136 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 2, p. 123-142, Jul.-Dez, 2023
SANTOS, Nadine Silva dos; LOCKMANN, Kamila; KLEIN, Rejane Ramos
A solidão docente fica evidenciada nas narrativas das professoras quando destacam
como desenvolvem o trabalho pedagógico, envolvendo a produção dos planejamentos, adaptações,
atendimentos realizados e os processos de avaliação aos quais esses sujeitos são submetidos.
Bom, o planejamento. Eu faço um planejamento geral né, e aí para eles na hora que eu vou
transcrever a atividade, que eu faço de uma forma mais simples, mas é baseado no meu
planejamento, na minha estrutura de aula. O que eu do para os ditos como normais numa
forma mais difícil, para eles eu do numa forma de mais fácil compreensão, na visualização de
imagens... Como eu te disse né?! Se tiver que acrescentar um jogo um jogo diferente que eu não
vou acrescentar para os outros eu acrescento para eles, mais ou menos isso (PROFESSORA A,
2020).
[...] Como a turma é grande e é uma turma bem agitada, eu os coloquei nas minhas proximidades.
Faço trabalhos diferenciados, desde a atividade diária até o trabalho avaliado mesmo, para que
consigam fazer. Em primeiro lugar sozinho, se ele não conseguir fazer sozinho, num grau de
dificuldade muito fácil, aí eu auxilio. A gente usa muito o material concreto. Nós não temos
disponível pelo Estado, então a gente produz um dado, um jogo, que às vezes não se faz devido
ao tempo (PROFESSORA A, 2020).
Normalmente, eu tento sentar uma vez por semana na minha casa, depois de uma semana
pensando, porque a gente vai montando ideias: “ah, eu vou fazer isso, ah eu vou fazer aquilo
outro”. Quando eu sento e eu digo assim “planejei a minha semana”. Eu chego na sala de aula
e eu me surpreendo a cada dia, porque as vezes são coisas poucas né, mas a gente se surpreende.
Eu tenho crianças, como é que eu vou organizar? Os alunos que estão alfabetizados, eu trago
uma “leiturinha” e trago questões, os alunos que não estão alfabetizados eu procuro trazer
imagens do texto que foi trabalhado, para que eles consigam escrever palavras ou frases, faço
cruzadinha. E é assim que a gente organiza, só que a gente não tem nenhum tempo para isso.
(PROFESSORA B, 2020).
Frente aos relatos, percebemos o que às práticas de adaptação são pensadas e elaboradas
pelas professoras regentes, as quais não mencionam suportes ou apoios recebidos pelo AEE ou outros
profissionais da escola. Nessa circunstância, entre a atribuição das políticas e as práticas produzidas
na escola, há a ocorrência de um ensino fragmentado pela ausência de um trabalho pensado de
forma coletiva e colaborativa entre as duas modalidades educativas. Isso exprime um cenário de
responsabilização dos profissionais que atuam no âmbito da sala de aula comum, individualizando
a prática docente e os demais serviços de apoio presentes na escola.
Desse modo, ramificando os efeitos dessa responsabilização, as entrevistadas também
falam sobre os desafios enfrentados por elas no processo de inclusão.
Eu acho que os desafios são muitos, né? Não sei te dizer se mais deles ou nossos. Do professor,
porque [...] a gente não tem estrutura, a gente não tem formação, a gente não tem um apoio,
a gente não tem alguém para nos auxiliar. E deles, nessa inclusão, no meu ponto de vista, ela
não veio para auxiliar, ela não veio para incluir, ela veio para excluir, né?! [...] eles aqui, se
sentem como diferentes dos outros, porque a “tia” faz um trabalho diferente do outro. [...] eles
perguntam ás vezes: “Tia, porque o trabalho do “fulaninho” é diferente do nosso? ”. Ai um vai
lá e responde: “porque ele é especial”. Eles têm esse conhecimento, né?!. E acaba que muitas
vezes, eles (alunos com deficiência) são excluídos, porque eles se sentem diferentes. Eu acho
que essa inclusão, ela deveria até acontecer, deveria não, ela tem que acontecer na escola, mas
de uma forma diferenciada. Que eles estivessem no espaço escolar, mas que a sala de aula fosse
específica do grau de aprendizagem deles, da capacidade deles, com o ritmo todo igual. Uma
ilusão nossa, pois a gente sabe que isso não tem como mudar, mas... (PROFESSORA A, 2020).
E o tempo realmente para pensar em atividades para cada um deles? Uma pessoa que trabalha
40 horas semanais, não ter uma hora atividade, não ter assim, 50 minutos por semana para