Revista Diálogos e Perspectivas em Educação Especial, v. 11, n. 2, e0240014, 2024. 5-18
Educação especial na perspectiva inclusiva Artigos
Para Bourdieu e Passeron (1998) a escola pode ser considerada como reprodutora
das desigualdades sociais, simbolizando e dividindo-se em “escola do acolhimento social
para os pobres” e “escola do conhecimento para os ricos”
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. Nesta direção, a educação
brasileira traz como legado uma escola que foi se organizando entre os interesses de grupos
economicamente empoderados, que almejavam ingressar no ensino superior, e a destinação
da falta de oportunidades às classes populares, às quais tende a ser destinada uma educação
profissional e técnica, que lhes insira no mercado de trabalho. Essa divisão ainda persiste,
mesmo que veladamente, em muitos discursos alinhados à precarização da educação pública.
Tal lógica reforça uma ruptura entre grupos sociais, com segregação na ocupação de funções
na estrutura social e dificuldade na mobilidade social.
A escola tende a ser cenário favorável para a exclusão, ao segregar estudantes que
não acompanham um currículo categorizado em disciplinas, ao excluir aqueles/as que
apresentam dificuldades de aprendizagem, estudantes com deficiências, pessoas mais pobres,
pessoas negras, pessoas indígenas, ou seja, ao excluir todos/as aqueles/as que não estão tendo
os resultados que são considerados adequados segundo os padrões sociais. Urge que uma escola
inclusiva seja organizada política e pedagogicamente para compor ações que favoreçam uma
aprendizagem centrada na diversidade e não na uniformidade, que valorize a multiplicidade
de experiências de sermos e estarmos no mundo, como escreve Mantoan (2006):
A exclusão escolar manifesta-se das mais diversas e perversas maneiras, e quase sempre o
que está em jogo é a ignorância do aluno diante dos padrões de cientificidade do saber
escolar. Ocorre que a escola se democratizou abrindo-se a novos grupos sociais, mas
não aos novos conhecimentos. Exclui, então, os que ignoram o conhecimento que ela
valoriza e, assim, entende que a democratização é massificação de ensino e não cria a
possibilidade de diálogo entre diferentes lugares epistemológicos, não se abre a novos
conhecimentos que não couberam, até então, dentro dela (Mantoan, 2006, p.13).
De acordo com a Declaração de Jomtien (UNESCO, 1990), cada país signatário
deverá rumar para uma educação que contribua para a construção de um mundo mais
seguro, próspero e sadio, favorecendo o progresso social, cultural e econômico, bem como a
cooperação e a tolerância. A escola, portanto, não pode se esquivar de firmar um compromisso
fundamental com a formação social dos indivíduos, tornando-se promotora da diversidade,
garantindo a convivência e a inclusão de todos/as no ambiente educacional.
Bourdieu e Passeron (1998) afirmam que a escola se constituía no instrumento mais acabado do capitalismo para reproduzir
as relações de produção e ideologia do sistema. Desta forma, qualquer ação pedagógica já é uma violência imposta pela cultura
dominante, isto é, a classe dominante que decide como a escola deve se apropriar da pedagogia em decorrência da divisão
social. Percebe-se que, para a classe dominante, a educação é uma forma de perpetuar sua posição na sociedade, já para a classe
dominada, a educação é uma perspectiva de conquista, pois é por meio dela que o dominado sonha em se ascender socialmente.
Para a classe dominante, a educação é uma forma de perpetuar sua posição na sociedade, já para a classe dominada, a educação
é uma perspectiva de conquista, pois é por meio dela que o dominado sonha em se ascender socialmente.