148 Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 10, n. 2, p. 143-158, Jul.-Dez, 2023
DAMASCENO, Allan Rocha; SANTOS, Mônica Pereira dos; CABRAL, Rosangela Costa Soares
Nas palavras de Santos (2009, p.12):
O processo de inclusão se refere a quaisquer lutas, nos diferentes campos sociais, contra a
exclusão de pessoas: tanto as que se percebem com facilidade, como aquelas mais sutis. Refere-
se ainda, num nível mais preventivo, a todo e qualquer esforço para se evitar que grupos e
sujeitos em risco de serem excluídos de dados contextos, por qualquer motivo que seja, acabem
sendo excluídos de fato (SANTOS, 2009, p.12).
Aqui reside uma diferença central entre os conceitos. Enquanto “Inclusão em Educação”
se caracteriza por ser um processo de oposição a todo e qualquer mecanismo de exclusão, o conceito
“Educação Inclusiva” enseja um caráter finalístico, ou seja, um estado, ao invés de um processo, que
ignora as contradições, as lutas, os conflitos para promoção de perspectivas mais orientadas pela
inclusão como um princípio. A expressão revela um devir, isto é, como a educação deve ser sem
problematizar o processo para torná-la “mais inclusiva”.
Outra diferença importante de se mencionar diz respeito à concepção de uma “Educação
Inclusiva” que ignora o contexto de exclusões do mundo hodierno. Em nossa reflexão não é possível
termos uma educação totalmente inclusiva, como expressa o sintagma “Educação Inclusiva”,
num mundo marcado pelas desigualdades produzidas pelo modo de produção capitalista. Assim,
entendemos que a concepção de “Inclusão em Educação” nos parece ser mais adequada sob o
prisma da processualidade e das contradições de pensar inclusão escolar e em educação no mundo
contemporâneo.
Santos, em palestra dada em 2022, pontuou ainda uma questão gramatical que diferencia
as expressões de forma contundente no sentido de apoiar o que aqui argumentamos sobre adotarmos
“Inclusão em Educação”, e não mais “Educação inclusiva”. A autora mostrou que, ao realizarmos
uma breve análise sintática das expressões, podemos ver que “Educação Inclusiva” é composta por
um substantivo feminino (educação) mais um adjetivo (inclusivo), cuja função, obviamente, é
qualificar o substantivo. Assim, usa-se o termo “inclusiva” para dizer se a educação possui ou não
esta “qualidade”, ou seja, se ela demonstra este estado em sua forma de ser. É ou não é. Vejamos
que, segundo o site Clube do Português (2022), o adjetivo “Serve para caracterizar, delimitar e
qualificar o substantivo" (grifo nosso), tendo, ainda, duas subfunções: como predicativo e como
adjunto adnominal. No caso em questão, trata-se da segunda subfunção, a de adjunto adnominal, o
que significa dizer que se a retirássemos da expressão a palavra principal à qual "inclusiva" se refere
(educação), esta não perderia seu sentido nem valor.
Ou seja: "inclusiva" não faz a menor diferença para educação! Por outro lado, na análise
sintática da expressão "Inclusão em educação", o que temos são dois substantivos femininos
("inclusão" + "educação" unidos pela preposição "em". Considerando que a preposição "em"
serve para estabelecer entre palavras e orações relações de sentido e de dependência (grifo nosso),
separamos alguns sentidos possíveis aos quais gostaríamos de dar um foco maior para reafirmarmos
a importância de adotarmos "Inclusão em Educação": lugar ou situação (Inclusão no campo da
Educação); modo, meio (Inclusão por meio da Educação); fim, destinação (Inclusão para o campo
da Educação); lugar para onde vai um movimento, sucessão (Inclusão no campo da Educação).
A "moral da história" é que o termo "educação inclusiva" remete à ideia de um estado
final ao qual, supostamente, se possa chegar um dia; ao passo que "inclusão em educação" remete
ao reconhecimento do movimento, da dinâmica processual necessária a qualquer campo social (em
nosso caso, o da Educação) para que transformações existam e sejam reconhecidas e compreendidas.