FORMAÇÃO CONTINUADA PARA DOCENTES DE
QUÍMICA: UMA PROPOSTA PARA MINIMIZAR
AS LACUNAS DA FORMAÇÃO INICIAL PARA O
ENSINO DE PESSOAS SURDAS
CONTINUING EDUCATION FOR CHEMISTRY
TEACHERS: A PROPOSAL TO MINIMIZE GAPS IN
INITIAL EDUCATION FOR TEACHING DEAF PEOPLE
Regina de Fátima Freire VALENTIM MONTEIRO
Mestra em Educação Profissional e Tecnológica. Instituto Federal da Paraíba – IFPB/Brasil.
https://orcid.org/0000-0001-5322-0451 | regina.monteiro@ifpb.eu.br
Deyse Morgana das Neves CORREIA
Doutora em Educação. Instituto Federal da Paraíba- IFPB/Brasil.
https://orcid.org/0000-0003-1766-0649 | deyse.correia@ifpb.edu.br
Andrea de Lucena LIRA
Doutora em Engenharia de Processos. Instituto Federal da Paraíba – IFPB/Brasil.
https://orcid.org/0000-0002-1846-5864 | andrea.lira@ifpb.edu.br
VALENTIM MONTEIRO, Regina de Fátima Freire; CORREIA, Deyse Morgana das Neves; LIRA, Andrea de
Lucena. Formação continuada para docentes de química: uma proposta para minimizar as lacunas da formação inicial
para o ensino de pessoas surdas. Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 3, e0240033, 2024.
RESUMO: o presente trabalho objetiva apresentar uma proposta de formação continuada para docentes de Química
sobre acessibilidade metodológica no ensino para pessoas surdas. A proposta foi desenvolvida a partir de pesquisa de
mestrado que identificou lacunas na formação de docentes de Química do Ensino Médio Integrado do Instituto Federal
da Paraíba quanto aos conhecimentos necessários para o ensino desta ciência para estudantes surdos. Trata-se de uma
pesquisa-ação pedagógica buscando respostas às necessidades apontadas na instituição. O curso de formação continuada
foi embasado no reconhecimento da peculiaridade das pessoas surdas em sua relação com o mundo, manifestada pelos
artefatos culturais da experiência visual e da língua de sinais. O curso piloto foi desenvolvido na plataforma Google Sala
de Aula e abordou os eixos temáticos: conhecendo a surdez e a língua de sinais; acessibilidade metodológica; professor
de Química na educação de pessoas surdas; e educação bilíngue para surdos. Após oferta e avaliação do curso piloto, as
videoaulas produzidas foram reestruturadas e disponibilizadas no canal do YouTube do campus João Pessoa do Instituto
Federal da Paraíba, com o áudio em Língua Portuguesa e sinalizados em Língua Brasileira de Sinais, além de constar na
montagem da versão modelo replicável do curso no Google Sala de Aula. A formação continuada foi considerada um
instrumento com potencial para minimizar as dificuldades encontradas no que tange às lacunas no processo formativo
inicial, partindo de situações de ensino com exemplos concretos da realidade da sala de aula, para além de uma visão
limitada nos aspectos teóricos.
PALAVRAS-CHAVE: Formação continuada. Acessibilidade metodológica. Surdez. Inclusão. Ensino de Química.
REVISTA DIÁLOGOS E PERSPECTIVAS EM
EDUCAÇÃO ESPECIAL
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS
https://doi.org/10.36311/2358-8845.2024.v11n3.e0240033
is is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License.
ABSTRACT: this paper aims to present a proposal for continuing education for Chemistry teachers, focusing on
methodological accessibility applied to teaching deaf students. e proposal was developed from a masters research
that identified gaps in the training of Chemistry teachers at the Integrated High School of the Federal Institute of
Paraíba regarding the necessary knowledge for teaching this science to deaf students. It is a pedagogical action research
seeking answers to the needs identified in the institution. e continuing education course was based on recognizing the
uniqueness of deaf people in their relationship with the world, manifested by the cultural artifacts of visual experience
and sign language. e pilot course was developed on the Google Classroom platform and addressed the thematic areas:
understanding deafness and sign language; methodological accessibility; the Chemistry teacher in the education of deaf
people; and bilingual education for the deaf. After offering and evaluating the pilot course, the video lessons produced
were restructured and made available on the YouTube channel of the João Pessoa campus of the Federal Institute of
Paraíba, with audio in Portuguese and signed in Brazilian Sign Language, in addition to the creation of a replicable model
version of the course on Google Classroom. e continuing education course was considered a tool with the potential
to minimize the difficulties found in initial training gaps, starting from teaching situations with concrete examples from
classroom reality, beyond a limited theoretical perspective.
KEYWORDS: Continuing education. Methodological accessibility. Deafness. Inclusion. Chemistry teaching.
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 3, e0240033, 2024. 1-18
Formação continuada para docentes de química: uma proposta para minimizar as
lacunas da formação inicial para o ensino de pessoas surdas
Artigos
FORMAÇÃO CONTINUADA PARA DOCENTES DE
QUÍMICA: UMA PROPOSTA PARA MINIMIZAR
AS LACUNAS DA FORMAÇÃO INICIAL PARA O
ENSINO DE PESSOAS SURDAS
CONTINUING EDUCATION FOR CHEMISTRY
TEACHERS: A PROPOSAL TO MINIMIZE GAPS IN
INITIAL EDUCATION FOR TEACHING DEAF PEOPLE
Regina de Fátima Freire VALENTIM MONTEIRO
1
Deyse Morgana das Neves CORREIA
2
Andrea de Lucena LIRA
3
RESUMO: o presente trabalho objetiva apresentar uma proposta de formação continuada para docentes de Química sobre
acessibilidade metodológica no ensino para pessoas surdas. A proposta foi desenvolvida a partir de pesquisa de mestrado
que identificou lacunas na formação de docentes de Química do Ensino Médio Integrado do Instituto Federal da Paraíba
quanto aos conhecimentos necessários para o ensino desta ciência para estudantes surdos. Trata-se de uma pesquisa-ação
pedagógica buscando respostas às necessidades apontadas na instituição. O curso de formação continuada foi embasado no
reconhecimento da peculiaridade das pessoas surdas em sua relação com o mundo, manifestada pelos artefatos culturais da
experiência visual e da língua de sinais. O curso piloto foi desenvolvido na plataforma Google Sala de Aula e abordou os
eixos temáticos: conhecendo a surdez e a língua de sinais; acessibilidade metodológica; professor de Química na educação
de pessoas surdas; e educação bilíngue para surdos. Após oferta e avaliação do curso piloto, as videoaulas produzidas foram
reestruturadas e disponibilizadas no canal do YouTube do campus João Pessoa do Instituto Federal da Paraíba, com o
áudio em Língua Portuguesa e sinalizados em Língua Brasileira de Sinais, além de constar na montagem da versão modelo
replicável do curso no Google Sala de Aula. A formação continuada foi considerada um instrumento com potencial para
minimizar as dificuldades encontradas no que tange às lacunas no processo formativo inicial, partindo de situações de ensino
com exemplos concretos da realidade da sala de aula, para além de uma visão limitada nos aspectos teóricos.
PALAVRAS-CHAVE: Formação continuada. Acessibilidade metodológica. Surdez. Inclusão. Ensino de Química.
Mestra em Educação Profissional e Tecnológica. Instituto Federal da Paraíba – IFPB/Brasil. E-mail: regina.monteiro@ifpb.
eu.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5322-0451
Doutora em Educação. Instituto Federal da Paraíba- IFPB/Brasil. E-mail: deyse.correia@ifpb.edu.br. ORCID: https://
orcid.org/0000-0003-1766-0649
Doutora em Engenharia de Processos. Instituto Federal da Paraíba – IFPB/Brasil. E-mail: andrea.lira@ifpb.edu.br. ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-1846-5864
2-18 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 3, e0240033, 2024.
VALENTIM MONTEIRO, Regina de Fátima Freire; CORREIA, Deyse Morgana das Neves;
LIRA, Andrea de Lucena
ABSTRACT: this paper aims to present a proposal for continuing education for Chemistry teachers, focusing on
methodological accessibility applied to teaching deaf students. e proposal was developed from a masters research that
identified gaps in the training of Chemistry teachers at the Integrated High School of the Federal Institute of Paraíba
regarding the necessary knowledge for teaching this science to deaf students. It is a pedagogical action research seeking
answers to the needs identified in the institution. e continuing education course was based on recognizing the uniqueness
of deaf people in their relationship with the world, manifested by the cultural artifacts of visual experience and sign language.
e pilot course was developed on the Google Classroom platform and addressed the thematic areas: understanding deafness
and sign language; methodological accessibility; the Chemistry teacher in the education of deaf people; and bilingual
education for the deaf. After offering and evaluating the pilot course, the video lessons produced were restructured and made
available on the YouTube channel of the João Pessoa campus of the Federal Institute of Paraíba, with audio in Portuguese
and signed in Brazilian Sign Language, in addition to the creation of a replicable model version of the course on Google
Classroom. e continuing education course was considered a tool with the potential to minimize the difficulties found
in initial training gaps, starting from teaching situations with concrete examples from classroom reality, beyond a limited
theoretical perspective.
KEYWORDS: Continuing education. Methodological accessibility. Deafness. Inclusion. Chemistry teaching.
INTRODUÇÃO
O processo de educação das pessoas surdas passa por um amplo período de negação
do reconhecimento das particularidades de comunicação que permeiam o universo da cultura
surda. O modelo social construído historicamente vê os surdos como incapazes, por não
ouvirem e, em consequência, terem dificuldade de “falar” oralmente, conforme as expectativas
de normalidade do grupo social majoritário de ouvintes (Valentim-Monteiro, 2023).
Particularmente, pessoas surdas e que não realizam sua comunicação pela “fala”,
como pessoas com paralisia cerebral, apraxia e transtorno do espectro autista, são consideradas,
erroneamente, como não verbais e, geralmente, são associadas a um déficit cognitivo ou
ausência de capacidade de exercerem seus papéis na sociedade. Os surdos, por causa de crenças
e mitos sobre sua condição, viveram muito tempo segregados ou enfrentando diferentes
propostas de educação que enfatizavam a língua oral, como o oralismo e a comunicação total.
Um marco desse processo foi o Congresso de Milão, em 1880, no qual o uso da sinalização foi
proibido nas escolas. Essa proibição durou aproximadamente 100 anos. Muitas instituições
que aceitavam e utilizavam a língua de sinais passaram a empregar unicamente atividades
para o desenvolvimento do treino da fala após o Congresso, forçando os surdos a oralizarem
(Quadros, 1997).
Ainda hoje, esse ideário de segregação e preconceito reflete-se em atitudes excludentes
da sociedade, as quais também são vivenciadas no ambiente escolar. No Brasil, o direito à
acessibilidade para o público surdo e a adoção de propostas educacionais relativas à inclusão
somente foram sentidos, de forma mais robusta, a partir da Lei de Diretrizes e Bases (LDB)
da Educação Nacional (Brasil, 1996).
Na esteira da LDB, destacamos a reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais
(Libras) como língua de comunicação da comunidade surda brasileira para a aquisição de
conhecimentos e informações (Brasil, 2002); a instituição do atendimento educacional
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 3, e0240033, 2024. 3-18
Formação continuada para docentes de química: uma proposta para minimizar as
lacunas da formação inicial para o ensino de pessoas surdas
Artigos
especializado aos estudantes com necessidades específicas (Brasil, 2004); a inclusão da Libras
como componente curricular nas matrizes dos cursos de formação de professores (Brasil,
2005); o estabelecimento da Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da
Educação Inclusiva (Brasil, 2008); e, mais recentemente, a consideração da modalidade de
Educação Bilíngue de Surdos (Brasil, 2021), colocando a Libras como primeira língua e a
Língua Portuguesa, na modalidade escrita, como segunda língua no processo de ensino e
aprendizagem das pessoas surdas.
Tais legislações trazem em seu amago o respeito à cultura surda pelo reconhecimento
do artefato cultural da língua de sinais como primeira língua da pessoa, pela qual tem direito
de comunicação e de acessar a educação. De maneira unânime, esses normativos apontam
para o reconhecimento da diferença e do direito linguístico.
Sendo este conjunto de legislações, uma conquista recente da comunidade surda
brasileira, é notória a carência na formação dos docentes e o desconhecimento destes sobre a
língua de sinais, prejudicando o processo de ensino e aprendizagem dos alunos surdos. O que
se tem, de forma dominante, são professores ouvintes formados no contexto de predominância
ou exclusividade da língua oral, e essa situação se configura como uma exclusão de pessoas
surdas no acesso à escola e aos estudos (Valentim-Monteiro, 2023).
Com a implantação da proposta de Educação Especial na perspectiva da Educação
Inclusiva sem a devida ressignificação dos papéis políticos, sociais e pedagógicos nas escolas
ou salas regulares, houve, de um lado, a precarização dos investimentos e o consequente
fechamento das escolas especiais para surdos, e, de outro, a colocação dos estudantes diante de
professores e equipes pedagógicas sem qualificação para o trabalho com os usuários da língua
de sinais e sem tradutores intérpretes fluentes e qualificados (Valentim-Monteiro, 2023).
Nesse contexto, importa observar o alerta feito por Carvalho (2018), de que o
direito à igualdade de oportunidades não pode ser entendido como ensinar igualmente a
todos, pois tal atitude promove desigualdade e colabora para falhas no processo de ensino e
aprendizagem das pessoas surdas.
Urge, portanto, a necessidade de reformulação das matrizes dos cursos de formação
de professores e, por conseguinte, a mudança no perfil dos novos docentes, para que
contemplem o conhecimento sobre a relação entre o processo de ensino e aprendizagem das
pessoas surdas e as particularidades quanto ao seu modo de percepção e comunicação com o
mundo (Silva; Gomes, 2023).
A presente pesquisa aborda o ensino da Química para pessoas surdas, lançando um
olhar sobre a formação docente. Os cursos de Licenciatura em Química, na sua estrutura
histórica curricular, apresentam a influência da racionalidade técnica, com priorização dos
conhecimentos químicos e pouca atenção à formação pedagógica, promovendo a formação
4-18 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 3, e0240033, 2024.
VALENTIM MONTEIRO, Regina de Fátima Freire; CORREIA, Deyse Morgana das Neves;
LIRA, Andrea de Lucena
de professores distante da realidade das escolas e com a ilusão do aluno ideal. Somamos a
isso o fato de que a Química é considerada uma disciplina complexa, por tratar de conceitos
abstratos relacionados a dimensões que atingem a escala nanoscópica e, portanto, apresenta
dificuldades para estudantes ouvintes e principalmente para os que não ouvem e não falam a
língua utilizada na transmissão dos conteúdos.
O acima exposto introduz o contexto originário de pesquisa de mestrado (Valentim-
Monteiro, 2023) realizada no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação
Profissional e Tecnológica do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), que teve como indagações
preliminares: Como foi a formação dos docentes de Química do IFPB para trabalhar com
estudantes surdos? A inclusão de Libras na matriz curricular dos cursos de licenciatura tem
suprido as necessidades da formação para lecionar para pessoas surdas? Quais as dificuldades
enfrentadas pelos professores no ensino para os surdos? É possível construir uma proposta de
formação continuada para minimizar lacunas existentes na formação inicial?
Esta pesquisa resultou na elaboração de um produto educacional em formato de
curso de formação continuada para professores de Química sobre acessibilidade metodológica
no ensino para estudantes surdos. Analisando parte dos resultados desta pesquisa, o presente
artigo tem como objetivo evidenciar as lacunas na formação dos docentes de Química do
IFPB para o ensino desta ciência a estudantes surdos, enfatizando a construção e aplicação do
produto educacional resultante.
METODOLOGIA
Esta é uma pesquisa-ação pedagógica, configurada como uma ação que cientifica
a prática educativa, a contínua formação e a emancipação de todos os sujeitos envolvidos.
Ao falarmos de pesquisa-ação, estamos pressupondo uma pesquisa de transformação,
participativa, caminhando para processos formativos” (Franco, 2005, p. 487).
A escolha pela realização de uma pesquisa-ação pedagógica está respaldada na
nossa atuação enquanto docente do IFPB, lecionando na Licenciatura em Química desta
instituição. Isso nos credencia para o conhecimento intrínseco da realidade social concreta a
ser modificada por meio da formação de professores, além do compromisso com o grupo para
o trabalho acadêmico e de prática social.
Na etapa de pesquisa de campo, apresentamos um recorte do estudo (Valentim-
Monteiro, 2023), destacando lacunas e dificuldades dos professores de Química no IFPB na
condução do ensino para estudantes surdos.
Na realização desta etapa, participaram 27 professores de 10 dos 14 campi do
IFPB com registro de matrícula de estudantes com dificuldade de ouvir (surdos, deficientes
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 3, e0240033, 2024. 5-18
Formação continuada para docentes de química: uma proposta para minimizar as
lacunas da formação inicial para o ensino de pessoas surdas
Artigos
auditivos, dificuldade não especificada). Empregamos como instrumento de coleta de dados
um formulário eletrônico enviado aos participantes juntamente com um vídeo convite. O
formulário continha questões que delineavam a formação específica para ensinar pessoas
surdas e as perspectivas sobre a oferta de curso de formação continuada e os conhecimentos
necessários para adquirir ou aperfeiçoar a acessibilidade metodológica no ensino de Química
para estudantes surdos.
Para fundamentar o entendimento sobre acessibilidade metodológica, a seção que
segue aborda brevemente este conceito com base na legislação e em estudiosos sobre este tema
central da formação continuada vivenciada nesta pesquisa.
Na sequência, apresentamos a análise dos resultados da pesquisa de campo, na
qual adotamos uma abordagem quanti-qualitativa por ser um “método que associa análise
estatística à investigação dos significados das relações humanas, privilegiando a melhor
compreensão do tema a ser estudado, facilitando assim a interpretação dos dados obtidos
(Handem et al., 2008, p. 97).
Com o diagnóstico realizado, viabilizamos as potencialidades e fragilidades em torno
do conhecimento dos docentes sobre o ensino para pessoas surdas, favorecendo a tomada de
decisão sobre o curso de formação elaborado, seu conteúdo e a maneira de disponibilização.
A etapa de construção e aplicação do produto educacional conclui as discussões deste artigo,
tendo certificado 24 cursistas. Encerrando a escrita deste trabalho, apresentamos as devidas
considerações finais.
Salientamos que a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do IFPB,
sob a certificação de apresentação de apreciação ética com numeração 52341421.9.0000.5185.
ACESSIBILIDADE METODOLÓGICA: UMA ABORDAGEM CONCEITUAL
A consideração dos artefatos culturais do povo surdo nos espaços pedagógicos,
especialmente a experiência visual e a língua de sinais, retrata um caminho de possibilidades
com relação à cidadania desse público. Isso implica a necessidade de formação continuada
para docentes, no que tange à acessibilidade metodológica, a fim de garantir uma educação
ministrada com recursos e meios de comunicação mais adequados para favorecer o
desenvolvimento acadêmico e social das pessoas surdas.
Entendendo “acessibilidade” como uma questão relativa à condição de
disponibilidade para a realização de algo, a adjetivação “metodológica” refere-se à produção
de condições didáticas e comunicacionais para receber e transmitir mensagens em meio a
uma atividade finalística de aprendizagem educacional, com dignidade e autonomia. Isso
se pode dar, por exemplo, por meio de um computador, para a tradução de mensagem em
6-18 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 3, e0240033, 2024.
VALENTIM MONTEIRO, Regina de Fátima Freire; CORREIA, Deyse Morgana das Neves;
LIRA, Andrea de Lucena
Braille, ou, com a utilização de tela e câmera, para se emitir e visualizar mensagem sinalizada
em Libras (Valentim-Monteiro, 2023).
Sassaki (2009) apresenta a acessibilidade metodológica ligada à dimensão que remove
barreiras nos métodos e técnicas de lazer, trabalho e educação. A adjetivação da acessibilidade
ligada à metodologia faz referência, portanto, ao método didático. A acessibilidade
metodológica direcionada às pessoas surdas representa a condição de se possibilitar o alcance e
a utilização da informação e da comunicação com segurança e autonomia, por meio da Libras
como primeira língua em todos dos níveis e modalidade de ensino e utilizando recursos
didáticos apropriados para privilegiar a visualidade como categoria metodológica primordial
na promoção da aprendizagem.
Com base na definição presente no Art. 3º, inciso I, da Lei Brasileira de Inclusão da
Pessoa com Deficiência (Brasil, 2015), o conceito de acessibilidade é o que segue:
[p]ossibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia,
de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação
e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e
instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na
zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida
(Brasil, 2015).
Na mesma Lei, no Capítulo IV, referente ao Direito à Educação, no Art. 28,
encontramos a incumbência do poder público em assegurar, criar, desenvolver, implementar,
incentivar, acompanhar e avaliar:
[...]
II – aprimoramento dos sistemas educacionais, visando a(sic) garantir condições de
acesso, permanência, participação e aprendizagem, por meio da oferta de serviços e
de recursos de acessibilidade que eliminem as barreiras e promovam a inclusão plena;
[...]
IV – oferta de educação bilíngue, em Libras como primeira língua e na modalidade
escrita da língua portuguesa como segunda língua, em escolas e classes bilíngues e em
escolas inclusivas;
[...]
XVI – acessibilidade para todos os estudantes, trabalhadores da educação e demais
integrantes da comunidade escolar às edificações, aos ambientes e às atividades
concernentes a todas as modalidades, etapas e níveis de ensino.
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 3, e0240033, 2024. 7-18
Formação continuada para docentes de química: uma proposta para minimizar as
lacunas da formação inicial para o ensino de pessoas surdas
Artigos
O conhecimento sobre acessibilidade metodológica é, pois, necessário na formação
dos professores tanto na etapa inicial de sua qualificação como em forma de educação
continuada. Esta necessidade se justifica pela determinação em lei dos direitos das pessoas
com deficiência à educação de qualidade.
O conhecimento da acessibilidade metodológica e dos artefatos culturais da
comunidade surda, especialmente a visualidade e a Libras, pelos docentes e profissionais
envolvidos no processo de ensino e aprendizagem nas escolas especiais, regulares e bilíngues,
é fundamental para o processo de desmistificação e construção de uma proposta de educação
que reconheça e valorize a diferença linguística e cultural das pessoas surdas, atentando para
a qualidade da educação ofertada para todos.
DIAGNÓSTICO DA FORMAÇÃO DOCENTE PARA O ENSINO DE QUÍMICA
PARA ESTUDANTES SURDOS
Na busca para conhecer sobre a formação inicial dos professores quanto à especificidade
do ensino para estudantes surdos, perguntamos sobre a quantidade de oportunidades de
cursar componentes curriculares com esta finalidade. Um total de 21 participantes (77,8%)
sinalizou que o número de componentes curriculares relacionados ao ensino de pessoas surdas
foi “muito insuficiente”, como podemos observar na Figura 1.
Figura 1 – Quantidade de componentes curriculares durante
a graduação relativos ao ensino de pessoas surdas
Fonte: Valentim-Monteiro (2023).
8-18 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 3, e0240033, 2024.
VALENTIM MONTEIRO, Regina de Fátima Freire; CORREIA, Deyse Morgana das Neves;
LIRA, Andrea de Lucena
Silva e Gomes (2023) ilustram que o ensino de Química no contexto específico
da área do conhecimento é distinto do ensino em um contexto de mediação pedagógica,
especialmente diante da diversidade de perfis estudantis em sala de aula e de processos
heterogêneos de aprendizagem e de construção de conhecimento.
Destacamos que apenas 7 professores (26%) afirmaram ter cursado Libras,
como único componente curricular voltado para a especificidade das pessoas surdas. Esses
participantes concluíram o curso a partir de 2008, ou seja, após a determinação legal da
obrigatoriedade da inclusão da disciplina de Libras nos cursos de licenciatura (Brasil, 2005).
A Lei foi, portanto, um passo importante para o contato com a temática da educação de
pessoas surdas, mas ainda insuficiente para uma formação docente adequada para lidar com
esta diversidade.
Na pesquisa, também procuramos saber com quais temas relativos a pessoas surdas
ou com deficiência os participantes tiveram contato durante a graduação. O tema “Libras
obteve 19 indicações, abaixo apenas de “inclusão”, o qual obteve 20 indicações. “Deficiente
auditivo”, “acessibilidade” e “pessoa surda” também foram bastante indicados como temas
vistos na graduação. Por outro lado, os temas “pedagogia surda”, “identidade surda” e “cultura
surda”, voltados ao conhecimento das particularidades desse público, tiveram as mais baixas
indicações de conhecimento, juntamente com “experiência visual”, “desenho universal”,
acessibilidade metodológica”, temas mais direcionados à prática docente. Destacamos ainda
a resposta de 5 docentes (18,5%) que sinalizaram não ter tido contato com nenhum dos
temas durante a graduação (Figura 2).
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 3, e0240033, 2024. 9-18
Formação continuada para docentes de química: uma proposta para minimizar as
lacunas da formação inicial para o ensino de pessoas surdas
Artigos
Figura 2Temas tratados durante a graduação dos participantes da pesquisa
Fonte: Valentim-Monteiro (2023).
Silva e Gomes (2023) alertam que a pouca preparação inicial dos docentes para
trabalhar com estudantes surdos demonstra a reprodução de concepções e práticas excludentes,
as quais se perpetuam historicamente no sistema educacional brasileiro, e, infelizmente, ainda
estão distantes de serem extintas.
Perguntamos ainda se, durante a graduação, foi apresentado algum recurso de
acessibilidade, adaptação ou apoio ao ensino para estudantes surdos. Apenas 1 docente
respondeu afirmativamente, indicando a exclusão dos alunos surdos materializada na falta de
materiais e recursos didáticos específicos, como coloca Oliveira (2014, p. 93):
10-18 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 3, e0240033, 2024.
VALENTIM MONTEIRO, Regina de Fátima Freire; CORREIA, Deyse Morgana das Neves;
LIRA, Andrea de Lucena
A questão do preconceito e exclusão pode ser evidenciada, inclusive, na falta de
materiais didáticos e teóricos na área de Educação em Química voltados para a inclusão
de alunos surdos. Foi possível identificar, a partir de um resgate do levantamento
bibliográfico das principais revistas e congressos da área, a escassez de material que
contemple essa perspectiva (Oliveira, 2014, p.93).
Esta lacuna na formação docente repercute nas principais dificuldades no processo
de ensino e aprendizagem no ensino de Química para surdos, que estão vinculadas à questão
didática. Fernandes e Reis (2019, p. 8) listam as seguintes problemáticas:
[…] são as dificuldades encontradas em geral no processo de ensino e de aprendizagem
ao ensinar química: as estratégias didáticas que facilitam o processo pedagógico; o
aluno surdo, sua cultura, seu modo de aprendizagem, sua língua, suas limitações
e potencialidades; a escassez de materiais didáticos que levem em consideração as
particularidades desse indivíduo; como os professores podem aproveitar o potencial
visual deste aluno na facilitação do aprendizado, dentre outras questões (Fernandes;
Reis, 2019, p.8).
Consultamos os docentes sobre a participação em curso de Libras ou sobre
educação de surdos, fora da matriz curricular do curso de licenciatura, na modalidade de
curso de extensão ou de curso de formação complementar: 23 docentes (85%) responderam
que não realizaram tal formação. Entre os que cursaram Libras, 3 indicaram que acreditam
na possibilidade de colocar em prática o conhecimento e 1 não conseguiria utilizar os
conhecimentos em sala de aula.
Sobre tal realidade, nos apoiamos em Silva e Gomes (2023) quando ressaltam que a
modificação desta realidade de pouca preparação docente para ensinar estudantes com surdez
somente sofrerá alterações mediante um direcionamento específico na formação inicial dos
licenciados para atuar em contextos inclusivos.
O panorama de insuficiência na qualificação obtida na formação inicial e continuada
dos docentes participantes da pesquisa corrobora com o nível de (in)satisfação demonstrado
por eles em relação à experiência de lecionar para estudantes surdos, como podemos verificar
na Figura 3. As indicações entre regular, insatisfatório e muito insatisfatório representam a
maior parte do gráfico.
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 3, e0240033, 2024. 11-18
Formação continuada para docentes de química: uma proposta para minimizar as
lacunas da formação inicial para o ensino de pessoas surdas
Artigos
Figura 3 – Grau de satisfação em relação à experiência de ensino para estudantes surdos
Fonte: Valentim-Monteiro (2023).
Os participantes listaram como dificuldades durante a experiência de lecionar para
estudantes surdos a realização de adaptação de atividades de maneira a assegurar o alcance
dos objetivos estabelecidos, a escassez de sinais-termo em Libras para a área da Química, a
ausência de suporte institucional e a falta de experiência com o público surdo.
Percebemos que o sentimento de insatisfação com a prática docente para estudantes
surdos reflete a baixa preparação ocorrida na formação inicial. Como coloca Carvalho (2018),
esse despreparo pode ser demonstrado, por vezes, como resistência diante das condições de
lecionar para estudantes com deficiência. Acreditamos também que a maioria das situações
pode não estar relacionada à má vontade ou à pouca colaboração, mas sim à consciência de
sua desqualificação.
A pesquisa confirmou, portanto, a necessidade de ações direcionadas para a formação
continuada com foco nas questões pedagógicas para o ensino para pessoas surdas, visando
minimizar as lacunas da formação inicial dos professores de Química do IFPB. Assim,
elaboramos e disponibilizamos o curso “Acessibilidade metodológica: ensino de Química
para estudantes surdos”.
12-18 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 3, e0240033, 2024.
VALENTIM MONTEIRO, Regina de Fátima Freire; CORREIA, Deyse Morgana das Neves;
LIRA, Andrea de Lucena
CONSTRUÇÃO E APLICAÇÃO DE UMA PROPOSTA DE FORMAÇÃO
CONTINUADA
Como vimos, a formação continuada para docentes de Química com foco na
acessibilidade metodológica no ensino para surdos foi baseada nas lacunas identificadas
na formação inicial dos participantes da pesquisa. O curso teve como objetivo favorecer o
conhecimento das peculiaridades da surdez, da pessoa surda (sua cultura e sua língua) e da
acessibilidade metodológica pertinente à prática de ensino inclusivo para surdos.
Para compor o projeto pedagógico do curso, solicitamos aos docentes participantes
da pesquisa que atribuíssem um grau de importância, dentro de uma escala Likert, a sugestões
de temáticas para serem abordadas na formação (Tabela 1).
Tabela 1 – Nível de importância dada às temáticas para uma proposta de formação
Temática
Grau de importância
Muito
Necessário
Necessário Indiferente Desnecessário
Muito
Desnecessário
Dificuldades dos alunos no
processo de aprendizagem
13 12 1 0 1
Acessibilidade
metodológica
18 7 1 0 1
Legislação 12 11 3 0 1
Processo de criação de
sinais-termo
10 13 3 0 1
Recursos didáticos
acessíveis
20 5 1 0 1
Vocabulário em sinais-
termos de Química
16 9 1 0 1
Libras (gramática) 7 15 4 0 1
Libras (comunicação
básica)
15 10 1 0 1
Formação e função do
profissional tradutor
intérprete de Libras
9 14 3 0 1
Escrita da pessoa surda 10 15 1 0 1
Fonte: Valentim-Monteiro (2023).
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 3, e0240033, 2024. 13-18
Formação continuada para docentes de química: uma proposta para minimizar as
lacunas da formação inicial para o ensino de pessoas surdas
Artigos
As temáticas “recursos didáticos acessíveis” (74%), “acessibilidade metodológica
(67%) e “vocabulário em sinais-termo de Química” (59%), com maiores pontuações na
indicação dos participantes, foram contempladas no curso. A indicação da temática de
“Libras (comunicação básica)” nos direcionou para duas resoluções: (1) o estabelecimento de
conteúdos e atividades de Libras em cada módulo do curso e (2) a elaboração e produção de
videoaulas no modelo de narração em Língua Portuguesa com a sinalização em Libras. Desta
forma, para além do acesso dos cursistas a Libras, tornamos o material acessível às pessoas
surdas.
O curso foi ofertado na modalidade de ensino a distância, na plataforma Google Sala
de Aula, sendo de tipo autoinstrucional, considerando a praticidade para gestão e organização
do tempo pelos cursistas com autonomia e flexibilidade, além de possibilitar o alcance de
mais participantes, sem a limitação da logística de espaço físico para a realização de encontros
presenciais ou da localização geográfica dos cursistas.
O curso foi dividido em cinco módulos, sendo um de apresentação do curso e
quatro módulos temáticos para o desenvolvimento do conteúdo programado: Conhecendo a
surdez e a língua de sinais; Acessibilidade metodológica; O professor de Química na educação
de surdos e Educação Bilíngue para Surdos (Figura 4).
Figura 4 – Estrutura do curso em módulos com objetivos e carga horária
Fonte: Valentim-Monteiro (2023).
14-18 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 3, e0240033, 2024.
VALENTIM MONTEIRO, Regina de Fátima Freire; CORREIA, Deyse Morgana das Neves;
LIRA, Andrea de Lucena
No módulo de apresentação, com previsão de 3 horas de duração, os objetivos
foram: apresentar os módulos temáticos; conhecer as expectativas e experiências dos cursistas;
e refletir sobre o processo de inclusão de pessoas com deficiência.
No primeiro módulo temático, “Conhecendo a surdez e a língua de sinais”,
determinamos como objetivos: conhecer os níveis de surdez, sua relação com o desenvolvimento
das atividades humanas e a conduta de relação social e comunicação com pessoas surdas;
reconhecer os artefatos da cultura surda e sua relação com o processo de educação das
pessoas surdas; nomear em Língua Portuguesa sinais, gestos, expressões faciais e/ou corporais
utilizadas no dia a dia; e identificar configurações de mão e os sinais dos verbos TER/ NÃO
TER e GOSTAR/ NÃO GOSTAR.
No módulo “Acessibilidade metodológica”, os objetivos foram: conhecer e identificar
recursos de acessibilidade metodológica do ensino para estudantes surdos; conhecer fontes
de materiais de Química em Libras; e reconhecer sinais do contexto de saudação e alfabeto
manual.
Já os objetivos do módulo “O professor de Química na educação de pessoas surdas
foram: promover uma reflexão sobre o papel do professor de Química na educação das
pessoas surdas; compreender a importância de um relacionamento de parceria e troca entre
os profissionais – professor de Química e tradutor intérprete de Libras – e o estudante surdo
no processo de ensino; conhecer as motivações e o processo de criação de sinais-termos, com
ênfase em sua relação com os artefatos culturais da experiência visual e da língua de sinais no
processo de ensino e comunicação das pessoas surdas; e identificar no uso a classificação dos
tipos de verbos em Libras e sua reflexão temporal.
Finalmente, no módulo “Educação Bilíngue de/para Surdos”, delimitamos como
objetivos: descrever o processo histórico da educação das pessoas surdas; conhecer as
diferentes propostas de bilinguismos aplicados nas escolas da rede de ensino e o modelo que a
comunidade surda deseja; reconhecer na legislação, as marcas das conquistas de direitos pela
comunidade surda; e relacionar frases do contexto escolar e as suas respectivas sinalizações
em Libras.
Por ser um curso autoinstrucional, optamos pela elaboração dos Roteiros de Estudos
em cada módulo, contendo: (1) Título do módulo; (2) Formadores responsáveis; (3) Indicação
do prazo estabelecido para a realização das atividades do módulo; (4) Objetivos do módulo;
(5) Material e atividades; e (6) Material complementar. O intuito foi facilitar a realização das
atividades de maneira autônoma, uma vez que a mediação dos formadores foi prevista apenas
para as interações dos fóruns.
Os módulos contaram com atividades de fixação do tipo fórum e formulário
eletrônico. Destinados ao esclarecimento de dúvidas e ao debate sobre os temas apresentados
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 3, e0240033, 2024. 15-18
Formação continuada para docentes de química: uma proposta para minimizar as
lacunas da formação inicial para o ensino de pessoas surdas
Artigos
nos módulos, os fóruns apresentaram uma questão geradora para motivar o início do debate.
Adotamos como critério de participação e pontuação, a necessidade de tecer comentários
consistentes na postagem de, no mínimo, dois colegas, como mecanismo para promover a
interação entre os participantes. Já as atividades de tipo formulário eletrônico versaram sobre
as temáticas dos módulos e sobre o conteúdo de Libras trabalhado.
Firmamos parceria social com a Secretaria de Estado de Educação, Ciência e
Tecnologia da Paraíba, com fins de oferta do curso com designação de vagas também para os
docentes de Química da rede estadual de ensino.
A divulgação do curso foi realizada por postagens e mensagens nas redes sociais da
Secretaria de Educação da Paraíba, do IFPB e das pesquisadoras, contendo o banner, texto
explicativo, link do formulário de solicitação de inscrição e vídeo convite.
Recebemos um total de 84 pedidos de inscrição, dos quais 54 se concretizaram. O
curso teve início em 23 de agosto de 2022 e foi concluído em 10 de dezembro do mesmo
ano. Foram certificados 24 cursistas. Como encerramento, convidamos os participantes
a responderem um formulário de avaliação do curso sobre os aspectos: (1) conteúdo, (2)
atuação do professor/tutor, (3) ambiente virtual de aprendizagem, (4) objetivos dos módulos,
(5) contribuição para a formação, (6) necessidade de aprofundamento e (7) nível de relevância
dos módulos, com a indicação do nível de satisfação seguindo a escala Likert.
Como sugestões de melhorias para o curso foram sinalizadas: a possibilidade de
continuidade do curso com o aprofundamento e ampliação das discussões, o que pode ser
considerado em uma nova oferta; a apresentação e troca de experiências exitosas entre os
participantes; a ampliação da carga horária; a realização de encontros síncronos para debates e
troca de experiências; e a melhora da qualidade da edição dos vídeos produzidos para o curso.
A avaliação da versão piloto do curso possibilitou a realização de alguns ajustes
que culminaram com a montagem da versão modelo do curso replicável no Google Sala
de Aula, disponível mediante solicitação pelo e-mail regina.monteiro@ifpb.edu.br, e com a
disponibilização, no canal do YouTube do IFPB Campus João Pessoa, de uma lista com as 23
videoaulas produzidas para o curso, sendo 16 temáticas e 7 sobre Libras.
Uma das novas videoaulas elaboradas versou sobre o “Uso da configuração de
mão no ensino da Química”. Destacamos esta produção por sua motivação derivada do
pensamento de tornar mais significativa a aprendizagem dos cursistas sobre as configurações
de mão, considerada como sendo de grande dificuldade entre eles, tendo em vista que o
ensino associado ao vocabulário utilizado no ensino da Química pode constituir uma base
de referência para a aquisição de conhecimento vinculado à aplicação prática dos docentes.
Fundamentamo-nos, portanto, na Teoria da Aprendizagem Significativa de
David Ausubel, de que é preciso, sempre que possível, relacionar os novos conhecimentos
16-18 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 3, e0240033, 2024.
VALENTIM MONTEIRO, Regina de Fátima Freire; CORREIA, Deyse Morgana das Neves;
LIRA, Andrea de Lucena
aos conhecimentos já familiarizados, presentes na cultura dos formandos, pois, quando
o sujeito atribui significados a um dado conhecimento, ancorando-o interativamente em
conhecimentos prévios, a aprendizagem é significativa” (Moreira, 2011, p. 24).
Como resposta à necessidade observada na instituição por meio do reconhecimento
das lacunas e dificuldade dos docentes de Química, entendemos que a elaboração e
disponibilização de uma proposta de curso de formação continuada com foco na acessibilidade
metodológica no ensino para pessoas surdas contribuiu para a promoção de um ensino de
qualidade para um grupo linguístico minoritário, disponibilizando um material com foco no
ensino da Química, constituindo um suporte pedagógico diferenciado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do percurso do desenvolvimento da pesquisa, construção, aplicação, avaliação,
revisão e ajustes na proposta do curso de formação continuada para docentes de Química,
consideramos ter sido de grande relevância o trajeto que proporcionou a disponibilização, de
forma acessível, de um suporte pedagógico para acessibilidade metodológica.
A identificação de lacunas existentes na formação dos docentes de Química
permitiu observarmos, neste estudo, a pouca presença de componentes curriculares de cunho
pedagógico na formação inicial, em particular os relacionados ao ensino para pessoas com
deficiência. Podemos inferir, desta forma, a reprodução de uma formação docente fundada na
crença da homogeneidade dos estudantes em sala de aula, faltando ao professor a compreensão
da diversidade nos processos de ensino e de aprendizagem.
Diante de uma formação que não contempla a diversidade, sinalizamos que os
professores enfrentam desafios em sua prática docente no ensino da Química para estudantes
surdos relacionados, sobretudo, ao desconhecimento da Libras e ao despreparo para realizar
as adaptações e ou criações de atividades e recursos didático-pedagógicos.
Ao buscar conhecer as expectativas dos professores participantes da pesquisa quanto
a uma proposta de formação continuada, foi possível a elaboração, seleção e produção de
material para a montagem de um ambiente virtual de aprendizagem para o desenvolvimento
do curso sobre acessibilidade metodológica no ensino de Química para estudantes surdos e
a sua consequente oferta com a disponibilização de recursos didático-pedagógicos de livre
acesso.
Entendemos que a formação continuada ofertada tem potencial para ser replicada
e aprofundada, pois indica um caminho para a materialização da inclusão acadêmica
dos estudantes surdos. A aquisição e ampliação de conhecimentos pedagógicos sobre a
especificidade da surdez e da Química são requisitos fundamentais para a promoção de ações
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 3, e0240033, 2024. 17-18
Formação continuada para docentes de química: uma proposta para minimizar as
lacunas da formação inicial para o ensino de pessoas surdas
Artigos
inclusivas e integradoras, fornecendo aos cursistas a compreensão da diversidade nos processos
de ensino e de aprendizagem.
Reiteramos no presente trabalho, ser necessária uma revisão das matrizes curriculares
dos cursos de licenciatura visando a incorporação de componentes sobre o ensino para
pessoas com deficiência, observando a diversidade sob a perspectiva do caráter pedagógico
e metodológico associado à prática docente. De igual modo, entendemos ser primordial a
promoção de oportunidades de formação continuada direcionadas aos docentes, partindo de
situações de ensino com exemplos concretos da realidade da sala de aula, para além de uma
visão limitada nos aspectos teóricos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de
abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098,
de 19 de dezembro de 2000. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em: 12 set. 2023.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 4 ago.
2024.
BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais –
Libras e dá outras providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/
l10436.htm. Acesso em: 12 set. 2023.
BRASIL, Lei nº 10.845, de 5 de março de 2004. Institui o Programa de Complementação
ao Atendimento Educacional Especializado às Pessoas Portadoras de Deficiência, e dá outras
providências, instituindo o AEE. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2004/lei/l10.845.htm. Acesso em: 26 jun. 2021.
BRASIL. Lei nº 13.146, de 06 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível em: https://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 12 set. 2023.
BRASIL. Lei nº 14.191, de 03 de agosto de 2021. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de
1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), para dispor sobre a modalidade de educação
bilíngue de surdos. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/
l14191.htm. Acesso em: 12 set, 2923.
BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília,
2008. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf. Acesso em: 26
jun. 2021.
CARVALHO, R. Educação inclusiva com os pingos nos “is. Porto Alegre: Mediação, 2018.
18-18 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 3, e0240033, 2024.
VALENTIM MONTEIRO, Regina de Fátima Freire; CORREIA, Deyse Morgana das Neves;
LIRA, Andrea de Lucena
FERNANDES, J. M.; REIS, I. F. O papel da formação continuada no trabalho dos professores
de química com alunos surdos. Revista Educação Especial, v. 32, p. e7/1-16, 2019. DOI:
10.5902/1984686X27300. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/
view/27300. Acesso em: 2 out. 2023
FRANCO, M. A. S. Pedagogia da pesquisa-ação. Educação e Pesquisa, v. 31, n. 3, p. 483-502, set.
2005. DOI: https://doi.org/10.1590/S1517-97022005000300011 Disponível em: https://www.
scielo.br/j/ep/a/DRq7QzKG6Mth8hrFjRm43vF/?lang=pt. Acesso em: 26 jul. 2023.
HANDEM, P. C. et al. Metodologia: interpretando autores. In: FIGUEIREDO, N. M. A. (org.).
Método e metodologia na pesquisa científica. São Caetano do Sul: Yendis, 2008.
MOREIRA, M. A. Aprendizagem significativa: a teoria e textos complementares. São Paulo:
Editora Livraria da Física, 2011.
OLIVEIRA, C. L. R. Reflexões sobre a formação de professores de Química na perspectiva da
inclusão e sugestão de metodologias inclusivas aos surdos aplicadas ao ensino de Química.
2014 (Dissertação – Programa de Pós-Graduação em Química – Universidade Federal de Juiz de
Fora) Juiz de Fora, 2014. Disponível em: https://repositorio.uf.br/jspui/bitstream/uf/858/1/
cristianelopesrochadeoliveira.pdf. Acesso em: 20 jan. 2023.
QUADROS, R. M. de. Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1997.
SASSAKI, R. K. Inclusão: acessibilidade no lazer, trabalho e educação. Revista Nacional de
Reabilitação (Reação), São Paulo, Ano XII, mar./abr. 2009, p. 10-16. Disponível em: https://files.
cercomp.ufg.br/weby/up/211/o/SASSAKI_-_Acessibilidade.pdf?1473203319. Acesso em: 07 de set.
2023.
SILVA, W. D. A.; GOMES, S. S. A Educação Especial nos cursos de Licenciatura em Química das
Instituições Federais de Educação Superior do Ceará. Revista Educação Especial, [s. l], v. 36, n.
1. p. e17/1-17, 2023. DOI:10.5902/1984686X70144. Disponível em: https://periódicos.ufsm.br/
esducacaoespecial/article/view/70144. Acesso em: 2 out. 2023.
VALENTIM-MONTEIRO, R. F. F. Acessibilidade metodológica no ensino de Química para
estudantes surdos: uma proposta de formação continuada para professores. 2023 (Dissertação –
Programa de Programa de Pós-graduação em Educação Profissional e Tecnológica – Instituto Federal
da Paraíba) João Pessoa, 2023.