, F. (ed.). Galileu, Descartes e o mecanismo. Lisboa: Gradiva, 1987.

_______. A filosofia de Descartes. Lisboa: Editorial Presença/Martins Fontes, 1980.

_______. La découverte métaphysique de l´homme chez Descartes. Paris: PUF, 1987.

ALVES, M.; OLIVEIRA, J. O controle das paixões e ações mediante o hábito segundo Descartes. Kínesis, Vol. VIII, n° 17, Julho 2016, p.171 - 191. Acesso em: 28/04/2021. Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/kinesis/article/view/6443 .

ANDRADE, E. Sobre a generosidade: certeza, ação e paixão na ética cartesiana. São Paulo: Edições Loyola, 2017.

ANGIONI, L. O léxico filosófico de Aristóteles (II) - Comentários à Metafísica V. 9 - 17. Dissertatio - Revista de filosofia. Pelotas, v. 46, 2017, p. 184 - 215..

AQUINO, T. Suma teológica - volume 4. São Paulo: Edições Loyola, 2005.

ARISTÓTELES. Categorias. Lisboa: Instituto Piaget, 2000.

_______. Metafísica. São Paulo: Edições Loyola, 2015.

_______. De anima. São Paulo: Editora 34, 2012.

BURNYEAT, M. F. Aprender a ser bom segundo Aristóteles. In. ZINGANO, M (org.) Sobre a Ética Nicomaqueia de Aristóteles. São Paulo: Odysseus Editora, 2010.

CHAUI, M. Experiência do pensamento: ensaios sobre a obra de Merleau-Ponty. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

DESCARTES, R. Discurso do método; Meditações; As paixões da alma; Cartas, Objeções e respostas. In: Os Pensadores Vol XV. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

_______. Œuvres de Descartes - 11v. ADAM, C.; TANNERY, P. (Ed). Paris: Vrin, 1996.

_______. Princípios da filosofia. Lisboa: Edições 70, 1997.

_______. Medicina dos afetos - Correspondência entre Descartes e a princesa Elisabeth da Boémia. Oieiras: Celta Editora, 2001.

______. Regras para a direcção do espírito. Lisboa: Edições 70, 2002.

_______. O mundo (ou Tratado da luz) e O homem. Campinas: Editora da Unicamp, 2009.

_______. Discurso do método & Ensaios. São Paulo: Editora Unesp, 2018.

FORLIN, E. A concepção moral de descartes na carta a Mesland. Revista de Filosofia do IFCH da Universidade Estadual de Campinas, v. 1, n. 2., jul./dez., 2017, p. 3 - 17.

GUENANCIA, P. L'intelligence du sensible: essai sur le dualisme cartésien. Paris: Gallimard, 1998.

_______. Lire Descartes. Paris: Gallimard, 2000.

GUEROULT, M. Descartes segundo a ordem das razões. São Paulo: Discurso Editorial, 2016.

JESUS, P.B. Sobre a elaboração de uma ciência das paixões em Descartes, Hobbes e Espinosa. 140f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Filosofia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.

KAMBOUCHNER, D. L’Homme des passions: Commentaires sur Descartes - I Analytique. Paris: Albin Michel, 1995a.

_______. L’Homme des passions: Commentaires sur Descartes - II Canonique. Paris: Albin Michel, 1995b.

LANDIM, R. Evidência e verdade no sistema cartesiano. São Paulo: Edições Loyola, 1992.

LAPORTE, J. Le Rationalisme de Descartes. Paris: PUF, 1988.

MARION, J.-L. Questions cartésiennes. Paris: PUF, 1991.

_______. Sobre a ontologia cinzenta de Descartes. Lisboa: Instituto Piaget, 1997.

_______. Sur le pensée passive de Descartes. Paris: PUF, 2013.

MARQUES, J. A liberdade no Tratado das paixões de Descartes. Cad. Hist. Fil. Ci., Campinas, Série 3, v. 12, n. 1-2, p. 269-284, jan. - dez. 2002.

MERLEAU-PONTY, M. Signos. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

_______. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

Downloads

Publicado

2021-07-08

Edição

Seção

Artigos