DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE CRIANÇAS
COM AUTISMO EM RELAÇÃO AO SISTEMA
EDUCACIONAL NO ENSINO FUNDAMENTAL I
CHALLENGES AND POSSIBILITIES OF CHILDREN
WITH AUTISM IN RELATION TO THE EDUCATIONAL
SYSTEM IN ELEMENTARY SCHOOL I
Davi MILAN
Mestrando em Educação. Professor da Educação Básica na rede municipal de Educação de Quintana, São Paulo, Brasil.
https://orcid.org/0000-0002-5618-721X | davimilan145@gmail.com
Claudio Bezerra LEOPOLDINO
Doutor em Administração. Professor Adjunto da Universidade Federal do Ceará – UFC, Fortaleza, Brasil.
https://orcid.org/0000-0002-5618-721X | claudio.leopoldino@ufc.br
MILAN, Davi; LEOPOLDINO, Claudio Bezerra. Desafios e possibilidades de crianças com autismo em relação ao
sistema educacional no Ensino Fundamental I. Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 2,
e0240016, 2024.
RESUMO: o autismo é um Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) que ainda não é completamente entendido
pelos profissionais da área. Sua etiologia é multifatorial, tendo relação diretamente com fatores genéticos e ambientais.
Não apresenta um marcador biológico comum em todos os quadros, dificultando e fazendo com que cada diagnostico
seja único. A partir do diagnóstico precoce é possível determinar os atendimentos clínicos e pedagógicos necessários
para o bom desenvolvimento da criança com autismo, e o acesso a ambientes educacionais inclusivos promove a
evolução da autonomia e a concretização das potencialidades individuais. Tendo em consideração a problemática da
inclusão de pessoas com autismo no sistema educacional, evidenciou-se a seguinte questão de pesquisa: Quais são as
principais dificuldades relatadas pelas famílias de crianças com autismo em relação ao sistema educacional? Seguindo
como objetivo geral a ideia de identificar as principais dificuldades relatadas pelas famílias de crianças com autismo
em relação ao sistema educacional, passou-se a se adotar como objetivos específicos as seguintes metas: identificar
os obstáculos associados à inserção no ambiente escolar; distinguir as dificuldades de acesso e adaptação à escola;
identificar as perspectivas em relação às demais etapas do processo educacional.
PALAVRAS-CHAVE: Autismo. Sistema Educacional. Inclusão.
ABSTRACT: Autism is a Pervasive Developmental Disorder (TGD) that is not yet completely understood by
professionals in the field. Its etiology is multifactorial, directly related to genetic and environmental factors. It does not
present a common biological marker in all cases, making each diagnosis difficult and unique. Based on early diagnosis,
it is possible to determine the clinical and pedagogical care necessary for the good development of children with autism,
and access to inclusive educational environments promotes the evolution of autonomy and the realization of individual
potential. Considering the problem of the inclusion of people with autism in the educational system, the following
research question stands out: What are the main difficulties that affect families of children with autism in relation to
the educational system? Following the general objective of identifying the main difficulties reported by families of
children with autism in relation to the educational system, the following were adopted as specific objectives: identifying
obstacles associated with integration into the school environment; distinguish difficulties in accessing and adapting to
the school; identify perspectives in relation to other stages of the educational process.
KEYWORDS: Autism. Educational system. Inclusion.
REVISTA DIÁLOGOS E PERSPECTIVAS EM
EDUCAÇÃO ESPECIAL
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS
https://doi.org/10.36311/2358-8845.2024.v11n2.e0240016
is is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License.
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 2, e0240016, 2024. 1-18
Desafios e possibilidades de crianças com autismo em relação ao sistema educacional
no Ensino Fundamental I
Artigos
DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE CRIANÇAS
COM AUTISMO EM RELAÇÃO AO SISTEMA
EDUCACIONAL NO ENSINO FUNDAMENTAL I
CHALLENGES AND POSSIBILITIES OF CHILDREN
WITH AUTISM IN RELATION TO THE EDUCATIONAL
SYSTEM IN ELEMENTARY SCHOOL I
Davi MILAN
1
Claudio Bezerra LEOPOLDINO
2
RESUMO: o autismo é um Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) que ainda não é completamente entendido
pelos profissionais da área. Sua etiologia é multifatorial, tendo relação diretamente com fatores genéticos e ambientais.
Não apresenta um marcador biológico comum em todos os quadros, dificultando e fazendo com que cada diagnostico seja
único. A partir do diagnóstico precoce é possível determinar os atendimentos clínicos e pedagógicos necessários para o bom
desenvolvimento da criança com autismo, e o acesso a ambientes educacionais inclusivos promove a evolução da autonomia
e a concretização das potencialidades individuais. Tendo em consideração a problemática da inclusão de pessoas com autismo
no sistema educacional, evidenciou-se a seguinte questão de pesquisa: Quais são as principais dificuldades relatadas pelas
famílias de crianças com autismo em relação ao sistema educacional? Seguindo como objetivo geral a ideia de identificar
as principais dificuldades relatadas pelas famílias de crianças com autismo em relação ao sistema educacional, passou-se a
se adotar como objetivos específicos as seguintes metas: identificar os obstáculos associados à inserção no ambiente escolar;
distinguir as dificuldades de acesso e adaptação à escola; identificar as perspectivas em relação às demais etapas do processo
educacional.
PALAVRAS-CHAVE: Autismo. Sistema Educacional. Inclusão.
ABSTRACT: Autism is a Pervasive Developmental Disorder (TGD) that is not yet completely understood by professionals
in the field. Its etiology is multifactorial, directly related to genetic and environmental factors. It does not present a common
biological marker in all cases, making each diagnosis difficult and unique. Based on early diagnosis, it is possible to determine
the clinical and pedagogical care necessary for the good development of children with autism, and access to inclusive
educational environments promotes the evolution of autonomy and the realization of individual potential. Considering
the problem of the inclusion of people with autism in the educational system, the following research question stands out:
What are the main difficulties that affect families of children with autism in relation to the educational system? Following
the general objective of identifying the main difficulties reported by families of children with autism in relation to the
Mestrando em Educação. Professor da Educação Básica na rede municipal de Educação de Quintana, São Paulo, Brasil.
E-mail: davimilan145@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5618-721X
2
Doutor em Administração. Professor Adjunto da Universidade Federal do Ceará – UFC, Fortaleza, Brasil. E-mail: claudio.
leopoldino@ufc.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5618-721X
2-18 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 2, e0240016, 2024.
MILAN, Davi; LEOPOLDINO, Claudio Bezerra
educational system, the following were adopted as specific objectives: identifying obstacles associated with integration into
the school environment; distinguish difficulties in accessing and adapting to the school; identify perspectives in relation to
other stages of the educational process.
KEYWORDS: Autism. Educational system. Inclusion.
INTRODUÇÃO
A inclusão é fundamental para a construção de uma sociedade democrática. O
respeito às diferenças e a igualdade de oportunidades requerem o movimento de incluir,
que faz uma ruptura com o movimento de exclusão (Oliari, 2021; Silveira; Santos; Stascxak,
2021). A inclusão é a garantia de todos do acesso contínuo ao espaço comum na vida em
sociedade, que deverá estar organizada e orientada, respeitando a diversidade humana, as
diferenças individuais, promovendo igualdade de oportunidades de desenvolvimento para
toda a vida (Glat,1999).
No caso das famílias de pessoas com autismo, são diversos os obstáculos à inclusão.
A literatura relata problemas financeiros e dificuldades em lidar com o impacto de ter um
filho diferente (Khanlou et al., 2017; Minatel; Matsukura, 2015; Misquiatti et al., 2015).
O acesso ao diagnóstico e tratamentos é difícil em muitos casos, o que prejudica a evolução
dos indivíduos para patamares mais elevados de autonomia (Crane et al., 2018; Neik et al.,
2014). Há relatos de dificuldades das famílias em relação ao sistema educacional e dos autistas
adultos em relação ao mercado de trabalho (Frank et al., 2018; Hedley et al., 2017; Mcstay
et al., 2014).
Em nosso país o acesso à educação por parte das pessoas com autismo tem
sido aprimorado com base na Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com
Transtorno do Espectro Autista (TEA), promulgada em 2012 (Brasil, 2012) e do Estatuto
da Pessoa com Deficiência, de 2015 (Brasil, 2015). Ambos os marcos normativos garantem
o direito de acesso à educação, ao ensino profissionalizante e ao mercado de trabalho, o
que tem orientado mudanças em diversas instituições. Entretanto, são diversos os relatos de
dificuldades associadas em relação ao sistema educacional (Gracioli; Bianchi, 2014; Lima;
Laplane, 2016; Minatel; Matsukura, 2015).
O estado deve oferecer nas redes de ensino profissionais especializados, para que seja
efetivado o ensino e aprendizagem dos alunos com TEA, essa é uma das principais dificuldades
no ensino, de ter profissionais capacitados. A constituição de 1988, prevê tratamento
igualitário entre todos os cidadãos (Brasil, 1988). Dessa forma torna-se urgente e necessário
esse atendimento especializado e de qualidade (Silva, 2020; Silveira; Santos; Stascxak, 2021).
Tendo em consideração a problemática da inclusão de pessoas com autismo no
sistema educacional, evidenciou-se a seguinte questão de pesquisa: Quais são as principais
dificuldades relatadas pelas famílias de crianças com autismo em relação ao sistema educacional?
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 2, e0240016, 2024. 3-18
Desafios e possibilidades de crianças com autismo em relação ao sistema educacional
no Ensino Fundamental I
Artigos
Seguindo como objetivo geral a ideia de identificar as principais dificuldades
relatadas pelas famílias de crianças com autismo em relação ao sistema educacional, passou-se
a se adotar como objetivos específicos as seguintes metas: identificar os obstáculos associados
à inserção no ambiente escolar; distinguir as dificuldades de acesso e adaptação à escola;
identificar as perspectivas em relação às demais etapas do processo educacional.
O SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO E A INCLUSÃO DE AUTISTAS
O sistema educacional brasileiro foi aperfeiçoado através da regulação, com normas
que contemplam a questão do autismo, ampliando as garantias da constituição de 1998.
A lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 (Brasil, 2015), conhecida como Estatuto da Pessoa
com Deficiência, assegura o direito da pessoa com deficiência à igualdade, inclusão social e
cidadania. Em seu artigo 27, é reforçado o direito à educação de qualidade para esse público
ao longo de toda a sua vida.
O inciso IV, alínea a, do artigo 3º da Lei Federal n. 12.764/2012 (Brasil, 2012), que
Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro
Autista, os sistemas de ensino devem efetuar a matrícula dos estudantes com TEA nas classes
comuns de ensino regular, com direito a acompanhante especializado.
São estabelecidos acessos ao sistema educacional e à assistência social bastante
explícitos: “a) à educação e ao ensino profissionalizante; b) à moradia, inclusive à residência
protegida; c) ao mercado de trabalho; d) à previdência social e à assistência social”. Está
definida, inclusive, multa pela não aceitação da matrícula de estudante com TEA, aos
gestores de instituições de ensino. Evidencia-se, portanto, a urgência de adequação do sistema
educacional à legislação vigente.
De acordo com os dizeres de Lima e Laplane (2016., p. 270), como garantia de
aprendizado dos alunos com TEA, deve haver um sistema educacional que seja inclusivo,
que apresente equipamentos de educação próprios para esse público, professores capacitados
e transportes adaptados. Porém o que se tem observado são impedimentos para que ocorra a
concretização das diretrizes inclusivas que efetivem essas garantias (Gonçalves; Wanzinack, 2021).
Para Minatel e Matsukura, (2015, p.437) a inclusão das crianças no modo geral, vai
além da modificação de estratégias e estrutura curricular e organizacional, “exige mudança
de pensamento, de hábitos e cultura” e nessa linha de pensamento estejam incluídos todos os
membros do sistema escolar, da saúde e assistência social.
Nunes, Azevedo e Schimidt (2013) exortam sobre o estudo realizado que traz à
tona a realidade da inclusão no sistema educacional do aluno com autismo: há falta de apoio
de profissionais, pouca formação dos professores, matrículas sendo negadas e preconceito de
professores e gestores em algumas escolas para com a inserção dos alunos neurodiversos.
4-18 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 2, e0240016, 2024.
MILAN, Davi; LEOPOLDINO, Claudio Bezerra
Para que a inclusão seja positiva, deve-se amparar as crianças e não deixá-las adaptar-
se sozinha no ambiente escolar (Silveira; Santos; Stascxak, 2021). “Inclusão compreende-se que
é a escola que precisa se adaptar ao aluno, às suas necessidades, dificuldades e potencialidades
(Gracioli; Bianchi, 2014, p. 129).
Uma cultura na sociedade que seja inclusiva, é de grande importância, pois através
da consciência de que há espaço para todos desenvolverem seu potencial e contribuir com o
desenvolvimento do país. Deve haver não somente a inclusão destes indivíduos dentro dos
espaços escolares, também capacitá-los para exercerem seus direitos na sociedade.
A construção de uma cultura inclusiva e de suporte adequado permite que o potencial
das pessoas com TEA possa se reverter efetivamente em trabalho e resultados, explorando os
pontos fortes manifestados pelos profissionais autistas. As políticas públicas podem estimular
este processo (Leopoldino, 2015).
Com relação às políticas públicas que tratam do incentivo à inclusão, pode-se
perceber que ainda há avanços significativos a serem alcançados, pois são evidentes as várias
limitações, referentes à formação específica de profissionais para atuarem com esse público,
e em função da falta de infraestrutura das escolas (Da Conceição; Escalante; Da Silva, 2021;
Ferreira; De Souza, 2022; Lima; Laplane, 2016).
A política pública deve trilhar o caminho para possibilitar a concretização dos
direitos fundamentais, tornando-se a mola propulsora para a verdadeira materialização dos
mesmos, ocasionando inclusão e a integração social das pessoas com TEA, construindo assim
uma sociedade livre, justa e igualitária (Sargento; Lopes, 2019).
A inserção de uma pessoa com deficiência no ambiente escolar deveria ser algo
natural, no entanto, não é isso que acontece, há empecilhos que fazem com que esse direito
seja postergado. Para a apropriação do aprendizado, faz-se necessário o alinhamento dos
fatores escola, família e sociedade para caminharem no sentido da inclusão.
Glat e Blanco (2007) afirmam que embora as escolas discursem sobre a aceitação da
diversidade, não modificam sua prática para dar conta das especificidades de aprendizagem e
desenvolvimento de todos os alunos: “A responsabilidade pela resposta educativa a ser dada
àqueles que apresentam necessidades educacionais especiais é deixada aos profissionais e
professores dos serviços de apoio especializado” (Glat; Blanco, 2007).
A inclusão escolar das crianças com TEA vai além da efetivação das matrículas
nas escolas, mas demanda que seja oferecida a elas docentes com formação adequada. O
professor qualificado estará apto nos mais diversos momentos e situações, através de formação
continuada, para sanar as dificuldades deste público (Matos; Mendes, 2015).
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 2, e0240016, 2024. 5-18
Desafios e possibilidades de crianças com autismo em relação ao sistema educacional
no Ensino Fundamental I
Artigos
Quando se pensa em termos de inclusão, é comum a ideia de simplesmente colocar
uma criança autista em uma escola regular, esperando assim que ela comece a imitar as crianças
neurotípicas, e não crianças iguais a ela ou crianças que apresentam quadros mais graves.
Pode-se dizer, inicialmente, que a criança autista, quando pequena, raramente imita outras
crianças, passando a fazer isto apenas após começar a desenvolver a consciência dela mesma,
isto é, quando começa a perceber relações de causa e efeito do ambiente em relação a suas
próprias ações e vice-versa (Mello, 2009). A criança autista precisa, portanto, ser incentivada
com atividades pertinentes com a sua realidade e necessidade do momento, para que avance
no ensino e aprendizagem (Silveira; Santos; Stascxak, 2021).
Mantoan (2006) descreve que a educação inclusiva para ser efetiva deve ser menos
formalista, em questão de grade curricular e burocracia, tornando-se mais democrática nas
questões de inserção e ensino e aprendizagem. Mantoan (2006) destaca a importância de
um currículo flexível, com atividades que atendam as necessidades do público-alvo e da
participação ativa das famílias, bem como capacitação dos profissionais da educação.
A escola é um espaço que pode ser bem explorado para a socialização e para a
aquisição de aptidões acadêmicas e muitas outras aprendizagens para as crianças com TEA.
Porém, com a ressalva de atender às necessidades educacionais e orgânicas, faz-se necessário
estar preparado para mudanças, como aplicar metodologias específicas e reorganizar padrões
educacionais que darão lugar a um sistema mais resiliente (Mello, 2009)
A literatura existente permite que se compreenda, ainda que de forma simplificada,
os principais problemas vivenciados no sistema, que dificultariam a inclusão de autistas no
sistema educacional (Costa; Nakandakare; Paulino, 2018; Minatel; Matsukura, 2015; Sales;
Viana, 2020). Diversas são as restrições constatadas no sistema educacional brasileiro em
relação às pessoas com TEA, ao longo de toda a trajetória de formação dos estudantes. O
quadro 1 sumariza os obstáculos identificados.
A dificuldade de acesso a vagas para estudantes autistas é vivenciada por um grande
número de famílias brasileiras. Consiste no risco de não conseguir vaga no sistema educacional,
seja ele público ou particular (Minatel; Matsukura, 2015). Em instituições menos inclusivas,
a vaga de uma criança pode ser rejeitada com a alegação de falta de estrutura e capacitação
dos docentes. A família pode inclusive ser “convidada” a procurar uma “instituição mais
aparelhada” para lidar com pessoas com TEA pela instituição de ensino, o que consiste em
negação implícita da vaga. A literatura brasileira também já registrou a cobrança de taxas
extras, que funcionam como barreira para a aceitação de estudantes com autismo, cobranças
de caráter ilegal (Alvares, 2016).
A precária adaptação de conteúdos é outra restrição significativa do sistema
educacional. A adaptação curricular insuficiente ou inexistente torna a aprendizagem do
estudante com autismo inviável, quando seria possível em muitas situações, com o esforço
adequado de amoldamento de conteúdos (Nascimento; Da Cruz; Braun, 2016).
6-18 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 2, e0240016, 2024.
MILAN, Davi; LEOPOLDINO, Claudio Bezerra
Deficiências na infraestrutura física da escola também podem desestimular o
desempenho dos estudantes autistas. Inadequações no espaço físico da instituição de ensino,
que engloba as salas de aula, espaços de esporte, arte e lazer tornam o ambiente escolar pobre,
reduzindo as possibilidades de aprendizagem (Gomes et al., 2015; Nascimento; Da Cruz;
Braun, 2016).
Quando a formação de professores é insuficiente ou não voltada para o estudante
autista, há maior dificuldade para o atingimento de suas potencialidades como estudante.
Profissionais da educação em muitos casos não recebem formação adequada sobre o cotidiano
do ensino de pessoas com TEA, metodologias, adaptação curricular e inclusão. Em diversos
casos os profissionais se atualizam de modo autodidata, o que pode ser insuficiente (Costa;
Nakandakare; Paulino, 2018).
A falta de acompanhamento dos indivíduos é outro problema do sistema educacional
brasileiro (Bandeira, 2020). A interrupção de estudos, ausências, doenças e quaisquer eventos
adversos na trajetória educacional dos estudantes autistas passam despercebidos no sistema,
inviabilizando qualquer iniciativa de intervenção positiva tempestiva.
O serviço educacional de qualidade inferior prestado às pessoas com tea se reflete na
falta de resultados na aprendizagem individual das pessoas com autismo (Rosa; Matsukura;
Squassoni, 2019). O AEE - Atendimento Educacional Especializado é a principal política
pública brasileira atuando nesta questão, precisando do acompanhamento de outras ações de
reforço e de melhorias (Bueno, 2016; Fernandes; Sardagna, 2020; Ferreira; De Souza, 2022;
Souza, 2021).
O preconceito e a discriminação vivenciados pelas pessoas com TEA no ambiente
escolar são fatores decisivos para o abandono dos estudos. O estudante autista não é aceito
como é, seja pelos professores, colegas e até pelos pais dos demais estudantes. Pode ser excluído
ou “convidado a ir embora” (Rosa; Matsukura; Squassoni, 2019).
A falta de diálogo da escola com a família é outro fator de distanciamento das
pessoas com autismo com o sistema educacional, afetando negativamente o seu senso de
pertencimento. A dificuldade ou impossibilidade de comunicação da família com a escola
torna a resolução de problemas e a exploração das potencialidades dos estudantes mais difícil
(Rosa; Matsukura; Squassoni, 2019).
A interrupção dos estudos no caso de pessoas com autismo pode ser permanente.
Seja por dificuldades econômicas, pelo término do ensino fundamental, pela pandemia ou
outro fator, qualquer afastamento do vínculo com a escola ou faculdade representa um risco
de abandono prolongado dos estudos (Fernandes; Sardagna, 2020). A evasão é a ruptura
definitiva com o sistema educacional e tem sido frequentemente observada entre os estudantes
com TEA (Lima; Laplane, 2016).
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 2, e0240016, 2024. 7-18
Desafios e possibilidades de crianças com autismo em relação ao sistema educacional
no Ensino Fundamental I
Artigos
QUADRO 1 - Restrições do sistema educacional brasileiro em relação aos autistas
Restrição Descrição Textos
Dificuldade de
acesso a vagas
Risco de não conseguir vaga no sistema
educacional, seja ele público ou particular
MINATEL;
MATSUKURA, 2015
Precária adaptação
de conteúdos
Adaptação curricular
insuficiente ou inexistente
NASCIMENTO; DA
CRUZ; BRAUN, 2016
Deficiências na
infraestrutura física
Inadequações no espaço físico da
instituição de ensino, que engloba as salas
de aula, espaços de esporte, arte e lazer.
NASCIMENTO; DA
CRUZ; BRAUN, 2016;
GOMES et al., 2015
Formação de
professores
insuficiente ou
não voltada para o
estudante autista
Profissionais da educação não recebem
formação adequada sobre o cotidiano
do ensino de pessoas com TEA. Em
diversos casos os profissionais se
atualizam de modo autodidata.
COSTA;
NAKANDAKARE;
PAULINO, 2018
Falta de
Acompanhamento
dos Indivíduos
Monitoramento insuficiente dos estudantes
com TEA dentro do sistema de ensino.
BANDEIRA, 2020
Serviço Educacional
de Qualidade Inferior
Falta de resultados na aprendizagem
individual das pessoas com autismo.
ROSA; MATSUKURA;
SQUASSONI, 2019
Preconceito /
Discriminação
O estudante autista não é aceito como é,
seja pelos professores, colegas e até pelos
pais dos demais estudantes. Pode ser
excluído ou “convidado a ir embora
ROSA; MATSUKURA;
SQUASSONI, 2019
MINATEL;
MATSUKURA, 2015
Falta de diálogo da
Escola com a Família
Dificuldade ou impossibilidade de
comunicação da família com a escola
ROSA; MATSUKURA;
SQUASSONI, 2019
Interrupção
dos Estudos
Interrupção da continuidade dos estudos,
seja por dificuldades econômicas,
pelo término do ensino fundamental,
pela pandemia ou outro fator.
FERNANDES;
SARDAGNA, 2019
Evasão Abandono definitivo dos estudos. LIMA; LAPLANE, 2016
Fonte: Elaborado pelos autores.
As deficiências do sistema educacional brasileiro, relatadas pela literatura, contribuem
para que não se consiga a inclusão dos estudantes e o atingimento de seus potenciais de
autonomia e desenvolvimento. O resultado de um sistema exclusivo é a baixa escolaridade
das pessoas com TEA, além de um baixíssimo contingente de autistas que conseguem
algum espaço no mercado de trabalho, ou acesso ao ensino superior (Leopoldino, 2015;
8-18 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 2, e0240016, 2024.
MILAN, Davi; LEOPOLDINO, Claudio Bezerra
Lima; Laplane, 2016; Sales; Viana, 2020). Tais dificuldades são ampliadas pelo quadro de
desigualdades sociais e de acesso a meios digitais de aprendizagem, vivenciado pelos brasileiros
(Ferreira; De Souza, 2022; Misquiatti et al., 2015).
METODOLOGIA
A presente pesquisa é de caráter qualitativo e descritivo (Marconi; Lakatos, 2010).
A coleta de dados foi feita por meio de entrevistas realizadas com famílias de pessoas com
autismo, método bastante utilizado para este tipo de investigação (Polak; Diniz, 2011).
Optou-se, por conveniência de acesso, pela investigação sobre a inserção dos alunos
autistas do ensino infantil e ensino fundamental I, no ano de 2022 (Marconi; Lakatos,
2010; Polak; Diniz, 2011). Participaram deste estudo vinte famílias, pais e mães de crianças,
matriculadas em uma escola municipal, de uma cidade do interior de São Paulo.
Houve autorização da Secretaria de Educação da cidade onde foi realizada a coleta.
As famílias foram contatadas e os detalhes da participação na pesquisa foram combinados. Os
participantes foram assegurados de que a pesquisa não afetaria o desempenho acadêmico de
seus filhos, além de ser de caráter estritamente confidencial.
Os pais dos alunos foram unânimes na participação da pesquisa. As questões do
roteiro de entrevistas foram levantadas pelos pesquisadores através de pesquisa bibliográfica
e da construção de questões para cada objetivo da pesquisa, conforme o quadro 2 (Bueno,
2016; Fernandes; Sardagna, 2020; Minatel; Matsukura, 2015).
Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 2, e0240016, 2024. 9-18
Desafios e possibilidades de crianças com autismo em relação ao sistema educacional
no Ensino Fundamental I
Artigos
QUADRO 2 - Questões do roteiro de entrevistas
Objetivo específico Perguntas
Identificar os obstáculos
associados à inserção
no ambiente escolar
Quais são os maiores obstáculos enfrentados
ao lidar com a criança autista?
Como você tem lidado com estes obstáculos?
Você tem conseguido alguma forma de ajuda ou
orientação? De que pessoas ou organizações?
Distinguir as dificuldades de
acesso e adaptação à escola
Houve acolhimento por parte dos gestores,
professores e alunos para com a sua criança?
Houve acolhimento por parte dos pais dos
demais estudantes para com a sua criança?
Quais foram as maiores e mais marcantes
dificuldades do acesso à escola?
A sua criança se adaptou à rotina da escola?
Houve algum obstáculo na efetivação da matrícula?
A escola é próxima à sua residência? Como
é o deslocamento até a escola?
Criança com autismo é vista com bons olhos nas escolas?
Como funciona o atendimento de sua
criança autista na escola?
Há professores especializados para o
atendimento aos alunos autistas?
O professor da sala regular passou por
capacitação para atender esse público?
As crianças com autismo têm atendimento
específico, com atividades específicas?
As atividades pedagógicas são diferenciadas
atendendo a necessidade do autista?
Há um atendente específico para a criança, ou
alguém que auxilie o professor. Como funciona
AEE (atendimento educacional especializado).
Identificar as perspectivas
em relação às demais etapas
do processo educacional
Você espera que seu filho se alfabetize plenamente?
Quais as perspectivas que vocês têm sobre o nível
de formação que sua criança vai atingir?
Quais as perspectivas que vocês têm sobre
a vida profissional de sua criança?
Quais perspectivas da família em relação ao
mercado de trabalho para pessoas autistas?
Há espaço para pessoas autistas no mercado de trabalho?
Fonte: Elaborado pelos autores.
A realização das entrevistas foi feita individualmente com as famílias em horários
agendados anteriormente. Os relatos foram gravados e transcritos. A análise dos dados
10-18 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 2, e0240016, 2024.
MILAN, Davi; LEOPOLDINO, Claudio Bezerra
foi realizada através do cotejamento da entrevista e observação, evidenciando a realidade
vivenciada pelas crianças autistas na educação básica, ensino infantil e ensino fundamental I.
ANÁLISE DE RESULTADOS
Conforme os objetivos estabelecidos, segmentou-se a análise de resultados em três
subseções: obstáculos associados à inserção no ambiente escolar; dificuldades de acesso e adaptação
à escola e perspectivas em relação às demais etapas do processo educacional e ao mercado de
trabalho. Por fim, a análise de resultados apresenta uma síntese dos resultados identificados.
OBSTÁCULOS ASSOCIADOS à INSERÇÃO NO AMBIENTE ESCOLAR
De acordo com os dados colhidos, foi percebido através das falas dos pais e das
mães que representaram as famílias, que os maiores obstáculos encontrados nas escolas de
seus filhos, englobam: prédios sem estrutura física para receber os alunos com necessidades
especiais; a falta de professores auxiliares capacitados, que trabalham em consonância com os
professores de sala de aula, ausência de outros profissionais na escola que façam atendimento
às crianças, dificuldades na comunicação e no empenho desses profissionais em lidar no
cotidiano com as crianças facilitando fatalidades; ônibus escolar sem adaptações adequadas e
quando há está com defeito ou quebrados.
“Os maiores obstáculos são encontrar pessoas realmente que estejam dispostas a te ajudar, e
reconhecer que a criança tem esta patologia[sic] e precisa de ajuda, para os pais a aceitação
é muito difícil”.
A escola tem sérias dificuldades na comunicação entre os membros que a compõem, sobre
eventos que acontece com seus alunos e professores, como por exemplo se alguma criança
machucou só um dois membro da equipe sabem sobre isso e muitas vezes não avisa aos pais,
e no meu caso quando a cuidadora falta me avisa em cima da hora e pedem pra voltar
pra casa pois não há uma substituta pra ficar com ele e isso acaba interferindo na rotina
do meu filho”.
“O espaço físico da escola tem bastante restrições, pois não há muitos locais próprios para
nossos filhos com deficiência[sic], faltam muitos recursos na escola, inclusive banheiros
apropriados”.
Infraestrutura insuficiente, apresentada por prédios sem capacidade física para
receber os alunos com necessidades especiais é um problema de difícil solução, pois demanda
investimentos financeiros muitas vezes superiores aos que as escolas podem fazer. Espaços
apertados e lotados geram barulho e podem dificultar a concentração e o bem estar de
estudantes autistas, afetando seu desempenho escolar de forma significativa, desfavorecendo
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Desafios e possibilidades de crianças com autismo em relação ao sistema educacional
no Ensino Fundamental I
Artigos
o lazer, o esporte e a expressão artística dos alunos com TEA (Nascimento; Da Cruz; Braun,
2016; Gomes et al., 2015).
A falta de professores auxiliares capacitados, que trabalhem em consonância com
os professores das salas de aula, sobrecarrega os profissionais de ensino e prejudica a atenção
aos estudantes, e foi percebida pelos pais. Torna-se necessário haver profissionais capacitados,
com formação e que atendam as demandas das salas de aula. As escolas inclusivas devem
propor em seu sistema de ensino que as necessidades de todos os alunos sejam observadas
e consideradas para que todos os alunos da rede regular de ensino avancem no aprendizado
(Mantoan, 2006). A insuficiência de insumo tão essencial à educação apresenta potencial para
causar lacunas no monitoramento dos estudantes e na sua aprendizagem (Bandeira, 2020;
Rosa; Matsukura; Squassoni, 2019).
Em relação a formação da equipe da escola, uma das mães respondentes da pesquisa,
relatou, através das questões levantadas pelos entrevistadores que contam com a ajuda de
um profissional de equipe terapêutica que acompanha seu filho uma vez na semana desde o
surgimento da dúvida de que ele teria TEA.
No presente momento ele é acompanhado somente pelo docente e por uma professora
especialista em TEA, que acompanha todas as crianças do município, que apresentam
TEA, TDAH, uma vez por semana em cada escola”.
Outra mãe sinaliza que o acompanhamento acontece por um docente auxiliar que o
assiste ao longo do ano no ambiente escolar para dar suporte e acompanhar o desenvolvimento
do filho dentro da sala de aula. Além do acompanhamento insuficiente, relata dificuldades de
comunicação já manifestadas na literatura (Bandeira, 2020; Rosa; Matsukura; Squassoni, 2019).
“Há uma auxiliar que não é habilitada, mas acredito que seria muito interessante que
houvesse professores auxiliares na rede de ensino para estar ajudando outros alunos que
apresentarem alguma dificuldade no aprendizado seja pelo TEA, entre outros, pois é direito
de eles terem um professor auxiliar capacitado para estar acompanhando o desenvolvimento.
Observa-se que as dificuldades de inserção no ambiente escolar são persistentes
ao longo do tempo, tendo sido observadas em diversos estudos anteriores persistindo nesse
também.
DIFICULDADES DE ACESSO E ADAPTAÇÃO à ESCOLA
Quanto ao acesso e à adaptação, os pais relataram problemas contornáveis. Em
relação às dificuldades de adaptação e as dificuldades de acesso na escola, um dos respondentes
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MILAN, Davi; LEOPOLDINO, Claudio Bezerra
da pesquisa relatou que a sua criança demorou um pouco a se sentir à vontade na escola, mas
que ao passar de três semanas de aula, se adaptou à rotina da escola.
Meu filho demorou três semanas para se sentir à vontade na escola, mas depois desse tempo
ele já estava fazendo as atividades e se adaptando bem com o professor e com os outros
amiguinhos da sala”.
A oferta de transporte escolar contribui para um melhor acesso das famílias à
educação (Gonçalves; Wanzinack, 2021).
A escola atualmente que ele estuda é próxima a minha casa, hoje ele vai com um amiguinho
de ônibus da prefeitura e volta com o mesmo ônibus”.
Hoje em dia os professores estão mais mais atentos e mais dispostos a trabalhar,
facilitando a adaptação das crianças autistas em sala de aula, relata uma das mães entrevistadas.
Minha criança no início das aulas demorou para se adaptar, pois ele não ficava muito
tempo sentado e isso dificultava muito a aprendizagem dele, porém com a dedicação dos
profissionais da educação facilitou a adaptação do meu filho na escola”.
As famílias respondentes são unânimes em dizer que não tiveram dificuldade na
matrícula de suas crianças nas escolas dos primeiros anos da educação básica (educação infantil
e ensino fundamental I) da cidade no interior de São Paulo. Não foi observada, portanto, a
dificuldade de acesso a vagas relatada na literatura (Minatel; Matsukura, 2015).
PERSPECTIvAS EM RELAÇÃO àS DEMAIS ETAPAS DO PROCESSO EDUCACIONAL E AO MERCADO
DE TRABALhO
Sobre a perspectiva das demais etapas do processo educacional e do mercado de
trabalho, uma respondente relata que são temas que a deixam angustiada, pois há muita
incerteza sobre como seus filhos serão quando adultos.
“Esse é um tema que me angustia muito pois não sei como será quando adulto, porém o
estímulo com as coisas que ele gosta para que no futuro possa ter uma profissão”.
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Desafios e possibilidades de crianças com autismo em relação ao sistema educacional
no Ensino Fundamental I
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Uma outra respondente relata que a expectativa em relação a formação e inserção ao
mercado de trabalho, é muito boa:
“Ele é uma criança bem desenvolvida, e com o tratamento correto vai conseguir se
desenvolver muito bem podendo entrar no mercado de trabalho, só vai depender das
empresas porque minha parte eu irei fazer, dar o suporte para ele se qualificar”.
Os pais colaboram no processo educacional estimulando os filhos e demonstram
preocupação com as perspectivas profissionais dos filhos, mesmo em uma etapa inicial de sua
formação.
“Embora sejam poucas as oportunidades para pessoas PCD[sic], iremos sempre ensiná-las a
estudar para que tenham uma boa oportunidade no mercado de trabalho”.
“Esperamos que continue os estudos, curse uma faculdade pois capacidade para isso tem,
está sendo um ótimo estudante e será um profissional igualmente aos demais ou até melhor”.
Outra participante da pesquisa relatou que seu filho gosta de estudar, que espera que
ele consiga aprender como qualquer outra criança, e que basta os pais acreditarem e correrem
atrás para que seus filhos sejam capacitados.
“Espero que ele acompanhe a turma e que aprenda tudo e consiga concluir todos os níveis
de escolaridade, como qualquer outro. Ele gosta de estudar, de aprender e absorver tudo,
basta os pais acreditarem no potencial dos filhos e correr atrás da capacitação deles”.
“Que ele alcance todos os objetivos e cresça profissionalmente igual ou semelhante a uma
pessoa típica”.
Uma das mães ressaltou, que sua criança gosta de logomarcas e mexe muito com
designer de letras e ama carros. Então sempre procura atividades sobre os temas que ele gosta,
para incentivá-lo.
“Meu filho ama logomarcas e mexe muito com designer de Letras e ama carros. Então
sempre procuro atividades sobre os temas que ele gosta”.
Outro argumento dado por uma das mães respondente da pesquisa, foi que as
oportunidades de emprego e estudo estão acontecendo com maior constância, em todas as
áreas em que o autista queira atuar, pois com a divulgação dadas pelas mídias hoje em dia e
com o maior conhecimento das leis pelos empresários, essa realidade de estudo e emprego,
seja cada vez mais próxima desses sujeitos.
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MILAN, Davi; LEOPOLDINO, Claudio Bezerra
“Em um tempo em que se está tendo mais informações e divulgação nas mídias, sobre o
que é o autismo e seus direitos e com maior conhecimento dos empresários sobre as leis,
facilita que as empresas estejam mais acessíveis e preparadas para receber um funcionário
com autismo”.
“Hoje em dia o mercado de trabalho está sendo muito mais incluso, seja por transtorno do
desenvolvimento ou por alguma deficiência física, mais ainda há muito o que melhorar,
pois infelizmente não é todo lugar que inclui e ainda vemos muito relatos de discriminação
de pessoas que apresentam alguma deficiência física ou neuropsicológica”.
Os respondentes revelaram grande motivação para insistir na continuidade dos
estudos dos filhos autistas, além de terem expectativas de que alcancem uma formação
adequada. Adicionalmente, externalizaram o desejo de que seus filhos ingressem no mercado
de trabalho, o que mostra a relevância de se discutir políticas relacionadas à questão (Da
Conceição; Escalante; Da Silva, 2021; Sargento, Lopes, 2019). As preocupações em relação
ao futuro dos filhos com TEA chegam a ser angustiantes, em um cenário de incertezas, mas
prevalecem a esperança e a persistência das famílias.
Em alguns depoimentos, o autismo é tratado como doença, enquanto que em
outros relatos, as pessoas com TEA são vistas como deficientes. Estas visões errôneas sobre a
questão do autismo mostram que os pais também precisam ser melhor incluídos no processo
educacional, recebendo orientações e suporte conceitual para entender melhor a situação de
seus filhos.
A presente pesquisa identificou diversos problemas que persistem na relação de
autistas com o sistema educacional. Constatou-se ainda que os pais apresentam uma avaliação
crítica significativa dos serviços oferecidos aos seus filhos, e que desejam eficácia nos acessos à
formação, para que seus filhos atinjam seus potenciais, engajando-se em níveis mais avançados
de estudo e no mercado profissional.
O maior engajamento de profissionais de ensino e das famílias tende a contribuir
para melhores resultados em termos de escolaridade e ingresso nas atividades profissionais
(Gomes et al., 2015; Gracioli; Bianchi, 2014; Rosa; Matsukura; Squassoni, 2019; Nascimento;
Da Cruz; Braun, 2016).
Para os gestores escolares, a escassez de recursos humanos e materiais e o fato de boa
parte dos problemas identificados estarem além de sua capacidade de intervenção, tornam a
inclusão de pessoas autistas no sistema educacional uma tarefa desfiadora. A inclusão é um
ideal ainda longe de concretização, e o caminho até lá, acidentado e passível de retrocessos.
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Desafios e possibilidades de crianças com autismo em relação ao sistema educacional
no Ensino Fundamental I
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CONCLUSÃO
O sistema educacional é de suma importância para a inclusão de pessoas com autismo
na sociedade, pois colabora de forma significativa na sua socialização e no desenvolvimento
de suas potencialidades. Neste sentido, o presente trabalho contribui para o aprimoramento
dos serviços educacionais oferecidos às pessoas com autismo, apresentando desafios e
possibilidades vivenciadas pelas famílias das pessoas com TEA.
De acordo com os dados colhidos, os maiores obstáculos encontrados nas escolas
compreendem: são prédios sem estrutura física para receber os alunos com necessidades
especiais; a falta de professores auxiliares capacitados e a precária atenção dos profissionais da
escola em relação às crianças, o que ocasiona riscos de incidentes. Os respondentes revelaram
grande motivação para insistir na continuidade dos estudos dos filhos autistas, e expectativas
de que alcancem uma formação adequada. Adicionalmente, os pais manifestaram o desejo de
que seus filhos ingressem no mercado de trabalho.
Os depoimentos apontam um cenário que apresenta diversas adversidades, mas
também esperança. O sistema educacional, se não supre todas as necessidades, apresenta
recursos e suportes que permitem às famílias aumentar a escolaridade de seus filhos com TEA
e almejar um futuro melhor para eles, com base em uma melhor formação.
Como limitações deste estudo evidenciam-se a amostra limitada de entrevistados,
necessária para maior aprofundamento da análise qualitativa, e o foco nos primeiros anos
de escolaridade, justificável por ser uma etapa crítica para o processo de inclusão e em que
ocorrem diversas situações que foram efetivamente captadas na pesquisa, mas insuficiente
para resultados mais generalizáveis. Estudos futuros se fazem necessários, especialmente
para ampliar o escopo de investigação, atingindo o ensino médio, o superior e a formação
profissionalizante.
Desta forma, contemplar-se-ia de forma mais ampla todo o sistema educacional e os
desafios e potencialidades manifestadas no sentido de incluir pessoas com TEA na sociedade
brasileira. Pesquisas adicionais de caráter longitudinal são importantes para amenizar as
lacunas teóricas e identificar que problemas no sistema educacional são mais propensos a
gerar a evasão escolar de estudantes autistas.
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