56 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 2, p. 51-60, Jul.-Dez, 2023
LIMA, André Henrique de; CABRAL, Leonardo Santos Amâncio
Entre esses princípios, os participantes B2, E3, G1 e H1 consideram que os diálogos intra
são fundamentais. Apesar de dificultosos de serem realizados, os diálogos intersetoriais também
foram destacados pelos participantes da pesquisa, principalmente os que objetivam construir
cooperativamente estratégias que efetivem a participação da maior parcela de atores institucionais
no processo de legitimação dos direitos cabíveis às pessoas com deficiências, estejam elas na posição
de discentes ou de gestores, coordenadores, docentes ou técnicos administrativos (AGUIAR, 2016;
ROTHEN; GOMES; OLIVEIRA, 2022).
A gestão democrática na perspectiva da acessibilidade deverá envolver grande parte dos
atores institucionais durante os planejamentos das ações para a superação de barreiras, bem como a
atuação dos recursos humanos, a gestão dos tempos, dos espaços e das relações, além das estratégias
e instrumentos avaliativos (OLIVEIRA; VASQUES-MENEZES, 2018; LIMA, 2020).
Conforme E3, H1 e H2, é importante, ao nos referirmos sobre envolvimento, considerar
a maior parte dos atores institucionais (se possível, todos), inclusive os com deficiências. As pessoas
com deficiências devem estar envolvidas nos processos decisórios. Não necessariamente de modo
exclusivo, mas de uma forma que as demandas e responsabilidades não sejam somente centralizadas
na pessoa com deficiência. Afinal, apesar de funções muitas vezes distintas, todas as unidades e setores
da universidade possuem e precisam exercer suas responsabilidades institucionais (ZILIOTTO;
JORDÃO, 2017; OLIVEIRA; ANDRADE, 2018).
A descentralização das demandas de uma só figura não fragiliza a construção da
acessibilidade em IFES, pelo contrário. A descentralização distribui demandas e responsabilidades
cabíveis para cada um dos atores institucionais, estimula a distribuição de afazeres e a cooperação,
podendo, assim, dar margem para o envolvimento não só do estudante e do professor, mas também
do gestor, coordenador, técnico administrativo e colegas de classe (RAMOS; RIBEIRO, 2019;
CABRAL, 2021).
Nesse sentido, tudo o que tange a cidadania de estudantes com ou sem deficiências na
universidade deve ser tratado em cooperação por um conjunto de atores, aos quais precisam exercitar
e articular preceitos de alteridade diante das tomadas de decisões e ações inerentes à acessibilidade
de modo ético (KÖCHE, 2017).
O conceito da corresponsabilização se mostrou em necessidade de estar conjunto ao
conceito da ética. Todos os participantes da pesquisa pontuaram como primordial a conexão e
a coerência entre o que os atores institucionais propõem e se dispõem a fazer sobre a inclusão de
pessoas com deficiências na pós-graduação. Nessa direção, então, a acessibilidade deve ser movida
mais por um interesse coletivo do que por um interesse advindo de campos políticos ou burocráticos
ou advindo de concepções caritativas ou capacitistas (SPINOZA, 2009; CABRAL; PICCOLO,
2021; OMOTE; CABRAL, 2021).
Por meio dos relatos dos participantes B1, E1, E2, E4 e G2, desvelamos que um interesse
coletivo acerca de uma demanda institucional pode fortificar princípios da gestão democrática na
perspectiva da acessibilidade, como os diálogos intra e intersetoriais, o envolvimento de grande parte
dos atores institucionais, a descentralização de demandas / distribuição de afazeres, a alteridade,
a corresponsabilidade e a ética (KÖCHE, 2017; CARDOZO; COLARES, 2020; MACHADO;
CORTE, 2020; MACHADO, 2022).